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Grande Reportagem

Duas perspectivas, uma realidade

Para alguém cuja sua

normalidade é vista como

anormal para os restantes,

a família torna-se um fator

essencial no processo de

descobrimento individual.

Camila sempre encarou

a situação do avô como algo

normal, mas, infelizmente,

tem a consciência de que essa

mentalidade não abrange toda

a gente, considerando, por

isso, importante a “sensibilização

sobre as pessoas com

deficiência ou mobilidade

reduzida”. Há uns anos,

“um ceguinho era um coitadinho”,

mas, na perspetiva

da neta de Aureliano, essa

mentalidade mudou e agora

“as pessoas cegas são olhadas

como pessoas normais,

há mais compreensão.”

As pessoas com deficiência

visual são, muitas vezes,

negligenciadas quanto às suas

capacidades de realizar as tarefas

do quotidiano. Camila

Teixeira acredita que o mesmo

ideal se aplica ao contexto

destas minorias: “Muitas vezes

perguntam-me como é

que o meu avô vai à casa de

banho, como é que toma banho,

como é que vai ao médico,

e por vezes sinto que

era uma coisa importante

se calhar para as pessoas

saberem. Eu apenas tenho

noção disso porque tenho

um caso muito próximo”.

Camila confessa que acha engraçado

“quando fazem perguntas

sobre tarefas mesmo

normais e acham que seria

diferente, muito diferente,

para o meu avô, quando não

é”. Salienta ainda que é tudo

uma questão de adaptação.

O apoio da família e dos

mais próximos constitui um

dos pilares na vida das pessoas

com deficiência. Contudo,

o contacto com profissionais

e o trabalho das associações

continua a ser crucial e imprescindível.

Para além da

ajuda que oferecem, estas

instituições “estão a fazer

um bom trabalho para trazer

mais luz a este assunto e

para sensibilizar mais pessoas”.

Aureliano era um participante

ativo na ACAPO, e

Camila afirma que o seu avô

“ficou muito satisfeito com

o trabalho da instituição”.

Aliada ao apoio familiar, a

orientação profissional junto

da população com deficiência

é, sem dúvida, uma mais-valia.

Dulce Espinho, assistente

social da ACAPO, explica

como lida com estes casos:

“Numa situação pontual

com uma pessoa que tem a

deficiência visual adquirida

há muitos anos, lidamos de

forma muito natural, porque

já passou pela aceitação

e pelo luto da questão. Se for

recente, independentemente

do motivo, aí já é um bocadinho

mais complicado porque

é trabalhar uma perda.”

Apesar destas diferenças,

Sara Louro, psicóloga

da ACAPO, explica

de que forma estas se

poderão tornar semelhantes.

Na ACAPO, é desenvolvido

um processo de reabilitação

junto de todos aqueles

que pedem auxílio. A

assistente social explica que

no primeiro atendimento é

averiguada a “necessidade

“ Tenho como

regra tratar exatamente

da mesma

forma como se

fosse normovisual.

Existe um conjunto

de regras independentemente

de a

pessoa ver ou não.”

de ir para a terapia ocupacional

e para orientação e

mobilidade”, onde será feita

uma “ uma avaliação mais

específica”. Posteriormente,

cada pessoa tem direito ao

seu plano de reabilitação individual

onde se traçam os

objetivos e metas pretendidas

para a pessoa em questão.

Por maior que seja a vontade

de ajudar, “a maior dificuldade

é a burocracia,

às vezes queremos fazer

mais e melhor e esbarramos

num conjunto burocrático

que não é fácil”, desabafa

a assistente social, Dulce.

Para Sónia Catarina, diretora

técnica, o mais urgente

neste momento é “sem dúvida

a educação da sociedade

para pessoas diferentes”.

Fotografias: Bruna Jardim

Dulce Espinho, assistente social (ACAPO)

Sara Louro, psicóloga (ACAPO)

Fotografia: Maria Andrade

Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO)

A ACAPO, Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal, é uma Instituição Particular

de Solidariedade Social, fundada em 1989. Embora recente, possui uma

das mais antigas histórias do movimento associativo de deficientes em Portugal.

Contando com 13 delegações espalhadas por todo o país, a ACAPO pretende

representar os cidadãos com deficiência visual, providenciar serviços adequados

e consciencializar a sociedade, com vista à afirmação como cidadãos de pleno

direito. Paula Costa, presidente da ACAPO do Porto, afirma que a associação “é,

neste momento, a única instituição que defende as pessoas com deficiência visual”.

Desta forma, a instituição tem como objetivo ser a entidade de referência quanto à representação

dos direitos e interesses das pessoas com deficiência visual do país, junto

dos atores sociais e decisores políticos, tal como dos organismos internacionais.

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