Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Grande Reportagem
As barreiras do desenvolvimento
Faltam ovos em casa.
Saímos para apanhar
o autocarro em direção
ao supermercado. Antes
das compras, passamos pelo
multibanco para ir levantar dinheiro.
Na hora de voltar para
casa, o autocarro nunca mais
chega, por isso decidimos ir
a pé. Esta é a nossa realidade,
sem obstáculos. Mas nem
para todos é assim tão fácil.
Todas as pessoas, independentemente
da condição que
possuem, têm a liberdade de
se movimentar. É um direito
que se prende a todos os cidadãos
e que deve ser respeitado
por órgãos privados e públicos.
Contudo, os obstáculos
para as pessoas com deficiência
estão presentes em toda a
parte na sua vida quotidiana.
Camila Teixeira tem 19
anos e, para ela, a realidade
destas minorias não é
uma novidade, dado que
cresceu com o exemplo do
avô, Aureliano Moreira.
Para Camila, uma das principais
dificuldades que o seu
avô tem que enfrentar diariamente,
passa pelos constantes
obstáculos que vão aparecendo
sem aviso prévio,
e que colocam à prova a sua
capacidade de orientação. O
estacionamento imprudente
de trotinetes e carros leva
a um cuidado redobrado.
No que toca à pavimentação
dos próprios passeios, a
cidade prevalece como um
inimigo. Segundo Kelita Antunes,
“os paralelos não são
a coisa mais fácil de andar”,
tendo já caído “imensas vezes
neles”, muito por culpa
da sua irregularidade. Garante
ainda que ruas pavimentadas
com alcatrão facilitam
muito mais o seu trabalho
em termos de deslocação.
O autocarro é o meio de
transporte mais utilizado por
Kelita. Apesar disso, a jovem
de 24 anos salienta que nem
todos os veículos estão destinados
a pessoas com cadeira
de rodas, dando o exemplo
do período em que viveu na
Maia, onde se deslocava num
“autocarro antigo, em que
a rampa era de trás e às vezes
não saía”. Kelita admite
que este inconveniente a faz
muitas vezes optar pelo serviço
de transporte privado,
que traz à tona um novo conjunto
de preocupações: “Eu
estou sempre dependente
de Ubers e tenho de esperar
imenso tempo porque nem
todos os carros são adaptados.
Esses carros demoram
sempre mais ou são sempre
um bocadinho mais caros.”
Na cidade do Porto, a acessibilidade
aos diferentes estabelecimentos
está longe de ser
a mais favorável. Kelita dá o
exemplo dos cafés, afirmando
que “o facto do parapeito
ser um bocado elevado”, já a
impossibilita de ir sozinha aos
diferentes estabelecimentos,
porque não consegue fazer
“o cavalinho com a cadeira
de rodas alto suficiente
para conseguir entrar”.
“ Para uma pessoa
que consegue
ver, é muito fácil
desviar-se, mas
para outra que
não tem visão e
que está habituada
a um certo caminho,
pode ser um
bocado difícil e
frustrante”
Fotografias: Maria Andrade
5