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Sentinela Impresso

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Cultura

estrangular qualquer tipo de arte”

mais profundo porque tem

a ver com o impacto que tu

podes criar na vida dos outros”,

confessa o humorista.

“ Isto do humor

não é só ser o mais

engraçado da turma

e mandar umas

bocas muito giras

durante as aulas.

Eu também era assim

até que resolvi

estudar.”

De acordo com os parâmetros

da sociedade atual, tanto

Marco Horácio como António

Raminhos concordam

que a censura, relativamente

ao humor, vai aumentar. Ao

longo do tempo, a sociedade

evolui e os limites adaptam-

-se às “novas correntes de

pensamento”. Em consequência,

os comediantes autocensuram-se,

e piadas que

antes eram feitas já não têm o

mesmo efeito. António Raminhos

recorda que “há piadas

antigas que vejo em filmes

ou atuações que penso...

isto era impossível agora!

Mas rio-me na mesma!”.

Marco Horácio alerta ainda

que não é por um humorista

fazer certas piadas que

não apoia as causas humanitárias.

“Todos os humoristas

que se prezam apoiam (as

causas) porque nada melhor

que as pessoas serem

livres, serem aquilo que

querem, dizerem aquilo que

querem, descreverem aquilo

que querem e, acima de

tudo, serem aceites como

são”, sublinha o comediante.

O humor evolui de mãos

dadas com a sociedade porque,

como Raminhos diz, “é feito

a partir dela, das vivências e

daquilo que nos rodeia”. Os

assuntos que antes eram tabu,

agora não o são. Aqueles que

agora são considerados pela

sociedade como tal, no futuro

certamente vão deixar de o

ser. Os limites no humor existem.

Não só nas piadas que

são feitas, mas também nas

reações que expressamos. Ao

humorista cabe analisar o seu

nicho, conhecer o seu público

e, ao espectador, respeitar

e criticar construtivamente.

“ Mas em última

análise, seja ontem,

hoje, amanhã,

qualquer que seja

o tema, a única

coisa que interessa

é: Tem piada ou

não?”

Fotografia: FLAD

No entanto, António Raminhos

afirma que foi nas redes

sociais que levou mais hate

por uma piada que fez: “uma

piada sobre as minhas filhas

que nunca teve problema nenhum.

No sentido em que fiz

a piada num espetáculo que

teve mais de 60 datas, deu

na SIC, mas uma vez coloquei

um clip no twitter, que

é a melhor rede para atirar

pessoas para a fogueira. E

quando abri o twitter estavam

a chamar-me de tudo e

mais alguma coisa”, explica.

A solução que encontrou foi

apagar a sua conta do Twitter.

Para Marco Horácio, as

piadas nas redes sociais nem

sempre tiveram a reação desejada.

Enquanto humoristas,

a maioria dos posts são

sempre “sarcásticos ou irónicos”.

Marco Horácio revela

que, quando coloca um

post, tem “de pensar duas ve

zes”: “Tenho de pensar na

minha leitura e na leitura

que as pessoas podem ler.

Como artista não devia ter

de me preocupar com isso,

as pessoas deviam aceitar

e se não aceitassem dizer

simplesmente «olha, Horácio,

este post que fizeste

não acho piada nenhuma»”.

Ambos os humoristas

apontam o alcance das redes

sociais como um aspeto positivo.

Raminhos sente que, atualmente,

as plataformas digitais

são espaços “onde todos

podem expor o seu trabalho,

crescer, usar a criatividade

através da imagem, vídeo,

textos curtos, sketches e chegar

a um número maior de

pessoas”. No entanto, Marco

Horácio também considera

essa liberdade, de certa forma,

negativa. “Ser humorista não

é só ter piada com os amigos.

É um trabalho muito

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