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Sociedade
João Salsas é também agricultor
em Ala. Há 50 anos dedicado
ao campo, João é a voz
da experiência e aponta várias
preocupações que tem, com a
sua profissão. Para este produtor,
“um agricultor perde
muito do seu tempo nas
burocracias”. Já trabalhou
um ano, na agricultura, no Luxemburgo
e diz não ter nada
a ver com o panorama nacional,
“o agricultor é para
estar na terra a produzir”.
Outra dificuldade que
aponta é o facto de os produtos
não serem valorizados.
“Nós temos produtos de excelência
a nível nacional,
mas, principalmente, aqui
na nossa zona”, refere João
Salsas. Admite ainda que “estamos
a vender o nosso produto
como um produto qualquer
e isso está muito mal”.
No que toca aos subsídios,
é uma queixa frequente e que
já leva alguns anos. De forma
a ajudar os agricultores, tanto
na escoação de produto como
nas burocracias, são criadas
cooperativas agrícolas. Luís
Rodrigues é agricultor de nascença,
mas há 20 anos abraçou
o cargo de presidente de
uma associação cooperativa.
Para ele, os atuais apoios aos
agricultores também não são
suficientes. “É uma miséria.
Se quiserem que os poucos
jovens ainda fiquem na agricultura,
os apoios têm de ser
muito maiores”, realça Luís.
Apesar de ser um atual
presidente de uma cooperativa,
a sua alma de agricultor
fala mais alto e Luís confessa
que “não queria ver este
Trás-os-Montes desertificado”.
Teme que “no dia
em que ninguém trabalhar,
isto arde. Digo muitas vezes:
isto qualquer dia arde”.
Luís Rodrigues reconhece
que a maior dificuldade que
a agricultura atravessa é a
“falta de gente”. “Há um
velho ditado que diz que ser
agricultor empobrecer alegremente”,
mas Luís afirma
que isso vai ter de se alterar.
“Quem ficar na agricultura
tem que ganhar dinheiro”.
Enquanto essa realidade
não se altera, há quem tenha
dois empregos. Elisabete Barreira
é agricultora e assistente
técnica na Junta de Freguesia
de Ala. O gosto pela vida no
campo não é superior à necessidade
de uma vida estável.
Para Elisabete, a agricultura
“ainda não é uma profissão
rentável como outra profissão
qualquer”. “Tens de ter
um complemento para ajudar.
Não é possível haver
sustentabilidade de uma família
só trabalhando na agricultura”,
reforça Elisabete.
Elisabete refere ainda que
a desvalorização do interior
é sentida por todo o país e
não é a única. João Rebhan
tem 18 anos e é um dos mais
jovens agricultores de Ala.
Apesar de ser um dos mais
novos, João concorda com
os mais experientes. “A agricultura
não é de todo valorizada
em Portugal e acho
que ainda há muito a construir”.
Apontou que ajuda do
governo era uma mais-valia.
Mesmo assim, os Alenses
ainda têm esperança. Consideram
Ala uma aldeia jovem,
em comparação com as vizinhas,
e que existem maneiras
de combater a discriminação.
Para João, o primeiro passo
é a educação. “As pessoas
estão habituadas a ver um
agricultor como uma pessoa
pobre e mal instruída, mas
isso não é verdade”. Um
país mais instruído no assunto
seria, para João, a salvação
da agricultura em Portugal.
Apesar de todas as dificuldades,
amanhã é um novo dia.
Os tratores vão voltar a trabalhar
e os animais a pastar. Há
sempre esperança que a crise
agrícola desapareça. E mesmo
com todos os entraves, há um
pensamento que não lhes sai
da cabeça: “Sair para nunca
mais voltar? Não. Não.”.
Fotografias: Bruna Jardim
“
No dia em que ninguém trabalhar, isto arde. Digo muitas
vezes: isto qualquer dia arde”
Luís Rodrigues, presidente de cooperativa agrícola
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