Chave ilustrada para a identificação de 35 espécies de anofelinos das regiões nordestina e amazônica do Brasil pelos caractéres da fêmea, com notas sôbre os transmissores de Malária (Diptera, Culicidae) (Publicado originalmente em 1946)

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74 Memórias do Instituto Evandro Chagas: Parasitologiade aquasalis capturados em diversos trechos das regiões investigadas,sendo, respectivamente, 0.5 e 0.4 porcento os índices oocístico eesporozoítico; em um total de 1136 exemplares dissecados houve nove,isto é 0.7 porcento, positivos para formas evolutivas de plasmódios.Em virtude da semelhança morfológica entre as fêmeasde Anopheles albitarsis e Anopheles darlingi, êsses mosquitos nãoforam reconhecidos como espécies distintas antes de 1926, e muitosdos exemplares infetados, designados até então como albitarsis eram,provàvelmente, darlingi. Embora essas espécies sejam hoje fácilmentedistingíveis, albitarsis ainda mantêm parte da reputação de bomtransmissor de Malária que ganhou no tempo em que darlingi era comêle confundido.Pequenas diferenças na morfologia e nítidas diferençasna biologia de mosquitos de zonas diversas designados como Anophelesalbitarsis, indicam que talvez exista um complexo albitarsis, compostode várias espécies. AYROZA GALVÃO (1943) reconhece duasvariedades de albitarsis, uma das quais êle e LANE (1937) chamaramAlbitarsis limai e outra que êle e DAMASCENO (1942) designaramcomo Albitarsis domesticus. A primeira é comum no interior de SãoPaulo e em geral não invade as casas; a porção negra basal do segundosegmento tarsal posterior mede entre 70 e 90 porcento do segmento e oexocório do ovo não apresenta desenho. Ao contrário, albitarsisdomésticus invade as casas em grande número, tem sòmente 40 a 55porcento de negro no segundo segmento tarsal posterior e os ovosmostram um esbôço de desenho reticulado no exocório. Os autorescreem ter observado um terceiro tipo de albitarsis no Ceará, onde é oanofelino de mais vasta distribuição e em muitas zonas o maisabundante; difere de albitarsis limai porque a mancha negra do segundotarsal posterior mede apenas 25 a 45 porcento do comprimento dosegmento, porém, como limai, raramente invade as casas. Emobservações feitas em Cumbe, (perto de Aracati), Ceará, êsse albitarsisconstituti 96.7 porcento dos anofelinos capturados fora de casas e

Deane, L. M.; Causey, O. R.; Deane, M. P. Chave ilustrada para aidentificação de 35 espécies de anofelinos das regiões nordestinae amazônica do Brasil pelos caractéres da fêmea...75sòmente 4.3 porcento dos apanhados em domicílios. Aliás a maioriados albitarsis capturados em habitações foi coletada em uma casa ondeforte lâmpada de gasolina era mantida acêsa durante a noite. A falta deimunidade à Malária que mostraram os habitantes do vale do Jaguaribequando, em 1938, Anopheles gambiae invadiu essa região ondealbitarsis é tão comum, apoia a idéia de que êste mosquito não é aí umbom transmissor. Mesmo depois da epidemia causada por gambiae emCumbe, com 24 porcento de gametóforos na população, nenhum dos314 albitarsis dissecados foi encontrado infetado. Em Madalena, nointerior do Ceará, albitarsis era abundante quando gambiae aí seintroduziu e proliferou intensamente sem que adviesse um surto deMalária; disso deduz-se que os anofelinos indígenas eram tãoineficientes como transmissores que a Malária aí não existiaprèviamente.Ao contrário do tipo encontrado no Ceára, Anophelesalbitarsis da porção oriental de Rio Grande do Norte, Paraíba,Pernambuco e Alagôas e da bacia amazônica pode ser capturado emgrandes números nas casas e apresenta uma proporção maior de negrono segundo segmento tarsal posterior, correspondendo assim aAnopheles albitarsis domesticus. Embora êsse mosquito suguefàcilmente o homem, os autores não acreditam que seja um transmissorimportante de Malária na maioria das áreas por êles inspeccionadas.Entretanto, em duas localidades, uma com alta e outra com baixaendemicidade malárica, albitarsis foi o único anofelino abundante nosdomicílios, sendo provàvelmente o transmissor do Paludismo: emCamaratuba, Paraíba, o lugar de alta endemicidade, darlingi não foiachado, aquasalis era raro, mas havia nas habitações numerososalbitarsis dos quais 201 foram dissecados, tendo-se encontrado oocistosno estômago de um dêles; na cidade de Monte Alegre, Pará, deendemicidade baixa, e onde darlingi não foi encontrado e aquasalisnão existe, também um dentre 489 albitarsis examinados estava infetadocom oocistos.

Deane, L. M.; Causey, O. R.; Deane, M. P. Chave ilustrada para a

identificação de 35 espécies de anofelinos das regiões nordestina

e amazônica do Brasil pelos caractéres da fêmea...

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sòmente 4.3 porcento dos apanhados em domicílios. Aliás a maioria

dos albitarsis capturados em habitações foi coletada em uma casa onde

forte lâmpada de gasolina era mantida acêsa durante a noite. A falta de

imunidade à Malária que mostraram os habitantes do vale do Jaguaribe

quando, em 1938, Anopheles gambiae invadiu essa região onde

albitarsis é tão comum, apoia a idéia de que êste mosquito não é aí um

bom transmissor. Mesmo depois da epidemia causada por gambiae em

Cumbe, com 24 porcento de gametóforos na população, nenhum dos

314 albitarsis dissecados foi encontrado infetado. Em Madalena, no

interior do Ceará, albitarsis era abundante quando gambiae aí se

introduziu e proliferou intensamente sem que adviesse um surto de

Malária; disso deduz-se que os anofelinos indígenas eram tão

ineficientes como transmissores que a Malária aí não existia

prèviamente.

Ao contrário do tipo encontrado no Ceára, Anopheles

albitarsis da porção oriental de Rio Grande do Norte, Paraíba,

Pernambuco e Alagôas e da bacia amazônica pode ser capturado em

grandes números nas casas e apresenta uma proporção maior de negro

no segundo segmento tarsal posterior, correspondendo assim a

Anopheles albitarsis domesticus. Embora êsse mosquito sugue

fàcilmente o homem, os autores não acreditam que seja um transmissor

importante de Malária na maioria das áreas por êles inspeccionadas.

Entretanto, em duas localidades, uma com alta e outra com baixa

endemicidade malárica, albitarsis foi o único anofelino abundante nos

domicílios, sendo provàvelmente o transmissor do Paludismo: em

Camaratuba, Paraíba, o lugar de alta endemicidade, darlingi não foi

achado, aquasalis era raro, mas havia nas habitações numerosos

albitarsis dos quais 201 foram dissecados, tendo-se encontrado oocistos

no estômago de um dêles; na cidade de Monte Alegre, Pará, de

endemicidade baixa, e onde darlingi não foi encontrado e aquasalis

não existe, também um dentre 489 albitarsis examinados estava infetado

com oocistos.

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