You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
1
2
Reconstituição dos painéis
originais de Paulo Werneck
no IRB: Um desafio e uma
descoberta
3
4
Apresentação
Foi um grande desafio trazer novamente a público
os painéis em mosaico de Paulo Werneck, que haviam sido
totalmente destruídos, durante década de 80.
Nessa tarefa, que realizamos ao longo de um ano e meio, o
problema principal foi conseguirmos manter a fidelidade da
reconstituição da obra de acordo com as informações disponíveis,
através de pesquisa histórica e documental.
A recomposição baseou-se no estudo das pinturas originais
de Paulo Werneck, em pesquisa histórica de fotografias de
época realizada pelo Projeto Paulo Werneck e numa reconstituição,
passo a passo, do processo de desenho geométrico
que o artista utilizou.
Outro desafio importante deveu-se à escassez das tesselas
originais, visto que a fábrica que produziu os materiais utilizados
pelo artista não existe mais e as fábricas que produziam
materiais semelhantes a este, deixaram de os produzir.
5
6
Paulo Werneck diante de
um dos painéis da cobertura
do IRB
Paulo Werneck
Paulo Cabral da Rocha Werneck nasceu em 29
de Julho de 1907, no bairro de Laranjeiras, no
Rio de Janeiro. Sua carreira como artista se inicia
20 anos depois, com a publicação de desenhos
na revista A Época. Dedicou-se também à
ilustração de jornais e revistas de esquerda, assim
como de livros infanto-juvenis.
Em 1928, viria a partilhar escritório com Marcelo
Roberto, primeiro em Vila Isabel e, mais tarde,
em um espaço cedido pelo IAB, na Rua Quitanda,
21. Anos mais tarde, em 1935, passaria a
trabalhar como desenhista no escritório dos arquitetos
MM Roberto, onde foi responsável por
desenhar as perspectivas do projeto da Associação
Brasileira de Imprensa, primeiro edifício
moderno construído no Rio de Janeiro.
Nas décadas de 60 a 80, Paulo Werneck faria
painéis em mosaico para mais de cem agências
do Banco do Brasil, incentivado pelos arquitetos
Rubem Serra, Paulo Villela e Marcelo Campelo,
arquitetos do banco.
Seu círculo de amigos e interlocutores, nas artes
e arquitetura, foi sempre formado por grandes
nomes da cultura brasileira, tais como Cândido
Portinari, Oscar Niemeyer, Marcelo Roberto,
Firmino Saldanha, Carlos Scliar, Israel Pedrosa,
Glauco Rodrigues, Aristides Saldanha, João
Saldanha, Otto Muller e Chlau Deveza, entre
outros.
Werneck foi um dos pioneiros da arte musiva
moderna no Brasil. Realizou mais de 300
painéis ao longo de sua vida, entre os quais se
destacam os sete painéis da cobertura do Instituto
dos Resseguros do Brasil – seu primeiro
projeto de mosaico – realizados a pedido dos
irmãos MM Roberto, entre 1942 e 1944. Neste
mesmo ano, em registro muito semelhante ao
último painel realizado no IRB, a convite de Oscar
Niemeyer, realizou os painéis laterais da Igreja
São Francisco de Assis, na Pampulha. Mais
tarde, viria a contribuir de forma decisiva com a
proposta de integração das artes e a arquitetura,
na nova capital, designadamente no Palácio do
Itamaraty, no Senado Federal e no Tribunal de
Contas, entre outros.
7
O Edifício Instituto
dos Resseguros do
Brasil
Construído em 1942 para ser a nova sede do
Instituto de Resseguros do Brasil, foi um dos
primeiros projetos modernistas a serem construídos
no Rio de Janeiro e, sem dúvida, um
dos mais importantes marcos da arquitetura
moderna até à data no Brasil (o Ministério da
Educação terminaria um ano depois). Projetado
pelos irmãos MMM Roberto, foi publicado
no livro anual de 1945 da Enciclopédia Britânica.
Em 1948, o edifício seria reconhecido pelo
Royal Institute of Britsh Architects (Riba) como
uma das 20 melhores obras de sua época.
No terraço-jardim projetado por Burle Marx,
foram introduzidos os primeiros painéis de
Paulo Werneck, cuja geometria conversava com
a arquitetura. Como assinala Marcelo Roberto:
jardim em que flores, plantas, areia branca, pó
de tijolo, lascas de pedra, águas, se dispõem
seguindo formas abstratas. E nas paredes que
limitam o terraço, o artista Paulo Werneck,
solto, sem peias, fazendo ressurgir uma velha
expressão de arte absurdamente em desuso, executou
maravilhosos painéis em mosaico que
seriam sufi cientes para celebrar um edifício.
Marcelo Roberto
Arquitetura – Revista do Instituto de Arquitetos
do Brasil, n° 28. 1964.
Em 2006, o edifício foi tombado pelo município
e em 2016 pelo IPHAN.
No terraço-jardim há de fato um jardim. Um
8
Acima Edfício Instituto de Resseguros do Brasil,
ao lado imagem de evento na sua cobertura
9
10
O Terraço-jardim
O terraço-jardim constitui um dos Cinco Pontos
da Nova Arquitetura de Le Corbusier, publicados
na revista francesa L’Espirit Nouveau,
em 1926, defendendo a criação de edifícios com
lajes de cobertura utilizáveis com jardins e áreas
de estar, para lazer. Por outro lado, expressava
o sentimento de uma cidade utópica, na qual o
contato com as áreas verdes estaria acessível a
todos os cidadãos e na própria habitação verticalizada,
criando uma nova relação entre o
homem e a paisagem, humanizando a cidade.
arquitetura, com a criação de painéis em mosaico
da autoria de Paulo Werneck.
No Rio de Janeiro este foi dos primeiros marcos
de transformação da cidade, dentro das novas
propostas de arquitetura moderna.
Realizando essa utopia no terraço-jardim do
IRB os irmãos MM Roberto propõem não só
um estreito diálogo com a cidade, pela relação
visual da cobertura com a paisagem, com um
jardim de Burle Marx, como a integração arte e
Ao lado - fotografia da cobertura original do
Edifício.
11
12
13
Os 7 Painéis
14
Paulo Werneck se iniciou na arte do mosaico através do contato
com o industrial e proprietário da fábrica CCB – “Companhia
Cerâmica Brasileira” – Jorge Ludolf. Através dele
conheceu a possibilidade da utilização das pastilhas de porcelana
para a realização de obras de arte, que se prestavam a
ficar ao ar livre, dada a durabilidade do material.
Os painéis da cobertura do IRB têm uma linguagem ora abstrata
ora figurativa.
Nos painéis figurativos há uma relação com a paisagem: as
montanhas e as nuvens, o mar carioca, através da figura de
uma sereia e cavalos, lembrando a paisagem rural brasileira.
Nos painéis geométricos inicia-se uma experiência de arte
abstrata aplicada à arquitetura, totalmente inovadora no
Brasil. As formas curvas dos painéis abstratos de Paulo Werneck,
lidas conjuntamente com as formas curvas dos jardins
de Burle Marx, oferecem um ambiente com uma forte unidade
visual e estética.
Na página seguinte - croqui
original do artista. Painel 1
15
Metodologia de
reconstituição dos
painéis de Paulo
Werneck
A recomposição dos mosaicos originais totalmente
destruídos sem que pudéssemos acessa-los
e medir diretamente nos muros as suas dimensões,
ou olhar suas cores, requereu grandes
desafios e o estudo e interseção de três bases de
dados, às quais tivemos acesso.
A primeira base, foram as pinturas originais do
artista, que serviram de cartão preparatório para
os mosaicos. Eram pequenas, da ordem dos 20
cm x 30 cm, mas eram uma fonte segura para
estudarmos as cores utilizadas e a estrutura formal
das obras. Acontece que, entre o artista ter
pintado os seus estudos e a execução final dos
murais, ele próprio transformava os desenhos,
seja para adequá-los a uma melhor exequibilidade
com as tesselas, seja para modificar de
forma livre aspectos da composição que queria
melhorar.
Para confirmarmos, com segurança, qual o tamanho
e formas definitivas dos murais tivemos
então acesso a uma ótima pesquisa histórica realizada
pelo Projeto Paulo Werneck, com fotos
em preto e branco, relacionadas a festas e eventos
que tinham acontecido naquele imponente
espaço, que oferecia um novo conceito de monumentalidade
– uma monumentalidade que
não era feita de simetrias e eixos lineares,
16
Imagens de eventos sociais na cobertura do
IRB.
17
Ao lado - croqui original
Painel 4
18
Ao lado - estudo de reconstituição
do desenho com base em imagens
documentais. Painel 3
Acima- croqui original - Painel 5
com arbustos talhados em geometrias topiarias, mas sim de magníficas
folhagens tropicais e formas arredondadas dos jardins de
Burle Marx.
Medindo diretamente sobre essas fotos, tivemos segurança sobre
o tamanho real dos painéis e sua proporção em relação à arquitetura,
cujo pé direito original ainda existente em partes da cobertura,
podia ser medido.
A partir das fotos de alta definição, pudemos também, por vezes,
contar o número exato das tesselas de porcelana de 2 cm x 2
cm que formavam o desenho. Pudemos também observar outro
aspecto importante dos mosaicos – o movimento criado pelas tesselas
(ou andamento) que é parte estrutural da obra de arte em
mosaico.
Na ampliação da pintura de pequenas dimensões para o tamanho
monumental dos mosaicos murais, encontramos outro desafio, já
que nas pinturas originais a própria pincelada, ao ser ampliada,
tornava os contornes irregulares e as formas fluidas.
19
Acima- croqui original do artista.
Painel 2
Para recompormos, na escala monumental, essas pinturas, tivemos
então como recurso a nossa terceira fonte de informação: a
certeza de que Paulo Werneck construía todas as suas formas com
rígido controle formal, usando compasso, régua e esquadro, e uma
lógica de proporção muito controlada, que criava o resultado de
beleza a que estamos habituados.
Perseguindo a construção da obra de Paulo Werneck, fazíamos a
descoberta de um dos verdadeiros talismãs de sua obra: a familiaridade
com a geometria.
20
Ao lado - croqui original do
artista - Painel 6
Ao lado estudo de definição
de cores e materiais
Painel 7
21
Montagem e Instalação
dos painéis
Partindo do princípio de reconstituição fiel dos painéis, acima
citado, iniciamos a pesquisa em todo o Brasil, das tesselas
idênticas às da escala de cores montada pelo artista.
Com esses materiais iniciamos a montagem dos painéis em
nosso ateliê, seguindo rigorosamente o andamento criado
por Paulo Werneck, visível nas fotos a preto e branco da
revista carioca Manchete. Foi possível assim recompor todos
os painéis com seu andamento original. Na montagem
foi utilizada a mesma técnica, andamento e distância entre
as tesselas, dos painéis originais de Werneck. Sendo o primeiro
conjunto de painéis produzidos pelo artista, nota-se
que o processo de montagem era ainda bastante simplificado,
evoluindo posteriormente para montagens mais complexas.
A Oficina de Mosaicos não tentou de forma alguma
modificar ou melhorar a forma original com que o artista
trabalhou.
22
23
À esquerda - montagem do
painel no ateliê, e definição
das cores.
À direita - vetorização do
desenho e preparação para
montagem
Folha A1
Folha A2
24
Folha A1
Folha A2
25
26
Ao lado - montagem do
painel no ateliê. Painel 7
27
A montagem foi feita pelo método indireto, em nosso ateliê em
São Paulo. Os painéis foram transportados em caixas, divididos
em placas numeradas, prontas para serem assentadas no local.
Na instalação, o enquadramento dos painéis nas paredes, respeitou
também a pesquisa realizada. Foi utilizada argamassa especial
para mosaicos e áreas externas, de modo a garantir durabilidade
e resistência em relação às intempéries.
28
Ao lado -instalação dos
painéis.
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
50
51
52
53
54
55
56
57