SCMedia News | Revista | Setembro 2022
A revista dos profissionais de logística e supply chain.
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<strong>Setembro</strong> <strong>2022</strong><br />
4,60€<br />
Mensal<br />
35<br />
LACTAÇORES<br />
PREPARADOS<br />
PARA CRESCER<br />
PENDULAR<br />
"É RARO O DIA<br />
EM QUE NÃO TEMOS<br />
UM AUMENTO"<br />
INTRALOGÍSTICA<br />
DO CONVENCIONAL<br />
AO 4.0<br />
CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO<br />
MC AZAMBUJA<br />
70.000 m2 de pura logística
2<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong>
SCM Supply Chain Magazine 3<br />
dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />
Dora Assis<br />
EDITORIAL<br />
O FIM DOS NEGÓCIOS DA CHINA?<br />
“A partir de um certo ponto, não há retorno. Este é o ponto<br />
que é preciso alcançar.”<br />
Franz Kafka<br />
A China está a perder rapidamente o seu<br />
fascínio como destino de investimento, já que<br />
o país é agora visto como "menos previsível,<br />
menos fiável e menos eficiente", de acordo<br />
com um relatório publicado pela Câmara de<br />
Comércio da União Europeia na China.<br />
Segundo esse documento, as barreiras<br />
regulamentares continuam a limitar os<br />
objetivos das empresas europeias que<br />
operam no mercado chinês, como foi o<br />
caso das políticas Zero Covid que tiveram<br />
repercussões terríveis nas cadeias de<br />
abastecimento globais, com efeitos que ainda<br />
se fazem sentir.<br />
Por outro lado, existem outros desafios, como<br />
os que derivam das tensões geopolíticas<br />
a que temos vindo a assistir, não só pelo<br />
conflito armado Rússia Ucrânia, mas também<br />
pelas subsequentes tensões geopolíticas<br />
originadas entre a China e os EUA, que vão<br />
tornando o gigante asiático menos atraente<br />
como local de investimento para as empresas<br />
europeias.<br />
Como o ambiente empresarial é cada vez<br />
mais visto como menos previsível e fiável,<br />
as empresas europeias procuram cada vez<br />
mais deslocalizar investimentos para outros<br />
mercados. Para melhorar a resiliência e<br />
reduzir os riscos da cadeia de fornecimento,<br />
as empresas estão cada vez mais a explorar<br />
não só a estratégia "China +1" mas também<br />
"China +1+2+3".
4<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
#08 #46 #50<br />
ÍNDICE<br />
LOGÍSTICA<br />
Sonae MC 08<br />
Savills 24<br />
DB Schenker 30<br />
LactAçores 34<br />
INTRALOGÍSTICA<br />
Intralogística 4.0 50<br />
TECNOLOGIAS<br />
Bridgestone/AWS 54<br />
PROCUREMENT<br />
Entrevista Vítor Ribeiro Gomes,<br />
Pendular 38<br />
NewOnedrive 44<br />
Mercado Eletrônico 46<br />
TRANSPORTES<br />
Estudo Green Fleet 58<br />
Transportes Paulo Duarte 62<br />
Vonzu 66
SCM Supply Chain Magazine 5<br />
CARREIRA<br />
#58<br />
Gesgrup – Outsourcing logístico 72<br />
DIÁRIO DE BORDO<br />
Artesãos, bem hajam! 76<br />
O MUNDO É REDONDO<br />
“O que explica a ascensão<br />
dos seres humanos” 78<br />
#66<br />
FICHA TÉCNICA<br />
Sede editor, Administração e Redação_<br />
Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />
2890-307 Alcochete<br />
T: 210 499 074<br />
Direção Geral_<br />
Filipe Barros<br />
Diretora_<br />
Dora Assis<br />
Redação_<br />
Fábio Santos<br />
Projeto gráfico_<br />
Maria João Carvalho<br />
Design Gráfico & Paginação _<br />
PAR Design<br />
Direção Comercial _<br />
Filipe Barros<br />
Sales & Marketing _<br />
Margarida Matildes<br />
Marketing Digital_<br />
Catarina Santos<br />
Impressão _<br />
VASP DPS<br />
MLP – Quinta do Grajal,<br />
Venda Seca<br />
2739-511 Agualva Cacém<br />
Tiragem _<br />
3 mil exemplares<br />
Propriedade_<br />
SC Media Unipessoal, Lda.<br />
Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />
2890-307 Alcochete<br />
T: 210 499 074<br />
E: geral@supplychainmagazine.pt<br />
W: supplychainmagazine.pt<br />
NPC _<br />
514707143<br />
Capital Social_<br />
100,00€<br />
Participações sociais_<br />
Susana Silva<br />
Administração_<br />
Filipe Barros<br />
Registo na ERC n.º _<br />
127322<br />
Depósito Legal n.º _<br />
458604/19<br />
Os artigos assinados apenas veiculam<br />
a posição dos seus autores.<br />
Interdita a reprodução de textos e<br />
imagens sem autorização expressa.
6<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
FACTOS<br />
& NÚMEROS<br />
Armadores<br />
10 MAIORES EMPRESAS DE TRANSPORTE<br />
DE CONTENTORES DO MUNDO<br />
De Grande volume do comércio global de<br />
mercadorias é transportado por mar. Este<br />
processo requer, devido à escala do consumo<br />
humano, um enorme número de contentores,<br />
bem como navios para os transportar. Desta<br />
forma, o transporte de contentores só poderia<br />
ser dominado, igualmente, por grandes<br />
empresas, como as gigantes Maersk, COSCO<br />
Shipping ou Evergreen.<br />
A Alcott Global classificou as 10 maiores<br />
empresas de transporte de contentores do<br />
mundo, através de duas métricas. O primeiro<br />
parâmetro é o número de navios que estas<br />
empresas possuem, o segundo está relacionado<br />
com a capacidade total de transporte medida<br />
em unidades equivalentes a vinte pés (TEUs).<br />
Um TEU é baseado no volume de um contentor<br />
marítimo de vinte pés de comprimento. É de<br />
referir que os dados relativos ao tamanho<br />
das frotas são de junho de 2021, enquanto a<br />
capacidade de TEU é de janeiro de <strong>2022</strong>.<br />
Neste conjunto de dados, a Maersk e a MSC<br />
estão empatadas em primeiro lugar em termos<br />
de capacidade de TEU. No entanto, os meios<br />
de comunicação relataram recentemente que<br />
a Mediterranean Shipping Company (MSC)<br />
alcançou (e superou) a líder de longa data<br />
Maersk, dado o seu rápido crescimento no<br />
mercado. A empresa suíça aumentou o tamanho<br />
da sua frota por meio de novos pedidos,<br />
aquisição de navios em segunda mão e acordos<br />
de fretamento.<br />
Vale a pena lembrar que a Maersk é a terceira<br />
maior empresa da Dinamarca por capitalização<br />
de mercado. Atrás dos dois líderes do setor estão<br />
uma mistura de empresas europeias e asiáticas.<br />
Muitas dessas empresas cresceram por meio de<br />
fusões e aquisições. •<br />
Classificação Empresa País TEU Nº de navios<br />
1<br />
Maersk<br />
Dinamarca<br />
4.3M<br />
718<br />
2<br />
MSC<br />
Suíça<br />
4.3M<br />
606<br />
3<br />
CMA CGM<br />
França<br />
3.2M<br />
542<br />
4<br />
COSCO Shipping<br />
China<br />
2.9M<br />
497<br />
5<br />
Hapag-Lloyd<br />
Alemanha<br />
1.7M<br />
259<br />
6<br />
Ocean Network Express<br />
Japão<br />
1.5M<br />
218<br />
7<br />
Evergreen Marine<br />
Taiwan<br />
1.5M<br />
201<br />
8<br />
HMM<br />
Coreia do Sul<br />
0.8M<br />
79<br />
9<br />
Yang Ming<br />
Taiwan<br />
0.7M<br />
87<br />
10<br />
Wan Hai Lines<br />
Taiwan<br />
0.4M<br />
146
8<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
LOGÍSTICA<br />
Texto: Fábio Santos<br />
MC
SCM Supply Chain Magazine 9<br />
“NÃO VAMOS<br />
PERDER A<br />
OPORTUNIDADE<br />
DE SER OS<br />
PRIMEIROS”<br />
Instalada em Vila Nova da Rainha<br />
desde 1994, a MC, nomenclatura<br />
mais recente da antiga Sonae<br />
MC, expandiu no ano passado as<br />
suas instalações, com um novo<br />
armazém de frio com 25.000 m2<br />
e relocalizando a sua unidade<br />
de tratamento de pescado de<br />
Santarém. No total são agora 70.000<br />
metros quadrados de pura logística,<br />
que abastecem 90% dos seus<br />
espaços de loja, incluindo as ilhas.<br />
Um vasto mundo novo que fomos<br />
descobrir.<br />
É<br />
difícil transmitir uma ideia de grandeza<br />
do espaço, mas imaginemos o Palácio de<br />
Belém: dois não chegam. Nesses termos de<br />
comparação, é apenas um pouco mais pequeno<br />
do que a área da Casa Branca, nos Estados<br />
Unidos. O centro de distribuição da Azambuja<br />
é um dos dois entrepostos da MC, sendo que o<br />
outro se encontra na Maia. É a partir dali que a<br />
empresa abastece cerca de 90% das suas lojas,<br />
incluindo as ilhas, e exporta para outros países,<br />
como é o caso de Cabo Verde.<br />
Paulo Carvalho, Distribution Center Director<br />
da MC, conta-nos como é um dia “normal”<br />
no Centro de Distribuição da Azambuja.<br />
Diariamente, circulam cerca de 800 camiões,<br />
entre movimentos in & out, para abastecerem<br />
perto de 600 lojas, que vão desde “lojas<br />
orgânicas”, de insígnias Continente e Modelo -<br />
cerca de 180 -, a parcerias com os “Meu Super”,<br />
cafetarias, “Bagga”, entre outros. “Percorremos<br />
mais de 15 milhões de quilómetros para fazer<br />
as entregas às nossas lojas. São três milhões de<br />
paletes, 155 mil entregas/ano”, revela.
10<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
É uma operação de 363 dias por ano com<br />
uma gama de 38.000 referências, que envolve<br />
1.100 colaboradores de 19 nacionalidades<br />
diferentes, dos quais 83% já fazem parte<br />
da população da Sonae. “É uma questão<br />
de responsabilidade social, ter equipas<br />
mais estáveis e competitivas”, defende o<br />
responsável. Os restantes 17% estão ainda a ser<br />
internalizados, mas nota que durante as épocas<br />
de verão e Natal haverá sempre a necessidade<br />
de reforço das equipas pela sazonalidade.<br />
Para além da diversidade, também se pautam<br />
pela igualdade de género, contando com um<br />
equilíbrio de 50% nos cargos de gestão e<br />
liderança, embora esse valor desça para os 32%<br />
quando contabilizados os cargos das operações,<br />
devido às grandes cargas que envolvem.<br />
“Mesmo assim, estamos com 32% de toda a<br />
população feminina”, aponta o Distribution<br />
Center Director, “somos das empresas que<br />
atualmente mais cargos de liderança femininos<br />
tem”.<br />
O bem-estar dos colaboradores “é o nosso<br />
primeiro pilar”, e como tal, revela que “nos<br />
últimos anos foram gastos 50 milhões de<br />
euros sem qualquer trade-off de retorno, única<br />
e exclusivamente a pensar em questões de<br />
ergonomia”, acrescentando que neste momento<br />
estão a investir mais 4 milhões de euros<br />
na renovação das áreas sociais. “Queremos<br />
claramente apostar em melhores condições<br />
para os nossos colaboradores”.<br />
Um dos exemplos são os dispensadores<br />
de paletes que se encontram distribuídos<br />
pela zona de ambiente, de modo a evitar<br />
cargas adicionais para os colaboradores. Cada<br />
palete tem cerca de 20 quilos, o que torna o<br />
trabalho mais pesado. O investimento “não tem
SCM Supply Chain Magazine 11<br />
qualquer benefício [operacional]. Colocar as<br />
paletes manualmente era muito mais rápido, e<br />
ainda têm de esperar pelo equipamento, mas<br />
é uma aposta grande dentro da questão da<br />
ergonomia”.<br />
No espaço de ambiente também têm<br />
disponível um display que mostra o que falta<br />
fazer, e onde se podem inclusive ver os níveis<br />
de produtividade individuais, o que permite<br />
aos próprios colaboradores ter uma maior<br />
visibilidade. “Esta transparência de dados com<br />
todos não é algo que só a liderança vá atrás do<br />
colaborador, é transparente para toda a gente”,<br />
aponta Paulo Carvalho, acrescentando que “não<br />
queremos chefiar, queremos liderar. Queremos<br />
acabar com a chefia, queremos uma liderança,<br />
queremos equipas saudáveis, felizes, e com<br />
um propósito comum. Isto torna o processo<br />
tão mais natural e tem melhores resultados a<br />
médio e logo prazo”.<br />
A nível operacional, neste centro de<br />
distribuição contam com quatro espaços<br />
distintos:<br />
Refrigerado – onde trabalham produtos<br />
como frutas, iogurtes e charcutaria;<br />
Ambiente – permanece no edifício antigo,<br />
onde processam cerca de 90% dos produtos que<br />
estão nas suas lojas;<br />
Processamento de pescado e<br />
bacalhau – local em que é processado<br />
o pescado, sendo que o processamento de<br />
bacalhau se encontra à parte do restante<br />
pescado devido às suas especificidades, como é o<br />
caso do controlo de humidade;<br />
Centro de serviços – onde fazem a recolha<br />
de caixas e paletes e procedem à sua lavagem.<br />
Também é neste espaço que fazem a triagem,<br />
separação de cartão, plástico e afins de lojas
12<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
mais pequenas que não têm essa capacidade,<br />
e que posteriormente enviam para centros de<br />
reciclagem.<br />
O NOVO CENTRO<br />
DE DISTRIBUIÇÃO REFRIGERADO<br />
Em 2009 a plataforma já tinha sido expandida,<br />
mas uma década depois sentiram que o espaço<br />
estava novamente a ser insuficiente, e eis que<br />
em 2019 a plataforma da Azambuja atinge<br />
o máximo histórico da sua capacidade. “Há<br />
uma métrica na logística que é a quantidade<br />
de caixas por metro quadrado, referente à<br />
capacidade de processamento. Face ao que<br />
se considera saudável para uma operação<br />
eficiente, que anda na ordem das 6.2 caixas por<br />
metro quadrado, nós já estávamos com uma<br />
taxa de 8.9 caixas/metro quadrado”.<br />
Paulo Carvalho recorda que “o nosso primeiro<br />
edifício foi construído em 1994. Depois, em<br />
2009, fizemos uma segunda expansão, para<br />
os dois lados, onde incorporámos também a<br />
nossa operação de frio, e em 2020, face a estas<br />
dificuldades, crescemos”.<br />
Realizada a expansão, o novo centro<br />
de distribuição tem agora 25.000 metros<br />
quadrados, e celebra um ano em outubro.<br />
Desde então, tem tido um crescimento notável:<br />
“crescemos, desde 2019 até hoje, mais de 20%<br />
na nossa atividade”, revelou Paulo Carvalho,<br />
“tínhamos uma previsão quando fizemos este<br />
entreposto, e denominámos o projeto de 20/30,<br />
com o objetivo de garantir o crescimento<br />
esperado entre 20 e 30%”. O crescimento<br />
esperado situava-se entre os 2 e os 3% ao<br />
ano, mas a pandemia veio acelerar esse<br />
processo, e “pelos volumes atuais é como se já<br />
estivéssemos em 2027”, aponta o responsável.<br />
Uma das razões apontadas para o<br />
crescimento foi a rápida reação e resposta<br />
ao novo contexto pandémico. “Essa resposta<br />
acho que nos permitiu ganhar a tal quota<br />
de mercado e crescermos na ordem dos
SCM Supply Chain Magazine 13<br />
20% nestes últimos dois anos em termos de<br />
atividade”.<br />
Na sua maioria, a unidade é refrigerada a<br />
4ºC, mas também tem um espaço a 14ºC para<br />
determinados frutos e hortícolas, e um de<br />
cross-docking de carne entre 0ºC e 2ºC, para<br />
determinadas tipologias que requerem essa<br />
temperatura. “Também as poderíamos ter aqui<br />
e tínhamos só um entreposto, mas em termos<br />
qualitativos há artigos que não interessa<br />
estarem abaixo de 2ºC, e 0ºC já é a parte da<br />
congelação. Há alguns tipos de frutas, como os<br />
tomates, que o frio danifica. Assim, temos aqui<br />
a temperatura a 4ºC, que é o ideal para esta<br />
tipologia de artigos, e temos uma outra câmara<br />
para, principalmente, frutos tropicais, banana,<br />
etc., que se encontra a 14ºC”.<br />
UNIDADE DE AMBIENTE<br />
A área de ambiente ocupa também 25.000<br />
metros quadrados, e processa a grande<br />
maioria dos produtos que estão nas lojas.<br />
Este espaço permaneceu nas instalações<br />
anteriores, que já tinha sido alvo de<br />
expansão, e está dividido entre áreas de<br />
Picking-By-Stock (PBS) e Picking-By-Line<br />
(PBL).<br />
No caso do espaço de PBS, é onde tratam<br />
os produtos para e em stock, funcionando em<br />
sistema de estimativa de venda. Por sua vez,<br />
o de PBL, envolve toda a operação de stock<br />
zero, como é o caso dos perecíveis, em que<br />
toda a mercadoria que chega ao entreposto<br />
ainda sai no próprio dia.<br />
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14<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
Nestas operações não é crítico não terem<br />
stock, e não compromete, nem gera ruturas, e<br />
isso “liberta-nos espaço, e o stock é gerido em<br />
casa do fornecedor”.<br />
Como trabalham em sistema PUSH,<br />
garantem que existem sempre produtos<br />
disponíveis nas lojas, sem quebra. “Sabemos<br />
que não vamos falhar com o cliente”, e “se<br />
recebemos hoje, preparamos hoje, entregamos<br />
hoje”, afirma.<br />
“Nós trabalhamos em LEAD times de 24<br />
horas, e algumas de 12 horas. Ou seja, até o<br />
próprio peixe é pescado hoje à noite, às seis<br />
da manhã estamos a recolher o peixe das<br />
lotas para vir para aqui, para preparar hoje e<br />
algumas lojas ainda hoje, às seis, sete da tarde,<br />
já estarem a receber”, explica Paulo Carvalho.<br />
UNIDADE DE PROCESSAMENTO<br />
DE PESCADO E BACALHAU<br />
Com uma área entre os 7.000 e os 8.000<br />
metros quadrados, este recente espaço veio<br />
transferir para a Azambuja as operações que<br />
tinham em Santarém. Com esta deslocalização<br />
conseguiram centralizar as operações e evitar<br />
quilómetros percorridos, bem como emissões<br />
de CO2. Para já, e durante cerca de dois a três<br />
meses, este espaço está a abastecer a nível<br />
nacional, enquanto não terminam a expansão<br />
que está a ocorrer na unidade da Maia, que<br />
inclui um novo centro de distribuição de<br />
pescado. Para a região norte fazem crossdocking<br />
na plataforma da região.
SCM Supply Chain Magazine 15<br />
“É um desafio constante sermos cada vez<br />
mais sustentáveis. Os desafios da companhia<br />
vão sempre além daquilo que é expectável na<br />
sociedade”, aponta Paulo Carvalho.<br />
Neste tipo de indústria existe ainda um grande<br />
desperdício de água através das perdas de gelo,<br />
necessário para o acondicionamento do peixe.<br />
Paulo Carvalho aponta a vantagem que têm ao<br />
gerar o próprio gelo, “um gelo laminado que<br />
leva um tipo de sal próprio para aguentar mais<br />
tempo, que reduz em muito a necessidade de<br />
gerar gelo. O gelo aguenta mais tempo, evitando<br />
desperdícios. Antes tínhamos de encher a caixa de<br />
gelo, gastávamos três a quatro quilos de gelo por<br />
caixa, e agora conseguimos melhores condições<br />
para o produto apenas com dois quilos e meio”.<br />
Como forma de tornar a operação mais<br />
sustentável e de minimizar o desperdício, a MC<br />
implementou um sistema de caixas de plástico<br />
reutilizáveis, ao invés das habituais de esferovite.<br />
Paulo Carvalho explica que isso se deve ao<br />
facto de nem todas as lojas venderem a mesma<br />
quantidade de peixe e, como tal, transferem a<br />
quantidade de peixe consoante as necessidades<br />
de cada espaço.<br />
“Quando vem do fornecedor tem uma unidade<br />
logística única, que originava muita quebra ou<br />
desperdício alimentar nas nossas lojas. Havia<br />
lojas que vendiam menos, recebiam 10 quilos e<br />
vendiam dois. Nós, ao fazer toda esta transição<br />
para as nossas caixas, conseguimos reajustar a<br />
store pack, ou unidade por caixa, de acordo com<br />
a necessidade efetiva da loja, e garantindo que<br />
é para as vendas do próprio dia. Se for no dia a<br />
seguir não há quebra, nem desperdício alimentar”,<br />
explica o responsável.<br />
Regularmente, a lota abastece em caixas de<br />
esferovite, no entanto, uma das iniciativas que<br />
tomaram foi de abastecer este tipo de caixas aos<br />
fornecedores, e assim, “o fornecedor em vez de<br />
enviar em caixas de esferovite, envia nas caixas<br />
de plástico”, explica o responsável.<br />
“Mais uma vez, também reduz em muito<br />
a questão das taras. Comprávamos em<br />
fornecedores, vinha em caixas de cartão/<br />
de esferovite e vinha todo aquele plástico<br />
das cuvettes. Nós fazemos nas nossas caixas,<br />
devidamente acondicionado, chega à loja para<br />
venda unitária, ou seja, o consumível é gasto<br />
à necessidade efetiva, e não é gasto por uma<br />
questão de embalamento e acondicionamento.<br />
Reduz o consumo de plástico e toda a tara/pool<br />
de caixas que é reciclada”.<br />
Através deste movimento centralizado, a<br />
empresa conseguiu uma redução de 20 a 25%<br />
de quebra e desperdício alimentar. “Encarece<br />
a operação, mas tem todo um conjunto de<br />
benefícios ao nível do desperdício alimentar”.<br />
Existem, no entanto, alguns entraves que<br />
limitam a utilização destas caixas, como é o<br />
caso dos fornecedores externos. “Fazermos<br />
esta pool de caixas com os fornecedores é um<br />
pouco mais complexo, mas não deixa de ser<br />
uma ambição nossa. Mesmo a pouca que vem<br />
em esferovite, não enviamos assim para a loja.<br />
Reacondicionamos em caixas nossas e fazemos<br />
logo aqui a reciclagem da esferovite. Já temos<br />
perto de 50 a 60% de toda a produção entregue<br />
nas nossas lojas por esta circulação de caixas<br />
reutilizáveis”.<br />
Outra forma que de combater o desperdício<br />
alimentar foi reaproveitar os pedaços de peixe<br />
fresco que o cliente já não está disposto a<br />
pagar, dando origem a novos produtos, e assim<br />
conseguem “entregar uma outra proposta de<br />
valor aos nossos clientes e reduzir o desperdício<br />
alimentar”. Para além disso, estão também a<br />
começar a fazer processados, que nos mercados<br />
estrangeiros já são uma tendência, e em Portugal<br />
começam a surgir cada vez mais. “Vamos<br />
desenvolver hambúrgueres de salmão, temos os<br />
filetados de robalo, de salmão e de dourada, e
16<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
um conjunto de espetadas”, revela o Distribution<br />
Center Director.<br />
CENTRO DE SERVIÇOS<br />
Num espaço de 3.000 metros quadrados, é no<br />
centro de serviços que a MC faz o tratamento de<br />
todos os resíduos gerados internamente (e em<br />
lojas que não tenham condições físicas para o<br />
fazer), bem como a lavagem de caixas e paletes.<br />
No caso da lavagem dos equipamentos, uma<br />
passadeira rolante traz as caixas de plástico<br />
desde o espaço interior para passarem pelo<br />
processo de lavagem, e as de esferovite<br />
para serem compactadas e posteriormente<br />
recicladas.<br />
Para o processo de reciclagem e tratamento<br />
de resíduos, na loja agrupam, tratam e fazem<br />
a triagem dos materiais, e depois enviam para<br />
o centro de serviços através dos camiões que<br />
vão fazer entregas às lojas. Paulo Carvalho<br />
destaca que “ao aproveitar as nossas viaturas<br />
que já lá estão, no regresso trazemos para<br />
cá, consolidamos, e depois uma única viagem<br />
permite-nos uma recolha de diversas lojas”.<br />
DISTRIBUIÇÃO<br />
O planeamento e gestão da distribuição é feita<br />
pela MC, para rentabilizar e fazer a consolidação<br />
de cargas. “Nós planeamos as viagens,<br />
contratamos o serviço do ponto A ao ponto B e<br />
carregamos a mercadoria consolidada”. Neste<br />
planeamento têm também atenção às questões<br />
de backhauling referidas anteriormente, de<br />
modo a rentabilizar cada viagem e minimizar<br />
os impactos ambientais. “30 a 40% de toda a<br />
mercadoria que entra aqui, estamos a falar de
SCM Supply Chain Magazine 17<br />
meio milhão de caixas/dia, que saem, já é por<br />
backhauling, já somos nós que reaproveitamos<br />
a viagem, reduzindo a necessidade de o<br />
fornecedor estar a contratar ou subcontratar<br />
viagens”, bem como os quilómetros percorridos.<br />
Deste modo, não só evitam que os<br />
fornecedores enviem veículos dedicados a essa<br />
entrega, como ao mesmo tempo reduzem as<br />
próprias emissões e as da sua supply chain.<br />
“Temos uma parceria com o fornecedor que<br />
nos fornece estas taras reutilizáveis, e eles<br />
fazem uma pré-seleção aqui, depois há uma<br />
higienização, e assim temos um circuito fechado.<br />
Mais uma vez, consolidamos todas as recolhas<br />
num único centro e numa única viagem”,<br />
explica.<br />
A MC está a apostar cada vez mais em<br />
parcerias com os fornecedores e com a própria<br />
CHEP para a utilização das caixas reutilizáveis,<br />
reduzindo assim os resíduos produzidos, e<br />
Paulo Carvalho conta que “estamos a fazer<br />
essa transição, parcerias e negociações com<br />
fornecedores para abdicarem da caixa de cartão.<br />
Passa a ser uma tara mais sustentável”. Hoje,<br />
perto de 60 a 70% da mercadoria de frutas<br />
e legumes da empresa já é feita em caixas<br />
reutilizáveis.<br />
Para a distribuição não contam com frota<br />
própria, sendo feita através de operadores<br />
logísticos que se encarregam do transporte,<br />
e com os quais são estabelecidos requisitos<br />
e propósitos que têm como objetivo, desde<br />
logo, a energia sustentável, veículos com<br />
menores impactos ambientais, entre outros.<br />
“Há todo um conjunto de cadernos de<br />
encargos que nós definimos, alinhado com<br />
a nossa estratégia e com as diretrizes que<br />
temos na nossa companhia, nas questões da<br />
sustentabilidade. Com essa parceria gerimos a<br />
frota conjuntamente com eles”.<br />
No caso dos produtos congelados, contam<br />
com um parceiro que faz a distribuição a sul<br />
(abaixo de Coimbra), uma operação que vão<br />
internalizar agora.<br />
Uma salvaguarda que têm para garantir a<br />
frescura e minimizar o desperdício alimentar<br />
é o facto de trabalharem com LEAD times<br />
muito curtos, de 24 horas, e até mesmo de 12<br />
nalguns casos. Um dos focos da empresa é na<br />
redução constante dos LEAD times de entrega.<br />
“O ideal era o cliente querer uma alface e nós<br />
arrancarmos diretamente da terra, mas ainda<br />
não é possível”, aponta o responsável, “em<br />
termos de frescura, se não fosse a distância<br />
geográfica que nos obriga a todas estas<br />
movimentações, era como o cliente estar a<br />
arrancar o alimento da terra”.<br />
Este processo será melhorado com o novo<br />
entreposto de Vila Nova da Rainha, situado no<br />
Rainha Green Logistics Park, um espaço próximo<br />
ao centro de distribuição da Azambuja onde<br />
também irão fazer operações de cross-docking,<br />
conseguindo consolidar mais viagens à loja<br />
numa única entrega. Com este novo espaço,<br />
todo o processo de gestão de frota e entrega<br />
passa a ser feito internamente, ao invés de<br />
recorrerem a um parceiro. “Essa consolidação<br />
vai-nos levar para patamares completamente<br />
diferenciadores”, aponta Paulo Carvalho.<br />
Contam com entrepostos de cross-docking<br />
para o abastecimento das lojas. Exemplo disso<br />
é a plataforma da Guia, que abastece as lojas do<br />
Algarve, e que é afetada pela sazonalidade da<br />
região. A mercadoria é preparada na Azambuja<br />
e enviada para a plataforma de cross-docking<br />
da Guia para, a partir dali, ser feito o transporte<br />
capilar. Para o efeito contam com um camião<br />
gigaliner, com duas galeras, para consolidar<br />
as entregas e assim diminuir o impacto da<br />
pegada ecológica. O entreposto pode entregar<br />
diretamente às lojas, ou nas plataformas e<br />
posteriormente às lojas.
18<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
“Face à necessidade de crescimento e às<br />
linhas de orientação que tínhamos, tivemos<br />
de expandir, e quisemos fazê-lo olhando para<br />
a questão da sustentabilidade”, comenta o<br />
responsável, referindo-se às certificações<br />
BREEAM que as novas instalações irão ter.<br />
SUSTENTABILIDADE<br />
A redução de emissões já passou de cerca de<br />
1.000 toneladas/ano, valor registado pela altura<br />
da sua inauguração, para as 1.500 toneladas/<br />
ano, através da otimização dos processos e<br />
adoção de novos. Questões como gestão das<br />
viagens e processos de backhauling, como<br />
forma de reaproveitarem as viagens e reduzir<br />
as emissões poluentes, eficiência energética<br />
e hídrica, redução do desperdício alimentar,<br />
reaproveitamento dos recursos, foram algumas<br />
das áreas destacadas, mas acima de tudo,<br />
planeamento, muito planeamento.<br />
O próprio edifício refrigerado, na sua<br />
construção, teve em conta várias questões<br />
de sustentabilidade, o que lhe garantiu a<br />
certificação LEED Gold de Portugal, sendo<br />
que apenas 17% dos edifícios a nível mundial<br />
que pedem esta certificação a conseguem.<br />
“Fazemos parte desses 17%, sendo que em<br />
Portugal somos os primeiros a obtê-la”, lembra<br />
o responsável, apontando quatro pontos que<br />
tiveram em conta:<br />
· O edifício é coberto por 6.900 painéis<br />
fotovoltaicos, que geram energia para<br />
autoconsumo, e sustentam 30% do consumo<br />
total da empresa, tendo este ano atingido<br />
mesmo a fasquia dos 40% devido ao calor<br />
sentido no verão;<br />
· Mudaram toda a iluminação para LED, de<br />
modo a melhorar a sua eficiência energética;<br />
· Ao nível das águas, também são<br />
reutilizáveis, 70% da água é reaproveitada para<br />
os sanitários, valores bastante acima dos 50%<br />
requeridos pela certificação;<br />
· As portas de cais contam com um sistema<br />
de redução de ineficiência energética de
SCM Supply Chain Magazine 19<br />
LIDER IBÉRICO EM<br />
LOGÍSTICA ALIMENTAR
20<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
dupla câmara para minimizar as variações de<br />
temperatura. “O nosso entreposto foi criado<br />
com câmaras de frio, e há sempre uma perda<br />
natural de energia. Todos os nossos cais têm<br />
dupla câmara, e conseguimos reduzir as perdas<br />
energéticas, associadas a este tipo de edifícios,<br />
em perto de 70%”. Paulo Carvalho explica ainda<br />
que o modelo de frio é à base de glicol, não<br />
tem amoníaco e é feito por ventialação. “Nós<br />
conseguimos fazer isso nos nossos cais, temos<br />
dupla porta, o carro encosta de portas abertas, e<br />
só depois é que abre uma outra porta, ou seja, já<br />
há uma refrigeração, e já não há tanta perda de<br />
energia”.<br />
Por sua vez, na área das operações ambiente,<br />
ainda estão a mudar a iluminação para LED,<br />
mas também apostaram em placas translúcidas<br />
para obterem uma maior iluminação natural<br />
neste espaço. Ao nível dos resíduos, contam<br />
com vários pontos de reciclagem espalhados<br />
pelo espaço, sendo assim feita uma triagem de<br />
cartão, plástico e madeiras, que são as tipologias<br />
de resíduos geradas nesta operação. “É<br />
cultural. Não é uma questão de nós termos um<br />
subprocessamento noutras áreas para fazer este<br />
tratamento. Está no nosso ADN”, defende.<br />
Ao nível da logística inversa, por apostarem<br />
cada vez mais nos LEAD times e na gestão<br />
das necessidades em cada loja, estão a reduzir<br />
cada vez mais a devolução de produtos, bem<br />
como o desperdício alimentar. “Com todos<br />
estes movimentos que estamos a fazer, de<br />
backhauling, de reaproveitar as nossas viagens<br />
para não virem em vazio, a fazer a recolha<br />
de taras, etc., também fazemos essa logística<br />
inversa, que é novamente centralizada aqui. Ou<br />
seja, há logística inversa, mas sem desperdício, e<br />
com o menor impacto ambiental possível”.<br />
Também com estes movimentos aproveitam<br />
viagens para fazer deslocalização de stock para<br />
outras lojas ou para devolução ao fornecedor,<br />
mas cada vez menos “porque há assertividade no<br />
nosso algoritmo por redução dos LEAD times”.<br />
TECNOLOGIA<br />
De forma a conseguirem acompanhar o<br />
crescimento, também foi necessário fazer algum<br />
investimento a nível tecnológico. “Temos um<br />
projeto, já há alguns anos, o nosso ERP, que<br />
alterámos em setembro de 2021, já nestas<br />
instalações. Foi gradual, fizemos um grande<br />
investimento a mudar todo o sistema informático<br />
da área da logística. Iniciámos na Maia, depois<br />
fomos à Madeira, depois fizemos aqui no<br />
Carregado, naquele entreposto que está agora a<br />
ser construído em Vila Nova da Rainha e, no ano<br />
passado, em setembro, também renovámos aqui”.<br />
Alguns dos investimentos passam pela<br />
segurança dos seus colaboradores, tendo como<br />
marco 2024 para atingirem os “zero acidentes”,<br />
sendo contabilizados desde pequenos a<br />
grandes. “Até uma lasca de uma palete no dedo<br />
é contabilizada”. Atualmente, numa plataforma<br />
que conta com 1.100 colaboradores, há a registar<br />
cerca de 34 acidentes por ano, na sua maioria de<br />
pequena dimensão e sem graves consequências<br />
para os colaboradores.<br />
Por outro lado, ao nível da ergonomia, Paulo<br />
Carvalho aponta que “estamos agora a mudar<br />
o nosso modelo de voicepicking por questões<br />
operacionais e de eficiência naturalmente, mas<br />
também por uma questão de conforto para<br />
os nossos colaboradores. Eles andam um dia<br />
inteiro com um auricular e com um micro onde<br />
recebem as indicações dos artigos a preparar”.<br />
Primeiro estão a implementar o sistema na Maia,<br />
encontrando-se já a decorrer, e depois tencionam<br />
replicar para os restantes entrepostos.<br />
Este investimento procura trazer melhores<br />
condições ao nível do microfone e do auricular,<br />
tornando a voz mais natural e persecetíve,<br />
Têm ainda um projeto ligado à automação para
SCM Supply Chain Magazine 21<br />
auxiliar os colaboradores com as cargas mais<br />
pesadas. Nos artigos em que o conseguem<br />
fazer, os fornecedores enviam os produtos em<br />
caixas mais pequenas, na sua maioria abaixo<br />
de 10 quilos. No entanto, há alguns casos em<br />
que isso não é possível, por exemplo, no caso<br />
de uma caixa de melancias, que pesa na ordem<br />
dos 15 a 20 quilos, sendo que “há artigos no<br />
mercado superiores a 20 quilos”, explica Paulo<br />
Carvalho, e diariamente um colaborador anda<br />
entre oito e nove quilómetros, e por cada um<br />
passam cerca de 12 toneladas de produtos<br />
por dia, a transferir caixas entre paletes.<br />
“Ergonomicamente, para este tipo de operação,<br />
é claramente mais saudável”.<br />
Uma das situações especiais são as caixas<br />
de bacalhau, que pesam cerca de 25 quilos, e<br />
que por virem de um fornecedor estrangeiro<br />
não conseguem adotar o modelo de caixas<br />
reutilizáveis ou de menor peso. “O mercado<br />
estar a mudar a tipologia de caixa em específico<br />
só para nós é complexo. Então fizemos o<br />
movimento inverso: como não conseguimos<br />
mudar a caixa, ou o peso da caixa, para oferecer<br />
as melhores condições de trabalho às nossas<br />
pessoas, apostámos numa robotização”.
22<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
OLHAR PARA O FUTURO<br />
A sustentabilidade e a reutilização são algumas<br />
das “linhas estratégicas e marcos que estão<br />
bem definidos pela companhia. A nossa<br />
responsabilidade social vai para além das nossas<br />
instalações, é uma questão cultural, queremos<br />
fazer e ser parte ativa na mudança de cultura”.<br />
O Distribution Center Director conta que<br />
todos os movimentos no futuro serão sempre<br />
com uma visão evolutiva: “como é que<br />
conseguimos consolidar mais, como é que<br />
reduzimos as pegadas carbónicas, como é que<br />
reutilizamos, cada vez mais utilizando a caixa<br />
reutilizável, como é que reciclamos melhor,<br />
como é que nos tornamos mais autosustentáveis<br />
apostando nos painéis ou noutra tecnologia que<br />
possa surgir”.<br />
“Estamos na vanguarda das melhores<br />
práticas, e acho que a certificação do LEED<br />
Gold expressa precisamente isso”, aponta<br />
o responsável, “somos uma das empresas<br />
que nos 17% mundiais conseguiram a<br />
certificação, e acho que isso define bem qual<br />
é o nosso foco e o nosso propósito enquanto<br />
responsabilidade social que temos, mais do<br />
que ser uma imagem de marca Sonae”.<br />
Estão também a fazer testes de raiz com<br />
veículos elétricos para testar a sua viabilidade<br />
na distribuição, pois pretendem investir em<br />
energias alternativas como forma de reduzir<br />
a pegada ambiental. “Estamos a falar de<br />
camiões, o que é sempre mais difícil pela<br />
força e pelo consumo, mas já estamos a fazer.<br />
É o caso da viagem com o gigaliner para<br />
o Algarve. São viagens mais direitas, mais<br />
estáveis e que não requerem tanto esforço do<br />
equipamento”.<br />
“Se aparecer alguma tecnologia diferente,<br />
vamos claramente estudá-la e não vamos perder<br />
a oportunidade de ser pioneiros e os primeiros a<br />
implementá-la”, conclui Paulo Carvalho. •
24<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
LOGÍSTICA<br />
Estudo Impacts <strong>2022</strong><br />
Texto: Bruna Manguito<br />
RECONECTAR:<br />
A NOVA TENDÊNCIA<br />
PÓS-PANDEMIA<br />
Após a contenção da pandemia, o<br />
mundo começa a voltar à normalidade.<br />
De modo a explorar a nova tendência<br />
global - “Reconectar”, a Savills lança o<br />
seu mais recente estudo Impacts <strong>2022</strong>,<br />
onde aborda, precisamente, o retorno à<br />
atividade, explorando temáticas atuais<br />
como o trabalho flexível, o futuro<br />
das cidades resilientes, as tendências<br />
do mercado imobiliário, o comércio/<br />
retalho físico e a realidade atual da<br />
cadeia logística.<br />
A<br />
Savills conclui que enquanto o mundo<br />
retoma a sua atividade, a população está<br />
preocupada em reconectar-se ao seu<br />
local de trabalho. Porém, exigem uma maior<br />
qualidade de vida, flexibilidade e políticas de<br />
sustentabilidade. É esperado que as empresas<br />
se adaptem ao “novo normal” priorizando a<br />
tecnologia para que atraiam e retenham o<br />
talento, uma vez que esta permite o trabalho<br />
remoto e, consequentemente, a diversidade<br />
e a flexibilidade dos seus trabalhadores,<br />
proporcionando-lhes uma maior qualidade de<br />
vida e bem-estar.<br />
Através do inquérito Savills Office FiT 2021 foi<br />
possível perceber que 12% dos trabalhadores<br />
têm interesse por espaços de coworking
SCM Supply Chain Magazine 25<br />
quando comparados aos 3% aferidos em 2020.<br />
É neste sentido que se prevê que os espaços<br />
flexíveis virão a diversificados localizando-se<br />
tanto no centro das cidades como em áreas<br />
suburbanas. Além disso, é presumível que a<br />
procura por estes espaços aumente dado o<br />
crescente número de pessoas que optam por<br />
trabalhar por conta própria.<br />
A procura por greens offices também<br />
aumentou em virtude da crescente<br />
preocupação da população com as políticas<br />
de ESG. Os EUA e cidades como Londres, Paris,<br />
Pequim e Xangai são os locais que detém o<br />
maior número de escritórios com certificados<br />
verdes. Ademais, em média 28% de todo o<br />
stock das 20 principais cidades globais têm<br />
certificado verde, o que revela que mais<br />
de 70% do stock disponível deverá sofrer<br />
alterações no futuro.<br />
PENSAR O FUTURO<br />
DAS CIDADES RESILIENTES<br />
A equipa da Savills World Research classificou<br />
500 cidades considerando fatores como<br />
o mercado imobiliário, força económica,<br />
economia e tecnologia e resiliência ambiental.<br />
As cidades que estão no topo do ranking são<br />
as mais preparadas para se adaptarem ao<br />
futuro económico e aos desafios ambientais.<br />
No que concerne ao setor imobiliário, uma<br />
cidade resiliente terá um grande<br />
mercado líquido, investidores tanto
26<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
nacionais como internacionais e fortes<br />
direitos de propriedade. No seu todo, as<br />
cidades mundiais obtiveram volumes de<br />
investimentos que ultrapassaram os 1,3<br />
biliões de dólares em 2021, 59% mais do<br />
que o ano anterior. Londres contabiliza<br />
62% da atividade de investimento (2021), o<br />
que equivale a 31,9 mil milhões de dólares,<br />
mantendo o seu primeiro lugar de cidade<br />
mais internacional do mundo.<br />
No que diz respeito aos retalhistas, procuram<br />
cada vez mais oportunidades de negócio em<br />
cidades como Nova Iorque, Paris e Londres,<br />
devendo também recuperar mais rapidamente<br />
este ano do que outras cidades, de acordo<br />
com o ranking Savills Retailer Attractiveness<br />
City, que fez parte do programa global de<br />
investigação Impacts <strong>2022</strong>.<br />
De facto, antes da pandemia as lojas físicas<br />
assumiram um papel cada vez mais central.<br />
Contudo, a necessidade das marcas se<br />
reconectarem com seus clientes e o desejo de<br />
interação humana após longos períodos de<br />
confinamento, intensificaram esta tendência.<br />
Numa era de consumo cada vez mais<br />
digitalizada, as lojas físicas estão agora a<br />
tornar-se destinos de lazer e entretenimento.<br />
Por outro lado, a Savills observou uma<br />
tendência inversa, já que alguns negócios<br />
não necessitam de lojas físicas para prestar<br />
os seus serviços, utilizando-as apenas como<br />
parte da estratégia de construção da sua<br />
identidade. Este ano, por exemplo, a gigante<br />
de streaming Netflix vai abrir sua primeira<br />
loja física em Tóquio.<br />
“A Covid-19 criou mudanças inevitáveis para<br />
a indústria do retalho tendo em conta os<br />
níveis crescentes de atividade de comércio
SCM Supply Chain Magazine 27<br />
eletrónico”, sublinha Sam Foyle, Director of<br />
Retail, Savills. “No entanto, as ramificações<br />
da pandemia no comportamento do<br />
consumidor serviram para acelerar tendências<br />
anteriores e a resiliência de muitas destas<br />
cidades faz com que o retalho físico continue<br />
a ser essencial na estratégia de uma marca<br />
para se reconectar com os clientes, e<br />
impulsionar as vendas.”<br />
ESTIMULAR O INVESTIMENTO<br />
EM ARMAZÉNS<br />
Vale a pena referir que em 2021 mais um<br />
recorde de utilização de ativos logísticos,<br />
tanto na Europa como nos EUA, foi alcançado,<br />
já que foram investidos 237 mil milhões de<br />
libras no setor logístico a nível mundial,<br />
o que representa um aumento de 81 mil<br />
milhões de libras em relação à média de<br />
longo prazo (um aumento de 28%). A taxa<br />
de disponibilidade encontra-se assim na<br />
Europa nos 3,5% e nos EUA nos 4,4%. É desta<br />
forma que a Savills afirma que o setor global<br />
da logística tem um futuro promissor, sendo<br />
os seus principais condutores o comércio<br />
eletrónico e a procura de espaço adicional<br />
para assegurar cadeias de fornecimento de<br />
empresas internacionais.<br />
Os dados do inquérito da McKinsey de 2021<br />
reforçam a ideia de que existe uma tendência<br />
crescente para o aumento do inventário<br />
de produtos essenciais nas empresas (um<br />
crescimento de 61% só no ano passado),<br />
o que de acordo com a Savills pode ser<br />
encarado como um importante motor para<br />
ocupação de armazéns em todo o mundo.
28<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
Desta maneira, devido à pressão do<br />
fornecimento, a Savills espera um aumento<br />
do número de armazéns de vários andares<br />
na Europa, em particular nos locais próximos<br />
das grandes cidades. Contudo, perante as<br />
taxas de disponibilidade reduzidas, por meio<br />
do inquérito Savills Logistics e Industrial<br />
Real Estate 2021, é possível constatar que<br />
o principal desafio do mercado é a falta de<br />
oferta.<br />
Alexandra Portugal Gomes, Head of Research<br />
da Savills Portugal, referiu que “Portugal,<br />
e mais particularmente a sua capital, está<br />
em linha com as tendências observadas no<br />
mercado imobiliário internacional, com o<br />
plus de ser percecionado como um safeheaven<br />
pelos investidores que procuram<br />
estabilidade e segurança. Os mercados<br />
residenciais, escritórios e logística seguem<br />
em níveis de performance muito positivos, já
SCM Supply Chain Magazine 29<br />
em total recuperação e a caminho de serem<br />
batidos recordes relativamente aos níveis<br />
de pandemia, o que aumenta a atratividade<br />
do nosso mercado. Também no mercado<br />
nacional os fatores principais que estão a<br />
ditar as principais tendências de ocupação<br />
estão intrinsecamente ligados aos novos<br />
modelos e espaços de trabalho, a novos perfis<br />
de trabalhadores, como sejam os nómadas<br />
digitais e também à imperativa aplicação de<br />
políticas ESG e de sustentabilidade”.<br />
Por fim, a Savills alerta que com o aumento da<br />
inflação, a escalada do conflito na Ucrânia e<br />
as medidas restritivas aplicadas na China para<br />
travar a propagação da Covid-19, os desafios<br />
nas cadeias de logística estão longe de acabar.<br />
Porém, a integração de um nível mais elevado<br />
de tecnologia na indústria será essencial<br />
para evitar futuros desafios na cadeia de<br />
abastecimento. •
30<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
LOGÍSTICA<br />
DB Schenker<br />
Texto: Dora Assis<br />
QUANDO<br />
O ARMAZÉM<br />
SE TORNA<br />
VIRTUAL<br />
A DB Schenker é o primeiro<br />
fornecedor global de<br />
soluções de logística a<br />
oferecer impressão 3D e<br />
um armazém virtual, sendo<br />
pioneira e trazendo a inovação<br />
digital para a cadeia de<br />
abastecimento de peças<br />
suplentes que, segundo<br />
o prestador de serviços<br />
logísticos, desta forma se torna<br />
num processo mais rápido,<br />
mais barato e mais sustentável.
SCM Supply Chain Magazine 31<br />
o primeiro fornecedor global de<br />
logística a oferecer a entrega de peças<br />
"Somos<br />
suplentes através da impressão 3D. Os<br />
produtos do nosso armazém virtual estão<br />
disponíveis em muito pouco tempo e são<br />
fabricados exatamente onde são necessários",<br />
disse o CEO da DB Schenker, Jochen Thewes.<br />
O armazém virtual reduz os custos e<br />
prazos de entrega e protege o ambiente.<br />
"Isto exemplifica o que a logística do futuro<br />
pode fazer pelos clientes. O objetivo é evitar<br />
armazéns desnecessários e tornar as cadeias de<br />
abastecimento ainda mais estáveis e flexíveis",<br />
afirma Jochen Thewes.<br />
Com esta estratégia, a DB Schenker acredita<br />
que a utilização de produtos novos, inovadores<br />
e digitais no negócio operacional pode tornar as<br />
cadeias de abastecimento mais estáveis, melhora<br />
o nível de serviço aos clientes e em simultâneo<br />
está em consonância com várias questões de<br />
sustentabilidade, ambiental e não só.<br />
RESPONDER AOS DESAFIOS<br />
Face aos crescentes desafios na logística global,<br />
inovações digitais como a entrega de peças<br />
suplentes através da impressão 3D acrescentam<br />
valor aos clientes em muitas áreas. "Queremos<br />
encurtar distâncias e, ao mesmo tempo, manter<br />
os produtos disponíveis mais rapidamente e mais<br />
baratos. Para o conseguir, estamos totalmente<br />
empenhados nas inovações digitais", explicou<br />
Jochen Thewes.<br />
DOS PROJETOS-PILOTO<br />
À REALIDADE<br />
Em projetos-piloto, a DB Schenker já testou<br />
com sucesso o armazém virtual, concebido para<br />
clientes dos mercados da engenharia mecânica,<br />
automóvel e transporte ferroviário. Peças como<br />
handles, revestimentos e caixas foram produzidas<br />
a pedido do cliente. Sem pré-produção e<br />
armazenamento, a produção a pedido reduz<br />
os custos de compromisso de capital. O novo<br />
serviço da DB Schenker com um armazém virtual<br />
está agora a ser oferecido a uma vasta gama de<br />
clientes em todo o mundo.<br />
A DB Schenker colabora estreitamente<br />
com a Deutsche Bahn, que já tem uma vasta<br />
experiência em impressão 3D - com 80.000<br />
peças fabricadas a partir de vários materiais e<br />
tecnologias.
32<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
"De acordo com as nossas conclusões, até dez<br />
por cento dos inventários das empresas podem<br />
ser fabricados no local", disse Jochen Thewes.<br />
As peças suplentes que são necessárias com<br />
pouca frequência e as peças que têm de ser<br />
armazenadas em grande número devido às<br />
elevadas quantidades mínimas de compra são<br />
particularmente adequadas para a impressão<br />
em 3D. O armazenamento virtual dos<br />
componentes é feito através do carregamento<br />
seguro das plantas em 3D na cloud.<br />
NA SENDA DA INOVAÇÃO<br />
Além da nova "Produção a Pedido", a DB<br />
Schenker apresentou inúmeras inovações no<br />
Product Show em Frankfurt, incluindo a "Torre<br />
de Controlo Digital" do transporte terrestre,<br />
que torna 9.000 transportes consolidados em<br />
toda a Europa rastreáveis em tempo real todos<br />
os dias.<br />
As "Soluções Intercontinentais de Cadeia de<br />
Abastecimento" da DB Schenker no transporte<br />
aéreo e marítimo utilizam inteligência artificial,<br />
dados em tempo real, e plataformas de<br />
informação interativas para tornar as cadeias<br />
de abastecimento dos clientes mais resilientes<br />
e sustentáveis.<br />
No armazenamento, a DB Schenker confia<br />
na tecnologia de sensores para assegurar os<br />
cuidados de saúde dos funcionários durante a<br />
pandemia, e inspeções através de data glasses<br />
para evitar despesas de viagem e transporte. •
Think Vertical, Think Modula
34<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
LOGÍSTICA<br />
Texto: Fábio Santos<br />
LactAçores<br />
PREPARADOS<br />
PARA CRESCER<br />
Queijos, iogurtes, manteigas, ou o próprio<br />
leite viajam dos Açores para o continente.<br />
No caso da LactAçores, Portugal continental<br />
representa 74% das suas vendas, pelo que a<br />
logística é um pilar fundamental e o recente<br />
investimento num armazém refrigerado em<br />
Vila Franca determinante para o crescimento<br />
da operação.<br />
Os Açores produzem, anualmente, 600<br />
milhões de litros de leite, aproximadamente<br />
entre 33 e 35% da produção nacional. No<br />
entanto, apesar de se encontrarem a cerca<br />
de 1.500 quilómetros de distância da costa<br />
do continente português, este mercado ainda<br />
representa para a União das Cooperativas<br />
de Laticínios dos Açores UCRL, LactAçores,<br />
uma concentração de 74% das suas vendas,<br />
em comparação com os 15% para as ilhas, e<br />
os restantes 11% para exportação e mercado<br />
industrial. No ano passado, apresentaram um<br />
crescimento na ordem dos 4%, ao atingirem os<br />
92 milhões de euros de faturação.<br />
REFORÇO DAS OPERAÇÕES<br />
NO CONTINENTE<br />
O reforço da aposta no continente passa ainda<br />
pelo investimento nas infraestruturas, estando a<br />
LactAçores a investir 1,6 milhões num armazém<br />
refrigerado em Vila Franca de Xira. Na primeira<br />
fase do projeto, a empresa investiu 950 mil<br />
euros para aumentar a sua capacidade de<br />
armazenagem de produtos lácteos refrigerados<br />
em 40%, passando a conseguir armazenar 2.124<br />
paletes, o equivalente a cerca de 1 milhão de<br />
quilos de queijo e manteiga. Para além deste<br />
espaço refrigerado, contam com um armazém de<br />
temperatura ambiente com capacidade para 6<br />
milhões de litros de leite.<br />
Após um processo de otimização e<br />
requalificação do espaço, a infraestrutura<br />
permitirá uma maior movimentação de<br />
mercadorias, estando esta segunda fase prevista<br />
para arrancar ainda em <strong>2022</strong>, com o objetivo
SCM Supply Chain Magazine 35
36<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
de criar condições de cargas e descargas,<br />
melhorando os cais existentes e acrescentando<br />
dois novos.<br />
Para além disso, ao nível das tecnologias, já<br />
tinham implementado a radiofrequência, quer<br />
na receção, quer na expedição de mercadorias,<br />
bem como em todo o movimento efetuado no<br />
entreposto, permitindo uma maior agilidade e<br />
gestão de stocks e validades. “Na primeira fase<br />
da reestruturação optámos também por um<br />
sistema de refrigeração através de água gelada,<br />
um sistema mais limpo e amigo do ambiente,<br />
que veio substituir os antigos motores que<br />
trabalhavam a gás”, explica José Carlos Serrão.<br />
Outra das soluções encontradas para uma<br />
melhor gestão da energia e diminuição da<br />
pegada ecológica foram ainda os painéis<br />
solares.<br />
toda a cadeia de frio, quer no transporte<br />
marítimo, quer no transporte terrestre”,<br />
acrescenta.<br />
Apesar de estarem sempre ligados e com a<br />
temperatura controlada, mesmo quando estão<br />
imobilizados em cais, a LactAçores recolhe os<br />
contentores com a maior brevidade possível,<br />
para que os produtos sejam rapidamente<br />
armazenados nas suas instalações, ficando<br />
disponíveis para a distribuição diária a nível<br />
nacional e internacional.<br />
Para o transporte terrestre, o aumento dos<br />
custos no setor dos transportes tem impactado<br />
fortemente os custos das suas operações de<br />
distribuição capilar, no entanto, a maioria<br />
dos contratos de transporte têm já uma taxa<br />
indexada mensal para fazer face aos aumentos<br />
verificados.<br />
“A CARGA PRONTA E METIDA<br />
NOS CONTENTORES”<br />
Segundo nos contou o interlocutor, a produção<br />
é dividida em produtos UHT (ultrapasteurizados)<br />
e produtos refrigerados, nomeadamente queijo<br />
e manteiga. “Os artigos ultrapasteurizados,<br />
compostos por leite com e sem lactose, leite<br />
com chocolate, natas e também sumos, são<br />
transportados de S. Miguel para Vila Franca<br />
de Xira em contentores sem controlo de<br />
temperatura, uma vez que esta não afeta a<br />
qualidade e as propriedades dos mesmos”,<br />
explica.<br />
Por sua vez, os queijos e manteigas são<br />
produzidos, curados e embalados com rigoroso<br />
controlo de temperatura e humidade, e<br />
igualmente transportados desde as suas fábricas<br />
em São Miguel, Faial e São Jorge até Vila Franca<br />
de Xira, em contentores refrigerados a uma<br />
temperatura de 4ºC. “Estes contentores dispõem<br />
de equipamentos que nos permitem controlar
SCM Supply Chain Magazine 37<br />
DESAFIOS ADICIONAIS DO SETOR<br />
Já há algum tempo que o setor dos laticínios<br />
está a ser afetado por uma desvalorização<br />
em relação aos restantes países da Europa, o<br />
que “tem vindo a contribuir para o abandono<br />
da atividade por parte de muitos produtores<br />
em sérias dificuldades financeiras”, comenta o<br />
diretor geral.<br />
“Com o despoletar da guerra da Ucrânia e o<br />
constante aumento dos custos de produção,<br />
que vão desde a alimentação animal, aos<br />
combustíveis e energia e também a todos os<br />
materiais de embalagem, entre outros, toda a<br />
fragilidade do sector se agravou evidenciando<br />
uma situação de rutura que é necessário<br />
travar e resolver, sob pena de a curto prazo<br />
haver falta de leite nas prateleiras dos<br />
supermercados”, aponta ainda.<br />
Com o agravar da situação, sentiu-se um<br />
grande aumento de encerramentos das<br />
explorações leiteiras, por não conseguirem<br />
fazer face aos elevados custos que têm de<br />
suportar. Neste sentido, José Carlos Serrão<br />
considera que “apesar dos ajustes de preço<br />
já efetuados, Portugal é hoje um dos países<br />
que pior paga o leite aos seus produtores,<br />
mantendo-se na cauda da Europa e<br />
aumentando a diferença em relação aos seus<br />
parceiros europeus”.<br />
Desde o início de <strong>2022</strong> que a LactAçores<br />
tem tomado a dianteira na luta contra esta<br />
situação, “renegociando contratos, procurando<br />
alternativas, discutindo e sensibilizando os<br />
seus clientes para a necessidade de aumentar<br />
o preço do leite no mercado”, procurando<br />
assim que existe um pagamento mais justo<br />
deste bem essencial aos seus produtores. •
38<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
PROCUREMENT<br />
Texto: Fábio Santos<br />
Pendular<br />
“É RARO O DIA<br />
EM QUE NÃO TEMOS<br />
UM AUMENTO”<br />
A inflação dos preços tem afetado as<br />
empresas, deixando uma grande incerteza<br />
no que está para vir. Contratos a longo prazo<br />
começam a baixar as margens de lucro - se<br />
não mesmo a dar prejuízo -, custos das<br />
matérias-primas e das energias que obrigam<br />
a esticar os preços dos produtos finais,<br />
preços dos combustíveis que fazem crescer<br />
as dificuldades no setor da distribuição. Com<br />
todas estas crises, a função de procurement<br />
está a ser diferenciadora para a criação de<br />
valor e para gerar uma maior capacidade de<br />
competição no mercado.<br />
Nos últimos anos, as constantes variações<br />
de preço têm criado grandes incertezas<br />
nos mercados, o que levou a que as<br />
empresas procurassem atenuar o aumento<br />
das suas despesas através da área de<br />
procurement.<br />
Em entrevista à Supply Chain Magazine,<br />
Vítor Ribeiro Gomes, CEO da Pendular,<br />
empresa portuguesa com 25 anos de<br />
experiência em procurement, gestão de<br />
contratos e gestão de compras, comenta que<br />
gerem 8.500 referências, em comercialização<br />
permanente, e “não há um dia em que não<br />
apareça um ou dois, ou três aumentos de<br />
preço”, o que “veio criar aqui um terreno<br />
muito fértil para progressão de empresas de<br />
compras e procurement”.<br />
O responsável nota que embora seja “raro<br />
o dia em que não temos um aumento”, não<br />
concorda que a solução seja apenas “aumentar<br />
preços”, e sim “ver qual é o impacto dele<br />
na estrutura de custos, ver como pode ser<br />
mitigado, e depois aplicar soluções”.
SCM Supply Chain Magazine 39<br />
UM MOMENTO DE ASCENSÃO<br />
Segundo conta, esta situação aconteceu<br />
porque “a maior parte das empresas não<br />
estava preparada para gerir o anormal<br />
montante de informação”, e é aí que entra a<br />
função de procurement, para tentar contornar<br />
essa alternativa. “A capacidade de tratar toda<br />
esta informação, perceber qual é o impacto<br />
que vai ter no meu negócio e quanto é que<br />
eventualmente vamos ter de transferir para o<br />
nosso cliente final, como é que vamos mitigar<br />
a situação, que soluções alternativas é que<br />
vamos encontrar, e simultaneamente ainda<br />
com disrupções na cadeia de valor, às vezes já<br />
nem é só uma questão do preço, é uma questão<br />
de disponibilidade do produto”, explica o<br />
responsável.<br />
“Especialmente na área de facilities,<br />
quando estamos a falar de alimentação<br />
ou segurança, em todos os contratos para<br />
a formação de preço, a mão de obra tem<br />
um peso muito significativo”. Nesta área, o<br />
nosso interlocutor também nota que, para já, o<br />
impacto sentido foi ao nível dos custos de mão<br />
de obra, ou seja, “ainda só sentiram os efeitos<br />
dos aumentos dos fatores de trabalho, só agora<br />
estão a começar a sentir o efeito dos outros<br />
fatores, nomeadamente das matérias-primas”,<br />
esperando-se ainda um novo impacto com os<br />
aumentos salariais no final deste ano.<br />
Porque não havia uma inflação muito alta dos<br />
restantes produtos, como materiais de limpeza<br />
ou equipamentos, “as constantes subidas nos<br />
salários acabavam por não ser refletidas no<br />
preço final, porque se iam compensando no<br />
resto”. Logo em <strong>2022</strong> houve um primeiro sinal<br />
quando se começou a sentir alguma inflação,<br />
já desde o último trimestre do ano passado e,<br />
portanto, “já não dava para se acomodar na<br />
estrutura de custos, e começaram a surgir um<br />
grande número de prestadores de serviços a<br />
bombardear as empresas com aumentos”, só<br />
refletindo ainda o aumento do salário mínimo.<br />
No caso de contratos de limpeza ou de<br />
segurança, por exemplo, “num contrato de 1 ou<br />
2 milhões de euros, com progressões de 9% e<br />
reposição de algo que devia ter sido reposto
40<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
anos atrás, estamos a falar de contratos a<br />
terem, de repente, caps de mais 250, 300, 400<br />
mil euros. “Estamos aqui numa espiral que<br />
ainda vai demorar uns quantos anos a inverter”.<br />
“Há um fator absolutamente fundamental<br />
para esta vertigem de aumento de preços. Quer<br />
queiramos, quer não, e isto pode não soar a<br />
muito simpático, mas parte significativa do<br />
management português, ou da gestão em<br />
Portugal, não tem experiência de gestão em<br />
ambientes de inflação forte”. Vítor Ribeiro<br />
Gomes recorda que nos anos 80 trabalhavam<br />
com inflações de 34/35%, e na altura era<br />
convencionado que o ideal era cerca de 10/12%,<br />
e que não só os 30 já eram considerados<br />
“um disparate”, como depois dos 100 já lhe<br />
chamavam “inflação galopante”. “Hoje não há<br />
essa experiência, e criou-se aqui uma ilusão<br />
que não está a ajudar nada os gestores<br />
da geração que não tem esta experiência, a<br />
perceberem qual é o impacto disto”, afirma.<br />
Face às aprendizagens que a pandemia<br />
nos deixou, e à aproximação das cadeias de<br />
abastecimento, “vai haver aqui uma substituição<br />
daquilo que se produz offshore e daquilo que<br />
se produz nearshore. Vai-se produzir cada vez<br />
mais em offshore serviços e contratos, e a<br />
lógica de produto vai ser mais nearshore”.<br />
O CEO da Pendular nota que “no fundo, na<br />
pandemia tivemos dois anos de poupança<br />
como nunca houve em Portugal. Desde as<br />
moratórias, o deixar de sair, o deixar de ir de<br />
férias, o de deixar de fazer o que quer que<br />
seja, o nível de poupança das famílias foi
SCM Supply Chain Magazine 41<br />
absolutamente brutal”. Depois, no período póspandémico,<br />
“as famílias médias, baixas, e quase<br />
todas as outras têm uma poupança acumulada<br />
como não tinham há 20 ou 30 anos, estão<br />
ansiosos por sair, consumir e viajar, portanto<br />
estes gestores que de repente veem um<br />
aumento de 10% não resistem à tentação de<br />
aumentar mais um pouco, e vão alimentando<br />
esta espiral, e o principal fator que os limitaria<br />
nisto seria uma redução do consumo, que até<br />
à data não está a acontecer, portanto… vamos<br />
aumentando”. Essa reclamação no consumo<br />
vai acabar por acontecer mais dia, menos dia”,<br />
reforça.<br />
DEMORA DA RECEITA<br />
Outra questão que gera dificuldades acrescidas<br />
para os fornecedores prende-se com os<br />
contratos de pagamento a longo prazo, bem<br />
como com os atrasos. Segundo um estudo da<br />
Informa D&B realizado no final de novembro<br />
do ano passado, Portugal é líder nos atrasos de<br />
pagamento a fornecedores, sendo que à data<br />
atingiam uma média de 26,64 dias, mais 12,23<br />
dias que na média da Europa (14,41 dias).<br />
Embora não sinta esse impacto diretamente,<br />
defende que “é um direito constitucionalmente<br />
sagrado as empresas ganharem dinheiro e<br />
serem rentáveis”, e que de forma a que as<br />
empresas se mantenham competitivas, “é<br />
importante estar com os parceiros certos<br />
e com os clientes certos, e com quem paga<br />
bem. Houve quase uma seleção natural,<br />
quem paga mal está fora do circuito”, afirma.<br />
“Há um ajuste natural, mas não deixa de ser um<br />
processo que obviamente merece intervenção,<br />
e um acompanhamento muito próximo e com<br />
KPI muito precisos. Quando digo que houve um<br />
ajuste quase natural não quer dizer que seja um<br />
processo que não mereça ser acompanhado”,<br />
aponta Vítor Ribeiro Gomes, explicando que<br />
durante o COVID fizeram um assessment de<br />
todo os processos e certificaram a Pendular.<br />
“Um deles, e muito crítico, é exatamente<br />
tesouraria, account receivables, account<br />
payable, e andámos muito em cima disso. Nós<br />
temos uma pessoa que só faz isso. Temos um<br />
plano de tesouraria com todo o rigor de todas<br />
as variáveis à semana, e já temos planeamento<br />
até aproximadamente à semana 48 de 2023,<br />
quase no final do ano”.<br />
Nesse sentido, defende que “se há algo que<br />
estas crises todas, e todos estes processos,<br />
vieram trazer de estrutural é que é muito claro<br />
que é um direito sagrado e constitucional<br />
ganhar dinheiro, e receber pelo serviço que se<br />
presta e, portanto, os players que se mantêm<br />
acho que estão perfeitamente em sintonia<br />
com isto, e daí manterem-se no mercado”.<br />
Segundo explicou o CEO, na Pendular<br />
asseguram todo o processo end-to-end,<br />
portanto, desde a angariação da encomenda até<br />
à colocação nos vários fornecedores, à gestão<br />
das não-conformidades, ao acompanhamento<br />
de pipeline e depois a faturação e cobrança.<br />
“O papel de empresas como a Pendular, para<br />
a maior parte dos clientes, é absolutamente<br />
fundamental, porque estamos a falar de
42<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
um disparo absolutamente anormal, e de<br />
operadores muito pouco disponíveis a encontrar<br />
eficiências e a diminuírem um pouco as suas<br />
margens”, aponta o responsável.<br />
BENEFÍCIOS DESTES SERVIÇOS<br />
“Há um benefício absolutamente claro que<br />
decorre da simplificação total de processos.<br />
As empresas estão carregadas de processos<br />
de categorias de produtos e de rotinas, que o<br />
custo que têm não têm igual compensação no<br />
valor que geram”, basta haver um problema com<br />
uma impressora e estarem algumas pessoas<br />
a tentar resolver o problema, que logo se<br />
encontram várias ineficiências nos processos.<br />
“As empresas estão cheias de processos destes e<br />
de ineficiências destas”, acrescenta Vítor Ribeiro<br />
Gomes, “uma das coisas em que nós acreditamos<br />
é que uma simplificação muito significativa da<br />
atividade acaba por gerar muito valor, e acaba<br />
por libertar um dos ativos mais importantes<br />
para as organizações que é o tempo”.<br />
“Assim o utilizem [tempo] naquilo que é<br />
importante, e o que é importante é gerirem<br />
o seu negócio nas variáveis claramente<br />
estratégicas, não é andar a ver se a impressora<br />
funciona, se as garagens estão abertas, se o<br />
edifício sofreu a manutenção que tinha de ter<br />
sofrido, se as câmaras de vigilância estão a<br />
funcionar, ou se a senhora da limpeza faltou…<br />
não é isso que as empresas devem fazer”,<br />
conclui Vítor Ribeiro Gomes. •
SCM Supply Chain Magazine 43
44<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
PROCUREMENT<br />
Newonedrive<br />
Texto: Fábio Santos<br />
“NÃO NOS BASTA<br />
TER A GARANTIA<br />
QUE O STOCK ESTÁ<br />
DENTRO DE PORTAS”<br />
As marcas Civiparts, OneDrive e AS Parts,<br />
pertencentes ao Grupo Nors, fundiram as<br />
suas operações de af termarket, passando<br />
a partilhar recursos ao nível da gestão,<br />
ficando a responsabilidade jurídica ao cargo<br />
da Newonedrive S.A. Apesar deste novo<br />
posicionamento, as marcas continuam a<br />
atuar individualmente nos seus mercados,<br />
porém, com novos benefícios ao nível da<br />
otimização da supply chain.
SCM Supply Chain Magazine 45<br />
O<br />
investimento numa nova plataforma de<br />
identificação de peças para as marcas do<br />
Grupo Nors procurou apoiar a atividade<br />
dos clientes em aftermarket, mas este<br />
impulso na transição digital também trouxe<br />
benefícios para a própria empresa, e para as<br />
marcas associadas.<br />
A fusão das operações surgiu como uma<br />
resposta aos desafios específicos na área<br />
de negócio em que atua, e abrangeu a<br />
partilha de recursos nas áreas de gestão<br />
de marketing, stocks e operações, o que a<br />
empresa identificou como uma mais-valia<br />
para a obtenção de ganhos de eficácia,<br />
agilidade e serviço ao cliente. Em entrevista<br />
à SCM, Ricardo Lavado, Gestor de Logística<br />
da Newonedrive, explica-nos quais foram os<br />
benefícios que resultaram desta fusão, e o<br />
que alterou nas operações das empresas ao<br />
nível das operações.<br />
Ao nível dos stocks, o responsável aponta<br />
que foram alinhados os processos de gestão<br />
de inventário, embora ambas as operações já<br />
tivessem inventários permanentes. “Não nos<br />
basta ter a garantia que o stock está dentro de<br />
portas, temos sempre presente a satisfação dos<br />
nossos clientes e em garantir que encontramos<br />
a peça certa, no local certo, garantindo com isto<br />
a entrega na hora certa”, comenta.<br />
A empresa tem 81.000 SKU com stock,<br />
com uma rotina diária em Portugal<br />
continental de 565 pontos de entrega<br />
diferentes por dia. Dentro das grandes<br />
metrópoles do país, conta com entregas<br />
de duas em duas horas, e em regime bidiário<br />
para o restante território nacional,<br />
com entregas semanais para as ilhas via<br />
processo marítimo, e possibilidade de<br />
envios diários por via aérea e processos de<br />
exportação. Devido a estes dados, Ricardo<br />
Lavado considera que “essa assertividade<br />
nos stocks, como também nos processos,<br />
revestem-se de uma importância ainda mais<br />
elevada”, e “neste momento podemos dizer<br />
que a nossa confiança é sustentada num<br />
nível de serviço de stock de 99,8%”.<br />
O gestor compara os ganhos de eficácia<br />
à construção de um edifício: “na sua<br />
base assentam processos bem definidos,<br />
garantindo uma estrutura sólida e criando<br />
os alicerces para uma camada tecnológica<br />
que nos permite dar um salto qualitativo em<br />
tudo o que fazemos”.<br />
“Com este processo será possível reforçar<br />
a aposta na digitalização dos processos,<br />
otimização da cadeia logística, maior<br />
eficiência, colaboração e a melhoria da<br />
rentabilidade”, defende Ricardo Lavado.<br />
Ao nível das relações com os parceiros,<br />
esta equipa de gestão foi também<br />
responsável por uma transformação na<br />
forma como gerem os seus transportes.<br />
“Através de uma estratégia de consolidação<br />
e seleção por diversos critérios, que<br />
consideramos bastante importantes nesta<br />
atividade core do negócio, conseguimos<br />
obter ganhos bastante significativos que<br />
vão diretamente ao resultado da empresa”,<br />
conclui o responsável, “sem dúvida uma<br />
melhoria win-win”. •
46<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
PROCUREMENT<br />
Gestão<br />
de fornecedores<br />
Texto: Bruna Manguito<br />
O SEGREDO PARA<br />
UMA GESTÃO<br />
EFICIENTE<br />
Saber gerir os seus fornecedores é um<br />
passo bastante importante no processo<br />
da área de compras, uma vez que o<br />
insucesso destas parcerias pode afetar<br />
diretamente a sua empresa causandolhe<br />
graves danos, entre os quais,<br />
por exemplo, o desabastecimento, o<br />
desgaste da imagem da organização e<br />
o impacto financeiro irreversível. É com<br />
este aviso que lhe deixamos dicas para<br />
uma correta gestão de fornecedores, de<br />
acordo com a Mercado Eletrônico.<br />
Gerir fornecedores significa mais do que<br />
negociar preços e contratar parceiros que<br />
ofereçam opções menos dispendiosas.<br />
Desta forma, existem diversos elementos a ter<br />
em conta na hora de fechar um negócio, tais<br />
como o preço, qualidade, prazo de entrega,<br />
atendimento aos requisitos legais e técnicos,<br />
entre outros.<br />
Não obstante, é necessário, principalmente,<br />
que as empresas invistam na sua relação<br />
com os seus fornecedores de modo a extrair<br />
o melhor que essa parceria lhes pode<br />
proporcionar, tal como condições diferenciadas,<br />
maiores savings, qualidade dos produtos,<br />
entregas no prazo, entre outros benefícios. A<br />
tecnologia também é fundamental para gerir<br />
todos os processos e garantir uma parceria<br />
sustentável entre empresas.<br />
VANTAGENS DE UTILIZAR UMA<br />
PLATAFORMA DE GESTÃO DE<br />
FORNECEDORES<br />
Uma das formas para que as suas equipas
SCM Supply Chain Magazine 47<br />
trabalhem com mais inteligência, estratégia,<br />
assertividade e compliance é implementando<br />
uma plataforma de gestão de fornecedores. Os<br />
processos manuais e descentralizados passam a<br />
ser inexistentes, o que colocará a sua cadeia de<br />
abastecimento numa vantagem estratégica.<br />
Além disto, de modo a colocar o setor como o<br />
principal foco das organizações é essencial que<br />
estas estejam aliadas à tecnologia. Conheça<br />
algumas delas:<br />
ECONOMIA<br />
A gestão de fornecedores<br />
ajuda na diminuição dos<br />
custos de compras e na<br />
conquista de savings. Exemplificando, 1€<br />
economizado em compras significa 1€ de<br />
lucro no caixa da empresa.<br />
AGILIDADE<br />
Uma vez que os processos<br />
operacionais estão automatizados<br />
e as informações estão<br />
centralizadas numa solução de<br />
gestão de fornecedores, o profissional<br />
aumenta a sua produtividade e passa a<br />
focar-se estrategicamente.<br />
GOVERNANÇA<br />
Uma plataforma de gestão<br />
de fornecedores permite<br />
verificar se os parceiros<br />
cumprem regulamentações e normas, se<br />
podem honrar o compromisso financeiro,<br />
se atendem às regulamentações e normas,<br />
entre outros riscos associados, que podem<br />
impactar negativamente a empresa.<br />
COLABORAÇÃO<br />
É importante comunicar<br />
de forma eficaz com os<br />
seus parceiros, de modo<br />
a agilizar os processos<br />
de compras, pois além de concentrar<br />
as interações numa única plataforma,<br />
é possível manter as informações dos<br />
seus fornecedores sempre atualizadas e<br />
monitorizar o seu desempenho.
48<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
5 ESTRATÉGIAS PARA GERIR OS<br />
SEUS FORNECEDORES<br />
As interrupções no fornecimento a nível<br />
mundial trouxeram diversos desafios à área<br />
das compras, e, como tal, mais do que nunca<br />
é importante ter um bom relacionamento<br />
com o seu fornecedor.<br />
Assim, indicamos cinco estratégias para<br />
o ajudar a gerir melhor as suas parcerias<br />
de negócios, sobretudo em cenários de<br />
incerteza:<br />
1.<br />
Trate os seus fornecedores como<br />
parceiros. Os fornecedores podem<br />
ajudar os clientes no aumento da eficiência,<br />
redução de custos e ainda na conquista de<br />
inovações.<br />
2.<br />
Garanta acordos de longo prazo<br />
Acordos de longo prazo promovem um<br />
relacionamento mais profundo e garantem o<br />
fornecimento, mesmo em cenários externos<br />
desafiadores.<br />
3.<br />
Crie um BSC (Balanced Scorecard)<br />
Definir expectativas claras para os<br />
fornecedores ajuda a acompanhar regularmente<br />
o desempenho do abastecimento.<br />
4.<br />
Construa cláusulas contratuais<br />
As cláusulas contratuais corretas<br />
são muito importantes em caso de disputas<br />
judiciais ou imprevistos.<br />
5.<br />
Avalie regularmente a sua base de<br />
fornecedores<br />
As equipas de compras devem avaliar com<br />
frequência a sua base de fornecedores, tendo<br />
em conta as prioridades do negócio para gerir<br />
melhor os seus gastos. •
SCM Supply Chain Magazine 49
50<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
INTRALOGÍSTICA<br />
Otimização<br />
de processos<br />
Texto: Dora Assis<br />
DO CONVENCIONAL<br />
AO 4.0<br />
A intralogística inclui todos os processos<br />
relacionados com o manuseio das<br />
mercadorias no armazém, tanto das<br />
matérias-primas que, uma vez recebidas, são<br />
enviadas para as linhas de produção, como<br />
dos produtos acabados, que são armazenados<br />
e preparados para o envio aos clientes. A<br />
otimização dos processos intralogísticos<br />
é uma das vias principais com as quais as<br />
empresas contam para melhorar a sua<br />
produtividade.<br />
A<br />
intralogística engloba um mundo muito<br />
amplo e complexo, no qual é fundamental<br />
a coordenação entre as tarefas físicas e as<br />
aplicações necessárias para que tudo funcione de<br />
forma eficiente e otimizada.<br />
Desta forma, as ferramentas digitais que<br />
permitem desenvolver a rastreabilidade das<br />
unidades logísticas, as que realizam o seguimento<br />
em tempo real dos stocks, e os sistemas de<br />
gestão de armazém (SGA) ou Warehouse<br />
Management System (WMS) também fazem parte<br />
da intralogística de uma empresa.<br />
Obviamente, a complexidade da rede<br />
intralogística está diretamente relacionada<br />
com a complexidade da empresa em questão.<br />
Até há alguns anos, todos os processos eram<br />
desenvolvidos de forma manual, com o apoio<br />
das máquinas, mas agora com os avanços
SCM Supply Chain Magazine 51<br />
tecnológicos alcançados e especialmente<br />
quando o armazém ou centro logístico alcança<br />
determinadas dimensões, é imprescindível<br />
recorrer à automação.<br />
FONTE DE CRESCIMENTO<br />
Num contexto em que a cadeia de<br />
abastecimento está debaixo de pressão<br />
e submetida a uma exigência contínua<br />
de celeridade e precisão absolutas, a<br />
intralogística é, em muitos casos, a principal<br />
fonte de crescimento do negócio.<br />
Conseguir a otimização adequada, que<br />
consiga ajustar os custos graças a processos<br />
eficazes e eficientes é o objetivo das<br />
operações, o que por sua vez vai repercutirse<br />
num serviço de qualidade que vai<br />
melhorar a competitividade e tirar o máximo<br />
partido do potencial da empresa.<br />
A rede intralogística é (ou desejavelmente<br />
deverá tornar-se) um organismo vivo, capaz<br />
de interpretar as necessidades do momento<br />
e assim adaptar-se aos ritmos do mercado,<br />
sem comprometer a estabilidade do sistema.<br />
No momento de montar as suas instalações<br />
logísticas, uma empresa que pretenda ser<br />
competitiva deve prever a necessidade<br />
de crescimento físico, por isso, é muito<br />
importante que o armazém tenha uma<br />
construção escalável, que não só aproveite<br />
o espaço, mas que também possa aumentar<br />
em capacidade quando venha a ser<br />
necessário, de forma natural, sem precisar<br />
de recorrer a reformas caras. O tempo e o<br />
espaço são elementos muito valiosos em<br />
qualquer operação logística.
52<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
DA INTRALOGÍSTICA 4.0<br />
À SMART LOGISTICS<br />
Da mesma forma que se fala de Indústria<br />
4.0, também o devemos fazer em relação<br />
à intralogística. É que com a incorporação<br />
de ferramentas de automação, inteligência<br />
artificial e sistemas de comunicação digital<br />
dentro do armazém é disso mesmo que se<br />
trata: intralogística 4.0. No fundo, a evolução<br />
natural das operações internas para responder<br />
à necessidade de adaptação aos ritmos e<br />
necessidades do mercado de forma sustentável,<br />
tanto no aspeto económico, como de um ponto<br />
de vista ambiental. E a explosão do comércio<br />
eletrónico só veio acelerar esta transformação.<br />
O que antes era uma tendência, devido à<br />
pandemia da COVID-19, disparou em todos os<br />
setores e segmentos e já ficou claro que não<br />
se trata de um fenómeno conjuntural, mas<br />
sim algo que está para durar. Obviamente<br />
que o comércio físico não irá desaparecer,<br />
pelo que as empresas, a não ser que operem<br />
exclusivamente no canal digital, devem ser<br />
capazes de responder e satisfazer os pedidos<br />
que chegam através dos seus diversos canais de<br />
compra: a estratégia multicanal é a tendência<br />
que marca o passo no setor logístico.<br />
O caminho para enfrentar e responder ao<br />
desafio com sucesso é a Smart Logistics<br />
ou logística inteligente, que é nutrida por<br />
aplicações digitais, como a Big Data, por<br />
ferramentas de automação (estantes móveis,<br />
sistemas shuttle, picking automático ou<br />
semiautomático, transportadores aéreos...)<br />
e robôs colaborativos (veículos de direção<br />
automática ou AGV, braços robóticos...).<br />
INFORMAÇÃO E VISIBILIDADE<br />
Hoje é fundamental ter visibilidade total sobre<br />
a cadeia. Os fabricantes precisam saber a<br />
localização dos seus produtos em tempo real,<br />
tanto no armazém como durante a distribuição.<br />
Por sua vez, os clientes dos canais online contam<br />
com um serviço cada vez mais imediato e de<br />
máxima qualidade que contemple, por exemplo,<br />
facilidades no momento de realizar devoluções.<br />
Velocidade, precisão, transparência, flexibilidade,<br />
mas também personalização são fatores<br />
indissociáveis da competitividade.
SCM Supply Chain Magazine 53<br />
O comércio remoto acarreta complexidades<br />
adicionais, como é o caso da última milha.<br />
Os pedidos devem ser atendidos de forma<br />
rápida, maioritariamente em ambientes<br />
urbanos, com a dificuldade adicional do<br />
trânsito, e num contexto no qual todos temos<br />
a responsabilidade de reduzir as emissões<br />
contaminantes para a atmosfera.<br />
A intralogística inteligente contribui,<br />
por exemplo, com soluções como o<br />
microfulfillment que, na prática, aproxima<br />
os armazéns do local de origem da procura,<br />
tornado-se possível combiná-lo com outras<br />
soluções de entrega, como por exemplo o “click<br />
& collect”.<br />
Ou seja, o cliente realiza o pedido remotamente<br />
e recolhe-o ele mesmo num espaço próximo,<br />
que ele próprio seleciona. Desta forma, os<br />
recursos são otimizados e o uso de meios de<br />
transporte potencialmente emissores de CO2<br />
são minimizados.<br />
A automação tem, pois, um papel cada vez mais<br />
importante na intralogística. Nenhuma empresa<br />
que produza artigos de consumo e pretenda<br />
abastecer o mercado sendo competitiva pode<br />
pensar em rejeitar um canal de venda em<br />
crescimento contínuo, como é o comércio<br />
eletrónico, nem pode pretender continuar a<br />
executar as tarefas de armazém e distribuição<br />
nos moldes em que sempre fez. A articulação<br />
e coordenação entre as ferramentas 4.0 e os<br />
equipamentos humanos abrem o caminho<br />
em direção ao sucesso, essencialmente pela<br />
rapidez, agilidade e precisão que conferem às<br />
operações dentro de casa e, por consequência,<br />
também fora dela, com celeridade na satisfação<br />
das necessidades do cliente, tanto numa<br />
abordagem B2B como B2C. •
54<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
TECNOLOGIAS<br />
Inovação digital<br />
Texto: Dora Assis<br />
BRIDGESTONE<br />
E AMAZON<br />
ANUNCIAM<br />
RELAÇÃO<br />
ESTRATÉGICA<br />
A Bridgestone está a utilizar a Amazon Web<br />
Services (AWS) como fornecedor estratégico<br />
de soluções de mobilidade sustentável da<br />
empresa. Utilizando Internet of Things (IoT),<br />
machine learning e serviços de análise/<br />
business intelligence, a fabricante de<br />
pneus irá acelerar a criação de plataformas<br />
digitais para lançar novas soluções para os<br />
seus clientes, melhorar a análise de dados e<br />
racionalizar as operações de TI.
SCM Supply Chain Magazine 55<br />
Esta relação de parceria assinala ainda<br />
mais um marco importante na jornada<br />
da Bridgestone 3.0 em direção a um<br />
valor empresarial melhorado que funde<br />
estratégias empresariais com iniciativas de<br />
sustentabilidade.<br />
Como parte da relação, a Bridgestone irá<br />
trabalhar com as equipas ProServe e AWS<br />
Marketplace da AWS para melhorar as soluções<br />
de frota existentes e dar vida a conceitos como<br />
um mercado Bridgestone.<br />
As soluções de frota Bridgestone e o<br />
conceito de mercado centrado nos serviços<br />
da Bridgestone proporcionarão uma seleção<br />
abrangente de serviços e soluções aos<br />
gestores de frota para avaliar proativamente<br />
as necessidades da frota e reduzir o tempo de<br />
inatividade dos veículos.<br />
MAIS INFORMAÇÃO<br />
MAIOR PERCEÇÃO<br />
Com estas soluções digitais, os gestores de<br />
frotas terão uma maior perceção da saúde<br />
das suas frotas, necessidades de manutenção<br />
proativa, acesso a uma vasta rede de prestadores<br />
de serviços, e opções de programação e<br />
pagamento digital que, em última análise,<br />
desbloqueiam o valor social e do cliente.<br />
"A AWS ajudou a fortalecer e a modernizar<br />
o nosso negócio nas Américas durante<br />
vários anos e estamos entusiasmados com<br />
o crescimento da nossa relação através de<br />
operações globais", refere Paolo Ferrari, Joint<br />
Global Chief Operating Officer, Bridgestone<br />
Corporation, e Presidente & CEO da Bridgestone<br />
Américas. "Utilizando plataformas AWS, vamos<br />
transformar a forma como fornecemos serviços<br />
e soluções aos nossos clientes para melhorar a<br />
experiência digital que a Bridgestone oferece,<br />
ao mesmo tempo que modernizamos as nossas<br />
operações comerciais e melhoramos as nossas<br />
capacidades de análise de dados".<br />
De forma a continuar a construir uma<br />
fluência na nuvem em toda a sua organização, a<br />
Bridgestone fornecerá a toda a sua organização<br />
de TI na região das Américas acesso ao currículo<br />
e recursos abrangentes de formação na nuvem<br />
da AWS.
56<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
Durante os próximos cinco anos, a gigante dos<br />
pneus está empenhada em fornecer recursos<br />
de formação e educação contínua a várias<br />
centenas de profissionais de tecnologia em todas<br />
as geografias para melhorar a compreensão<br />
das tecnologias AWS que permitem uma<br />
maior velocidade de adoção da nuvem e o<br />
desenvolvimento de novas capacidades internas<br />
e voltadas para o cliente.<br />
“Esta iniciativa faz parte do compromisso da<br />
Bridgestone de manter e oferecer oportunidades<br />
de desenvolvimento contínuo aos seus colegas<br />
de equipa”, salienta a fabricante mundial.<br />
CONSTRUIR NOVOS AMBIENTES<br />
Além disso, a Bridgestone migrará os seus<br />
centros de dados norte-americanos para a AWS<br />
e continuará a construir novos ambientes de<br />
aplicação de sistemas e produtos (SAP) na AWS.<br />
Através da diminuição do consumo de energia<br />
e da redução do desperdício de hardware,<br />
esta migração para a nuvem apoia o objetivo<br />
da Bridgestone de alcançar neutralidade de<br />
carbono até 2050 e ajuda-la-á a fornecer os seus<br />
valores de "Eficiência", "Extensão" e "Economia"<br />
como parte do Compromisso E8 da Bridgestone.<br />
As duas empresas vão assim concentrar<br />
os seus esforços futuros em inovações de<br />
sustentabilidade concebidas para ajudar a<br />
contribuir para os objetivos de sustentabilidade<br />
da Bridgestone 2050, de neutralidade de<br />
carbono e de produção de pneus a partir de<br />
recursos 100% renováveis.<br />
"A AWS fornece o conjunto mais abrangente<br />
de ofertas de nuvens para permitir aos líderes<br />
automóveis construir aplicações que tocam<br />
todos os pontos da viagem do cliente. Com a<br />
vasta experiência de domínio da Bridgestone<br />
e a liderança da AWS na nuvem, estamos<br />
a expandir o nosso impacto no panorama<br />
automóvel e a desbloquear novas soluções<br />
industriais para tornar a mobilidade do futuro<br />
hoje uma realidade", afirma Uwem Ukpong,<br />
Vice-Presidente de Serviços Globais da Amazon<br />
Web Services, Inc. "A Bridgestone 2050 oferece<br />
o conjunto mais abrangente de ofertas de pneus<br />
para permitir aos líderes do setor automóvel<br />
construir aplicações que tocam todos os pontos<br />
da viagem do cliente”.<br />
Este anúncio é o mais recente<br />
desenvolvimento de uma relação de longa data<br />
entre a Bridgestone e a AWS. A Bridgestone<br />
trabalhou com a AWS durante vários anos,<br />
mais recentemente no seu Akron Mobility<br />
Lab, localizado em Akron, Ohio, nos Estados<br />
Unidos da América, para desenvolver um<br />
sistema que proporciona conhecimentos<br />
derivados da interação entre um pneu e um<br />
veículo, utilizando capacidades avançadas de<br />
machine learning fornecidas através do Amazon<br />
SageMaker – tudo isto sem instalar qualquer<br />
hardware adicional no carro. •<br />
12<br />
FÁBRICAS<br />
6,000+ 1 ± €780m<br />
PONTOS<br />
DE VENDA<br />
CENTRO I&D<br />
E PISTA DE TESTES<br />
INVESTIMENTO GLOBAL<br />
ANNUAL EM I&D<br />
NO SETOR DOS PNEUS
SCM Supply Chain Magazine 57
58<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
TRANSPORTES<br />
Estudo<br />
Green Fleet
SCM Supply Chain Magazine 59<br />
Texto: Bruna Manguito<br />
O FUTURO<br />
LIGADO<br />
À CORRENTE<br />
A instabilidade que se vivia no setor<br />
da energia acabou por ser ampliada<br />
devido à guerra na Ucrânia, gerando<br />
consequências económicas profundas e<br />
obrigando à definição de novas políticas,<br />
nomeadamente, as relacionadas com a<br />
transição energética na mobilidade. Neste<br />
sentido, a Geotab realizou um estudo que<br />
prova que a mobilidade elétrica é uma opção<br />
eficiente para o setor logístico.<br />
Durante um ano, a Geotab realizou um estudo<br />
onde analisou, através da ferramenta<br />
Electric Vehicle Suitability Assessment<br />
(EVSA), os dados de mobilidade de 46.000<br />
automóveis de passageiros e veículos<br />
comerciais com motor de combustão interna<br />
relacionados ao setor da logística em 17 países<br />
europeus, entre os quais França, Alemanha,<br />
Espanha, Itália e Reino Unido.<br />
Os resultados revelaram que atualmente 60%<br />
dos ligeiros de passageiros e comerciais ligeiros<br />
das frotas de entrega de mercadorias podem<br />
ser substituídos por opções completamente<br />
elétricas. Isto significa que três em cada<br />
cinco veículos comerciais ligeiros podem<br />
tornar-se 100% elétricos, conseguindo poupar<br />
grandes quantias de CO2, dado que o caminho<br />
percorrido está dentro das autonomias reais<br />
realizadas.<br />
REDUÇÃO DE CUSTOS NA GESTÃO<br />
DE FROTAS<br />
O objetivo do estudo “Profitable Sustainability:<br />
The Potential of European Fleet Electrification”<br />
foi analisar o custo operacional e o impacto<br />
ambiental dos veículos comerciais leves<br />
tradicionais a gasolina e a diesel (incluindo<br />
veículos de passageiros, SUVs, minivans e vans<br />
comerciais leves) e comparou-os com seus<br />
equivalentes elétricos a bateria. Pelo facto<br />
de utilizar dados reais de desempenho de<br />
veículos elétricos em todo o mundo, a Geotab<br />
conseguiu fornecer evidências convincentes<br />
sobre o retorno do investimento (ROI) e ainda o<br />
impacto positivo que a sustentabilidade desta<br />
mudança poderá ter.
60<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
Mudar para frotas totalmente elétricas tem as<br />
suas vantagens, sendo uma delas a económica,<br />
uma vez que os veículos analisados, com sete<br />
anos de vida útil, possibilitam em conjunto<br />
alcançar uma economia de 261 milhões<br />
de euros. É de referir que esta análise foi<br />
realizada entre 30 de dezembro de 2020 e 30<br />
de dezembro de 2021, o que comprova que<br />
atualmente a<br />
poupança seria ainda mais elevada, dado o<br />
aumento dos preços dos carburantes. Desta<br />
maneira, de acordo com a Geotab, os gestores<br />
de frota, mesmo excluindo as economias de<br />
incentivos governamentais, como, por exemplo,<br />
as subvenções de compra inicial, poderiam<br />
economizar em média 9.508,47€ por veículo<br />
durante um período de sete anos.<br />
O relatório mostra também que os incentivos<br />
governamentais podem ser vitais para<br />
permitir que as empresas mudem para<br />
veículos elétricos. Contudo, os incentivos<br />
governamentais variam muito de país para país,<br />
sendo que 10 membros da União Europeia não<br />
oferecem nenhum incentivo em dinheiro.<br />
ELETRIFICAR FROTAS É UMA<br />
OPÇÃO MAIS SUSTENTÁVEL<br />
O meio ambiente também beneficia com a<br />
eletrificação de frotas pois mais de cinco<br />
toneladas de emissões de CO2 podem ser<br />
economizadas por veículo.<br />
Klaus Böckers, o vice-presidente para os<br />
países nórdicos, Europa Central e Oriental,<br />
da Geotab, aponta que “as organizações<br />
sabem que os veículos elétricos definirão o<br />
futuro das suas frotas e agora são capazes<br />
de quantificar alguns dos benefícios de se<br />
tornar elétrico”, acrescentando que este<br />
estudo “ilustra a viabilidade de uma mudança<br />
para veículos elétricos, o que ajudará os<br />
operadores de frotas a atingir as suas metas<br />
de sustentabilidade. Também demonstra<br />
o impacto positivo significativo que os<br />
incentivos governamentais podem ter na<br />
eletrificação das frotas”.<br />
Quando se trata de como as organizações<br />
podem usar os modelos atuais de veículos<br />
elétricos nas suas frotas, a pesquisa revelou:
SCM Supply Chain Magazine 61<br />
Na Europa 86% dos requisitos de<br />
autonomia das frotas podem ser<br />
atendidos por um veículo elétrico em<br />
98% do tempo, o que comprova que a<br />
chamada ansiedade da autonomia, que<br />
tem sido um problema de longa data<br />
apontado à eletrificação das frotas, não<br />
constitui um problema para a maioria<br />
das frotas compostas por comerciais<br />
ligeiros;<br />
Analisando especificamente o custobenefício,<br />
o Reino Unido foi superado<br />
pela Europa continental, tendo<br />
apresentado um resultado de apenas<br />
55%, quando comparado a países<br />
como Itália (71%), Espanha (70%) ou<br />
Alemanha (69%);<br />
O Reino Unido tem a maior parcela<br />
de veículos elétricos com capacidade<br />
de alto alcance de 89%, seguido pela<br />
Espanha (86%), Holanda (85%), Itália<br />
(77%), Alemanha (76%) e França (63%);<br />
Com um incentivo de amostra de<br />
6.437,01€, a relação custo-benefício<br />
aumenta em 9 pontos percentuais.<br />
“A capacidade dos veículos elétricos atuais de<br />
atender às necessidades das frotas europeias<br />
é encorajadora. A eletrificação da frota é um<br />
processo gradual e este estudo destaca que<br />
as empresas devem reconhecer que lucros<br />
e sustentabilidade andam de mãos dadas. A<br />
sustentabilidade está a tornar-se uma parte<br />
importante da missão de todas as empresas,<br />
e o transporte é um componente importante<br />
desse mix. Na verdade, é um ótimo momento<br />
para começar a pilotar implantações de<br />
veículos elétricos menores antes de escalar”,<br />
afirma Klaus Böckers.<br />
O vice-presidente aproveitou ainda para<br />
falar sobre dados telemáticos e os seus<br />
benefícios: “Serão críticos, não importa onde<br />
as organizações estejam no seu estágio<br />
de adoção de veículos elétricos, porque as<br />
ajudarão a operar toda a sua frota de maneira<br />
mais eficiente e sustentável”, remata. •
62<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
TRANSPORTES<br />
Paulo Duarte<br />
Texto: Dora Assis<br />
“TENHO MUITAS<br />
DÚVIDAS<br />
SOBRE CERTOS<br />
INVESTIMENTOS<br />
QUE ESTÃO<br />
A SER FEITOS”<br />
O crescimento tem sido assinalável e<br />
depois da compra da HRBG e da HurTrans,<br />
num investimento global de dez milhões<br />
de euros, a Ibéria é o seu mercado<br />
natural. Quanto ao futuro, Gustavo Paulo<br />
Duarte, diretor-geral da transportadora<br />
é perentório: temos das melhores<br />
infraestruturas rodoviárias da Europa e o<br />
investimento na ferrovia chega com mais de<br />
10 anos de atraso.<br />
SCM - Olhando para o setor do transporte<br />
rodoviário de mercadorias, que está a sofrer<br />
com problemas conjunturais mas também<br />
estruturais, como é que vê o atual momento<br />
e como é que estão a lidar com toda esta<br />
situação?<br />
> Gustavo Paulo Duarte - Todos sabemos<br />
das dificuldades na cadeia de abastecimento<br />
e todos estamos a viver dificuldades, mas<br />
não é de agora. A verdade é que houve um<br />
conjunto de eventos que aceleraram todo este<br />
cenário e nos trouxeram até aqui. Não me<br />
lembro na história da nossa empresa de viver<br />
um momento assim e de haver uma falta de<br />
camiões como esta a que assistimos. Portanto,<br />
a Transportes Paulo Duarte aquilo que assumiu<br />
neste último ano foi a responsabilidade de<br />
criar condições para que os nossos clientes não<br />
sentissem essas falhas. Como? Por um lado,<br />
através do crescimento inorgânico e por via de<br />
aquisição de outras empresas, como aconteceu<br />
o ano passado com as duas compras que<br />
fizemos.<br />
Este ano é um ano de consolidação, com<br />
as dores de crescimento normais quando<br />
uma empresa cresce 100% - o ano passado<br />
faturávamos cerca de 58 milhões e este ano
SCM Supply Chain Magazine 63<br />
paradigma dos transportes em Espanha. É isso<br />
que está a acontecer e que acreditamos que é o<br />
futuro da nossa empresa.<br />
Gustavo Paulo Duarte, diretor-geral Transportes Paulo Duarte<br />
devemos chegar aos 125 milhões em termos<br />
de faturação consolidada - e daqui advém<br />
obviamente uma responsabilidade enorme<br />
por parte de quem gere esta empresa, não<br />
só para com os nossos clientes mas também<br />
internamente. São mudanças na forma de<br />
trabalhar, nos ritmos de trabalho, muitos<br />
distintas de quando o crescimento se dá por via<br />
orgânica e em que os próprios processos vão<br />
acompanhando esse ritmo de crescimento. Isto<br />
para dizer que também internamente temos<br />
tido muitos desafios, mas tem sido gratificante,<br />
bom e recompensador. Esta é a forma como<br />
a Transportes Paulo Duarte assumiu todas<br />
estas crises, sobretudo porque percebemos<br />
que quem estiver disposto a arriscar um<br />
bocadinho mais nestas alturas, pode sair<br />
recompensado a seguir. O mercado nacional<br />
para nós está consolidado e encontrámos um<br />
mercado natural de expansão em Espanha,<br />
onde há muito para fazer. Trabalha-se com<br />
mais profissionalismo em Portugal do que<br />
em Espanha e nós entendemos que uma<br />
empresa como a nossa, bem estruturada e<br />
com processos bem definidos, quando vai para<br />
o mercado espanhol tende a criar impacto<br />
e tende a ser bem sucedida e a melhorar o<br />
Há uns meses, em declarações a um<br />
meio económico, falava na possibilidade de<br />
crescerem para a Polónia e para a República<br />
Checa. Continua nos planos?<br />
> Sim. Vamos ver, nós não queremos crescer<br />
só por crescer. Identificámos mercados,<br />
identificámos áreas de negócio onde já<br />
éramos muito fortes e estamos a concretizar<br />
essa estratégia. Nós já éramos de longe a<br />
maior empresa de transporte de líquidos<br />
alimentares em Portugal. Ao comprarmos a<br />
HurTrans, a maior empresa de transporte de<br />
líquidos alimentares espanhola, passámos a<br />
ser a maior empresa ibérica nesse segmento<br />
e, portanto, neste momento, nessa área, os<br />
nossos grandes concorrentes são o Leste da<br />
Europa. Estamos constantemente a discutir<br />
fluxos com esses nossos concorrentes, porque<br />
eles querem os nossos fluxos de subida quando<br />
estão a regressar e nós queremos os deles de<br />
descida, portanto o futuro passará certamente<br />
por uma geografia mais a Norte, por termos<br />
pessoas e camiões mais a Norte, para que os<br />
fluxos possam ajudar e compensar este nosso<br />
desequilíbrio.<br />
E voltando a Portugal, como é que está a<br />
mudança de instalações para o Carregado e que<br />
mais-valias é que isso vos irá trazer do ponto de<br />
vista operacional?<br />
> Fruto do crescimento que temos vindo<br />
a ter em território nacional, a Transportes<br />
Paulo Duarte neste momento tem cinco<br />
bases. Quando somos pequenos, todos temos<br />
mais tempo, sobretudo para poder estar com<br />
as pessoas. Face ao crescimento que temos<br />
registado, precisamos de concentrar as pessoas.
64<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
Esta mudança para a Ota será estratégica para<br />
podermos estar com as nossas pessoas. Ou<br />
seja, nós hoje temos pessoas na base de Torres<br />
Vedras, que é a sede e a génese da empresa,<br />
e temos uma base que é onde temos grande<br />
parte do nosso negócio a circular, que é na<br />
Azambuja. A solução que encontrámos passa<br />
por esta nova base, claramente com mais e<br />
melhor capacidade do que as anteriores, a que<br />
se junta a tão importante proximidade entre<br />
pessoas, além da eficiência de quilómetros em<br />
vazio que vamos alcançar.<br />
Nos planos a ideia era fazer esta mudança<br />
até ao final do ano. Atendendo a todas as<br />
vicissitudes do mercado, de construção e<br />
não só, vamos ver se conseguimos fazê-lo no<br />
calendário previsto. De tomo o modo, penso<br />
que no primeiro trimestre de 2023 teremos<br />
estas duas bases consolidadas.<br />
A Transportes Paulo Duarte é uma empresa<br />
de referência na última milha e nas entregas de<br />
retalho alimentar. Como é que olha para a atual<br />
realidade e para o que se pode considerar uma<br />
ausência de enquadramento estratégico, com<br />
exigências e regras desiguais entre players?<br />
> Temos que perceber que o transporte e<br />
a qualidade do produto não são uma coisa<br />
secundária. Se a mim me exigem que para<br />
exercer esta atividade tenho que ter um alvará<br />
de transportes, pagar a Segurança Social<br />
aos meu trabalhadores, ter um contrato e<br />
vículos com as minhas pessoas, etc., eu não<br />
posso ter na última milha uma concorrência<br />
perfeitamente desleal, em que qualquer pessoa<br />
com uma mota, uma bicicleta ou um carro e<br />
vai trabalhar para uma App e essa App faz<br />
entregas. Eu, isso, lamento, mas não concordo,<br />
não o posso permitir e farei tudo o que estiver<br />
ao meu alcance para que o mercado seja<br />
minimamente regulado e com condições de<br />
trabalho que são as expectáveis na Europa do<br />
Séc. XXI.<br />
Claro que percebemos que se trata de um<br />
mercado altamente competitivo e, se é verdade<br />
que o mercado tem estado a crescer, não é<br />
menos verdade que tem estado a fazê-lo com<br />
base em pilares e alicerces muito frágeis. É<br />
preciso olhar para a realidade, entendê-la e<br />
regulá-la. Os valores que estão a ser praticados<br />
não são os custos reais de uma entrega a casa<br />
de uma pessoa. A desregulação do mercado,<br />
neste momento, é total. Na Transportes Paulo<br />
Duarte vivemos bem com o que temos e com o<br />
que fazemos. Parece-me é que temos que fazer<br />
mais pressão no mercado para a necessidade de<br />
regulação do mesmo.<br />
Anunciaram recentemente o investimento<br />
num novo sistema de gestão operacional.<br />
O futuro do sector e das empresas passa<br />
claramente por essa modernização tecnológica?<br />
> Não tenho dúvidas nenhumas disso. Com<br />
todos estes dados e em tempo real, nós hoje<br />
conseguimos controlar a nossa atividade de<br />
uma forma completamente distinta daquilo que<br />
fazíamos há uns tempos, com ganhos claros em<br />
termos de eficiência. Agora, também é verdade<br />
que continua a existir uma barreira cultural.<br />
Temos clientes que ainda hoje exigem que<br />
sejam entregues os CNR’s originais! Eu percebo<br />
que mudar processos é difícil, mas em pleno<br />
Séc. XXI e com todas as ferramentas que temos<br />
disponíveis, há coisas que não se justificam.<br />
Podemos falar muito de digitalização e de<br />
modernização mas, para que tal aconteça, é<br />
preciso que as empresas e as pessoas também<br />
o queiram. Temos que acelerar.
Sei que não tem bola de cristal, mas<br />
enquanto gestor na área dos transportes de<br />
mercadorias, como é que vê o futuro?<br />
> Sobre o futuro, tenho muitas dúvidas<br />
sobre certos investimentos que estão a ser<br />
feitos em Portugal. Continuo a achar que as<br />
minhas filhas não deveriam ter que pagar<br />
investimentos errados e atrasados, que é o<br />
que significa este investimento na ferrovia.<br />
Espalhar ferro e eletrificar vias pelo país<br />
inteiro, não sei se é uma boa opção ambiental,<br />
convenhamos. Até porque Portugal tem<br />
das melhorias infraestruturas rodoviárias<br />
da Europa. Temos vias subdimensionadas e<br />
outras sobredimensionadas (A8, A17, A29).<br />
Um comboio vai daqui para o Porto e leva<br />
não sei quantos vagões, vamos dizer 20, mas<br />
um camião que emparelhe em platooning<br />
SCM Supply Chain Magazine 65<br />
com 20 outros camiões, numa via dedicada,<br />
também vai daqui até ao Porto. Isto não é um<br />
comboio, então o que é? E, de facto, o camião<br />
é muito mais barato e as questões de impacto<br />
ambiental rapidamente serão ultrapassadas,<br />
seja a hidrogénio, elétrico ou outra alternativa<br />
e não temos que fazer novas linhas, apenas<br />
aproveitar a rede viária que já existe. Se há<br />
10 anos o comboio fazia sentido, hoje, com<br />
a tecnologia que já existe disponível e com<br />
a que está a aparecer, acho o investimento<br />
que se vai fazer na parte das mercadorias um<br />
disparate.<br />
Quanto ao futuro próximo, não acredito que<br />
seja autónomo para já, mas não me espanta<br />
que, entretanto, passe por termos as pessoas<br />
aqui e a “conduzirem” remotamente os<br />
veículos. •<br />
bem-vindo a<br />
uma estreita colaboração<br />
em toda a Europa<br />
Descubra o caminho mais curto para uma experiência local,<br />
apoio ao cliente, garantia de disponibilidade e uma<br />
parceria dedicada, com a nossa cobertura Europeia.<br />
together towards a sustainable future
66<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
TRANSPORTES<br />
Vonzu<br />
Texto: Fábio Santos<br />
“O DIGITAL NÃO<br />
PODE SER VISTO<br />
COMO UM DESTINO,<br />
MAS SIM COMO<br />
O CAMINHO A<br />
PERCORRER”<br />
Com os constantes aumentos ao longo da<br />
cadeia de abastecimento, seja através de<br />
serviços diretos ou indiretos, cada vez mais<br />
as empresas têm procurado novas formas<br />
de reduzir os custos e otimizar as suas<br />
operações. Uma das opções adotadas pelas<br />
empresas passa pela integração de uma<br />
plataforma tecnológica nas suas operações,<br />
mas os seus benefícios ainda não são<br />
totalmente claros para todos.<br />
A<br />
transformação digital tem demonstrado<br />
ser um dos principais pontos de criação<br />
de valor, e há mesmo quem afirme que se<br />
uma empresa não está presente no digital,<br />
não chega a existir. Isto porque a presença<br />
digital traz visibilidade para a cadeia, tanto<br />
interna como externamente. À conversa<br />
com Mariana Jota, diretora de estratégia da<br />
Vonzu, procurámos conhecer os benefícios<br />
da utilização de uma plataforma tecnológica<br />
na logística, para fazer face às dificuldades<br />
sentidas atualmente, como a distribuição<br />
urbana e a descarbonização.<br />
Alguns dos problemas atuais do setor dos<br />
transportes são o custo dos combustíveis e<br />
as dificuldades das entregas de última milha,<br />
especialmente ao nível das entregas em<br />
regiões urbanas. Quais as dificuldades que vos<br />
costumam apontar e de que forma as vossas<br />
soluções conseguem ajudar os clientes nesse<br />
sentido, ou convencer novos que não dispõem<br />
de uma plataforma a utilizá-las?<br />
> A Vonzu surgiu para descomplicar os<br />
setores da logística e da distribuição. Assim,<br />
procuramos dar resposta a alguns dos maiores<br />
desafios que estas áreas de negócio enfrentam;<br />
uma delas, atualmente, prende-se com a<br />
escalada do preço dos combustíveis. Tendo<br />
pouco espaço de manobra em termos de preços<br />
cobrados pelos seus serviços, as empresas do<br />
setor têm apontado o aumento de despesas<br />
com os combustíveis como uma das principais<br />
dificuldades, vendo as suas margens de lucro a<br />
baixar consideravelmente.
SCM Supply Chain Magazine 67
68<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
A nossa mais-valia entra aqui no sentido de<br />
as auxiliar a otimizar os seus processos, por<br />
forma a colocar menos veículos nas estradas,<br />
maximizando a sua capacidade de transporte<br />
e contribuindo para uma diminuição dos<br />
quilómetros percorridos. Isto leva a uma<br />
eficiência consideravelmente superior e, por<br />
consequência, a melhores margens de lucros.<br />
Tentamos fazer ver os nossos potenciais<br />
clientes que a nossa plataforma não deve ser<br />
encarada como um custo extra, mas antes um<br />
investimento que ajuda a reduzir despesas,<br />
seja através do aumento da eficiência nas suas<br />
operações de distribuição ou na gestão de<br />
incidências - subsequentemente aumentando<br />
os seus lucros e, por outro lado, contribuindo<br />
para um desempenho sustentável do seu<br />
negócio.<br />
Devido a estes fatores, as margens de lucro<br />
das empresas de distribuição são cada vez<br />
menores. De que forma estas plataformas<br />
tecnológicas podem ajudar a aumentar estas<br />
margens às empresas?<br />
> Uma plataforma que permita integrar os<br />
processos logísticos e de gestão de operadores<br />
e clientes será sempre benéfica para as<br />
empresas na área. Melhorando aspetos como a<br />
gestão de incidências, como sejam as entregas<br />
malsucedidas, ou fornecendo ferramentas<br />
analíticas, a aplicação de tecnologia leva<br />
também, nestes contextos, a um aumento da<br />
sua produtividade e eficiência; tem o potencial<br />
para ajudar os empresários a tomar melhores<br />
decisões e a definir estratégias mais robustas<br />
para fazer crescer o seu negócio, bem como as<br />
suas margens de lucro.
SCM Supply Chain Magazine 69<br />
A descarbonização é um desafio atual,<br />
especialmente para as transportadoras, que<br />
representam uma grande fatia das emissões<br />
globais de CO2. De que forma o uso destas<br />
plataformas consegue ajudar as empresas<br />
nessa redução carbónica?<br />
> A aceleração da digitalização no setor da<br />
logística e distribuição é, sem dúvida, uma das<br />
apostas mais seguras para iniciar a jornada rumo<br />
à sustentabilidade e aos objetivos de redução<br />
de emissões destas empresas. As soluções<br />
tecnológicas que vão surgindo impactam,<br />
simultaneamente, várias frentes de desperdício e<br />
de emissões poluentes.<br />
No caso particular da Vonzu, a nossa plataforma<br />
tem como principal fator de distinção criar<br />
um ecossistema simples e intuitivo que<br />
junta retalhistas, distribuidores e motoristas.<br />
Isto facilita, por um lado, aos retalhistas o<br />
controlo logístico de todo o negócio numa<br />
perspetiva 360º, através da nossa solução<br />
“torre de controlo”; do lado dos distribuidores e<br />
transportadoras, a automatização dos processos<br />
permite não só um acompanhamento em tempo<br />
real destes, como o nosso algoritmo otimiza as<br />
rotas de distribuição para os seus motoristas,<br />
que as podem consultar através da nossa<br />
aplicação móvel. A título de exemplo, temos o<br />
caso de sucesso da Method Logistics, que realiza<br />
cerca de 25 milhões de entregas de última milha<br />
anualmente: graças à plataforma da Vonzu,<br />
conseguimos reduzir em 10% o seu número<br />
total de quilómetros percorridos, e a sua taxa de<br />
incidências em 20%, o que consequentemente<br />
resultou num aproveitamento mais eficaz dos<br />
seus recursos.
70<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
De que forma essa interconectividade entre<br />
os vários intervenientes mostra ser um benefício<br />
para as empresas ao nível da sustentabilidade?<br />
> Uma plataforma como a Vonzu tem a<br />
capacidade de gerar uma interconectividade<br />
mais simples entre os vários intervenientes no<br />
processo diretamente no seu ecossistema. Isto<br />
contribui para que haja um melhor alinhamento<br />
entre as diferentes partes envolvidas, recursos<br />
otimizados e operações mais eficientes. Um<br />
ponto adicional que também gera valor junto<br />
destas companhias é o facto de já terem surgido<br />
mesmo, dentro da nossa plataforma, novas<br />
oportunidades de negócio entre retalhistas e<br />
transportadoras, por exemplo.<br />
Que outros tipos de soluções tecnológicas<br />
existem atualmente para ajudar as empresas de<br />
transporte na redução da pegada carbónica e na<br />
sustentabilidade?<br />
> Hoje em dia, já existem opções que<br />
permitem gerir praticamente todos os aspetos<br />
das operações de uma transportadora, desde<br />
processos operacionais à melhor organização de<br />
armazém e mesmo, através da digitalização do<br />
negócio, da redução drástica no uso de recursos<br />
como sejam o papel, algo infelizmente ainda<br />
muito em voga neste setor.<br />
Quais os maiores desafios atuais ao nível da<br />
distribuição urbana a nível ibérico e quais as<br />
diferentes necessidades sentidas entre os dois<br />
países?<br />
> Numa perspetiva geral, as dificuldades<br />
sentidas em Portugal e Espanha são as mesmas<br />
- a diferença cinge-se sumariamente ao maior<br />
tamanho do mercado espanhol. Em ambos os<br />
casos, um dos maiores desafios prende-se com<br />
o excesso de veículos nas estradas, algo que é<br />
prejudicial tanto em termos de recursos para<br />
as empresas como a nível de cumprimento de<br />
metas sustentáveis. Por outro lado, o atraso<br />
na digitalização do setor tem vindo a causar<br />
dificuldades, sobretudo desde o boom do<br />
e-commerce há uns anos. Em último lugar,<br />
mas não menos importante, sentimos que um<br />
dos maiores entraves ao desenvolvimento<br />
destas empresas se prende com a falta<br />
acompanhamento de infraestruturas urbanas<br />
para o acolhimento do crescimento do setor.<br />
Neste ponto em particular, uma alternativa que<br />
tem vindo a gerar alguma tração é a criação de<br />
mini-hubs - polos de recolha e levantamento de<br />
entregas - sobretudo nas cidades.<br />
A constante necessidade de redução da<br />
pegada ambiental e o custo dos combustíveis<br />
vieram reforçar a importância da utilização<br />
das energias renováveis. A distribuição está a<br />
adaptar-se bem a estas limitações?<br />
> Diria que estamos num contexto de “trabalho<br />
em progresso”. Uma das principais considerações<br />
quando falamos de transição energética na<br />
distribuição de última milha recai sobre o corte<br />
de emissões de carbono dos veículos usados; o<br />
investimento na renovação de frotas comerciais<br />
para viaturas híbridas ou elétricas, apesar do<br />
impacto financeiro inicial para as empresas,<br />
precisa de ser visto como prioritário. Por outro<br />
lado, em casos específicos, podem também ser<br />
ponderados meios de transporte alternativos:<br />
a Vonzu, por exemplo, trabalha com empresas<br />
de última milha que usam bicicletas ou meios<br />
sustentáveis para se deslocarem durante as suas<br />
entregas.<br />
A entrega de última milha é ainda um<br />
problema para as empresas, que procuram cada<br />
vez mais otimizar as entregas e evitar segundas<br />
tentativas. De que forma a tecnologia tem vindo<br />
a adaptar-se a esta necessidade?<br />
> Com a volatilidade que existe no mercado,
SCM Supply Chain Magazine 71<br />
as plataformas precisam de ser pensadas com<br />
vista a adaptações de fácil implementação.<br />
Foi com esse intuito que construímos a Vonzu,<br />
e é essa uma das nossas vantagens enquanto<br />
solução para este setor: o facto de sermos uma<br />
plataforma feita “à medida” permite este moldar<br />
da nossa tecnologia às necessidades específicas<br />
de cada empresa. Sendo a otimização das<br />
entregas uma questão fulcral para a redução da<br />
pegada ecológica do setor, também a tecnologia<br />
tem de continuar a ser pensada nesse sentido. O<br />
desenvolvimento de algoritmos que possibilitam<br />
o acompanhamento do processo em tempo<br />
real, tanto do lado da transportadora como do<br />
cliente final, tem aberto portas a uma redução na<br />
percentagem de entregas falhadas por ausência<br />
e, consequentemente, a uma gradual eliminação<br />
a necessidade de se proceder a uma segunda<br />
ou mesmo terceira tentativa, que levariam a um<br />
maior número de quilómetros percorridos e mais<br />
emissões de gases poluentes.<br />
Para onde sente que estamos a caminhar<br />
ao nível da sustentabilidade e que conselhos<br />
deixaria às empresas para melhor identificarem e<br />
gerirem as necessidades das suas operações?<br />
> Este é um setor que tem uma certa tendência<br />
para ser tradicionalista. No entanto, o próprio<br />
cliente final hoje em dia, quando está a comprar<br />
online, valoriza cada vez mais a pegada ambiental<br />
que as marcas deixam; paradoxalmente, o<br />
desafio recai no facto de, tendo esta noção<br />
de sustentabilidade, o comprador não querer<br />
pagar mais à marca ou retalhista para que esta<br />
sua operação se mantenha assim. É necessária<br />
uma mudança de mentalidades neste sentido,<br />
até porque, para já, frotas elétricas requerem<br />
investimentos avultados e é necessário que isso<br />
se reflita nos preços cobrados. Não obstante, a<br />
sustentabilidade da indústria requer também um<br />
alinhamento a nível estratégico entre as várias<br />
empresas, desde o retalhista ao distribuidor,<br />
para que os seus recursos, humanos e materiais,<br />
sejam otimizados e as suas margens de lucro<br />
aumentadas. Acreditamos que a neutralidade<br />
carbónica está gradualmente a aproximar-se<br />
do nosso horizonte, e a tecnologia aplicada à<br />
logística - logtech - está sem dúvida a contribuir,<br />
a um nível basilar, para que isso aconteça. Para<br />
o setor da logística e distribuição, o digital não<br />
pode ser visto como um destino, mas sim como o<br />
caminho a percorrer. •
72<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
CARREIRA<br />
Logística<br />
FAZER OU<br />
NÃO FAZER<br />
OUTSOURCING?<br />
O setor da logística, além de abrangente<br />
e transversal, tem evoluído em termos de<br />
necessidades e consequentemente nas<br />
funções que procura. No seu blog, o Gesgrup<br />
aborda os fundamentos do outsourcing e<br />
de que forma este pode ajudar as empresas<br />
a focarem-se na inovação de processos e<br />
serem competitivas, artigo que agora aqui<br />
reproduzimos.<br />
O<br />
setor da logística é muito amplo e<br />
articulado. Engloba as empresas que<br />
realizam serviços de transporte de<br />
mercadorias, mas também as que oferecem<br />
serviços de logística, como armazenagem,<br />
planeamento e gestão de transportes. Também<br />
inclui as empresas que prestam serviços<br />
relacionados, como distribuição, manipulação e<br />
embalamento de mercadorias.<br />
O setor é um pilar muito importante da<br />
economia, pois garante as cadeias de supply<br />
chain globais da produção industrial e os fluxos<br />
de bens.<br />
As oportunidades profissionais no setor de<br />
logística são várias: há muitos postos entrylevel<br />
abertos a pessoas sem experiência, que<br />
recebem formação específica para cada função.<br />
Por outro lado, para cargos e funções de<br />
nível superior, a formação em, por exemplo,<br />
logística ou engenharia de produção avançada<br />
é essencial para o planeamento, gestão<br />
e otimização dos sistemas de logística de<br />
produção industrial e de supply chain.<br />
Em geral, os turnos de trabalho podem ser<br />
particularmente exigentes, pois os serviços de<br />
logística e transporte geralmente precisam ser<br />
garantidos 24 horas por dia.
SCM Supply Chain Magazine 73<br />
AS FUNÇÕES EM LOGÍSTICA<br />
Eis um apanhado das funções mais comuns no setor da logística:<br />
OPERADOR DE ARMAZÉM<br />
Esta função consiste em realizar as funções de<br />
carga e descarga, separação e classificação de<br />
embalagens no armazém logístico.<br />
TÉCNICO DE LOGÍSTICA<br />
Tem como missão gerir e organizar as<br />
atividades relacionadas com a receção,<br />
localização, transporte e expedição das<br />
mercadorias ou produtos da empresa no local,<br />
tempo e condições adequadas.<br />
RESPONSÁVEL DE DEPARTAMENTO<br />
(AÉREO, MARÍTIMO, TERRESTRE)<br />
O responsável do departamento (terrestre,<br />
aéreo, marítimo) é responsável por supervisionar<br />
o desenvolvimento do serviço, informando<br />
e auxiliando o cliente sobre os serviços de<br />
transporte de acordo com suas necessidades.<br />
RESPONSÁVEL DE ARMAZÉM<br />
É responsável pela gestão da equipa de<br />
receção, armazenamento e distribuição de<br />
equipamentos e materiais em uma instalação.<br />
BRANCH MANAGER<br />
O diretor de armazém/plataforma é uma figura<br />
chave no desenvolvimento do grupo numa<br />
área de atuação, pois é este o responsável pela<br />
gestão de clientes e fornecedores.<br />
SALES MANAGER<br />
O diretor comercial é responsável por<br />
liderar a atividade comercial do grupo que<br />
representa, sendo o responsável máximo pelo<br />
desenvolvimento do negócio.
74<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
KEY ACCOUNT MANAGER<br />
O objetivo do Key Account Manager é<br />
desenvolver a venda de produtos ou serviços<br />
da empresa.<br />
DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO<br />
DE NEGÓCIO<br />
O diretor de desenvolvimento de negócios é<br />
responsável por procurar oportunidades de<br />
crescimento de negócios de longo prazo em<br />
clientes, mercados e relacionamentos.<br />
GESTOR DE PLATAFORMA<br />
É responsável por otimizar os indicadores<br />
da plataforma em termos de rentabilidade,<br />
produtividade e imagem da empresa.<br />
GESTOR DE PROJETO<br />
O gestor de projeto geralmente trabalha<br />
em conjunto com o diretor de logística para<br />
coordenar toda a cadeia de supply chain do<br />
projeto sob sua responsabilidade, considerando<br />
os prazos de entrega e os diferentes<br />
intermediários necessários no processo logístico.<br />
SUPERVISOR DE TURNO<br />
As suas funções incluem organizar, gerir e<br />
otimizar todo o pessoal e meios técnicos<br />
atribuídos ao seu turno com o objetivo de<br />
garantir o cumprimento da parte de produção e<br />
a continuidade do processo de produção.<br />
GESTOR DE TRÁFEGO<br />
É responsável por planear as atividades da<br />
unidade sob sua responsabilidade, atender e<br />
coordenar as solicitações de distribuição dos<br />
diferentes armazéns da empresa e manter o<br />
controlo sobre veículos e motoristas.
SCM Supply Chain Magazine 75<br />
DIRETOR DE SUPPLY CHAIN<br />
O diretor de supply chain é responsável pelas<br />
áreas de planeamento, compras, armazenagem,<br />
transporte e atendimento ao cliente, e é<br />
responsável por gerir e organizar todas as<br />
atividades de compras, produção e distribuição.<br />
RESPONSÁVEL DA LOGÍSTICA<br />
O papel do responsável é otimizar a organização<br />
de todas as atividades relacionadas à função<br />
logística, tanto internas quanto externas.<br />
RESPONSÁVEL DO TRANSPORTE/<br />
EXPEDIÇÃO<br />
É responsável por desenhar e liderar a<br />
implementação do plano de gestão e do plano<br />
estratégico de transporte para garantir o<br />
atendimento ao cliente.<br />
ENGENHEIRO<br />
DE PROJETOS LOGÍSTICOS<br />
É a figura responsável por otimizar e melhorar<br />
todos os processos logísticos da empresa.<br />
Nos últimos anos, o setor passou por grandes<br />
mudanças: a introdução e disseminação<br />
de novas tecnologias, automatização ou<br />
inteligência artificial estão a acelerar os<br />
processos de transporte e tornando os<br />
serviços logísticos mais baratos, flexíveis e<br />
produtivos. Tudo isso afeta as perspetivas de<br />
carreira no setor da logística.<br />
As empresas de transporte e empresas de<br />
serviços logísticos estão altamente focadas<br />
na inovação de processos e serviços para<br />
serem mais competitivas. Para suportar o<br />
crescimento do mercado, espera-se que<br />
as empresas precisem cada vez mais de<br />
colaboradores qualificados e capazes de<br />
enfrentar os desafios futuros da logística<br />
e gestão da cadeia de abastecimento:<br />
profissionais capazes de monitorizar<br />
processos e a produtividade para garantir a<br />
máxima eficiência operacional.<br />
Se deseja os melhores resultados para<br />
sua empresa, o primeiro passo é perceber<br />
como o setor de logística mudou e quais<br />
novas tendências de recrutamento, como o<br />
Outsourcing, que pode abranger todos os<br />
processos logísticos e industriais, adaptandose<br />
às necessidades de cada cliente. •
76<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
DIÁRIO DE BORDO<br />
Henrique Germano Cardador<br />
Marketing & Sales Strategy<br />
ARTESÃOS,<br />
BEM HAJAM!<br />
Fui com a minha família passear a Montemor-o-Novo e, para além de comer<br />
muitíssimo bem, tive uma conversa com uma pessoa muito especial, a ceramista<br />
e arquiteta Célia Macedo. Arrisco a chamá-la de artesã, somente artesã, tal e qual<br />
como tem o prazer de explicar seja a quem for.<br />
Para meu espanto à provocação “a olaria<br />
ainda está viva?!” ouvi a frase “não tenho<br />
mãos a medir”, “vou ter um elemento novo<br />
na equipa porque temos muito trabalho”<br />
Sabendo que vivemos tempos que<br />
ultrapassam o fast, neste momento,<br />
a sociedade está tolhida pelo furious,<br />
desenraizada de valores e cultura, e<br />
encontrar, na pacatez do Montemor-o-<br />
Novo, uma artesã que tem a sua “oficina”<br />
repleta de trabalhos prontos para entrega é<br />
absolutamente maravilhoso.<br />
Na “oficina”, vi alguma impressora 3D?<br />
Não! Vi alguma máquina revolucionária<br />
que faz peças artesanalmente mecanizadas<br />
umas atrás das outras? Não! E ainda bem<br />
que não vi, pois se visse, já não estaria na<br />
presença de uma artesã.<br />
A tradição tem de ser cultural, pois a cultura<br />
é intemporal, desta forma teremos um prato<br />
de cerâmica no louceiro da nossa cozinha e na<br />
cozinha de um apartamento no Central Park.<br />
Felizmente ainda existem pessoas que<br />
querem uma peça de cerâmica com um<br />
traço original, que não tenha passado pelas<br />
prateleiras do supermercado e, por outro lado,<br />
ainda existem pessoas incansáveis que a certo<br />
ponto nas suas vidas mudam de carreira e se<br />
dedicam a este trabalho, exigente e diligente<br />
onde quem manda é o tempo, seja para<br />
trabalhar o barro, seja aquecer o forno, seja<br />
pelo tempo de arrefecimento, ou até mesmo<br />
pelo tempo de transporte, necessariamente<br />
cuidadoso pois, segundo a Artesã, o cliente<br />
fora de Portugal está a ocupar uma fatia cada<br />
vez maior do trabalho a entregar.<br />
Os artesãos devem deixar-se levar pelo<br />
papel desempenhado pelo marketing nas suas
SCM Supply Chain Magazine 77<br />
atividades porque com a estratégia certa,<br />
poderemos levar a cerâmica portuguesa alémfronteiras,<br />
tanto pelas mãos da diáspora como<br />
pela intervenção direta em países estrangeiros.<br />
A Logística tem, nesta atividade, uma<br />
missão especial, pois os operadores logísticos<br />
devem investir um pouco de tempo na criação<br />
de soluções de valor acrescentado junto<br />
destes artesãos, estejam eles organizados em<br />
associações, ou não. Esta missão é vital para<br />
ajudá-los nos processos de exportação e aliviar<br />
a pressão e preocupação no pós-venda, dando<br />
ao artesão tempo para que se dedique ao que<br />
mais gosta de fazer.<br />
“Oficinas” como a de Célia Macedo são um<br />
catalisador ao desenvolvimento económico<br />
nas localidades onde se inserem, são portas de<br />
entrada à criação de novos postos de trabalho<br />
e “embaixadas portuguesas” por onde os seus<br />
trabalhos passam. •
78<br />
SETEMBRO <strong>2022</strong><br />
O MUNDO É REDONDO, por Cláudia Brito<br />
“O que explica a ascensão dos seres humanos”<br />
Ideas worth spreading, TEDGlobalLondon 2015, Yuval Noah Harari<br />
9 millhões de visualizações<br />
“(…) Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida. Que sempre que um homem sonha,<br />
o mundo pula e avança, como bola colorida, entre as mãos duma criança.”<br />
António Gedeão, Pedra Filosofal, Movimento Perpétuo, 1956<br />
O que nos fez passar dos seres insignificantes<br />
que eramos há 70 mil anos, sem qualquer impacto<br />
no mundo, para a espécie dominante no planeta?<br />
Como seres humanos, gostamos de nos achar<br />
especiais. Contudo, quando nos comparamos<br />
com os outros animais, a nível individual, somos<br />
francamente incapazes de nos impor. A nossa<br />
força reside no colectivo, quando cooperamos<br />
flexivelmente, em grandes números. Alguns<br />
animais, como as formigas, são capazes de<br />
cooperar em grandes números, mas fazemno<br />
de forma rígida e previsível. Outros, como<br />
os chimpanzés, leões ou lobos, colaboram<br />
eficazmente em pequenos grupos, com base<br />
em relações pessoais muito próximas. Apenas<br />
nós criamos redes extremamente complexas<br />
e sofisticadas de cooperação. Estas permitem<br />
que, sem nos conhecermos, possamos trabalhar<br />
globalmente, trocando ideias. Também são elas<br />
que possibilitaram coisas horríveis, como campos<br />
de concentração, prisões e matadouros.<br />
Mas como aprendemos a cooperar<br />
flexivelmente, e em grandes números?<br />
Através da nossa imaginação podemos criar<br />
novas realidades, e comunicá-las, enquanto<br />
os outros animais usam os seus sistemas<br />
de comunicação apenas para descrever o<br />
que apreendem pelos seus sentidos. Desde<br />
que um grupo suficientemente grande de<br />
pessoas acredite nas histórias ficcionais que<br />
construímos, estas suportam a colaboração<br />
em grande escala. Segundo Yuval, exemplos<br />
de histórias que nos unem são as religiões,<br />
com a ideia de Deus, o sistema legal, sobre os<br />
direitos humanos, a política, sobre os estados<br />
e nações, e a economia, sobre as empresas e<br />
corporações. A história mais poderosa de todas<br />
é o dinheiro, porque todos no planeta acreditam<br />
nela. O dinheiro não se come, bebe ou veste,<br />
e certamente que um chimpanzé não aceitaria<br />
trocar a sua banana por uma nota de papel, mas<br />
um ser humano vê as coisas doutra maneira.<br />
Vivemos à vez num mundo objectivo, como<br />
os chimpanzés, os rios e as árvores, e num outro<br />
mundo inventado, só nosso. Nós controlamos o<br />
mundo, enquanto o chimpanzé fica fechado em<br />
jardins zoológicos ou laboratórios, porque vivemos<br />
nesta dupla realidade. A realidade alternativa<br />
que criámos tornou-se, ao longo da história da<br />
civilização, a força mais poderosa do planeta.<br />
A própria sobrevivência do que é real depende<br />
agora das decisões e desejos destas entidades<br />
ficcionadas, por nós um dia imaginadas.<br />
Yuval Noah Harari é israelita, professor titular no<br />
Departamento de História da Universidade Hebraica de<br />
Jerusalém, orador internacional e autor de vários “bestsellers”:<br />
“Sapiens: Uma breve história da humanidade”,<br />
“Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã” e “21<br />
Lições para o Século 21”, escrevendo ainda para os<br />
jornais The Guardian, Financial Times, The New York<br />
Times, The Times, The Economist e para a revista<br />
Nature. Yuval oferece o seu conhecimento e tempo a<br />
várias organizações e públicos, de forma voluntária.