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Lusitano de Zurique - digital

Lusitano de Zurique Outubro 2022

Lusitano de Zurique
Outubro 2022

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LUSITANO

de

ZURIQUE

[ OUTUBRO 2022 | Edição Nº. 293 | ANO XXVIII | Director: Armindo Alves | Director-adjunto: Manuel Araújo | Publicação mensal gratuita ]

EDIÇÃO

Rui

Nabeiro

merece ser céu

Pág.. 15

Campeonato

Mundial de

Futebol

Página 12 e 13

Foto:

Agência ECCLESIA

editorial

INTERNACIONAL

Comunidades

Espectáculo

Regresso à “normalidade” e

muitas preocupações.

Pág. 3

Crónica de Guerra - “Os baloiços

de Gorlovka” Pág.. 9

Festival Folclórico do CLZ

Pág.. 10

Reportagem - Grupos TAXI e

Purorock

Pág. 26 a 30


LUSITANO

de

ZURIQUE

EQUIPA EDITORIAL

Director: Armindo Alves

Jornalista CC15 A

Director-adjunto: Manuel Araújo

Jornalista 3000 A

EDITORIAL

Regresso à

normalidade?

Email: lusitanozurique@gmail.com

COLABORADORES

Alice Vieira, Aragonez Marques, Carlos Matos Gomes,

Carmindo de Carvalho, Costa Guimarães,

Cristina F. Alves, Daniel Bohren, Euclides Cavaco,

Graça Amiguinho, Ivo Margarido, Joana Araújo, Joaquim

Galante, Jorge Macieira, Luís Osório, Manuel

Araújo, Maria dos Santos, Maria José Praça, Nelson

Lima, Nelson Mateus, Pedro Nogueira.

EDIÇÃO, COMPOSIÇÃO E PAGINAÇÃO

Joana Araújo

Jornalista CC 11 A

Email: joanaaraujo@protonmail.ch

Centro Lusitano de Zurique

Armindo Alves

Director

Em editoriais anteriores, tenho escrito sobre o Covid e sobre as restrições pandémicas,

onde a nossa liberdade nos foi suprimida. Foram tempos difíceis.

Hoje, e fazendo fé nas autoridades de Saúde, parece termos conseguido, de

novo, voltar quase à normalidade!

Foi o fim do isolamento, das máscaras e de outras restrições, podendo assim,

desta forma, movimentar-nos e vivermos como o fazíamos há três anos, antes

da pandemia!

Assim, desta forma, conseguimos voltar aos nossos eventos festivos. Para começar,

tivemos o nosso Festival de Folclore, o primeiro grande evento após

a pandemia. Foi um festival de grande sucesso, muito bem organizado pelo

novo responsável do Rancho, o Zé Azevedo, um homem da casa, desde há

muitos anos. Chegou comigo ao CLZ no início da década 90 e ninguém melhor

q ue ele sabe o que é o Folclore, pois, cresceu no nosso rancho. O Folclore

corre-lhe nas veias, sabendo perfeitamente o que a “casa gasta”.

Como sabemos que o futuro está nos jovens, por isso, o grupo dele aposta nos

jovens com vista à preservação das nossas raízes, para que a nossa Cultura se

mantenha acesa e viva neste país que nos acolhe!

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Tel.: 079 222 09 14

Email: pub.lusitano@gmail.com

IMPRESSÃO

Diário do Minho - Braga

Tiragem: 3000 exemplares

Periodicidade: Mensal

Distribuição gratuita

ARQUIVO DIGITAL:

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NOTA IMPORTANTE:

Os artigos assinados reflectem tão-somente

a opinião dos seus autores e não vinculam

necessariamente a direcção desta revista.

Apoio

Por discordância, esta publicação

não adopta, nem respeita as normas

do novo inútil Acordo Ortográfico.

1984 - 2022

38

anos

Não permita que o Lusitano

acabe. Faça parte da Família,

tornando-se associado. Colabore!

DEPARTAMENTO DE FUTEBOL

Tel.: 079 222 09 14

Email: armindo.alves@garage-

-mutschellen.ch

RANCHO FOLCLÓRICO

Tel.: 076 369 85 00

Email: rancho@cldz.eu

Vivemos num mundo complexo em fase de mudança, o alastramento da

Guerra a nível global é uma hipótese. Ninguém sabe o rumo que vai levar. A

incerteza impera. Esta guerra nos países vizinhos ameaça-nos e está em escalada

constante. As notícias que os meios de comunicação social “oficiais” nos

facultam, são habitualmente enviesadas/truncadas. A notícia da página nove

desta edição é prova disso.

Numa guerra não há santos; são todos culpados e não são apenas os intervenientes

directos que sofrem com ela. Um Inverno terrível aproxima-se. Veja-se

o que acontece actualmente com os combustíveis e com o custo de vida,

aqui, e em toda a Europa. Isto é apenas o início...

Estou deveras preocupado com o nosso futuro, principalmente com o da juventude,

porque serão eles os homens e mulheres de amanhã, que tomarão

as rédeas do Mundo, devendo por isso, sempre pensando positivo, prepará-

-los inteligentemente, para enfrentar a incógnita que está para vir!

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2

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Motores

Motores

serviços (Consumer Reports) diz que

uma boa forma de saber como escolher

um bom mecânico é através de

pequenos testes, em coisas simples.

Em vez de esperar que o seu carro

precise de grandes reparações.

Para não correr grandes riscos faça

a manutenção nas oficinas que lhe

parecem ser de qualidade. Assim vai

conhecendo e avaliando o serviço,

sem ter que correr grandes riscos e

poderá evitar grandes reparações.

5. Preço e conveniência

Por último, um factor que em norma

leva a definitivamente escolher uma

oficina de confiança, temos a análise

de preços e de conveniência.

Uma boa oficina em norma não o

surpreenderá com grandes custos,

nem com grandes atrasos. Fará sempre

com que o serviço prestado lhe

seja conveniente, por exemplo, não

tenha de pagar serviços de que não

sejam necessários.

(*) Eidg. Dipl. Automobildiagnostiker

Geschäftsführer/Serviceleiter/Verkauf

DICAS PARA ESCOLHER

UM MECÂNICO/OFICINA

Armindo Alves (*)

Todos nós temos amigos em quem

confiamos e que nos estão muito

perto, não esquecendo os nossos

amiguinhos de quatro patas, mas no

texto que escrevo não vos vou falar

dos animais de estimação que penso

que seria um bom tema, mas não é

a minha praia, vou aqui abordar os

nossos amigos de quatro rodas.

Quando estamos doentes vamos a

um médico para nos tratar ou quando

o de quatro patas está doente fazemos

uma visita ao veterinário, no

entanto, quando é o nosso automóvel

a consulta é realizada na oficina.

Apesar de ser uma máquina os carros

de vez enquanto também tem que ir

ao “médico” mais precisamente ao

mecânico. Para o Automóvel estar

apto e em boas condições necessita

de ser periodicamente controlado,

as visitas à oficina são inevitáveis ao

longo da vida dos companheiros de

quatro rodas.

Como em tudo, no mercado da mecânica

temos bons e maus mecânicos,

assim como oficinas fiáveis e

outras menos fiáveis e como queremos

estes amigos em boas mãos, escrevo

aqui algumas dicas que o podem

ajudar a saber que entrega o

seu carro a alguém de confiança.

Em norma ou automóveis é um dos

bens mais valiosos que temos e

como tal, é preciso saber como escolher

um bom médico, um mecânico

de confiança, entregar a alguém

a quem tratará com amor e carinho,

digamos que o tratará como deve

ser.

5 DICAS PARA ESCO-

LHER UM MECÂNICO/

OFICINA DE CONFIANÇA

1. Fazer uma pesquisa

Hoje em dia a maioria das pessoas

pesquisa online, uma coisa que não é

errada, mas às vezes, eu direi mesmo

que as pessoas usam a plataforma

online mais para se lamentar e avaliar

as más experiências. As boas experiências

guardam-nas e são comunicadas

de boca em boca, sendo uma

boa oficina, um bom mecânico, normalmente

referenciado por alguém

que conhece.

Temos os Fóruns online, nos quais alguns

deles(nem todos) podem também

ser uma excelente fonte de informação,

depois temos intercâmbio,

poderá sempre trocar experiências

com outros automobilistas.

2. Avaliar as infra-estruturas e a

limpeza

Uma oficina limpa e organizada em

norma indica que quem lá trabalha

tem experiência, é cuidadoso, dá

atenção a pequenos pormenores, e

tratará bem do seu automóvel.

3. Procure oficinas autorizadas

As Oficinas autorizadas tem um nome

a defender, tem que preencher certas

normas de qualificação, os mecânicos

tem formação, a oficina tem que ter

um certo equipamento de diagnóstico

e por norma trabalham com uma

ou mais marcas. Além da formação,

trabalham com peças de qualidade e

com garantia. A formação garante-lhe

um serviço de qualidade.

No tempo em que o seu automóvel

ainda tem garantia da marca, deve

dar prioridade a oficinas autorizadas.

4. Fazer pequenos testes

A organização que ajuda os consumidores

a perceberem os produtos e

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Tel: Genève - 022 9080360 I Tel: Zurique - 078 6002699 I Tel: Lausanne – 078 9152465

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A Caixa Geral de Depósitos, S.A. é autorizada pelo Banco de Portugal.

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Recantos helvéticos

Opinião

“não é com vinagre que

se apanham moscas”

Rütli

Maria Dos Santos

Estamos a chegar ao final de Setembro

e as agradáveis temperaturas, ainda

fazem parte dos nossos dias.

Há anos que não tínhamos desfrutado

de um Verão tão longo. Se por um

lado nos trouxe boas energias, por outro

lado, sabemos que para a natureza

não é a melhor opção. Os glaciares estão

a derreter e a devolver às famílias,

pessoas desaparecidas há longos anos.

Ainda esta semana foi encontrado um

corpo, que era procurado há trinta anos.

Desta vez decidi alterar o meu passeio

dos Recantos Helvéticos, entre o comboio

e o barco.

O destino era o lago dos quatro Cantões,

que abrange, Obwalden Nidwalden,

Lucerne, Schwyz e Uri. Uma das

montanhas que se deixa ver uma grande

parte do trajecto de barco, é o famoso

Pilatus. Como podeis ver na fotografia

que acompanha este texto.

O meu destino era Beckenried. A primeira

paragem em Grütli, foi para

desfrutar das maravilhosas cascatas

Risleten. Senti-me no paraíso. Como o

caminho até lá não é dos mais fáceis,

éramos poucos os que ali se sentaram

para admirarem aquele que é um dos

fenómenos da natureza. Entre o som

das quedas de água e alguns passarinhos

que por ali habitam, a meia hora

que ali passei foi de profunda reflexão.

Ver aquela água deslizar até ao lago, foi

sentir que a vida é isso mesmo. Passa

a uma velocidade por vezes incontrolável.

Mais uma vez foi-me impossível não

pensar na guerra que se instalou desde

o 24 Fevereiro 2022 e que pouco a pouco

nos faz a vida cada vez mais difícil.

De mochila às costas rumo até o cimo

da montanha de Follen, onde a visão

do lago dos quartos cantões é sublime.

Ao fundo tenho a vista sob o grande

e pequeno Mythen, que me acompanham

na descida até Schwyzois, sempre

imponente devido à sua forma e tamanho.

Contorno os pés de Seelisberg,

que será o meu próximo destino.

Caminho até Rütli, uma cidade marcada

pelo famoso encontro entre os

três homens, Arnold de Melchtal, Walter

Frürst e Werner Stauffacher que

na Schwurplatz em 1307 prometeram

criar a que é hoje a Confederação helvética.

Um local carregado de história,

que para mim, é a verdadeira História

que ali começou e que permanece

um dos lugares mais procurados pelos

turistas e todos os que se interessam

pelas origens desta Suíça que um dia

escolhemos para viver. Continuará a

ser um Mito este famoso ponto Suíço,

o certo é que todos os que por ali passam,

merendam e alguns como eu, até

abrem uma garrafa de champanhe...

forma que tive de agradecer tudo o

que conquistei até agora nesta Confederação

helvética, que, se por cá não

tivesse passado, não teria construído as

minhas memórias da forma que sempre

quis e não me teria transformado

na mulher que sou.

Vá visitar esta cidade de Rütli, não precisa

de caminhar quatro horas, com um

desnível de setecentos metros. Pode ir

de carro de barco ou comboio e depois

beber um copo naquela que é a praça

dos juramentos. Lembre-se que este lugar

está associado ao Pacto Federal de

aliança perpétua, data de 1291 entre os

cantões de Uri de Schwyz e Unterwalden.

Se não gosta de multidões, não visite

este local no dia 1 Agosto, dia da Confederação

Helvética.

Não devemos deixar a Suíça, sem visitar

e conhecer este belo País. Quando

envelhecermos, teremos certamente

muitas histórias para contar do percurso

pela vida.

Manuel Araújo

Tendo como ponto de partida a personalidade

da capa desta edição, leva-me

a esta breve reflexão sobre algumas

qualidades dos portugueses.

Não sou economista, nem “doutor” em

qualquer área, mas sei, por experiência

própria, que se o trabalhador não

se sentir motivado, não rende, sendo

escusado ser pressionado ou aumentar-lhe

a carga horária para produzir

mais. Um funcionário descontente e

desmotivado, não produz qualidade,

nem quantidade. O segredo dessa

motivação e do “desenrasca”, do português

“lá fora”, está num ordenado

justo, num posto de trabalho seguro e

organizado, formação adequada, respeito,

um ambiente agradável e principalmente

ter bons gestores.

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Quando regressei a Portugal foi como

voltar emigrar. Em muitos aspectos foi

necessário adaptar-me e reaprender

a viver. Estive durante vinte anos fora

e custou-me um pouco constatar que

alguns erros não haviam mudado muito

durante esse tempo; as desigualdades

sociais, as injustiças, mentiras, as

cunhas, as fraudes, fugas aos impostos

e o “safe-se quem puder”, tão tipicamente

português, quando todos

deveriam contribuir e pagar equitativamente,

porque se todos pagassem,

no futuro todos iríamos pagar menos

e ficaríamos a ganhar.

A fiscalização económica, em geral, é

deficiente e zarolha quando lhe interessa,

uma vez que existem grandes

empresas que fogem aos impostos e

que até utilizam trabalho ilegal não

declarado e nada lhes acontece. O trabalhador

continua a ser descartável,

como sendo uma mera mercadoria de

supermercado. Nota-se que em Portugal,

salvo escassas excepções, tanto

os governantes como os empresários,

não têm vontade, nem imaginação,

talvez até nem conhecimento, para

fazer espevitar a alma e o “desenrasca”

positivo que existe no nosso povo

e que está nos genes lusitanos, que

claramente o demonstramos durante

décadas além-fronteiras. Os dirigentes

e governantes deviam fazer um esforço

e lembrarem-se que somos bons,

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somos dos melhores.

Estou a recordar-me do exemplo ímpar

de um grande empresário português,

o Comendador Rui Nabeiro, referida

nesta edição, o patrão que nunca

despediu nenhum funcionário. Rui

Nabeiro é o proprietário do grupo Delta

Cafés, o qual rejeitou um negócio

milionário da Nestlé e da Pepsi, preferindo

sacrificar a rentabilidade da empresa

a ter de despedir trabalhadores

como eles exigiam. “Nasci numa terra

pobre, por isso sou socialista”, diz

Rui Nabeiro, que é o herói do povo do

Alentejo e que todos os portugueses

devem orgulhar-se.

Todos os empresários e governantes

deviam seguir-lhe o exemplo. Deviam

lembrar-se sempre que “não é com

vinagre que se apanham moscas” e

que qualquer empresa, em qualquer

país, só tem progresso e paz social, se

tiver o trabalhador do seu lado e se

souber organizar e gerir honestamente

as suas empresas. Para isso acontecer,

quem trabalha terá de ter chefias

preparadas e competentes, um ordenado

justo e ser respeitado para sentir-se

útil e motivado.

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Foto: Bruno de Carvalho

Bruno Amaral de Carvalho (*)

O céu está carregado de cinzento e

as cores do Outono pintam as árvores

desta praceta vazia. O silêncio é

apenas interrompido pelas explosões.

A arquitectura soviética domina

a paisagem em Gorlovka. Enormes

edifícios convivem com jardins nesta

cidade pró-russa a cerca de 60 quilómetros

de Donetsk. Os equipamentos

infantis e de ginástica ao ar livre ainda

são imagem de marca. Há-os em

todas as partes também no bairro de

Stroitel.

Não há nada mais triste do que um

parque infantil sem crianças, mas é o

que acontece nesta praceta. Ao lado

do tronco de uma árvore com uma

coroa de flores, há dois baloiços parados

e duas mães que choram abraçadas

aos seus maridos. Foi há cerca de

um mês que uma explosão abriu uma

cicatriz na memória destas duas famílias.

Para sempre.

Masha, de sete anos, e Polina, de doze,

brincavam juntas nestes baloiços

quando um rocket caiu na praceta. De

seguida, dois projécteis atingiram um

prédio e uma clínica. Para além dos estrondos,

centenas de estilhaços foram

projectados para todos os lados. A pequena

Masha e um homem foram as

vítimas mortais deste ataque atribuído

às forças ucranianas. Polina foi levada

para o hospital em estado muito grave.

Sobreviveu mas ficou sem um braço e

uma perna e luta contra uma infecção

provocada pela penetração destes pedaços

de metal na zona do dorso.

Olga, a mãe de Polina, leva-nos ao seu

apartamento. No sofá com os seus filhos,

Sofia e Matvey, senta-se também

a mãe de Masha, Tonya, e a avó Galina.

Olga acaba de chegar do hospital em

Donetsk. O ambiente é pesado. Indiferente

ao momento, há um gato que se

espreguiça e salta para o colo de Galina.

Tonya começa por explicar o que aconteceu.

Eram cerca das sete da tarde

quando se deram as explosões. “Quando

há bombardeamentos, não saímos.

Toda a gente fica em casa. Não deixamos

as crianças sozinhas. Quando ouvimos

alguma coisa, vamos para a entrada

do prédio. Mas este era um dia

calmo. Nós comprámos gelados para

as crianças e sentamo-nos enquanto

elas brincavam”, descreve. “As crianças

estavam nos baloiços”, precisa Olga. “E

de repente, bum, durou um segundo”,

acrescenta a mãe de Masha. “Foi isso.

A vida inteira arruinada num segundo”,

afirma a mãe de Polina.

Com a fotografia da pequena Masha

nas mãos e com um mar de lágrimas

nos olhos, Tonya recorda que viu a filha

morrer-lhe nos braços. “A nossa praceta

tem muita vida. Todos os jovens se

juntam ali. Também as idosas se sentam

a conversar. As crianças correm. É

uma praceta muito amigável. Não há

soldados aqui, apenas civis”. Olga assente

com a cabeça e diz que as forças

ucranianas disparam sobre civis. “O

Ocidente dá dinheiro e armas à Ucrânia,

percebe? E eles bombardeiam-

-nos. Atacam as nossas ruas, os nossos

civis, as nossas crianças. Aqui não há

nada militar”, denuncia. “O que é que

as crianças fizeram de errado? Compreendo

quando os soldados morrem,

mas as crianças... Se me dão licença...

Isto é…”, continua Olga. “Somos uma

nação. Somos um só povo. Por que

pensam eles que somos terroristas?”,

pergunta Tonya.

Actualidade

Os baloiços de Gorlovka

Um ataque com rockets, em Agosto, atribuído à Ucrânia, matou a pequena

Masha, de sete anos, e deixou Polina, de doze, sem um braço e uma perna.

Infância adiada

Gorlovka tinha quase 300 mil habitantes

antes de ter começado a guerra civil

em 2014. Com posições ucranianas

a poucos quilómetros da cidade, os

ataques são diários. Neste momento, é

uma das zonas mais quentes do conflito

no Donbass. A meio caminho entre

Gorlovka e importantes objectivos militares

das forças pró-russas como Kramatorsk

e Slaviansk, estão Artemivsk

[Bakhmut, em ucraniano] e Soledar,

onde neste momento se desenrolam

batalhas decisivas.

Em 2014, no princípio da guerra, foram

muitos os pais que contaram aos seus

filhos que as explosões eram trovões.

O então presidente ucraniano Petro

Poroshenko anunciou num discurso

inflamado que deixaria de pagar as

pensões aos idosos do Donbass e que

bombardearia de tal forma a região

que obrigaria as crianças a viver fechadas

em abrigos sem poderem ir à escola.

Ninguém pensou que oito anos depaois

tudo pudesse piorar ainda mais.

Não muito longe do bairro de Stroitel,

vários adolescentes jogam futebol. Nenhum

deles tem idade para se lembrar

de como era viver em paz, mas não

querem viver fechados em caves como

prometera Poroshenko. De vez em

quando, ouvem-se explosões e também

celebrações efusivas de golos em

balizas enferrujadas.

Desde 2014, já morreram mais de 130

crianças na parte controlada pelos rebeldes

pró-russos.

(*) Jornalista

Reportagem em:

https://tinyurl.com/guerra-ucrania1

9



Comunidade

Festival Folclórico

do Centro Lusitano de Zurique

Maria dos Santos

Após dois longos anos de espera, a cultura popular

portuguesa subiu de novo ao palco e mostrou

que não foi a pandemia, que os consegui anular.

Depois de se deixar o carro estacionado, o cheiro do

frango assado e das febras, aguçava já o apetite para

o jantar. É verdade, estava tudo uma delícia, para

além das deliciosas sobremesas caseiras. Um grande

obrigado a todos aqueles que trabalharam no lado

de dentro, nesse espaço chamado cozinha.

Ao entrar na sala, qual de nós não ficou deslumbrado

com a exímia decoração? Foi sem dúvida o típico

coração minhoto que fez toda a diferença. Três metros

e vinte de altura por dois metros de largura. Um

molde construído por Fernando Monteiro, soldado

também com a ajuda do Azevedo e claro decorado

pelas senhoras do R.C.L.Z. Sou a primeira a tirar o

chapéu pelo resultado maravilhoso e por tantas horas

de trabalho que ali estão depositadas.

A alegria contagiante que se vivia na sala era de tal

ordem, que parecia estarmos num paraíso onde se

respirava, se comia e bebia folclore. Que fascinante

foi este serão. O som das socas, o rodar das saias, o

som dos instrumentos, o entusiasmo geral é indescritível.

O primeiro rancho a subir ao palco, o R.F. Maravilhas

do Minho com a sua primeira actuação. Fundado

quando a pandemia do Covid 19 rebentou

18.02.2020. Foram muitos meses de desânimo, porque

quando se cria um grupo, quer-se mostrar as

danças e cantares da região que representam. Mas

a força psicológica não lhes faltou e demonstraram

que trabalharam, com tenacidade, para executaram

na perfeição as suas modas. Muitos aplausos que os

motivaram e os deixaram com mais vontade de seguir

este caminho na defesa do folclore.

Logo a seguir e numa postura muito lacrimosa tivemos

o R.Terras e Aldeias de Portugal de Lucerne.

Abatidos pelo falecimento inesperado do Joaquim

Pereira na véspera deste festival e que no próprio

dia do festival do R.C.L.Z. foram despedir-se do corpo

num adeus comovente. De luto e com muita dor,

conseguiram subir ao palco e mostrar que esta actuação

lhe foi dedicada inteiramente. O minuto de

silêncio foi a homenagem merecida e respeitada por

todos. Obrigada pela vossa coragem.

Para encerrar o festival, subiram ao palco, entre muitos

elogios, o rancho organizador. Primeiro dançaram

os adultos que criaram um ambiente extraordinário.

As coreografias não falharam. Executaram de

forma perfeita, o que arrancou aplausos, assobios e

muito barulho. Manifestações que deixam em todos,

mais vontade em continuar.

Depois o esperado, o sempre desejado rancho infantil/Juvenil.

Que emoção se viveu na sala.

Vemos crescer estes meninos, ensaiado pela Sofia

Azevedo com tanta garra, que podemos mesmo dizer

que esta mulher tem um dom natural para estimular

e fazer crescer este grupo de ouro do C.L.Z.

Sofia, não há palavras para descrever o teu trabalho.

Estamos todos não só orgulhosos do teu empenho,

mas também agradecidos pela tua dedicação.

As fitas e troféus, aqueles lindíssimos corações que

tinham tudo escrito, Alegria, Amizade e Amor, foram

entregues aos ranchos que participaram neste esperado

e esplendoroso festival.

O som e baile esteve nas mãos dos já conhecidos

Nova Onda e a noite prossegui com o Dj Diego FM,

que teve o prazer de encerrar a festa do R.C.L.Zurique

Regressamos a casa de coração cheio e com a esperança

de que a nossa cultura popular continue a

crescer e a estar presente neste país helvético, pois

é tão necessária para a nossa saúde mental e física.

Lembro que o número 17 é um dígito optimista, por

isso acreditamos que o R.C.L.Z. continue a crescer e a

brindar-nos com esta animação a que nos habituou.

Foi no dia 17 Setembro que o Rancho do Centro Lusitano

de Zurique brilhou com toda a classe na habitual

sala que os recebe em Schliren.

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CRÓNICA

COSTA GUIMARÃES (*)

O Campeonato Mundial de Futebol no

Catar — a começar a 20 de Novembro

— é tudo (muito mau) menos bola. A

três meses da da prova, o Catar deporta

operários que protestaram por não

receber salário, e o governo disse que

migrantes “violaram leis de segurança”.

Pelo menos seis mil e quinhentas

pessoas morreram na construção dos

imponentes estádios, hotéis de luxo,

novas vias ladeadas de palmeiras, em

que tudo parece brilhar e apelar à vinda

dos que amam o futebol. Quando

a prova começar, ninguém se lembra

de como este milagre aconteceu,

quantas vidas se perderam, quantas

pessoas se sentiram violadas nos seus

direitos e o que delas vai ser no futuro.

Alguns trabalhadores disseram que ficaram

sete meses sem receber. As deportações

foram divulgadas pela ONG

Equidem, especializada em direitos laborais

(cf. https://tinyurl.com/catar11).

No dia do sorteio da fase de grupos

do Campeonato do Mundo, a sede da

FIFA em Zurique, um artista alemão

“ofereceu” 6500 bolas, enchidas com

areia, despejadas à porta das instalações

do organismo que gere o futebol

mundial. Volker-Johannes Trieb prestava

homenagem aos direitos dos trabalhadores

— 6500 — mortos que, há

Catar:

Campeonato Mundial

de Futebol é tudo

menos bola

um ano, foram reportados pelo The

Guardian.

Para a construção dos estádios, um

novo aeroporto e outras edificações

relacionadas com o “Mundial”, o Catar

precisou de milhares de migrantes,

de países pobres do Sudeste da Ásia,

como Índia, Nepal, Bangladesh e Paquistão.

Recorde-se que obtenção do estatuto

de sede do Mundial da Fifa, em 2010,

foi acompanhada por denúncias sobre

o péssimo respeito pelos direitos humanos

e pelas leis laborais no país. Só

sete anos depois, o Catar aboliu o sistema

Kafala, um sistema de trabalho

análogo à escravidão (OIT). O Kafala

(em árabe significa patrocínio), exige

que todos os trabalhadores não qualificados

tenham um patrocinador no

país, geralmente o seu empregador,

responsável pelo seu visto e estatuto

legal. Ou seja, este sistema “amarra” o

trabalhador ao seu “patrocinador” – o

kafeel – e este pode, em muito casos,

fazer dele o que entender, num regime

de semiescravidão, com trabalhadores

endividados e “com medo constante

de retaliação”.

Patrões sem escrúpulos opõem-se às

reformas, gerando elevados endividamentos

dos trabalhadores causados

por recrutamento ilegal e antiético, o

pagamento tardio ou mesmo inexistente

dos salários, as barreiras à obtenção

de justiça quando os direitos são

violados, a proibição de sindicatos e o

incumprimento das leis laborais sem

penalização dos empregadores, etc.

São muitos os relatos de trabalhadores

obrigados a trabalhar vinte horas por

dia, com intervalos mínimos, e sem

água e comida suficiente por 200 (duzentos)

euros mensais, na sua imensa

maioria: escaparam à pobreza no seu

país de origem, receiam perder o seu

emprego e os seus salários, e enfrentam

a ameaça da exploração e condições

de trabalho inseguras.

O MUNDIAL

MORTÍFERO

No ano passado, o diário britânico The

Guardian revelou que 6.500 trabalhadores

migrantes morreram em obras

de construção e infraestruturas relacionadas

com o Campeonato do Mundo

desde 2010. O número foi desmentido

pelo governo do Catar, mas a reportagem

— baseada em números fornecidos

por alguns países de origem

dos emigrantes — gerou uma onda de

protestos no mundo.

A Human Rights Watch e outras ONGs

pediram à Fifa e ao Catar um fundo de

compensação de pelo menos 500 milhões

de euros, o equivalente ao prémio

em dinheiro que é distribuído na

prova, destinado a migrantes e suas

famílias que sofreram abusos de direitos

humanos (cf. https://tinyurl.com/

catar112).

Gianni Infantino foi confrontado com

o número de pessoas que morreram

na construção dos estádios mas o presidente

da FIFA minimizou a questão,

dizendo que o organismo ajudou, isso

sim, a mudar a vida de 1,5 milhões de

trabalhadores.

“Não nos esqueçamos de uma coisa:

quando falamos deste assunto, falamos

de trabalho, de trabalho duro.

(…) Quando dás trabalho a alguém,

incluindo em condições difíceis, dás

dignidade e orgulho. Não é caridade,

não fazes caridade. É uma questão de

orgulho podermos mudar as condições

de um milhão e meio de pessoas”,

acrescentou Infantino.

O tema voltou a estar em destaque a

31 de Março último, no 72.º Congresso

Anual da FIFA, que teve lugar em

Doha, a capital do país anfitrião, quando

a presidente da Federação Norueguesa

de Futebol, Lise Klaveness, proferiu

um discurso onde mais uma vez

a decisão de permitir que o Qatar acolhesse

o Campeonato Mundial foi classificada

como “inaceitável” e exigindo

que a FIFA fizesse mais para defender

os direitos humanos, não só no âmbito

das condições de trabalho dos migrantes,

mas também dos direitos das

mulheres (que deles não gozam) e da

homossexualidade, proibida no país e

que pode resultar numa pena de prisão

efectiva de três anos (cf. https://

tinyurl.com/catar113).

Na sua intervenção “inesperada” no

Congress Anual da FIFA, Klaveness relembrou

o artigo publicado pelo jornal

The Guardian o ano passado, que denunciava

a morte de 6500 trabalhadores

migrantes ao longo dos 10 anos

que se seguiram ao Qatar ter ganho a

organização do torneio.

Na altura, o relatório foi “categoricamente”

negado pelo chefe executivo

do torneio, Nasser Al Khater e, em resposta

a Klaveness e no Congresso em

causa, o presidente da FIFA, Gianni Infantino,

afirmou que o Qatar tinha feito

um trabalho “exemplar” no que diz

respeito a mudanças em questões de

direitos humanos, acrescentando que

as reformas da legislação laboral no

país tinham sido “incríveis”.

Qual o custo a pagar? Gianni Infantino

não disse, mas sabia.

Não disse porque a quantidade total

de mortes é mais elevada, uma vez

que estes números não incluem os

dados de vários países que enviaram

muitos trabalhadores para o Qatar, incluindo

as Filipinas e o Quénia.

As mortes ocorridas nos últimos meses

de 2020 também não fazem parte

desta contagem. Adicionalmente,

uma pesquisa publicada no Cardiology

Journal em Julho de 2019 por um

grupo de especialistas climáticos e

cardiologistas explorou a relação entre

a morte de mais de 1300 trabalhadores

nepaleses entre 2009 e 2017 e a

exposição ao calor, tendo encontrado

uma forte correlação entre o stress térmico

e aqueles que morreram de problemas

cardiovasculares no Qatar (cf

https://tinyurl.com/catar114 e https://

tinyurl.com/catar115).

Mais complexo é — e Gianni Infantino

também não quer — saber quantas situações

de violações de direitos humanos

têm vindo a sofrer os migrantes.

O Business & Human Rights Center tem

vindo a acompanhar as violações dos

direitos humanos no Qatar desde 2016.

A organização tem vindo a rastrear casos

de abusos em sete dos oito estádios

do torneio, com a grande maioria

dos mesmos a estarem relacionados

com o não-pagamento de salários – o

que, e como consequência, tem efeitos

negativos em termos de alimentação,

alojamento e saúde -, trabalho forçado,

ausência de assistência em caso de

doença e enormes falhas na segurança

laboral responsáveis por ferimentos

de gravidade diversa e, como sabemos,

também pelas mortes. A liberdade de

expressão e a liberdade de circulação

dos migrantes foram igualmente restringidas,

diz a organização, sendo que

os trabalhadores mais penalizados são

provenientes, na sua maioria, do Sul

da Ásia e da África Oriental (cf. https://

tinyurl.com/catar116).

Como revelou o The Guardian a 31 de

Março último, “os trabalhadores migrantes

de baixos salários foram forçados

a pagar milhares de milhões

de dólares em taxas de recrutamento

para garantir os seus empregos no Qatar,

nação anfitriã do Campeonato do

Mundo, durante a última década”.

Desesperados por não encontrarem

trabalho nos seus próprios países, os

migrantes aceitam esta cobrança, à

custa de empréstimos com juros elevados

ou da venda de terras para pagar

as taxas, deixando-os vulneráveis

à servidão por dívidas – uma forma de

escravatura moderna – pois não podem

de deixar os seus empregos até

pagar a dívida.

O QUE IM-

PORTA É O

RESULTADO

FINAL

Deve ser mesmo o que pensa David

Beckam, ex-capitão da selecção inglesa

que assinou um contrato no valor

de dezassete milhões e setecentos mil

euros por ano, e ao longo da próxima

década, para ser a “cara” do Mundial.

Como diria o nosso amigo António Guterres,

“é só fazer as contas”. Façam.

Este (alegado) embaixador da UNICEF

e defensor de várias causas humanitárias,

agora rosto do Mundial 2022 fechou

os olhos à corrupção e às várias

violações dos direitos humanos que

transformaram a prova-rainha do futebol

num jogo porco desde o seu início

que fica a dever-se a muitos milhares

de migrantes contratados por 200 (duzentos)

euros mensais.

Mas que há-de fazer o Cavaleiro de Sua

Majestade? Ele olha para o lado e deslumbra-se

com a bola fabricado pela

marca Adidas, com 20 gomos, no centro

de um estádio com 60 mil lugares

sentados, projectado pela firma alemã

AS+P, querendo “AS” dizer Albert

Speer, o filho do arquitecto de Hitler.

Lá quis saber que a empresa holandesa

que forneceu os relvados dos últimos

três Mundiais se recusou a colaborar

neste torneio após ter sabido que só

na construção dos estádios já morreram

mais de 6750 trabalhadores.

Para alguns, bastantes, o que vale é o

resultado, perdão, o saldo final.

Apesar complexos esquemas de corrupção,

de milhares de mortes e de incontáveis

violações de direitos humanos,

a 21 de Novembro, nos estádios

ou nos sofás, ouvir-se-ão apenas gritos

entusiásticos que abafarão o silêncio

dos que sofreram o abuso de muitos

dos mais básicos direitos que lhes têm

sido negados. E você, também vai ignorar?

Faz alguma coisa. Não vejas nenhum

jogo, para diminuir a audiência

desta barbaridade.

(*) António Costa Guimarães, foi Capelão Militar, é

Jornalista, foi Director do jornal Correio do Minho,

trabalhou na empresa Antena Minho - A Rádio de Braga,

é Public Relations, Communications and Marketing

Manager na empresa EPATV - Escola Profissional Amar

Terra Verde.

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CRÓNICA Do Nosso Cantinho Para o Vosso Cantão

Aqui vai mais um pequeno conto das minhas

aventuras como emigrante. Aqui no

“Nosso Cantinho”, não podemos adoecer

nas férias. Espero ser operado em breve,

mas os médicos estão para banhos. Estão

a regressar com as chuvas. Depois de

dois anos de pandemia, os pobres funcionários

da saúde, não tiveram descanso e

também o merecem.

Julgo que lá para Outubro serei operado,

deixo-vos assim, mais uma pequena história

da minha experiência de emigrante.

Eu soldado

português!

Rui Nabeiro

merece

ser céu

CRÓNICA

CRÓNICA

Foto:

Agência ECCLESIA

ARAGONEZ MARQUEZ

Lino Alves

(…)

Como as mangas, as papaias,

os cocos e as jacas, Lino Alves

era fruto da ilha.

Falava português, como

quem fala uma língua perdida,

aos solavancos, verbos

sem conjugação, vocábulos

soltos, sem plural ou singular

mas com o sentido da representação

e o significado

da imagem: - Eu exército de

Portugal. – Fazia-o com orgulho,

pequenino, embrulhado

numa lipa, pés escuros como

o corpo, visíveis numas sandálias

finas, sola invisível e

leve, entaladas em dois dedos

magros e limpos.

Essa fotografia só foi para a

parede depois do referendo.

Esteve sempre escondida.

Pena que Portugal desde

que os companheiros foram

para Ataúro para se irem embora,

nunca mais até hoje tenham

pagado a Lino.

Mandei uma vez uma carta

a Portugal, enviada pelo Sr.

Cônsul e tive resposta.

Diziam-me que não pagavam

nada por eu não ser soldado

de Portugal, mas apenas

contratado.

Apontou a fotografia na parede,

camuflado, outra idade,

retida numa moldura que

lhe avantajava o tronco, boina

ao lado, bigode negro e

com desenho em arco abaixo

da boca - Eu exército português

- Sorriu, num convite

de orgulho e perdão – Bebe

cerveja comigo professor.

Carlos Novais acenou com a

cabeça, segurou a lata Bintang,

limpou-a bem, fez estalar

a argola e Lino Alves meteu

o dedo na sua. - Granada,

professor - e arrancou o selo

como quem despoleta uma

arma, levou-a aos lábios, bebeu

metade de um sôfrego,

limpou os bigodes que mantinham

a linha mas modificaram

a cor e rematou – esta

não mata - soltando depois

uma gargalhada de quem

estava feliz.

(…)

Aragonez Marques

In O Que Foste Lá Fazer?

...livro de contos...

Luís Osório (*)

1. - Rui Nabeiro deu uma entrevista

por estes dias.

Falou da morte, da pena de nos

deixar.

Não seria necessária nenhuma

notícia, nenhum pretexto, para

celebrarmos este extraordinário e

invulgar homem – mas a entrevista é

um bom pretexto.

Um homem com quem tive o prazer

de estar recentemente e a quem

disse o quanto era especial.

- Porquê especial, Luís? Sou apenas

um homem que fez o que melhor

lhe pareceu durante a sua vida.

2. - Porquê especial?

Pela simples razão de que foi sempre

admirável.

Porque preocupado com os outros.

Porque preocupado com a terra

onde nasceu, um lugar que parecia

condenado ao desemprego, à

ausência de sonho, à dificuldade do

caminho.

Porque capaz de inovar num tempo

em que não era possível a alguém

como ele ter uma hipótese de ter

mais do que uma malga de sopa ao

jantar.

Rui Nabeiro preocupou-se com os

outros.

Com a terra em que nasceu.

E teve a visão e o engenho para fazer

do nada um império.

Campo Maior tornou-se a terra do

café.

E não houve uma única família

na terra a quem não tivesse dado

emprego.

Ou a quem não tivesse ajudado.

Ou que não saiba o nome e a história

da família.

3. - Rui Nabeiro a quem apenas

a madrinha de batizado levava

um brinquedo no Natal. Um

brinquedo que depois substituiu

por uma nota de vinte escudos

muito embrulhadinha que ele

desembrulhava na esperança de

serem duas. Ou na ideia de que

talvez fosse uma surpresa ainda

maior se fechasse os olhos e pedisse

com muita força.

Rui Nabeiro que cresceu a ver o

esforço dos pais, as canseiras por

objetivos que nunca chegavam a ser

concretizados. O sonho do pai era

ter um carrinho seu, o que nunca

aconteceu.

Talvez tenha sido isso que o revoltou,

que o mobilizou, que lhe deu forças

para ousar, arriscar, ir em frente.

E ganhar.

Rui Nabeiro fez o ano passado 90

anos.

E o meu amigo José Luís Peixoto

escreveu-lhe um livro.

Ele mereceu.

Por ter sido sempre o que a maioria

das pessoas não eram e não são.

Nunca foi como os outros, foi

sempre dele próprio. Ele e as suas

convicções, ele a sua força, ele e a

sua generosidade.

Num tempo de feroz individualismo

em que celebramos sempre

vencedores que não se dão aos

outros, podemos por fim celebrar

um homem que fez um império

partilhando com os outros e

oferecendo à terra que

o viu nascer

uma hipótese de não ser deserto..

O meu, o nosso, so,

profundo,

agradecimento, senhor Rui.

Ah, e quando partir devem vir renas,

querubins e anjos buscá-lo. Nem

dará por isso.

(*) Luís Osório nasceu em 1971, em Lisboa. Dirigiu jornais e uma estação de rádio. Imaginou programas de

televisão, encenou uma peça de teatro, participou em comissões governamentais, coordenou a comunicação

política de uma campanha presidencial e é consultor empresarial. Comentou política, realizou documentários

e foi premiado como jornalista e criativo. Publicou oito livros, o último dos quais 30 Portugueses,

1 País, resultado de 30 conversas com figuras portuguesas das mais variadas áreas. É pai de três filhos e de

uma filha.

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Crónica

José Emílio Moreira (Monção):

Deu-la-Deu Martins no masculino

“Quando um homem sonha, angustia-se,

revolta-se, tem algumas

desilusões, é certo, mas inventa,

cria, procura novas soluções,

participa activamente na

própria construção do seu habitat

individual e colectivo. Ou seja: faz

cultura!

MOREIRA, José Emílio, in Muitos sonhos!

Algumas desilusões, ed.Gráfica Diário do

Minho, Braga, 2022, p. 16

COSTA GUIMARÃES (*)

Caros, leitores, procurei, indaguei e apenas

encontrei uma notícia sobre o mais recente

livro do ex-Presidente da Câmara Municipal

de Monção, José Emílio Pedreira Moreira,

um monçanense a quem a sua terra

deve muito do seu progresso nas últimas

décadas do século XX. O Jornal Aurora do

Lima (cf. www.auroradolima.com/regional/46830/)

foi a excepção num manto de

silêncio que se abateu sobre “Muitos sonhos!

Algumas desilusões”, com capa de

Marco Jacobel sobre uma pintura de Ricardo

Campos, impresso na Gráfica Diário do

Minho, Braga, 2022.

Trata-se de uma “obra grande, como o é

toda a História de Vida que se verte e decanta

em textos e memórias com a coragem

e humildade de algum modo se expor

à apreciação dos familiares e amigos e

também à opinião pública” — escreve José

Viriato Capela, no prefácio do livro.

Este livro recolhe “textos e reflexões”

de uma “grande História de

paixão e amor pela terra onde José

Emílio Moreira foi dado nascer e à

qual dedicou uma grande parte

das suas forças e inteligência que

sempre olhou de uma perspectiva

de terra mãe e à qual, como aos

seus filhos, deseja maior ventura”

— prossegue aquele Professor Catedrático

Jubilado.

De facto, José Emílio Moreira “faz

parte daquela geração de notáveis

autarcas que logo no pós-25 de

Abril, com eleições democráticas”,

faz entrar Monção “entrar por caminhos

novos” na sua luta contra

os mais “graves danos do centralismo

e o caciquismo” corporizando

o perfil de democrata, do socialista,

do humanista, o homem

de cultura e sabedoria, enfim, o

monçanense” universalista.

Tanto é assim que o Prof. Ernesto

Português classifica esta obra

como “uma história de dádiva e

paixão” de um “sonhador incorrigível”.

MEMÓRIAS?

NÃO!

Nesta obra, celebramos um homem

de cultura, presente em

toda a sua actividade pública.

“Não é um “livro de memórias” da

minha vida — avisa o ator — embora

fale de alguns dos seus retalhos,

nem tão pouco um tratado

sobre um tema desenvolvido

com profundidade e universalidade.

É antes uma compilação

de textos diversos que fui escrevinhando

e que registam as minhas

várias intervenções em momentos

díspares da minha vivência

pessoal, social e profissional,

uns dispersos em alguns órgãos

de comunicação social, outros

apenas dormentes em silenciosa

pasta de arquivo mas sempre

como testemunhos escritos das

minhas convicções, das minhas

controvérsias, das minhas inquietações

culturais, axiológicas, económicas

e políticas”.

Sobre o objectivo desta obra, José

Emílio Moreira esclarece os leitores:

“ “mostrar aos meus netos

(…) o que andou o avô a sonhar, a

pensar e fazer, antes deles terem

nascido e durante a sua meninice”

porque “um homem que não

sonha, submete-se ao jogo mecânico

da vida, aceita passivamente

o desenrolar rotineiro do destino

da história alheia, É efeito das

circunstâncias. Não é causa, não

é co-autor da história”.

Nesta obra honra-se um dirigente

que, chegando à Adega, percebeu

que o mundo não avança com

amadorismos, e criou condições

para que algumas estruturas fos-

sem entregues a profissionais para

uma melhor eficiência. Na Câmara

olhou para além dos caminhos, rede

pública de água, saneamento básico e

habitação social, mas com a limpeza

das muralhas da Vila, com a organização

do Arquivo Municipal, a Biblioteca,

a publicação de livros sobre o

Concelho e suas figuras, a aquisição e

recuperação do Cine-teatro João Verde.

Saboreou e escreveu sobre o vinho

Alvarinho, não atendendo apenas à

sua vertente económica, mas como

obra de arte, ex-libris da Sub-região

de Monção e Melgaço.

O livro testemunha um homem visionário

para a terra que o viu nascer na

sua Portela, abrindo uma Porta para o

futuro: é esta Porta que explica o sonho

realizado e comprova que é possível

ter ideais e lutar por eles, contra

ventos e marés da mentalidade dominante

de minifúndio, dos processos

burocráticos da máquina do estado,

quer central quer municipal, a eterna

falta de dinheiro, os prazos que se

consomem porque um papel foi parar

ao fundo de uma gaveta, etc.

Na leitura do livro, encontramos

marcas evidentes do Prof. Roque de

Aguiar Pereira Cabral, SJ — que grande

Mestre! — sobre a actividade política,

social e cultural sempre pautada

por valores ético-morais que o nosso

Professor tratava, longamente, nas

suas aulas e foi lá, de certeza, que a

convicção do José Emílio Moreira se

aprofundou.

São exemplo destes valores “o respeito

pela dignidade humana e a defesa

da liberdade e da igualdade de todos

enquanto cidadãos; a confiança no

ser humano; o respeito pelos outros,

amigos ou adversários; uma preocupação

profunda e constante com as

questões da justiça social, um dos

valores fundamentais que deve presidir

na vida coletiva; uma curiosidade

imensa por tudo o que o rodeia,

otimismo e confiança no futuro e

uma grande alegria de viver. Se essas

qualidades fossem comuns aos nossos

políticos, o país seria diferente, e

para melhor” cf. hhttps://tinyurl.com/

diarioacores

E tanto é assim que o presidente da

direcção da Casa Museu de Monção,

José Viriato Capela, lembrava José

Emílio Moreira como que “uma das

figuras mais entusiásticas para a instalação

desta Casa no concelho”.

O seu vice-presidente, Augusto Domingues,

na posse como seu substituto,

destaca uma das marcas de água

de José Emílio Moreira: “gostavas de

delegar competências, só querias

resultados. Não vai ser fácil manter

o ritmo e substituir-te” e “todos estamos

orgulhosos de ter nascido em

Monção depois dos teus 16 anos de

trabalho”.

Não há bela sem senão e não esquece

quando foi tratado “abaixo de cão”

pelo ministro dos Negócios Estrangeiros.

Em causa está o incumprimento

de promessa e a falta de resposta por

parte de Martins da Cruz, no âmbito

do processo que terá levado à perda

irremediável da ilha da Ínsua Grande

(110m2) para Espanha.

Já em 25 de Abril 2014, foi editada

uma volumosa publicação com 630

páginas, com a participação de 39 colaborações,

resultando em 34 artigos

e nove testemunhos pessoais. Os artigos

tratam as mais diversificadas temáticas

envolvendo temas de História

política, económica, social e religiosa,

para além de outras temáticas que

envolvem a Fronteira e riquezas monçanenses,

como a Coca de Monção.

Nessa data, a Casa Museu de Monção

da Universidade do Minho decidiu dedicar

esta obra a José Emílio Moreira,

em reconhecimento e homenagem

pelo perfil cultural da sua intervenção

enquanto autarca. A publicação tem

artigos de: Acílio Rocha, Artur Anselmo,

Henrique Barreto Nunes, Ramon

Villares, Albertino Gonçalves, António

Matos Reis, José António Barreto Nunes,

Alexandra Esteves, Marta Lobo

de Araújo, Elisa Lessa, José Marques,

Gonçalo Maia Marques, Ernesto Português,

Elsa Pacheco, José Viriato Capela,

Henrique Matos, Dionísio Pereira e

Lourenzo Fernández Prieto, Henrique

Rodrigues, Clodio González Pérez,

João Viriato Nunes, Paula Godinho,

José Machado, Fernando Prego, Maria

Manuela Martins, Francisco Sande

Lemos e Isabel Silva, Sandra Castro,

Norberto Cunha, António Cândido de

Oliveira, Augusto Domingues, Agostinho

Afonso Caldas, Carlos Vaz, António

Afonso Eça, José Luís Dias, Manuel

Amoedo Afonso, Rómulo Sousa e os

artistas plásticos Puskas e Ricardo de

Campos.

Um mês antes, no dia 12 Março, José

Emílio Moreira mostrou-se “muito

honrado” pela condecoração recebida

por parte do Município de Monção.

O antigo presidente da Câmara (1997-

2013) foi agraciado com o título de cidadão

honorário – medalha de ouro.

“É o reconhecimento do trabalho

que se fez, sempre na consciência de

que tudo o que foi feito não fui eu

que fiz sozinho. Fui eu e mais uma

equipa fantástica que me acompanhou

nas funções que desempenhei.

Tanto na Câmara, como na escola e

na Adega”, disse. O seu sucessor, Augusto

Domingues, responsabiliza José

Emílio Moreira por “Monção aparecer

no mapa do desenvolvimento nestes

16 anos”.

QUEM É O JOSÉ

EMÍLIO

Quem é o José Emílio? É um homem

bom, com um carácter raro e um servidor

da sua terra.

Para mim, seu amigo, é a versão masculina

da Deu-la-Deu Martins que,

durante as guerras fernandinas, entre

D. Fernando, rei de Portugal, com D.

Henrique de Castela, no séc. XIV, Castela

pôs cerco à vila de Monção.

O cerco já demorava há demasiado

tempo e dentro das muralhas o

alimento já era escasso. E foi aí que

Deu-la-deu Martins agiu, mandou recolher

a pouca farinha que restava e

com ela fazer os últimos pães. Com os

pães já cozidos, subiu à muralha com

os pães na mão e atirou-os gritando:

“A vós, que não podendo conquistar-

-nos pela força das armas, nos haveis

querido render pela fome, nós, mais

humanos e porque, graças a Deus,

nos achamos bem providos, vendo

que não estais fartos, vos enviamos

esse socorro e vos daremos mais, se

pedirdes!”

Os castelhanos acreditaram que ainda

havia muita resistência dentro das

muralhas, levantaram o cerco e partiram

para as terras de Castela. Desta

forma, com audácia e coragem, Deu-

-la-Deu salvou a praça e ficou, para

sempre, ligada à história de Monção.

Também ele levantou o cerco de Monção

ao centralismo, começando por

valorizar o produto melhor da sua terra:

o vinho Alvarinho. Depois fez saber

aos centralistas que havia, em Monção,

muita farinha para fermentar o

desenvolvimento da terra.

Estamos a falar de um “jovem” que

começou a estudar na escola primária

de Portela, atravessada pelo Gadanha

com a sua ponte romana, prosseguiu

as aulas no Colégio de Monção e continuou

no Seminário do Espírito Santo,

entre 1965 e 1971, frequentando

depois a Faculdade de Filosofia de

Braga.

Politicamente, arranca com a presidência

da Assembleia de Freguesia

de Portela, em 1979, seguindo-se a

presidência da Assembleia Municipal

de Monção, em 1986,, ano em que in-

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tegra a Direcção da Adega Cooperativa

de Monção.

Em 1990 é eleito vereador da Câmara

municipal de Monção, enquanto frequenta

o Mestrado na Faculdade de

Filosofia de Braga, acabando por ser

eleito Presidente da Câmara Municipal

da sua terra, em 1998, cargo que mantém

até 2013.

José Emílio Pedreira Moreira põe à

disposição dos monçanenses, por escrito,

o que sonhou, pensou e realizou

ao longo da sua vida pública, disponibilizando

informação para melhor se

compreender e avaliar a obra feita. Pareceu-me

tão pouco eco para 640 páginas!

Voltei a procurar.

Depois procurei melhor e encontrei

duas páginas escritas pelo José Henrique

Silveira de Brito, no Diário do

Minho, na edição de 31 de Julho, pp.

14-15. Fiquei mais sossegado, mas soube-me

a pouco. Sossega-me a alma

que outros mais tenham dedicado algumas

letras a este magnífico livro de

sonhos e desilusões de um monçanense

ímpar.

De facto, ele afirma-se como alguém

que é da província do Minho,

do alto de Portugal, sou do campo, da

cidade, do mundo inteiro afinal...! Sou

da terra do bom vinho, da lampreia e

do salmão, da truta, do alvarinho, sou

de Monção”.

MONÇANENSE

MULTIFACETADO

O José Emílio Pedreira Moreira, 72 anos

de idade, professor de Filosofia, natural

de Monção, prendou-nos com esta

obra que é um documento ímpar para

conhecer a história da terra de Deu-la-

-Deu nas últimas décadas.

Ele foi quase tudo para os monçanenses,

a culminar como presidente da Câmara

da sua terra durante perto de 16

anos, além de outros cargos públicos a

nível local e regional, como presidente

da direção da Comissão de Viticultura

da Região dos Vinhos Verdes, presidente

da Adega Cooperativa de Monção

(12 anos), fundador da Associação das

Adegas Cooperativas da Região dos Vinhos

Verdes (REGIVERDE), presidente

da Associação de Estudantes da Faculdade

de Filosofia de Braga, diretor

da Escola Secundária de Monção (cinco

anos). É, ainda, Cidadão Honorário

do Município de Monção (Medalha de

Ouro).

“Muitos Sonhos! Algumas Desilusões” é

o título da sua obra mais recente — não

a última, por certo — com mais de 600

páginas que acaba de publicar, onde

dá conta, com extensa documentação,

de muitos episódios da vida, desde

18

campanhas políticas, comemorações,

atividade no mundo da agricultura e

vinhos, na educação, desporto e cultura,

ensaios de juventude e colaborações

na comunicação social, até “visitar

o tempo” com textos íntimos.

“Esta publicação não é um livro de memórias

da minha vida, embora fale de

alguns dos seus retalhos, nem tão pouco

é um tratado de um tema desenvolvido

com profundidade e universalidade.

É antes uma selecção subjetiva de

textos que fui “escrevinhando” nos últimos

50 anos e que registam as minhas

várias intervenções em momentos díspares

da minha vida pessoal, social e

profissional, uns dispersos em órgãos

de comunicação social, outros apenas

dormentes em silenciosas pastas

de arquivo, mas sempre como testemunhos

escritos das minhas emoções,

dos meus pensamentos, das minhas

convicções, das minhas inquietações

culturais, sociais e políticas.” — escreve

José Emílio Moreira.

Nestes reflecte, designadamente, sobre

a sua actividade nos mais diversos

cargos públicos. Para este amigo

— posso tratar-te assim? — “o poder só

tem sentido se for exercido com os outros

e para os outros, com a eficácia

de resultados para a coletividade beneficiada

e com liberdade de alma de

quem o exerce”, escreve.

Na sessão de apresentação — no Cine-Teatro

João Verde, a 9 de Julho —

marcaram presença muitos vultos da

cultura e da política, familiares, amigos

e gente anónima. Pouco faltou para a

apresentação, que decorreu no Cine-

-Teatro João Verde, não tivesse esgotado.

Vimos por lá os autarcas do Alto Minho

do seu tempo e os que agora são

do nosso tempo. Foi bonito, ver o Vassalo

Abreu e o seu sucessor, em Ponte

da Barca, o seu sucessor em Monção, o

mesmo acontecendo com os autarcas

de Melgaço, Paredes de Coura, entre

outros.

Ele viveu naquela sala cheia do Teatro

João Verde a afirmação de Aristóteles

(384-322 a.C., na sua Ética a Nicómaco),

quando escreveu que «o homem

feliz precisa de amigos». A amizade,

que pode ser de várias espécies, rege

«relações inter-pessoais» eleva tempo

a criar; implica uma vida partilhada, só

possível em grupos pequenos, em que

reina a igualdade e a mutualidade. É

por isso que normalmente conhecemos

muita gente, mas amigos temos

poucos. A amizade precisa de tempo e

convivência, razão pela qual as épocas

da vida mais favoráveis ao seu aparecimento

são a adolescência e a juventude,

os tempos do ensino básico e secundário

e da universidade.

Um dos meus amigos é o José Emílio

Pedreira Moreira, que conheci como

presidente da Câmara Municipal de

Monção, sucedendo a um condiscípulo

meu, o Armindo Guedes da Ponte.

Também ele esteve num curso semestral

com o título “Condicionalismos

Actuais do Agir Humano”, regido pelo

Padre Roque Cabral, SJ, singular professor

catedrático de Ética, de quem

nos tornaríamos com o tempo grandes

admiradores.

Terminada a licenciatura, o José Emílio

foi colocado na Escola Secundária de

Monção, sua terra natal. Em 1976-77,

foi colocado na Escola Secundária de

Sá de Miranda, em Braga, a fazer estágio

pedagógico. Com ele a amizade

aprofunda-se, sem mácula, dura até

hoje, independentemente de estarmos

ou não de acordo nas discussões, mesmo

quando se trata de política. Mas estamos

de acordo!

O José Emílio regressou à Escola Secundária

de Monção, sendo eleito, pouco

depois, presidente do seu Conselho

Diretivo. Nos anos seguintes, alargou a

sua atividade ao associativismo e à política.

Começou pela Direção da Adega

Cooperativa de Monção. Passados

uns anos foi nomeado Presidente da

Comissão de Viticultura da Região dos

Vinhos Verdes. Em 1997, concorreu à

Presidência da Câmara Municipal de

Monção; ganhou as eleições e cumpriu

quatro mandatos consecutivos à

frente do Município, até 2013, durante

os quais fez uma autêntica revolução

no Concelho: quando ele chegou havia

uma realidade, quando ele deixou

a presidência, Monção tinha mudado

radicalmente e para muito melhor. É

verdade que conseguiu estabilidade

de uma maioria que o comum amigo

Armindo não soube ou não pôde construir.

Em 2013, o José Emílio voltou à vida de

cidadão comum, dedicando mais tempo

à família e aos amigos, regressando

várias vezes a Braga por dedicações

familiares. Foi então que começou a

nasceu

este projecto: reunir para publicação

vários textos escritos ao longo da vida

— trabalhos académicos do tempo da

Faculdade ou os produzidos na sua

atividade política, social e cultural, tais

como discursos pronunciados nas diversas

funções políticas e empresariais,

e esquecidos na comunicação social.

Como não havia casos nem escândalos,

tiveram pouco eco.

Olhando, com olhos de ver, José Emílio

Moreira, teve como objectivo central,

nesta obra, “prestar contas perante a

comunidade” e a preocupação aparece

em variados textos: como presidente

da Adega, como vereador e depois

presidente da Câmara.

(*) António Costa Guimarães, foi Capelão Militar, é

Jornalista, foi Director do jornal Correio do Minho,

trabalhou na empresa Antena Minho - A Rádio de Braga,

é Public Relations, Communications and Marketing

Manager na empresa EPATV - Escola Profissional Amar

Terra Verde.

Autor escreve segundo o Acordo Ortográfico

Luís Osório (*)

1. - Os postais que escrevo são quase

sempre sobre a atualidade.

Mas hoje é diferente.

Fiz 51 anos, estarei hoje em cima de um

palco.

Hoje é diferente, posso falar-te um bocadinho

de mim?

Algumas vezes tenho sido insultado, o

que faz parte.

Umas vezes por gente de direita.

Outras por apoiantes do governo.

Outras pelos meus amigos comunistas.

E até já fui insultado por simpatizantes

do Bloco de Esquerda.

E por racistas e fachos – isso é quase

todos os dias.

Também por pessoas do Porto – por

acharem que não gosto do presidente

de câmara ou por ser do Benfica.

E por gente de Lisboa e do Benfica –

por acharem que não defendo o Benfica

nem a cidade de onde sou.

Os maçons já me atacaram por acharem

que sou do Opus Dei.

E os do Opus Dei já me acusaram de

ser maçon.

Os ateus acham-me beato.

E os beatos ateu.

Os socialistas acreditam que sou comunista.

Os comunistas, socialista.

Os jornalistas, escritor.

E os escritores, jornalista.

Alguns juram que sou um vendido.

Outros que sou um vendido de merda.

Há quem jure que sou homossexual –

como se fosse pecado sê-lo.

E outros que sou homofóbico – apesar

de falar muito do meu pai (apenas para

esconder a minha verdadeira natureza).

2. - Deixem-me que vos diga…

(apesar de não ser importante)

Mas deixem-me que vos diga para que

não existam equívocos…

Eu não sou filiado em nenhum partido.

Não sou praticante de nenhuma religião.

Não sou maçon.

Não sou sócio do Benfica nem de coisa

nenhuma.

Escrevo todos os dias aquilo que penso.

De acordo com as minhas convicções

e sem esperar receber nada em troca.

3. - Não tenho nada contra os partidos,

pelo contrário.

Já recusei integrar duas vezes listas

partidárias para ser deputado (e em lugares

ilegíveis).

Não me interessa, não tenho qualquer

ambição política.

Isso não me transforma num tipo humilde.

Não tenho nada de humilde,

infelizmente. Tenho-me em boa conta,

sou arrogante quando me sobe a mostrada

ao nariz, detesto pessoas que rebaixam

outras ou pessoas que insultam

sem sequer perceberem que o estão a

fazer – e não estou a pensar ou a escrever

sobre ninguém em especial.

4. - Sou de esquerda.

Nunca votei no PSD ou no CDS.

(mas tenho amigos do PSD e do CDS).

Já votei no PS, no BE e no PCP.

Quando era miúdo pertenci ao PSR. E

aos 23 anos estive no PS, mas fui apenas

a três reuniões e nunca mais lá pus

os pés.

Se escolhesse um lugar onde me sinto

mais próximo teria de me sentar à

mesa do PS, mas o PCP é o partido com

gente que mais admiro.

Era o partido do meu pai.

Um partido com muita gente inteira.

Quando escrevo contra o PCP há uma

parte de mim que sofre. Fico a pensar

no assunto, a remoer, o senhor Freud

explicaria. E aí, honra lhes seja feita,

não me poupam, não há ninguém que

seja capaz de ser tão agressivo como

um comunista.

5. - Escrevo os postais porque me

apetece.

E por achar que posso ajudar a ver os

temas sob prismas diferentes.

Vou continuar a fazê-lo.

Um dia desagradarei a uns.

Desagradar-te-ei a ti.

Noutro dia, talvez não.

Mas estranho sempre as análises extremadas,

os comentários histéricos ou as

defesas hipócritas para segurar um tacho

ou ficar bem na fotografia.

6. - Tenho quatro filhos e dois enteados.

Sou casado com uma médica e acreditamos

muito que será para sempre.

Já não tenho pai ou mãe.

Ou avós.

Já ninguém me chama Miguel – nome

Crónica

Autorretrato

pelo qual era chamado pelos que existiam

antes de mim.

Quando era criança passei necessidades.

Mas nada comparado com quem

realmente passa necessidades.

7. - Tenho 51, lixado escrevê-lo.

Sou careca.

Estou mais gordo.

Todos os dias penso que devo acordar

mais cedo para correr. Todos os dias arranjo

desculpas para não o fazer.

8. - Gosto de vir aqui.

De escrever.

Gosto de pessoas.

E por vezes detesto-as.

Sou solitário, mesmo acompanhado.

Escrevo livros.

Sou consultor de empresas.

Fui a maior parte da vida jornalista. Antes

de não me apetecer mais ser jornalista.

Gosto de cinema, vejo séries, oiço música.

Não escrevo contra os meus amigos.

Seria incapaz de o fazer, é a minha única

fragilidade.

Mas tenho poucos amigos públicos –

cinco ou seis. Coisa pouca.

9. - Gosto de pensar que sou boa pessoa,

mas por vezes sou detestável.

Gosto dos fracos e dos vencidos, mais

do que dos fortes e poderosos.

Gosto de gostar. Mas também gosto de

não gostar.

Detesto que me digam que sou bonzinho…

não o sou.

Sou tudo isto e se calhar nada disto.

Acredito mais na ficção do que na realidade.

Acredito mais num livro de Roth

do que nos telejornais de referência.

Acredito mais no teatro do que no discurso

político. Acredito menos no ser

humano do que dele desconfio.

Tenho muitos livros na cabeça.

E muita coisa que me ocupa espaço.

Acredito em Deus, mas o meu Deus

não é ortodoxo.

Acredito que o grande mistério é o

Bem, jamais o Mal.

Sou este e todos os outros que não estão

aqui.

Como tu.

Somos tantos, sempre.

10. - Era isto que te queria dizer.

Dizer-te…

… que o meu compromisso é apenas

comigo. O que faço pode ser uma

grande merda, mas não obedece a

qualquer agenda.

(*) autor escreve segundo o Acordo Ortográfico

Lusitano de Zurique - OUTUBRO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - OUTUBRO 2022 | www.cldz.eu

19



José Viale Moutinho

encontra a “Fidalga branca” em Amares

COSTA GUIMARÃES (*)

“Portugal Lendário — Tesouro da Tradição

Popular” foi uma das prendas

que o universo editorial português

nos ofereceu em Agosto, através da

“Temas e Debates”, da autoria de José

Viale Moutinho, que inclui uma lenda

de cada um dos concelhos de Portugal,

ao longo de 524 páginas.

De Amares, o autor recolhe a lenda de

“A Fidalga branca”, interligada com

Sá de Miranda, os Machados e Rendufe,

uma mula e uma D. Maria — “virtuosa”

— que era infiel. É uma história

que tem como cenário a Casa do Castro

dos Machados e a Casa de Tapada,

em Fiscal, onde, como escreve Sá de

Miranda, “O sol é grande: caem com

calma as aves, /Do tempo em tal sazão,

que sói ser fria”.

Vamos por partes.

“Um país sem lendas é um aborrecimento,

é capaz de nem existir” — explica

o autor no prefácio desta obra

com capa de Ana Monteiro.

José Viale Moutinho recorda que “temos

lendas a rodos por toda a parte,

como aqui se prova, que poderão entreter

o nosso imaginário durante uns

bons séculos, até à eternidade!”Desde

o tempo em que a lenda “era aquilo

que devia ser lido na festa de um santo,

mártir ou confessor” até aos tempos

novos em que ela se transforma

“num misto de realidade e fantasia,

com predomínio do segundo elemento”,

a obra agora editada apresenta

exemplares diversos.

Evocando o Romanceiro de Almeida

Garrett e as Lendas e Narrativas de Alexandre

Herculano, José Viale Moutinho

classifica Portugal lendário como

“uma grande manta de retalhos” e

pretende que este livro seja “um livro

de entretenimento com raízes no caldeirão

dos séculos” ao mesmo tempo

que exprime “o deslumbramento dos

povos procurando tocar com a imaginação

o intangível pela razão”.

Numa pesquisa “sobretudo bibliográfica”

José Viale Moutinho traduz um

“trabalho de campo considerável”

para que a sua obra, “numa época

marcada pela globalização seja uma

aventura identitária que ninguém, e

por nenhum preço, nos pode retirar.

É o tiras. Olhem o Zé Povinho como

responde tão bem a quem o tentar fazer”

(cf. p17).

Representativa do concelho de Amares,

a obra fala-nos da lenda “A fidalga

branca”, a partir de uma demorada

visita ao Mosteiro de Rendufe, onde

se encontra o túmulo de um seu antigo

comendatário, Herique de Sousa,

depois de uma passagem por Fiscal,

onde está a Casa da Tapada, onde viveu

e morreu o poeta Francisco Sá de

Miranda.

Na viagem fica a Casa de Castro, dos

Machados, onde franqueando o portal

de acesso, encontramos o território

da lenda de “A Fidalga Branca” que

aparecia no alto das muralhas da casa

acastelada, envolvida num manto “alvíssimo.

Quem é? D. Maria da Silva, da

casa nobre de Ponte da Barca, casada

com Francisco Machado, filho de Manuel

Machado, este senhor do Castro

Foto: Manuel Araújo

e intimo do Poeta do Neiva.

Na Casa da Tapada vivia o filho do

poeta, Jerónimo de Sá, comendatário

do Mosteiro de Rendufe, que não se

livra de ter tentado seduzir D. Maria

da Silva, que foi virtuosa senhora. Vá

lá saber-se porquê, Jerónimo de Sá

esforçou-se por semear a intriga junto

de Francisco Machado, insinuando

que a D. Maria lhe era infiel.

Na dúvida, Francisco entrou de espada

em punho nos aposentos da esposa e

viu-a adormecida, de “cilício cingido”

(cf. pp. 20-21).

“Virtuosa senhora! Mas o filho de Sá

de Miranda era um pulha de primeira,

pois insistiu na acusação. A situação

chegou a um ponto extremo.

Estando D. Maria a jogar às tabuínhas

com o inocentíssimo Henrique

de Sousa, um escravo negro de Francisco

Machado esmagou a cabeça do

comendatário. D. Maria da Silva gritou

ante o crime, e o marido, instigado

por Jerónimo, tentou dar-lhe uma

cutilada com a própria espada, mas

esta desfez-se em três bocados”.

Quanto ao final da história, leiam o livro,

se fazem favor.

Silva Automobile

Silva António Filipe

Heinrich Stutz-Strasse 2

8902 Urdorf

José Viale Moutinho nasceu no Funchal

no dia 12/6/1945. Escritor e jornalista

no Diário de Notícias, tem realizado

investigações sobre a vida e a obra

de alguns escritores portugueses do

Séc. XIX, recuperando epistolografia e

textos inéditos ou esquecidos de Camilo

Castelo Branco, Trindade Coelho,

António Nobre e Joaquim de Araújo,

entre outros. Também trabalha sobre

a Guerra Civil de Espanha (1936-1939),

guerrilheiros espanhóis antifranquistas

actuando em Espanha e na Resistência

Francesa, bem como acerca

da deportação de antigos combatentes

da II República Espanhola em

Mauthausen e Dachau. Participou no

movimento português da Poesia Experimental

e em exposições de Arte

Postal e integrou a Comissão Nacional

para as Comemorações do Centenário

da Morte de Camilo. Traduziu

romances, ensaios e peças de teatro,

para companhias profissionais que as

representaram.

Foi chefe de Redacção Adjunto do

Diário de Notícias, foi presidente da

Associação dos Jornalistas e Homens

de Letras do Porto e fez parte das direcções

da Associação Portuguesa de

Escritores, da Sociedade Portuguesa

de Antropologia e Etnologia e do

Círculo de Cultura Teatral. Integrou o

conselho geral da Comissão Nacional

da UNESCO e é membro de honra da

Real Academia Galega.

silva.automobile@bluewin.ch

Quanto a investigação etnográfica,

Tel: 043 817 34 60

Natel: 076 396 65 77

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Silva António Filipe

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Tel: 043 817 34 60

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silva.automobile@bluewin.ch

publicou diversas recolhas de literatura

popular portuguesa. Também a

literatura infanto-juvenil não lhe foi

indiferente.

Tem colaboração em jornais como República,

Jornal de Notícias, Diário de

Lisboa, Prelo, Colóquio/Letras, Jornal

de Letras, Vértice, está representado

em antologias de literatura portuguesa

editadas na ex-União Soviética, na

Hungria, Bulgária, Brasil, Galiza e em

Portugal. Obras suas estão traduzidas

para castelhano, asturiano, catalão,

galego, italiano, húngaro, russo, etc.

Com vários prémios literários e de jornalismo,

na Galiza foi-lhe atribuído o

prestigiado Pedrón de Honra em 1995,

e, no ano anterior, na Alemanha, foi finalista

do Prémio Europeu de Conto.

Entre as suas obras destacam-se Contos

populares portugueses: antologia

(1978), O Adivinhão e Adivinhas Populares

Portuguesas (1979), As mãos

cheias de terra - Textos do Andarilho

(2000), O rapaz de pedra (2004)

e Portugal lendário: o livro de ouro

das nossas lendas e tradições.

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Jornalista, foi Director do jornal Correio do Minho,

trabalhou na empresa Antena Minho - A Rádio de Braga,

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ABRAÇO DE PALAVRAS

Crónica

CHEGOU SETEMBRO,

bem recheado de acontecimentos!

Graça Foles Amiguinho (*)

Com o início de setembro, após

um período de merecido descanso,

crianças e jovens regressam à escola,

com alegria e esperança de vencerem

mais um novo ano, ultrapassarem

uma nova meta, com sucesso.

Apesar de já estar muito distante,

esse período da minha vida, que vivi

com intensidade, colocando em cada

momento, toda a minha criatividade

e alegria, na condução de vidas em

flor, fazendo tudo o que estava ao

meu alcance para que se sentissem

felizes e aprendessem as matérias

programadas, com entusiasmo, continuo

lembrando o que foram esses 32

anos da minha carreira profissional

e como este tempo de um outono, a

surgir, com novos perfumes da natureza,

preenchia a minha mente e confortava

a minha alma.

Muito mudou, a sociedade, muito se

alteraram os métodos de ensino, mas

há coisas que permanecerão para

22

sempre, porque nada tem poder para

as alterar. Refiro-me a valores espirituais,

tais como: os olhares de carinho

trocados entre alunos e professores,

a simpatia, a partilha de saberes e o

desejo de que, através da Cultura, se

possam criar verdadeiros e indestrutíveis

laços de amizade e solidariedade,

entre os povos.

Quando, nos dias que vivemos, ouvimos

e vemos crianças em sofrimento,

por falta dos bens essenciais, porque

as famílias estão desunidas ou ainda,

porque se deparam com uma guerra

que lhes roubou quem amavam e

lhes destruiu a paz, num só dia, temos

muito a agradecer, porque Portugal

vive com dificuldades, mas vive em

paz.

Os valores fundamentais, como a Liberdade,

o Pão, a Habitação, a Saúde

e a Educação estão salvaguardados

na nossa Constituição e, mesmo debaixo

de pressão, o Estado Social faz

o que está ao seu alcance para ajudar

as famílias a superarem as dificuldades

destes tempos, devido a consequências

imprevisíveis, provenientes

de uma grande pandemia e, este ano,

devido à guerra na Ucrânia, que pôs

em sobressalto todo o mundo e de

uma forma especial, a Europa, em virtude

do ataque despudorado da Rússia,

uma ameaça que não sabemos

onde irá parar.

As aulas irão recomeçar nos próximos

dias e as escolas serão o ponto de encontro,

de convívio e o lugar onde novas

aprendizagens terão lugar seguro.

Porém, não poderemos ficar indiferentes

ao que se passa com outras

crianças, as que viram as suas escolas

ser totalmente destruídas por bombas

assassinas.

Onde irão recomeçar o ano letivo?

Que alegria pode existir nos seus corações,

perante um cenário de morte

e destruição?

E os seus professores, sobretudo os

que continuam a trabalhar nas regiões

ocupadas pelo invasor e são

obrigadas a ensinar numa língua que

não é a sua, como se sentirão?

Como conseguirão suportar essa situação?

Mais felizes estão as crianças que tiveram

possibilidade de emigrar e encontraram

as portas das escolas abertas,

em diversos países, realçando

Portugal, que as acolheu com abraços

fraternais.

Como portugueses, devemos orgulhar-nos

da nossa amabilidade e solidariedade

para com o povo Ucraniano,

em sofrimento. Como educadora,

sinto-me honrada com o comportamento

dos meus colegas, que sabem

acolher e ajudar a integrar na nossa

sociedade, as crianças e jovens que

fogem de uma guerra. Aos professores

e alunos, desejo um bom regresso

às aulas e que este ano escolar seja

calmo e com bons resultados.

Mas setembro não ficou por este acontecimento

previsto e programado, do

regresso às aulas. Tem sido fértil em

notícias de perto e de longe, que vão

despertando a nossa atenção.

Em Portugal são atribuídos, pelo governo,

subsídios às famílias para superarem

o extraordinário e anormal

aumento do custo de vida, e aos pensionistas,

foi decidido avançar com o

pagamento de meia pensão, no mês

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de outubro.

A Ministra da Saúde, Marta Temido,

pede a demissão devido ao resultado

desastroso na saúde, neste verão,

considerando não reunir as condições

necessárias para se manter no cargo

e é substituída por Manuel Pizarro,

eurodeputado socialista que liderava

a delegação dos deputados do PS no

Parlamento Europeu. O Novo Ministro

promete, como médico, especialista

em medicina interna, com experiência

como Secretário de Estado da

Saúde, entre 2008 e 2011, estar determinado

e cheio de vontade para trabalhar

a favor dos portugueses e do

SNS, cujo aniversário se celebra a 15

de setembro. Aguardamos que assim

aconteça!

Entretanto, soam os sinos, tocando a

finados, em Inglaterra, porque a sua

idosa rainha, Isabel II, fechou os olhos,

após 70 longos anos de reinado, certamente,

com dias de felicidade, outros

de tristeza, agradando a uns ou

sendo criticada por outros, pois uma

posição social, tão abrangente, corre

sempre riscos e nunca poderá ser totalmente

perfeita. Sucede-lhe o filho

mais velho, Carlos III, que promete

seguir o exemplo da Mãe. Sem querer

imiscuir-me na vida alheia, há um

aspeto em que o novo rei de Inglaterra

nunca poderá seguir o exemplo

da mãe. A rainha foi sempre fiel ao

marido, enquanto ele traiu a mãe dos

seus dois filhos, com a que agora foi

nomeada “rainha consorte”, história

que o mundo nunca esquecerá. Há

situações que, por muito que as queiram

branquear, ficarão eternamente

machadas.

Mais a leste, na Ucrânia, o povo permanece

na sua luta, contra o invasor,

com uma coragem e determinação

dignas da nossa admiração e respeito,

conquistando territórios que os russos

vilmente lhes roubaram, provocando

a morte de inocentes e sacrificando

os seus militares e os militares que

os enfrentam, a par da destruição de

bens materiais, avaliada em centenas

de milhões de euros. Desejamos que

o fim da guerra seja uma realidade, a

curto prazo.

Espero, muito brevemente, vos poder

dar a conhecer a minha nova obra, um

romance, escrito com a sensibilidade

própria de mulher, sobre “O AMOR NA

GUERRA”.

Que a saúde e a esperança sejam presença

constante nas vossas vidas!

(*) Autora escreve segundo

o Acordo Ortográfico

Opinião

PAPA FRANCISCO:

Ocidente é cemitério da humanidade e

está no caminho errado

Carlos Sério

“O Ocidente não pode ser chamado

de “um exemplo a seguir”

porque seguiu o caminho

errado, disse o Papa Francisco.

A declaração do pontífice foi

dada em entrevista coletiva a

jornalistas e publicada no jornal

italiano Corriere della Sera nesta

quinta-feira (15).

“O Ocidente como um todo não

é actualmente um exemplo de

modelo. O Ocidente está errado,

por exemplo, em termos de

justiça social”, afirmou a autoridade

mais elevada da Igreja

Católica.

O Papa Francisco classificou o

Ocidente como “o maior cemitério

da humanidade”.

Ele também expressou a opinião

de que o Ocidente, agora,

“não está no nível mais alto” e

não tem capacidade de ajudar

outras nações.

O pontífice disse aos jornalistas

que o fornecimento de armamentos

pode ser moralmente

aceitável se for para defender o

próprio país, mas seria condenável

se o objectivo for estimular

o confronto.

Pode ser imoral, se houver a intenção

de provocar a escalada

da guerra ou vender armas ou

enviar aqueles que você não

precisa mais”, disse o papa.

O papa já foi criticado na Ucrânia

pelas posições sobre a corrida

armamentista e sobre o papel

da Organização do Tratado

do Atlântico Norte (NATO) no

conflito.”

23

Günther Simmermacher



Retratos contados...

Cultura

Diário d e uma avó e de um neto

Nélson

Mateus

Alice

Vieira

A avó dos britânicos

V NELSON MATEUS (*)

Querida avó

A Rainha morreu. Viva o Rei!

Morreu Isabel II, a Rainha de Inglaterra, “avó” dos britânicos.

Tenho visto pessoas muito espantadas com a morte de Isabel II.

A senhora viveu até aos 96 anos e reinou durante uns longos 70

anos. De que estavam à espera?

Não me apetece falar de contos de fada, nem das escandaleiras

que fizeram capas de tablóides, em todo o mundo, ao longo de

tantos anos.

Prefiro partilhar contigo algumas curiosidades de “Lilibet”, como

sempre foi apelidada pela família

©: DR

Para começar, sabias que a casa onde nasceu Isabel II é agora um

restaurante chinês, com estrela Michelin?

Com apenas 18 anos, foi o primeiro membro da família real

britânica a cumprir serviços militares. Aprendeu mecânica e

durante este período, reparou vários automóveis, imagina.

©: DR

Sempre a vimos a conduzir e a viajar. Ao longo do seu reinado

viajou para mais do que uma centena de países. Mas

sabias que Isabel II nunca teve carta de condução nem passaporte?

Apesar de gostar de corridas de cavalos, não eram estes os únicos

animais que gostava de ver em competição. Era também fascinada

por corridas de pombos.

Se tivéssemos sido amigos da rainha aqui está algo que não iriamos

participar, uma vez que tanto eu como tu detestamos pombos!

Enviou mais de 300.000 postais de aniversário a pessoas que comemoram

os 100 anos de vida. Aqui já me parece alguém que

conheço…

O primeiro compromisso público de Isabel II, ainda como princesa,

foi no dia em que assinalou os seus 16 anos, em 1942, quando

passou revista à guarda no Castelo de Windsor.

Até ao último suspiro colocou sempre os deveres à frente de

tudo o resto.

Deu posse a Liz Truss, a nova Primeira- ministra do Reino Unido,

depois retirou-se para “morrer em paz”.

Primeiro os deveres depois é que se pode morrer!

Vou passar o fim de semana no sofá ligado à Netflix a ver

todas as temporadas da série: “The Crown”

God save de King.

Bjs

V ALICE VIEIRA (**)

Querido neto

Ainda sobre a Rainha Isabel II cujo enterro aconteceu na

passada segunda-feira.

Desde muito criança que fui grande admiradora da família

real britânica.

Naquela altura vendiam-se cá livros ingleses que contavam

tudo, absolutamente tudo, sobre os reis de Inglaterra,

os primos, os filhos, etc.

Por isso lamento desiludir-te mas já sabia tudo aquilo que

me contaste. Até te adianto mais uma coisa: a casa onde

a rainha nasceu é hoje um restaurante chinês porque a

casa verdadeira foi abaixo durante um bombardeamento

na Guerra.

Os ingleses, que sempre gostaram muito da família real,

ficaram a gostar ainda mais porque, ao contrário de muitos

reis (quase todos) de outros países, não fugiram do

seu país. Propuseram-lhes saírem para o Canadá—mas

não quiseram. E ficaram sempre no Castelo de Windsor.

Diz-se que a Rainha-Mãe, mulher do Rei Jorge VI, depois

de um grande bombardeamento, terá dito “que bom que

é termos a nossa casinha!”

E segui todos os documentários sobre o seu casamento,

a sua coroação.

Claro que fui sempre para a rua para a ver passar, das

duas vezes em que cá veio. E segui-a para todos os lugares

onde ela ia, além de Lisboa. Lembro-me do olhar

espantado dela quando, em Coimbra, os estudantes estenderam

as capas para ela passar por cima!

E também segui tudo sobre irmã, a Princesa Margarida, a

doida da família… Namorou meio mundo, embebedava-

-se, casou-se, divorciou-se, deixava-se filmar ao colo dos

namorados e atirava os sapatos pelo ar, fumava que nem

uma chaminé em toda a parte. O que prova que Isabel II

teve sempre problemas familiares a resolver.

Mas se fores rever “The Crown” vês lá isto tudo…

E… viva a República!

Os autores escrevem segundo o Acordo Ortográfico

(*) Jornalista - (**) Jornalista e Escritora

www.retratoscontados.pt

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Espectáculo

TAXI

deram concerto épico no

Festival Summer End

em Braga

Texto e fotos:

Joaquim Galante (*)

Os TAXI deram, dia 10 de Setembro, mais um grande

espectáculo musical, num concerto inserido no Festival

Summer End, no Fórum de Braga. Com o recinto completamente

cheio (talvez mais de 3.000 pessoas), os TAXI

deram um concerto para mais tarde recordar.

Num alinhamento com 14 músicas, que foram sucessos

na já longa carreira da banda, e durante cerca de 80’, os

TAXI fizeram-nos viajar no tempo a nós jovens de outrora,

e a fazer vibrar os jovens de hoje, revisitando alguns

dos maiores sucessos que atravessaram gerações. Na

mítica banda pontificam, como membros fundadores, os

carismáticos João Grande e o baixista Rui Taborda.

Com um coro de cerca de 3.000 vozes, João Grande teve

o público com ele, acompanharam-no nas letras de todas

as canções e empurraram a banda para um concerto épico.

Os TAXI estão aí, aos poucos, a reconquistar espaço

e audiências, para ajudar a alavancar o rock nacional, um

género musical que tem estado a perder adeptos.

Com uma presença em palco diferenciada, o vocalista,

João Grande, não só canta, e canta muito bem, como

encanta. O seu carisma e a sua energia funcionam como

um íman que atrai a atenção do público e somos como

que ‘obrigados’ a entrar na onda. Irrequieto, a sua imagem

de marca, corre o palco de uma ponta a outra vezes

sem conta, salta, deita-se no chão, enfim, numa linguagem

sonora e gestual que todos facilmente percebem e

alinham. Em palco o João é outra pessoa, extrovertido,

jovial, nota-se a felicidade e o brilho naquele olhar de um

jovem irreverente por fazer o que gosta e de ver que o

seu trabalho é reconhecido.

Os TAXI são actualmente o único grupo português de

rock que assenta a sua música num estilo mais ligeiro,

em que a musicalidade e a sonoridade não se baseiam

em riffs estridentes de guitarra, mas mais num tom melodioso

e suave, mais perto da onda musical com que a

juventude de hoje está mais identificada. A banda conta

ainda com os guitarristas Jorge Loura e Nelson San-

tos e na bateria o Hugo Pereira, todos eles músicos com

enorme talento.

Aliás, foi com este estilo bem ligeiro e musicalmente alegre,

com letras ainda muito actuais, que os TAXI conquistaram

o primeiro disco de ouro do rock português há 40

anos atrás.

No que ao concerto diz respeito, João Grande apresentou-

-se em palco com uma camisa bem colorida, que os ABBA

lhe emprestaram, disse-o na primeira oportunidade de comunicar

com o público em tom de brincadeira, depois de

ter cantado a música Cairo com que abriu as hostilidades.

Com ‘TVWC’ e ‘Rosete’, músicas com outro ritmo levou

os fãs à locura e a partir daí foi sempre a ‘abrir’. Depois

‘É-me Igual’, ‘Não Sei Se Sei’, ‘1, 2, Esq. Dir.’ e por fim

‘Sozinho’ uma balada lindíssima que serviu para abrandar

o ritmo louco do concerto, a que se seguiu ‘Fio da Navalha’

também ela calma pois estávamos todos a precisar de

descansar um pouco.

O ritmo começou a aumentar com ‘Sing Sing Club’ e ‘Meu

Manequim’, em dueto com Rute Simone, uma autentica

peça teatral representada pelo João e pela graciosa Rute,

esta no papel de Manequim, que acaba por ‘escravizar’

o humano, apaixonado pela sua beleza. A partir daqui o

ritmo voltou ao rubro com ‘Ás dos Flippers’, ‘TAXI’, ‘Vida de

Cão’ e ‘Chiclete’ para terminar um concerto que merecia

não ter fim.

Duas notas que quero deixar aqui em rodapé, a primeira

é que no alinhamento deveria constar a música ‘Rosete’

com o seu nome verdadeiro que é ‘Queda dos Anjos’ e a

segunda, é a falta do tema ‘Hipertensão’ no alinhamento,

para mim seria perfeito.

Alinhamento: Cairo – T.V.W.C. – Rosete – É-me Igual – Não Sei Se

Sei – 1, 2, Esq., Dto. – Sozinho – Fio da Navalha – Sing Sing Club – Meu

Manequim – Ás dos Flippers – TAXI – Vida de Cão – Chiclete

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Joaquim Galante (*)

Os PUROROCK foram a banda sensação na

abertura do Festival Sol da Caparica, oriundos

de Palmela, a banda liderada por Domingos

Guerreiro, foi a agradável surpresa.

Formada em 2017, é composta por experientes

músicos, irreverentes, que irradiam muita

energia em palco, mostram que o rock não tem

idade, é actual e com futuro. Quisemos saber

mais e fomos ao encontro de Domingos Guerreiro,

mentor do projecto, no restaurante TAJ

BOM, num ambiente acolhedor, segundo ele,

um dos melhores restaurantes da zona de Palmela.

FOCUSMSN (*)

PUROROCK

foram a banda sensação do

Festival Sol da Caparica

FOCUSMSN: Domingos, como te surgiu o gosto pela música,

em particular pelo rock cantado em português, e o que

te levou a avançar com este projecto musical?

Domingos: Nos idos anos 80, eu já tinha tido uma banda que

eram os ‘Prós&Contras’, nessa altura vivia-se os anos loucos

do denominado boom do rock em Portugal. A banda tocava

algumas músicas originais e covers de outras bandas de

sucesso naquela época. Foi nesta altura, da minha adolescência,

que nasceu o gosto pelo rock e que perdura até hoje.

Em relação aos ‘Prós&Contras’, teve vida curta, eu era muito

jovem, não tinha autonomia de mobilidade, tínhamos dificuldade

em ensaiar, ia a boleia de Palmela para Setúbal, ao

frio e à chuva, não tinha condições. Tinha vindo de Moçambique,

morava sozinho, vivia uma fase ‘psicadélica’ da minha

vida, de modo que o projecto ficou-se pelo caminho, mas

sempre tive na mente que quando tivesse a vida estabilizada

retomaria a ideia. A oportunidade surgiu em 2017, e mais

de 30 anos depois nasceram os ‘PUROROCK’.

F: Em que bandas nacionais e/ou internacionais te inspiraste?

D: Uma banda que me inspirou muito e que acompanhei

em diversos concertos por essa Europa fora foram os Rolling

Stones, cá dentro inspirei-me naquele que considero ser o

Mick Jagger nacional, que é o João Grande dos TAXI, nos

Xutos & Pontapés, nos UHF, em particular no AMR que é um

sobredotado nas letras que escreve, na música e na composição,

tem uma cultura imensa e conseguiu manter ao longo

de todos estes anos os UHF no topo do rock nacional, merece

toda a minha admiração. Para mim ele é o número um

do rock português.

F: Achas que o rock é um género musical que passou de

moda?

D: O rock não passou de moda, de modo algum, os ‘rockeiros’

é que pararam no tempo, ficaram presos a estigmas e

a formatos pré-estabelecidos e não acompanharam a evolução

geracional, o público jovem não quer ver uns tipos

unicamente vestidos de preto em palco, alguns que mal se

mexem, com riffs estridentes de guitarra, querem luz, cor,

animação, irreverência e muita adrenalina.

E neste quesito tiro o chapéu ao João Grande (TAXI), que

puxa pelo público, com coreografias arrojadas, roupas diferenciadas,

é este o caminho. Uma ‘guerra’ que tive com os

meus músicos foi na forma de vestir, traziam hábitos das

bandas onde tocavam, mas aos poucos mudamos a mentalidade

e hoje estamos em sintonia.

Tenho falado com alguns músicos que estão no mercado há

mais de 30 anos que se queixam que as televisões não os

convidam, nós temos que nos adaptar à realidade actual, ver

o que o público procura, ver o que lhes capta mais atenção

e dentro do nosso género musical ir ao encontro dessa realidade

e não o inverso.

Actualmente o rock vive dos êxitos do passado, os seguidores

são maioritariamente gente que era adolescente aquando

do boom do rock em Portugal e que por saudosismo

ainda vai a alguns concertos. Na minha opinião, as bandas

a quem muito devemos não precisam de fazer melhor, precisam

de fazer diferente, para captar juventude, e as novas

bandas olharem à realidade actual e não tentar imitar o que

se fazia há 40 anos atrás.

F: Mas os meios de divulgação, nomeadamente a rádio e

principalmente a televisão, parece que se divorciaram do

rock nacional…

D: A televisão passa aquilo que dá audiência, passa aquilo

que as pessoas querem ver e os ‘rockeiros’ teimam em não

procurar outras soluções para contornar a situação e cair

no goto do público. Olha o exemplo do fado, fadistas como

Ana Moura e Cuca Roseta, entre outras, ocupam o palco em

festivais pop/rock, com público jovem a cantar o fado com

uma outra roupagem, é disto que o rock precisa, uma nova

abordagem. Eu canto para ter audiência, se não conseguir

captar a atenção do público então não vale a pena, canto

no chuveiro.

Resumindo, o rock precisa de um som apelativo, muita cor,

luz e movimento, e não uns tipos vestidos com roupa escura,

num ambiente de pouca luz e um palco cheio de fumo

onde mal se veem. Infelizmente o rock vive do passado, de

bandas que não deixaram morrer o rock casos dos UHF,

Xutos & Pontapés, Alcoolémia e pouco mais, uma luz se

acendeu com o regresso dos TAXI, mas quando estes acabarem

como será?

F: A formação da banda PUROROCK nasceu de uma forma

pouco convencional, queres contar como foi?

D: (risos) Eu estava num bar de música ao vivo que se chamava

Santiago, aqui em Palmela, ao assistir à actuação de

uma determinada banda, veio-me à memória o que ficou

para trás em termos musicais e a vontade de retomar a

ideia de formar uma banda, naquele momento senti o clique.

Falei com o dono do bar e perguntei ‘Santiago, se eu formar

uma banda deixas-me vir tocar aqui?’, marcamos para

daí a dois meses para que eu pudesse encontrar os músicos,

ensaiar e aparecer em palco. Fui logo falar com o baterista,

que é um amigo da adolescência, os outros acabei

por encontrar entre os vizinhos (risos).

Antigamente fazia muitas festas em minha casa e para não

haver problemas com a vizinhança convidava-os para estarem

presentes, um dia bato a porta do Beto para o convidar

e conversa puxa conversa, às tantas ele diz-me ‘sou engenheiro

de formação mas gosto é de música’, ‘mas tocas

algum instrumento?’, perguntei eu, ‘toco guitarra’, diz ele,

pronto estava encontrado o guitarrista (risos), o baixista foi

numa esplanada, tinha-o visto tocar num bar, cheguei ao

pé dele e perguntei ‘olha lá, tocas baixo não tocas?’, ‘sim’,

diz-me ele, ‘não queres tocar com a banda que estou a formar,

ja tenho concerto marcado e só me falta o baixista?’, e

assim nasceram os PUROROCK.

O curioso desta situação foi a banda nem existir e já ter um

concerto marcado. No concerto tocámos covers dos UHF,

TAXI, Xutos & Pontapés, Paulo Gonzo, etc, foi um sucesso,

o bar estava a abarrotar de gente. Neste show actuaram o

Mário Costa (bateria), Humberto Delgado (guitarra), Pedro

Correia (baixo), Rita Vale (segunda voz), Vasco Avença (Saxofone)

e eu na voz.

F: És uma pessoa que viajas muito, estás atento ao que te

rodeia, é nestas viagens que encontras inspiração para escreveres

as letras das tuas músicas?

D: As letras que escrevo são sentidas, são vivências que tive,

‘És PUROROCK’ foi escrita durante uma das minhas viagens

com cinco amigos ao Peru, íamos num jeep a cantar

a caminho de Machu Picchu quando lá chegamos tinha a

letra da canção e a música na minha cabeça. A inspiração

Entrevista

vem principalmente da saudade do meu país, do meu distrito

e da minha vila.

F: Tens um álbum de originais já editado ‘Vestida de

Branco’ (2020), produzido pelo Flavio Serrinha e um EP

produzido pelo Sergio Corte-Real (UHF) e pelo Pedro Madeira

(Alcoolémia) mas preparas-te para lançar um segundo

álbum, queres revelar?

D: Tenho já algumas letras escritas e a sonoridade a ecoar

na minha cabeça, nomeadamente a canção ‘Raiva de

Amor’ que gostaria de cantar em dueto com uma cantora

que tenho na ideia, mas que quando for oportuno irei convidar,

tenho a ‘Estrada É Tua’, dedicada aos motards, uma

ideia do Emanuel, que é uma das pessoas que mais admiro

na música portuguesa e ‘Amor Amor’ que escrevi na véspera

da actuação no Sol da Caparica e mais umas outras.

F: Nestes vossos cinco anos de actividade para que público

e em que palcos costumam actuar?

D: A primeira vez que fomos abordados para tocar, por sinal

uma pessoa aqui de Palmela, pediu-nos dinheiro (risos).

Depois da nossa estreia no bar do Santiago, tocamos no cine-teatro

São João onde apresentamos o nosso EP ‘És PU-

ROROCK’, nas Festas das Vindimas, onde gostaria de voltar

a tocar como cabeças de cartaz, e em vários outros locais.

F: Depois da actuação no Sol da Caparica que ambições

tens para o futuro? A partir daqui há um novo PURORO-

CK?

D: É verdade, depois do Sol da Caparica tudo mudou, a começar

logo pelos músicos que compõem a banda, ficaram

com outra perspectiva das potencialidades dos PURORO-

CK, muito mais motivados, mais até do que quando foram

à televisão. Digamos que depois deste festival e da aceitação

que tivemos por parte do público jovem, que cantava

connosco o refrão das nossas músicas, fez-nos sentir que

podemos ir mais além.

Nesta altura, quero agradecer aos músicos que me acompanham

e acompanharam ao longo destes cinco anos que

são o Mário Costa (bateria), Humberto Delgado (guitarra) e

o Luis Pão Alvo (baixo) que estiveram em palco no Sol da

Caparica.

Estivemos também muito bem acompanhados, na música

‘Volta Para Mim’, pelas alunas do conservatório de Palmela

com Raquel Pernas (violoncelo), Maria Pires (viola de arco),

Margarida Dentinho (violino) e Ana Marta (violino).

Destaco ainda o Pedro Correia (baixo), Ivo Gomes (baixo),

Vasco Avença (saxofone), Rita Vale (segunda voz) pessoas

que acrescentaram muito à banda e que infelizmente por

motivos pessoais não podem continuar a dar o seu valioso

contributo musical, ao Telmo Gonçalves (baixo), Francisco

Nuno (bateria) e ao Gonçalo Rodrigues (guitarra) que são

parte integrante dos PUROROCK.

F: A tua irreverência em palco, a dinâmica que impuseste

ao concerto, captou a atenção do público. Sendo a banda

de abertura do festival, ainda assim, tiveste uma plateia

imensa, que foi aumentando durante o concerto.

O que sentiste em palco vendo tanta gente empolgada

com a vossa actuação e a cantar o refrão das tuas músicas?

D: Vieram-me as lágrimas aos olhos, na véspera o Mário

Costa nem dormiu (risos), foi uma emoção enorme e uma

situação para a qual não estava preparado, foi completamente

inesperado. Imagina estares num festival desta dimensão

e à segunda vez que cantas o refrão estarem jovens,

com um terço da minha idade, a cantarem comigo e a

fazerem corações, foi inacreditável. O Sol da Caparica ficará

para sempre marcado na história dos PUROROCK e nas mi-

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nhas memórias, só por termos chegado aqui, já valeu todo o

esforço e tempo dedicado à banda.

F: No trajecto da banda que pessoas, para além dos músicos

que já mencionaste, te ajudaram a trilhar o caminho?

D: A pessoa que mais acreditou em nós, e que nem sequer

está ligado ao rock, mas que viu méritos nas letras, nas músicas,

na banda, na minha irreverência em palco e nas minhas

ideias, foi o Emanuel. Inclusive, levou-nos ao programa dele

e ao Camião, onde o rock não é o género musical cabeça de

cartaz, não sei se com a anuência do director de programas

da SIC, Daniel de Oliveira, o certo é que o Emanuel teve a

coragem de acreditar nas nossas potencialidades e no nosso

carisma.

E recentemente o Zahir Assanali, CEO do Grupo Chiado, por

nos ter convidado para actuar no Festival Sol da Caparica.

Gostaríamos um dia de voltar ao Sol da Caparica, mas também

pisar os palcos de outros grandes festivais, nomeadamente

RockInRio, SuperBock SuperRock, Vodafone Paredes

de Coura e muitos outros, são ambições que tenho, o sonho

comanda a vida.

F: Normalmente distribuis a tua parte do cachet a instituições

humanitárias de Palmela. A que se deve este teu

altruismo?

D: Tem a ver com a minha história de vida, quando regressei

de Moçambique com 11 anos, vivia na rua, comecei a trabalhar

muito cedo, mas sempre com a ambição de querer ser

alguém na vida e deixar alguma marca. Aos poucos, com esforço

e dedicação, fui subindo a pulso e hoje tenho que agradecer

aqueles que nunca me viraram as costas e me apoiaram

porque viram em mim potencialidades no trabalho, na

honestidade e nas boas energias que transmito. Ao ponto de

ter vinhos dos melhores enólogos do país com marca registada

PUROROCK, desde a Casa Ermelinda Freitas, e outros

produtores do distrito, até à Niepoort em Gaia.

No palco do Sol da Caparica cantei a música ‘Soldados da

Paz’, que faz parte do disco ‘Vestida de branco’, vestido a rigor,

numa singela homenagem a estes homens e mulheres

que dão a vida para nos proteger e ajudar.

F: A banda tem sido muito acarinhada pelas gentes de

Palmela, idealizaste um espaço próprio que vais construir.

Queres falar disso?

D: Tenho em projecto um espaço, que está para aprovação

na CMP, que será futuramente o PUROROCK/CAFÉ, em que

existirão condições para música ao vivo, e onde se encontrarão

todos os néctares que poderás imaginar da marca PU-

ROROCK e irá estar aberto diariamente.

Além da música, terei também workshops de vinhos com

os produtores e jantares vinícolas, assim como a Fogaça de

Palmela, com o logotipo da banda, o pastel com o moscatel

PUROROCK feito pela confeitaria São Julião.

F: Depois de algumas vozes terem criticado a organização

do Festival Sol da Caparica com que opinião ficaste sobre

o festival?

D: Da nossa parte só podemos elogiar, tudo correu bem connosco

desde as condições em palco, ao sound check, aos

camarins, a maneira como fomos recebidos, o catering, foi

tudo óptimo e correu às mil maravilhas, foi sublime, muito

além daquilo que poderíamos ter imaginado.

(*) Jornalista

Saúde

Bronquiolite:

primeira vacina injectável do mundo para bebés aprovada na França

Um fisioterapeuta dá uma massagem respiratória

a um bebé de nove meses com bronquiolite

Swissinfo (*)

AMYCHELE DANIAU / AFP

Um avanço médico sem precedentes: a

empresa francesa Sanofi anunciou na

sexta-feira 16 de Setembro que a Agência

Europeia de Medicamentos tinha

dado a primeira luz verde à sua vacina

contra a bronquiolite em bebés. Uma vacina

anterior já existia, mas estava reservada

para bebés prematuros e bebés de

alto risco.

O laboratório francês Sanofi, em parceria

com a empresa sueco-britânica AstraZeneca,

desenvolveu uma vacina contra a

bronquiolite que pode ser injectada em

todos os bebés com menos de um ano de

idade. Esta é uma estreia mundial que recebeu

luz verde da Agência Europeia de

Medicamentos (EMA) na sexta-feira 16 de

Setembro.

Os laboratórios estavam numa corrida até

à meta, com cerca de 30 projectos semelhantes

em curso em todo o mundo. A

vacina injectável da Sanofi e da AstraZeneca

está, portanto, na liderança. Este é

um enorme desafio porque todos os anos,

500.000 bebés em França são infectados

com o vírus sincicial respiratório (RSV) que

causa a bronquiolite. O surto do ano passado

foi sem precedentes e os hospitais foram

sobrecarregados. A nível mundial, há

60.000 mortes infantis por ano.

Um anticorpo em vez

de uma vacina

Em vez de uma vacina, a solução injectável

da Sanofi-AstraZeneca é um tratamento

preventivo, um anticorpo monoclonal que

protegerá os bebés com menos de um ano

de idade durante todo o período da epidemia,

ou seja, o Outono e o Inverno. Reduz

as infecções em 75%. A ideia é que os bebés

ainda não têm um sistema de defesa

natural altamente desenvolvido, pelo que

o substituímos por este anticorpo. Já existia

uma vacina contra a bronquiolite, mas

era menos eficaz e estava reservada apenas

para os bebés prematuros e os de alto

risco. Isto será para todos os bebés com

menos de um ano de idade.

Infelizmente, o tratamento não estará

disponível este Inverno, uma vez que o

prazo é demasiado curto, uma vez que a

epidemia geralmente começa no Outono,

dentro de algumas semanas. E agora são

necessários vários meses de procedimentos

regulamentares, pelo que não haverá

comercialização possível na Europa antes

da epidemia do próximo ano.

Um último esclarecimento: quando falamos

de bronquiolite, geralmente pensamos

em crianças, em bebés. Mas saiba que

a epidemia também afecta gravemente os

idosos todos os anos. Este novo tratamento

preventivo não se destina a eles. Mas

muitas empresas farmacêuticas estão a

desenvolver vacinas específicas contra a

bronquiolite para os idosos.

Foto: DR

Timor Leste:

Presidente apela a nova

política de drogas

João Costa

O presidente de Timor-Leste e antigo laureado com o Prémio

Nobel da Paz, José Ramos-Horta, apelou ao Parlamento

Nacional, na passada quinta-feira, por uma nova

política de drogas para Timor-Leste, dando Portugal

como exemplo. Horta defendeu políticas mais informadas

e sem os preconceitos do passado: “É necessária a diferenciação

entre a canábis e outros narcóticos”, afirmou,

alertando ainda para o perigo do consumo de tabaco e

noz de bétel no país.

“O debate em torno da política de drogas em Timor-Leste

precisa de avançar. Tem sido mal informado e depende de

preconceitos herdados do passado. Está desfasado da situação

em muitos outros países”, afirmou José Ramos-Horta no

Parlamento Nacional. “Ao rever as nossas políticas em matéria

de drogas, é necessária a diferenciação entre a canábis

e outros narcóticos. A canábis já não pode ser agrupada em

conjunto com as drogas perigosas, como as metanfetaminas

e a heroína”, sustentou o Prémio Nobel da Paz de 1996.

Ramos Horta é também membro da Comissão Global de

Política de Drogas, uma Organização Não Governamental

(ONG) composta por antigos líderes políticos, que defende

políticas mais justas.

O chefe de Estado usou o caso de recentes operações poli-

Outras edições desta revista podem ser lidos, aqui: https://tinyurl.com/LUSITANO-ZURIQUE

Leia estes e outros artigos em

WWW.CANNAREPORTER.EU

Saúde

ciais que levaram à detenção de alegados traficantes e

consumidores de canábis em Timor-Leste para criticar

a forma de actuação da polícia e a política de drogas

do país. “Reconsiderar a forma como lidamos com as

drogas poderia lançar as bases para soluções alternativas

produzidas localmente. A proibição punitiva nega a

Timor-Leste muitos benefícios: canábis medicinal, rendimentos

para agricultores, impostos, produtos de cânhamo,

e turismo”, enfatizou.

No que se refere à política de drogas, Ramos-Horta

deu exemplos de “políticas esclarecedoras” como as de

Portugal e as “políticas esclarecidas” de países como a

Tailândia e Malásia, relativamente ao uso medicinal da

canábis”.

“Na Europa, Austrália e EUA, o uso médico de canábis

tem tido um efeito positivo na prevenção do crime, na

saúde e na economia. Alguns estados dos EUA dependem

agora de impostos provenientes da canábis medicinal

para financiar as suas economias”, referiu. “Prevê-se

que a indústria legal da canábis nos EUA resulte

em breve em 128,8 mil milhões de dólares em receitas

fiscais e uma estimativa de 1,6 milhões de novos empregos.

O Fórum da Ásia Oriental estima que o valor de

mercado da canábis medicinal na Tailândia esteja entre

660 milhões e 2,5 mil milhões de dólares americanos

até 2024”, enfatizou.

Abuso de álcool, tabaco e noz de

bétel

Ramos Horta insistiu que Timor-Leste “não é uma sociedade

livre de drogas”, referindo que “o álcool e tabaco

estão em constante uso e abuso”. “Temos de ser abertos

e francos e aceitar que o maior e possivelmente mais

perigoso... narcótico utilizado actualmente em Timor-

-Leste é a noz de bétel. Temos de compreender os seus

efeitos positivos e negativos”.

A noz de batel, também chamada noz de areca, provém

da palmeira de areca, que pode crescer até 15 metros

de altura. No Sudeste Asiático, Ásia Oriental e Índia,

mastigar esta noz de areca tem sido procurado há séculos,

devido aos seus efeitos estimulantes, ligeiramente

eufóricos. Mastigar a noz durante muito tempo faz com

que se crie uma pasta vermelha, que dá a mesma cor à

saliva. Com o uso continuado, os dentes também ficam

coloridos de vermelho. A utilização da noz de areca a

longo prazo está associada a vários riscos para a saúde,

incluindo dependência, cancro e perturbações da flora

oral. Mastigar em combinação com álcool ou fumar cigarros

aumenta o risco de complicações, mas o seu uso

está profundamente enraizado e é considerado uma

tradição.

O chefe de Estado referiu-se ainda às actuais políticas

de medicamentos que, considerou, “estão a ter efeitos

negativos sobre o direito das pessoas a cuidados de saúde”,

referindo que o acesso a certos analgésicos “tornou-

-se mais restrito, afectando aqueles que vivem diariamente

com dor”.

O CannaReporter é um projecto independente e

completamente suportado pela comunidade. Para

continuar a desenvolver este projecto, o apoio dos

leitores é fundamental. Torne-se apoiante do Can-

naReporter desde 3€ por mês!

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30

Lusitano de Zurique - OUTUBRO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - OUTUBRO 2022 | www.cldz.eu

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Legalização da canábis

na Alemanha é um processo

“muito complexo”

João Xabregas

A Alemanha está cada vez mais perto de legalizar a

canábis e a grande maioria dos partidos políticos já concordou

em dar o passo em frente. Mas a efectiva implementação

das políticas que irão regulamentar o sector

está a ser dificultada pelo direito internacional, pela burocracia

e pelas regras fiscais. De acordo com uma análise

publicada no orgão de comunicação alemão Deutsche

Welle (DW), os activistas querem que o processo seja

acelerado, apelando à descriminalização imediata, mas

para o governo o processo de transição poderá demorar

pelo menos mais um ano.

A questão envolve quase todos os ministérios do governo

alemão e o facto de estarem envolvidos tantos organismos

torna o processo legislativo “muito complexo”, disse

o comissário do governo para a droga e toxicodependência,

Burkhard Blienert, ao Deutsche Welle (DW). “Abrange a

agricultura, protecção dos jovens, policiamento, questões

fiscais e muito mais”.

O governo de coligação dos sociais-democratas de centro-

-esquerda (SPD), os verdes ambientalistas e os democratas

livres neoliberais (FDP) declararam que estão a introduzir

“o fornecimento controlado de canábis recreativa a adultos

em lojas licenciadas”. No entanto, transformar as intenções

em políticas práticas está a revelar-se “uma tarefa monumental”,

diz o jornal alemão.

“O objectivo é um conceito coerente que permita aos adultos

obter canábis em lojas especializadas licenciadas, assegurando

a protecção da saúde e a protecção dos menores”,

disse Blienert.

A maioria dos partidos concorda com a legalização e até

os democratas cristãos conservadores da CDU amenizaram

o seu discurso, confirmado à DW pelo deputado

da CDU e membro do comité de saúde do Bundestag,

Erwin Rüddel.

“Conheço cada vez mais colegas de partido que têm

uma visão cada vez mais diferenciada. Há este consumo

extensivo de substâncias. É por isso que precisamos

de proporcionar um acesso seguro àqueles que querem

consumir canábis de forma recreativa. Ganharemos

mais controlo do problema da droga desta forma do

que fechando os olhos”, afirmou.

Consumidores ainda são detidos pela polícia

Na Alemanha, um utilizador de canábis é apanhado

pela polícia e julgado pelo sistema judicial na Alemanha

a cada três minutos. As autoridades vão continuar a

aplicar a lei dos estupefacientes e podem passar vários

anos até existirem de facto lojas especializadas com licença

para vender canábis. É exactamente por isso que

os activistas estão a pedir que o consumo de canábis na

Alemanha seja descriminalizado imediatamente.

O mais recente relatório sobre crimes relacionados com

droga do Departamento Federal de Polícia Criminal revela

que apenas um em cada seis casos de infractores

relacionados com canábis tem, efectivamente, a ver

com tráfico de droga. A maioria dos casos é apenas o

típico “delito relacionado com o consumo”, ou seja, não

são os traficantes ou o peixe graúdo que são apanhados

na rede da proibição, mas apenas os “stoners”.

Burkhard Blienert critica, porém, o apelo à descriminalização

imediata, dizendo que pretendia algo mais

abrangente. “Eu quero um mercado regulamentado. A

descriminalização vai a par com isso”, enfatizou o comissário

da droga. “É melhor não decompor agora as coisas

em elementos individuais, mas sim pensar em tudo em

conjunto”, afirmou.

Milhões de consumidores = milhares de milhões em

impostos

Baseado em Dusseldorf, o economista Justus Haucap,

disse também à DW que a legalização irá afectar cerca

de 4 milhões de pessoas que consomem canábis na Alemanha,

a maioria delas apenas ‘ocasionalmente’. “Tentámos

avaliar o que isso significa, em termos da quantidade

de canábis. Esperamos um volume de mercado de

cerca de 400 toneladas, que está avaliado entre 4 e 5 mil

milhões de euros”, afirmou. Os números foram apresentados

numa audição de peritos no Ministério da Saúde

no início deste ano.

Num relatório, realizado em 2021, Haucap calculou as

possíveis receitas de impostos e contribuições para a

segurança social, bem como as poupanças feitas pela

polícia e pelo sistema judicial (que ocorrerão quando se

deixar de processar os utilizadores).

Cerca de 200 peritos (alemães e internacionais), incluindo

Haucap, reuniram-se durante cinco dias para discutir

a legalização da canábis. “A coisa mais surpreendente

para mim foi que quase nunca discutimos o ‘se’, apenas

o ‘como’”, descrevendo o diálogo entre os vários grupos,

“que têm interesses bastante diferentes”, como

aberto e construtivo.

O caminho a seguir é tão ambicioso quanto incerto.

“O acordo é que o governo federal adoptará pontos-

-chave no Outono e elaborará uma lei com base nisso.

Será então deliberada no parlamento. Prevejo que isto

acontecerá no próximo ano. Quando é que a lei será

aprovada e entra em vigor? Isso está nas mãos do Parlamento”,

disse o comissário Blienert.

Até lá, muitas questões precisam de ser resolvidas,

mas uma delas é fundamental: de onde virá a canábis?

O representante da indústria, Heitepriem, vê pouco espaço

para o comércio internacional e a importação de

cultivadores tradicionais como Marrocos ou o Líbano.

“As convenções das Nações Unidas impedem-nos, tal

como os regulamentos europeus”, disse Heitepriem,

acrescentando: “Partimos do princípio que terá de haver

produção no país, pelo menos inicialmente. Isto requer

um enorme investimento e, sobretudo, um prazo

de ano e meio a 2 anos para assegurar as capacidades

de produção necessárias”.

Contornar as Convenções da ONU

A Convenção das Nações Unidas sobre Estupefacientes

também preocupa Burkhard Blienert. “Até agora,

os acordos internacionais têm sido lidos de tal forma

que a canábis deve ser estritamente perseguida”, observa,

salientando que uma das convenções relevantes

da ONU data dos anos sessenta. “Foi uma época diferente.

Mas se agora se quiser avançar para uma nova

era, com novas políticas em torno das drogas e da toxicodependência,

que também servem as políticas de

saúde modernas, então é necessário conduzir debates

e discussões – incluindo sobre como estes acordos devem

ser entendidos em 2022”.

No seu mais recente relatório anual, em Março, o Conselho

Internacional de Controlo de Estupefacientes

(INCB), que monitoriza as convenções da ONU sobre

drogas, deixou claro: “As medidas para descriminalizar

o uso pessoal e a posse de pequenas quantidades de

drogas são consistentes com as disposições das convenções

sob controlo de drogas”. Ao mesmo tempo,

sustentaram que a legalização de toda a cadeia de

abastecimento, desde o cultivo até ao consumidor,

viola as convenções de controlo de drogas.

No entanto, dois países – Uruguai e Canadá – já legalizaram

o cultivo, comércio e distribuição de canábis,

tal como o fizeram 22 estados nos EUA. As “violações”

das regras da ONU não acarretaram quaisquer consequências

significativas. Haucap vê um forte movimento

internacional em direcção à legalização da canábis.

Uma vez que a Alemanha é o país mais populoso da

Europa, os seus vizinhos seguem com grande interesse

os desenvolvimentos, de acordo com Haucap: “Se

a Alemanha criar um mercado legal para a canábis,

penso que isso enviaria um sinal muito positivo”.

32

Lusitano de Zurique - OUTUBRO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - OUTUBRO 2022 | www.cldz.eu

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O paradoxo da legalização

da canábis em Espanha

Laura Ramos + João Xabregas

Espanha é o país europeu que mais registou ofensas à

lei de drogas, apesar de ocupar apenas o terceiro lugar

no consumo, o que a encerra num paradoxo de legalização.

Em 2020, Espanha gerou 276.742 relatórios sobre

utilizadores de canábis, representando 43% do total da

Europa.

Há pelo menos 25 anos que Espanha vive numa espécie

de desobediência civil generalizada no que respeita ao

cultivo e consumo de canábis, nomeadamente através dos

tão conhecidos clubes sociais ou dos inúmeros bancos de

sementes — o que poderá causar uma falsa percepção a

quem olha para este país de fora.

De acordo com dados do relatório de 2022 do Observatório

Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT),

de todas as ofensas à lei de drogas registadas na Europa

foram, 43% foi aplicado aos consumidores espanhóis,

num total, 276.742 registos. Desse total, a grande maioria

(258.379) refere-se a intervenções pelo consumo ou posse

de canábis, sendo que apenas 18.363 foram respectivas

à venda ou tráfico. Apenas a Alemanha se aproxima de

Espanha nesta estatística, com 227.958 registos relacionados

com ofensas por canábis, seguida de longe pela Turquia,

com 59.716 relatórios.

Portugal surge em oitavo lugar no ranking, com 5.336 registos

por uso e posse de canábis e 1.464 por venda ou

tráfico, num total de 6.800 contra-ordenações. Os dados

contrariam a crença de que, em Espanha, o consumo de

canábis é menos “perseguido” do que em Portugal.

A Ley de Seguridad Ciudadana (Lei de Segurança do Cidadão),

mais conhecida em Espanha como “Lei da Mordaça”,

é uma das responsáveis por este paradoxo, que já dura

há pelo menos duas décadas. Apesar de liderar as tabelas

do relatório da EMCDDA em termos de ofensas por uso e/

ou posse de canábis, Espanha não é o país europeu onde

a planta é mais consumida. Segundo o portal Statista, é

a República Checa que lidera o ranking do consumo de

canábis, , com 11,1%, seguida de França, com 11%. Espanha

tem 10,5% e Portugal surge na 17ª posição com 5,1%

da população a admitir o consumo de canábis.

Cruzando os dados obtidos pelo relatório do OEDT e a

tabela da Statista, apesar de a liderança em termos de

consumo pertencer à República Checa, este país apenas

registou 4.195 intervenções no uso de canábis em 2020,

62 vezes menos do que as que foram impostas em Espanha

no mesmo ano. Quase todos os países tinham já

implementados programas de regulamentação do uso de

canábis para fins medicinais, à excepção de Espanha, onde

apenas em Junho de 2022, o Congresso de Deputados Espanhol

aprovou a lei para o uso medicinal da canábis.

Estes dados indicam que, por cada 10 relatórios gerados

em toda a Europa pelo consumo (e não por tráfico), de

canábis, 4 são feitas em Espanha, o que fica muito próximo

de metade dos 600.802 relatórios criados nos 17

países europeus que forneceram dados ao OEDT, o órgão

consultivo da EU sobre este assunto, que tem a sua sede

em Lisboa, Portugal.

Sanções variam de país para país

A EMCDDA alertou o Cannareporter que o termo ‘relatório

por infracções à lei de drogas” abrange diferentes conceitos,

variando entre os países. “Os delitos de drogas geralmente

referem-se a delitos como produção, tráfico e tráfico

de drogas, bem como uso e posse de drogas para uso.

Embora em alguns países o uso de drogas e/ou posse para

uso não sejam considerados infracções penais e suscitem

sanções administrativas, os relatórios para estes foram incluídos

nos dados aqui apresentados”.

As unidades estatísticas variam entre os países. “Alguns

países registam ofensas, enquanto outros registam pessoas

(ou presumíveis infractores). Entre as infracções registadas,

algumas registam todas as infracções que lhes são

comunicadas, enquanto outras registam apenas as infracções

principais — ou seja, no caso de várias infracções cometidas

pela mesma pessoa, apenas a infracção mais grave

(normalmente aquela que implica a pena mais elevada) é

gravada”.

25 anos para regulamentar a canábis medicinal

Apesar de Espanha ter há cerca de 25 anos anos uma política

“amigável” no que diz respeito ao consumo adulto de

canábis, devido a uma “descriminalização” que daria origem

aos famosos Clubes Sociais, o uso medicinal da planta nunca

tinha sido legalmente reconhecido. Apesar de Espanha

ser um dos países mais vanguardistas no que toca à investigação

do uso de canabinóides para tratamentos de doenças

neurológicas e cancerígenas, os seus pacientes nunca

tiveram a possibilidade de ter acesso legalizado e regulado

a medicamentos à base de canábis.

Até à aprovação desta nova lei, qualquer paciente espanhol

via-se obrigado a navegar pelas zonas cinzentas da lei para

ter acesso a canábis, fosse através dos famosos Clubes Sociais,

que originalmente até foram criados para esse efeito

(e não propriamente com intuitos “turísticos”), ou então arriscando-se

a cultivar as suas próprias plantas, algo “tolerado”

pelas autoridades, desde que as mesmas nunca fossem

visíveis publicamente.

Foram necessários cerca de sete longos e árduos anos de

inúmeras e incansáveis reuniões

entre o Observatório Espanhol de

Canábis Medicinal (OECM), presidido

por Carola Pérez (e também

co-fundado pelos investigadores

Manuel Guzmán e Cristina Sánchez,

da Universidade Complutense

de Madrid), e os vários partidos

políticos espanhóis, a maioria dos

quais se opôs, até muito recentemente,

a qualquer iniciativa de

regulamentar o uso medicinal da

canábis.

“Por vezes estávamos muito optimistas

e outras vezes pessimistas,

porque em algumas fases parecia

que havia um beco sem saída”,

disse Guzmán ao Projecto CBD.

Patologias, farmácias e alguns médicos

fora da nova lei

Embora se estime que cerca de 300 mil pacientes espanhóis

possam vir a beneficiar da nova lei, à semelhança de

Portugal foram definidas apenas algumas indicações passíveis

de obter uma prescrição para canábis. Patologias como

a fibromialgia, doença inflamatória intestinal, caquexia

relacionada com o cancro ou o glaucoma foram deixadas

de fora, o que obriga a que os pacientes que delas sofrem

continuem a ter de recorrer ao mercado ilícito, aos Clubes

Sociais ou então a enveredar pelo auto-cultivo para a obtenção

dos seus medicamentos.

“Tudo pode ser melhorado”, reconhece Guzmán. “Claro que

gostaríamos que outras indicações tivessem sido incluídas…

Mas se me tivessem dito há dois ou três anos o que temos

agora, eu teria dito que é bastante bom”.

Ainda residem dúvidas sobre quais e como serão os pacientes

espanhóis capazes de adquirir os seus medicamentos

de forma legal, pois tudo depende de como a Agência Espanhola

de Saúde, a entidade equivalente ao Infarmed em

Portugal, interpretar as directrizes do projecto aprovado. O

limite para o fazer é até ao final do ano de 2022.

As novas directrizes do projecto de lei aprovado determinam

que as preparações à base de canábis, incluindo formulações

com diferentes rácios de THC:CBD preparadas

localmente em farmácias especificas para cada paciente,

serão prescritas por médicos especialistas e distribuídas por

farmácias hospitalares, embora Guzmán e os seus colegas

do Observatório esperem que isto se estenda também aos

Médicos de Clínica Geral e às farmácias comunitárias.

Outra das dúvidas é se as flores de canábis, que não são

propriamente mencionadas no projecto apresentado, serão

ou não incluídas no novo programa de acesso a canábis

para fins medicinais, o que está a suscitar algumas preocupações

entre os pacientes sobre como aceder às mesmas

por vias legais, especialmente os que já as utilizam para gerir

dores e náuseas.

Empresas licenciadas apenas irão exportar

Excluindo o facto de se um programa médico sobre o uso

de canábis pode ser realmente lançado em apenas seis

meses, Guzmán acredita

que o seu sucesso irá

depender do dinheiro e

recursos que lhe forem

afectados, pois será necessário

educar e formar

os médicos no que toca a

terapias com canábis. Os

próprios produtos devem

estar prontamente disponíveis

para prescrever

e serem consumidos. “Se

houver um regulamento

mas não houver produtos

ou não houver médicos,

então será inútil”, diz Guzmán.

O que leva a outro

factor também importante,

que é o custo que

estas prescrições e medicamentos vão ter para os pacientes.

Guzmán espera que a maior parte do custo acabe por

ser coberto pelo sistema de segurança social espanhol. No

entanto, caberá à Agência Espanhola de Saúde decidir, em

última análise, onde recairá o encargo financeiro.

“Nós (OECM) teremos de estar muito atentos se os pontos

principais são cumpridos”, diz Guzmán. “Ainda temos um

papel a desempenhar no processo, mas temos de continuar

a observar e ser tão activos quanto possível para termos o

melhor e mais generoso programa”.

O Governo espanhol também já autorizou e emitiu licenças

a várias empresas para o cultivo de “canábis medicinal”, porém

restritas à exportação para outros países, como Alemanha,

Reino unido e Polónia.

______________________________________________

* Artigo corrigido e aumentado a 19-09-2022, após declarações da

EMCDDA. Foram substituídos os termos “sanção” ou “multas” para

“registo” ou “relatório” por “ofensa a lei de drogas”, já que muitas vezes

são registadas apenas “sanções administrativas” sem qualquer

pena ou multa aplicada.

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Lusitano de Zurique - OUTUBRO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - OUTUBRO 2022 | www.cldz.eu

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AGENDA

AGENDA

Informações

MAPS

SEGUNDA-FEIRA - 3.10.

MUSEU DO RELÓGIO

A Suíça é uma terra dos relógios! Não

“Uhrenmuseum Beyer” em Zurique,

você conhecerá a história desta indústria

e verá relógios de colecionadores.

As visitas guiadas em alemão

acontecem maiores toda primeira

segunda-feira do mês, das 17:30 às

18:30. Após o passeio, os convidados

desfrutam juntos de um aperitivo. Seg-sex

14:00-18:00. É necessária uma

inscrição para as visitas guiadas. CHF

10.- (CHF 5.- para estudantes). Entrada

livre com o status de refugiado N/S/

F/B.

Uhrenmuseum Beyer Zurique. Bahnhofstr.

31.

Autocarro 2/6/7/8/9/11/13/17 bis “de

Paradeplatz”.

www.beyer-ch

TERÇA-FEIRA - 4.10.

OFICINA DE VOZ NO

TEATRO DA ÓPERA

Toda terça-feira à noite, você participa

de uma oficina de voz e pronúncia

na “Opernhaus”. Lá, você representará

pequenas cenas com um grupo, cantará

e assistirá aos ensaios da “Opernhaus”.

Para todas as pessoas a partir

de 16 anos de idade. 19:00-21:00. Entrada

livre.

Opernhaus. Sechseläutenplatz 1.

Autocarro 2/4 oder Autocarro 912/916

bis “Opernhaus”.

www.opernhaus.ch

QUINTA-FEIRA - 6.10.

APRESENTAÇÃO SO-

BRE O ISLÃO “Fórum der Religionen”

apresenta como diferentes

tradições religiosas. Hoje você aprenderá

sobre o Islã e a peregrinação

a Meca. Em seguida, você discutirá

com os outros participantes durante

um aperitivo. Inscrição obrigatória.

19:00. Participação gratuita.

Dzemat der islamischen Gemeinschaften

Bosniens Grabenstr. 7. Schlieren.

Eléctrico 2, Autocarro 201/302/303/308

oder S11/S12 bis “Schlieren, Zentrum/

Bahnhof”.

www.forum-der-religionen.ch

SÁBADO - 8.10.

FILME CHINÊS

A “trigon-film” é uma fundação suíça

de cinema que selecciona filmes internacionais

para as salas de cinema.

O filme chinês “Return to Dust” conta

a história de um casal chinês que

vive em uma vila pobre. O escritório

da MAPS soretia 3×2 entradas gratuitas

para este filme em todos os cinemas

parceiros “Trigon-Filme” na Suíça.

Basta ligar para: 044 415 65 89 ou

enviar seu endereço postal por e-mail

para maps@aoz.ch. Mais informações

em www.trigon-film.org.

www.trigon-film.org

DOMINGO - 9.10.

JARDIM DE ABÓBORAS

O Outono é a época das abóboras! Na

“Römerhof Jucker Farm” você encontrará

divertidas exposições de abóboras

e estátuas gigantes construídas

com abóboras. Vá com sua família e

faça caminhadas pelo campo. 08:00-

19:00. Entrada gratuita.

Römerhof Jucker Fazenda. Bülacherstr.

100.

Autocarro 732/734 bis “de Kloten,

Hohrainli”.

www.juckerfarm.ch

TERÇA-FEIRA - 11.10.

COZINHAR PRATOS DI-

NAMARQUESES

(TAMBÉM EM 25.10)

Você tem vontade de conhecer a culinária

de outros países? Uma associação

“Expo Transkultur” organização,

cursos de culinária de especialidades

internacionais. Cozinhe junto com

uma equipe e coma como refeições

preparadas. Hoje você vai conhecer

uma cozinha dinamarquesa! 10:00-

13:00. Participação gratuita, contribuição

espontânea.

GZ Hirzenbach. Helen-Keller-Str. 55.

O eléctrico 9 bis “Hirzenbach”.

www.expotranskultur.org

QUINTA-FEIRA - 13.10.

LABIRINTO DO FOGO

O calor fazer o verão acabou e agora

chegamos ao outono frio! Um “Labyrinthplatz”

celebra uma estação

fria do ano com um show de fogo!

Uma Praça do Labirinto será decorada

com fogo. O “Ensemble Musigruum

Winterthur” se encarrega da

música. 19:00-21:00. Entrada livre.

Zeughaushof. Labyrinthplatz.

O autocarro 31 bis “Kanonengasse”.

www.labyrinthplatz.ch

SEXTA-FEIRA - 14.10.

FESTIVAL DE CINEMA

ETNOGRÁFICO

O festival etnográfico “Respeito Bleu

Festival de Cinema” acontece hoje.

Assisten aos novos filmes de estudantes

etnográficos da Suíça e do exterior.

Em seguida, haverá um debate. A

partir das 18:00. Entrada livre.

Völkerkundemuseum. Pelikanstr. 40.

Autocarro 2/9 oder Barramento de 66

bis “Sihlstrasse”.

www.agenda.uzh.ch

SÁBADO - 15.10.

COLHEITA DE COGUME-

LOS

É novamente a época dos cogumelos!

Onde quer que haja uma floresta,

você pode colher cogumelos gratuitamente:

“Uetliberg”, “Höggerberg”,

“Käferberg”, “Züriberg” ou “Adlisberg”.

Na “Amtliche Pilzkontrolle” você

pode verificar se seus cogumelos são

comestíveis! Especialistas explicam

como procurar cogumelos, quais cogumelos

são comestíveis e até dão

receitas saborosas para pratos com

cogumelos! Ter/qui 18:00-19:00. Sab-

-dom 18:00-19:30. Gratuito. Atenção:

A colheita de cogumelos é proibida

entre os dias 1° e 10 de cada mês!

Amtliche Pilzkontrolle. Eggbühlstr.

21.

Autocarro 14 oder Autocarro 768 bis

“Felsenrainstrasse”.

www.stadt-zuerich.ch

DOMINGO - 16.10.

MUSEU DOS BRINQUE-

DOS

Você conhece a história dos brinquedos?

Descubra os brinquedos europeus

do século XVIII a meados do

século XX, no Museu de Brinquedos.

Seg-sex: de 14:00 às 18:00. Sáb 13:00-

16:00. CHF 7.-. Entrada gratuita com

ZürichCARD.

Zürcher Spielzeugmuseum. Altstetterstr.

127.

Autocarro 6/7/11/13/17 bis “de

Rennweg”.

www.zürcher-spielzeugmuseum.ch

SEGUNDA-FEIRA - 17.10.

PASSEIO PELAS ESTU-

FAS DOS TRÓPICOS

Quando lá fora chove e está frio, vale

a pena fazer uma visita às estufas dos

trópicos no Jardim Botânico da Universidade

de Zurique. Coloridas plantas,

flores e aromas exóticos fazem-

-nos esquecero Outono. Diariamente

09:30-16:45. Entrada livre.

Botanischer Garten. Zollikerstr. 107.

Autocarro 33/77 bis “de Botanischer

Garten”.

www.bg.uzh.ch

TERÇA-FEIRA - 18.10.

VISITA GUIADA NOC-

TURNA POR ZURIQUE

Quando a noite chega, descubra uma

zona medieval da cidade de Zurique.

Um guia vestido com traje de época

conta histórias terríveis sobre a Idade

Média em Zurique. Visitas guiadas públicas

em alemão. Inscrição necessária.

20:30. CHF 15.-.

Início: Lindenhof.

Autocarro 7/10/11/13 bis “de Rennweg”.

www.zuerich.com

QUARTA-FEIRA - 19.10.

MUSEU DA DOENÇA

Estamos na época do Halloween. O

“Moulagenmuseum” tem todo o gosto

em lhe provocar medo! Neste museu

pode ver partes do corpo doentes

feitas de cera. Qua 14:00-18:00. Sáb

13:00-17:00. Entrada livre.

Moulagenmuseum. Haldenbachstr. 14.

Autocarro 9/10 bis “Haldenbach”.

www.moulagen.uzh.ch

QUINTA-FEIRA - 20.10.

FESTIVAL DE ARTE DIGI-

TAL DE ZURIQUE

(20.10.-30.10.)

O desenvolvimento de novas tecnologias

também permite realize arte

de outra forma. Durante o “DAZ Arte

Digital Zurique Festival” diversos museus

e centros de arte de Zurique mostram

arte digital, como por exemplo,

no “Museum für Gestaltung” ou não

“Opernhaus”. Os visitantes podem

apreciar vídeos, concertos uo participar

em workshops com efeitos de

realidade virtual. O escritório da MAPS

oferece 3×2 entrada diários. Basta ligar

044 415 65 89 ou enviar um e-mail

para maps@aoz.ch.

www.da-z.net

SÁBADO - 22.10.

MERCADO DE FRUTA

Maçãs, peras, uvas... e muito mais! Hoje

no “Botanischen Garten” há um mercado

de fruta, onde pode encontrar

produtos de Outono, mas também peritos

que esclarecem as suas dúvidas

sobre fruta. 11:00-17:00. Entrada livre.

Zollikerstr. 107.

Autocarro 33 bis “de Botanischer Garten”.www.bg.uzh.ch

DOMINGO - 23.10.

VER FILMES EM CASA

O site não www.playsuisse.ch pode

ver gratuitamente filmes, documentários

e séries suíças e estrangeiras. Os

filmes estão disponíveis em várias línguas.

Gratuito.

www.playsuisse.ch

TERÇA-FEIRA - 25.10.

HISTÓRIA DE ARTE

É apreciador de história de arte e de

chá? Então que venha por às tardes

“Kunst zum Tee”! Enquanto tomam

chá e biscoitos, os participantes debatem

e apresentam diversos factos sobre

a história de arte, desde a Idade da

Pedra até aos dias de hoje! 15:30-17:00.

Participação gratuita.

GZ Hirzenbach. Helen-Keller-Str. 55.

O eléctrico 9 bis “Hirzenbach”.

www.expotranskultur.org

QUARTA-FEIRA - 26.10.

CONCERTO DE MÚSICA

POPULAR

Gosta do ambiente festivo com cheirinho

a Itália? Então apareça hoje à

noite no “Clube de Folk Züri” para o

concerto da banda italiana “eu Liguriani”,

que toca música tradicional da região

italiana da Ligúria. Bom ambiente

garantido! Abertura de portas: 19:30.

Concerto: 20:00. O escritório da MAPS

oferece 3×2 entrada. Basta ligar 044

415 65 89 uo enviar um e-mail para

maps@aoz.ch.

GZ Buchegg. Bucheggstr. 93.

Autocarro 11/15 oder Autocarro 32/72

bis “Bucheggplatz”.

www.folkclub.ch

SEXTA-FEIRA - 28.10.

DESFRUTAR DA SEXTA-

-FEIRA NA NATUREZA

É Outono! Altura ideal para dar um

passeio pela maravilhosa natureza

vermelho-amarelada. À volta de Zurique

encontra diversos percursos para

fazer caminhadas e jogging. Por exemplo,

o trilho “Dorfbachtobelweg”, com

10 km, no qual há uma queda de água

e até uma lendária gruta do dragão.

www.zuerich.com

SÁBADO - 29.10.

MERCADO NA ZONA

ANTIGA DA CIDADE

Procura um presente especial uo quer

simplesmente descobrir produtos suíços

locais? Então tem de ir ao mercado

“Rosenhof-Markt” na zona histórica

de Zurique. É também uma oportunidade

para dar um belo passeio pela

zona antiga de Zurique. Todos os Sábados

até 12.11. 10:00-18:00. Gratuito.

De Niederdorf Em Zurique

Autocarro 4/15 bis “Rathaus”.

www.rosenhof-markt.ch

DOMINGO - 30.10.

ELÉCTRICO NOSTALGIA

Já pensou como seria o eléctrico há

100 anos? No último fim-de-semana

de cada mês (excepto em Dezembro)

pode andar sem antigo carro eléctrico

com condutor vestido com traje histórico.

Basta apanhar o 21, o eléctrico

de museu, usando qualquer bilhete

válido na rede ZVV. Se desejar saber

mais sobre os eléctricos em Zurique,

visite o Museu do Eléctrico (on-line ou

no local)!

www.tram-museum.ch

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Humor - ”Quem não sabe rir, não sabe viver” Passatempo

brasileiro, todo feliz da vida foi patentear

sua mais nova invenção: a água em

O

pó ! É tão simples de se utilizar que só é

preciso acrescentar água .

m jornalista foi fazer uma reportagem a

Uum asilo de velhos e pergunta a um velhote

que estava sentado:

A que é que se deve a sua idade tão

-avançada?

Método, meu filho... Sempre tive uma

-hora certa para me deitar e para me levantar.

O nosso organismo é uma máquina

que precisa de método e horário. O jornalista

foi ter com outro e faz-lhe a mesma

pergunta, ao que o velho responde: -Sempre

evitei as mulheres, meu jovem! A seguir

pergunta a outro:

Eu nunca fumei, nunca bebi nem tive vícios

de qualquer espécie. A seguir o jor-

-

nalista descobre o mais velho, o mais acabado,

o mais enrugado de todos e muito

admirado pergunta:

Então, e o senhor, a que deve essa lon-

Nunca teve vícios, festas ou

-gevidade?

mulheres?

Qual quê! Eu nunca tive horário para

-

nada, muita borga, copos, fumava três

maços de tabaco por dia, jogo, mulheres

com força, noites e noites sem dormir, eu

sei lá que mais...

-

-

E

-

-

-

Então, e quantos anos é que tem?

Trinta e dois.

stava um velhote de gatas a olhar para

o chão, chega uma pessoa ao pé dele e

pergunta-lhe:

O senhor perdeu alguma coisa?

Perdi sim, um caramelo.

Então e o senhor está aqui de gatas

há tanto tempo por causa de um caramelo,

que importância pode ter um caramelo?

É que este tem os meus dentes agarrados!...

-

Manére e as Juaquina já estavam fartos

de ser pretos e queriam ser brancos.

O

Vai daí, o Manére pede às Juaquina para

comprar um pacote de lixívia. Despejam a

lixívia para uma celha e metem-se todos

lá dentro, Manére, Juaquina e os seus três

pimpolhos. Aí toca a esfregar com força,

mas... Nada, continuaram pretos e com algumas

dores adicionais. O Manére pensa

e pede à Juaquina para comprar aguarrás

e... O mesmo resultado. Pensa novamente

e compra um balde de cal. Chegado à

palhota, ele e a Juaquina tomam banho

na cal e ficam brancos e de imediato chamam

os pimpolhos para os tornar brancos,

mas, depois dos maus tratos infligidos anteriormente,

eles recusam-se a embarcar

na nova experiência. O Manére para a Juaquina:

-

Porra!!! Ainda num há cinco minutos qui

nós é branco e nós já está a ter chatices

com os sacana dos preto!!!.

stavam 10 pretos no cinema, a mascar

Echiclas de menta. De repente levantam-

-se todos, e atiram as chiclas contra a tela.

Como se chama o filme?

R: Os dez mandamenta.

m antigo herói revolucionário, Vasily Iva-

Chapaev, e o seu fiel ajudante de

Unovitch

ordens, Pyetka, estavam a saltar de pára-

-quedas:

”Estamos a 100 metros do solo”, exclamou

preocupadamente Pyetka, “puxe a

-

corda para abrir o para-quedas, Vasily Ivanovitch.”

“É cedo ainda,” respondeu calmamente

- Chapaev.

”Agora faltam apenas 50 metros,” gritou

- Pyetka. “Puxe a corda agora”

”Calma, Pyetka, ainda falta muito tempo”

- exclamou Chapaev, tão calmo quanto da

outra vez.

”Só faltam três metros,” gritou Pyetka.

-“Puxe a corda.”

“Só três metros ?... Então não se preocupe,”

comentou Chapaev. “Desta altura eu

-

não preciso de um pára-quedas para saltar.”

o meio de uma violenta tempestade,

Nmarcada por raios e trovões, um argentino

sai para a chuva. Alguém passa pelo

local, estranhando a situação do argentino

e pergunta-lhe:

O que está aqui a fazer? porque não sai

-do meio da tempestade ?

Não posso, estou à espera que Deus me

-tire uma fotografia.

inglês aristocrático liga para sua casa

O à noite. Como de costume, o mordomo

(cujo nome é sempre James) atende lentamente,

com classe e sobrancelhas arqueadas:

Yes, “sar”!! -James?? - Yes, “sar”!! - Por

-obséquio, James, dirija-se ao quarto de

Lady e verifique cuidadosamente se ela

se encontra em presença de seu amante.

Aguardo ao telefone. -Yes, “sar”!! Então o

mordomo sobe dois lances de escada cuidadosamente,

vai até o quarto do casal e

ouve sons..sinistros. Desce silenciosamente

e volta ao telefone

Sir?? -Pois bem, James, ele está lá? -Yes,

-

sir!! -Hmmm... Faça o seguinte, James:

Vá à sala de estar, pegue o rifle de caça,

carregue-o e mate os dois. Depois volte

ao telefone que lhe darei mais instruções.

-Yes, sir!! O mordomo pega o rifle, sobe as

escadas e BAM!!! BAM!!! destroça os pombinhos.

Volta ao telefone e diz: O.k., sir. Tudo

realizado a contento. -Muito bem, James.

Agora, por favor, jogue os corpos na piscina

e limpe o quarto. Chegando a casa eu

acerto os detalhes. -Mas... sir... nós não temos

piscina em casa... - Não?!? Hmmm...

Desculpe-me, enganei-me no número!

Baptista Soares

(Endireita)

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POESIA

Romaria

Maria José Praça

Enfeitei-me com brincos de cereja

Pus um colar de bolas de azevinho

Pintei a cara com sumo de morangos

E perfumei-me com chá de rosmaninho

Ao vento, ao som do peito, era a blusa

Que em bordados d’espigas se vestia

E os lábios de medronhos com papoilas

Rezavam à Senhora d’Agonia

A saia que vestia volteava

Com filigranas de sol brilhando ao mundo

Eram chinelas d’asas que a voavam

Ao som do campanário a tocar fundo

Novos e velhos

oesia

Soavam estrelas à volta do coreto

Que bramiam do pulso ao fim de mim

E o canto dos foguetes e da banda

Escorria para o rio em trajes de clarim

Para lá de cantos ou valsas de Viena

Mais do que violinos ou harpas de cetim

Soavam chulas, fandangos, corridinhos

Modas e viras do ventre da raiz

Comi farturas douradas com canela

Comprei cavacas, regueifas e alecrim

E em coração aos molhos d’algodão doce

Olhei do chão um balão no céu de mim

E n’esse passo do olhar solto em magia

Solltei-me à Lua Cheia d’esse dia...

Maria José Praça

(“Pedras do meu andar ° 126080 da SPA)

-Vila Nova de Cerveira, ao chegar de Caminha

-

Na Praia

Carmindo

de Carvalho

Água em ondas

Que chegam e ronronantes

Enroscam-se na areia

Como carinhosas amantes.

Gente a fervilhar

A caminhar.

Riscos, desenhos

Mensagens e pégadas.

De joelhos

De rabo pró ar

A brincarem

Às fortalezas

Castelos e muralhas.

Corpos esbeltos

Deitados a tostar!

Corpos balofos, gelatinosos

Com tudo a baloiçar!

Barrigas de grávidas

E de pançudos

Quase a rebentar.

Banhas a gingarem no ir

E no vir

Para dentro e para fora

Nos passos

Vacilantes e desengonçados

Como bomba

Ausência Breve

Pedro Barroso

x

1950 - 2020

Uma íntima e anunciada ausência permite-me

experienciar uma invulgar solidão

com tranquilidade e compromisso. Mesmo

sabendo que é uma ausência provisória,

sobra-me a casa imensa, demais para mim,

chamando pelas horas longas do acontecer.

Tão breves e falsas sempre, as horas.

Lentas, quando as queríamos céleres.

Fugazes, quando as queríamos perenes.

Aproveito para o jogo interior de organizar

a poesia que há dentro dum projecto que

se aproxima. E organizar-me em mim, que

sempre na escrita me perco, me espelho e

me transbordo.

Tudo feito devagar, que chove um dia proibido

e mole.

Lá longe, das Caraíbas, amigos telefonam, felizes,

lembrando o Verão intenso e abolerado

onde se estendem. Trocando o frio pelo sol.

Não me apeteceu, desta vez, ir a parte alguma.

Ficar e ser interior, também tem o seu encanto;

vasculhar nas gavetas imensas do pensar.

Ou deveria dizer intensas. Não sei.

Sobrevivo na interioridade plena desse amealhar

confidencial, desse reflectir pessoal.

E fujo da frivolidade pública. Tento. Sem fotos

de vaidade, nem certezas grandes, nem

indulgências plenas.

Mas atento. Procuro muito ouvir o que os outros

dizem. E depois reflectir.

Pensar é sinceramente, um desporto em

que falharei imenso nos remates, mas de

que continuo a gostar muito. Por cá, à minha

volta, na cidade grande, a chuva torna o

Natal uma indústria omnipresente, cansativa,

luzida e opressiva. Somos tão pequenos,

perante os constructos que nós próprios

fabricámos do maravilhoso. Tristes por não

comprarmos tudo na feira luzida dos presentes.

E as ruas brilham em desafio no asfalto

molhado.

Tudo uma óbvia e imensa construção de mitos

e deslumbres. Cuidado, penso eu. A vida

não é este júbilo datado e “jinglebélico”.

Quero lá saber do Verão do outro lado do

mundo. Sejam felizes.

A grande Luz, creio, é sempre outra. A que

nos ergue outro planeta. E em todo o sonho

que a ele nos conduz.

Embora não seja ainda nele que mora a catedral.

A prodigalidade. O jardim de poetas. O entendimento.

A luz.

O mais belo de tudo-creio ter percebido é,

sobretudo, o caminho.

O remoto, mas sabido e que dos outros,

mesmo longe, vamos sabendo. E o outro.

Interior e profundo, o tal que mora em nós.

Esse sim, mesmo em dias de bátega sofrida,

e de ausência, esse vale a pena. Embora conte

os dias. Fazes-me falta.

Sempre.

TRIBUTO AO BOMBEIRO

Euclides Cavaco

Nobre soldado da paz

Duma audácia desmedida

Pelos outros é capaz

Pôr em risco a própria vida.

Arrojada profissão

Que só o bem simboliza

Por nos dar a protecção

Quando dele se precisa.

Quase a explodir!

Hoje, esta praia

É uma grande feira

Onde alguns mostram

O que têm com muita vaidade.

E onde outros coitados

Tentam esconder ou disfarçar

O que têm para mostrar.

É o povo. Cada qual como é, ou como

pode ser.

Felizmente a viverem a vida em paz.

Praia de Armação de Pêra, 11 de

setembro, de 2022

Ser bombeiro é altruísmo

De insigne tenacidade

Gesto de puro humanismo

Protegendo a sociedade.

Com muito apreço e respeito

Pla sua missão suprema

Presto-lhe devido preito

Nos versos deste poema.

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Horóscopo

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CARNEIRO

Muita energia durante todo o mês. A única

coisa a que deve prestar mais atenção é à

ingestão de água, que deve ser abundante.

No amor terá muita necessidade de demonstrar

os seus sentimentos, podendo

chegar ao exagero.

Não encontrará a resposta que procura na

pessoa que ama.

No trabalho demonstrará muita actividade

e capacidade de improvisação para solucionar

alguns problemas.

TOURO

Marte em oposição à Lua representa um

momento de emoções intensas e conflitos

emocionais. Neste momento poderá ser difícil

lidar com o sexo oposto, embora fosse

bom nesta altura desse mais importância

aos aspectos positivos de qualquer relação.

Um trabalho que dava por

terminado, reaparecerá para

sofrer pequenas alterações

e ser melhorado na sua totalidade.

VIRGEM

Como está com uma certa

falta de concentração

nesta fase deve evitar tomar

decisões importantes

tanto nos negócios como

na sua vida pessoal. Poderá

sentir-se enervado sem saber

a causa. Este é uma boa

altura para se auto examinar.

BALANÇA

Necessitará dormir mais horas do

que tem dormido até aqui e o seu organismo

agradecerá se fizer alguma dieta

depurativa.

Horário

Seg. a Sexta. — 08h00 às 20h00

Sábado — 08h00 às 19h00

GÉMEOS

Haverá uma preocupação exagerada com a

saúde e com a estética corporal, podendo

chegar à obsessão. Continuará a pensar em

alguém do seu passado que deixou marcas

profundas na sua vida e a pessoa que está

actualmente consigo notá-lo-á.

A chegada de novos companheiros de trabalho

serão a desculpa para um rendimento

mais alto do que o habitual e também

para quebrar a rotina.

CARANGUEJO

Esta altura constitui já a passagem a um

momento mais tranquilo, mais interiorizado.

A passagem da Lua será responsável

por esta gradual transformação do seu

diálogo com o mundo. Pode trazer-lhe, por

um lado, uma súbita falta de confiança,

mas, por outro, um diálogo esclarecedor e

construtivo.

LEÃO

Se necessita tomar medicamentos, opte

pela via natural, e melhorará a sua qualidade

de vida. Sairá com a pessoa que ama

mais vezes do que o habitual e procurarão

locais diferentes para os momentos de

mais intimidade.

A sua relação não passa por dos seus melhores

momentos e a pessoa que ama estará

em baixo de forma e necessitando estar

sozinha. Façam uma pausa no caminho!

Sentirá o apoio dos seus companheiros de

trabalho para realizar uma tarefa que é da

sua responsabilidade.

ESCORPIÃO

Está a entrar num momento de grande

descontracção, sobretudo devido à sua

paz interior. Terá uma real sensação de

segurança, tranquilidade, sem a preocupação

de assuntos pendentes que noutras

alturas, embora nem sejam significativos, o

deixam insatisfeito.

SAGITÁRIO

As costas e os órgãos sexuais poderão dar-

-lhe algum problema que será de fácil solução

se consultar o médico a tempo.

Uma ligeira indisposição deixará a pessoa

que ama em baixo de forma, mas saberá

como levantar-lhe a moral e o ânimo.

Assumirá responsabilidades que não são

suas e saberá ultrapassar as dificuldades

que surgirem.

CAPRICÓRNIO

Embora possa sentir uma maior vontade

de tirar mais partido da casa e da família,

vai ser aí onde as coisas se poderão mostrar

um pouco mais atabalhoadas, menos

harmoniosas ou menos controladas.

AQUÁRIO

Respire mais ar puro e melhorará grandemente

a sua saúde. Corrija posições incorrectas

no trabalho. A pessoa que comparte

a sua vida, comparte também os seus gostos

e juntos poderão viver momentos de

muita cumplicidade.

Começa uma nova etapa profissional que

estimulará a sua competitividade e dará a

conhecer as suas capacidades.

PEIXES

Durante este trânsito de Mercúrio pode

tomar iniciativas, mas prepare-se para defender

as suas ideias com unhas e dentes.

Da sua convicção e determinação poderá

nascer a vitória. A insatisfação e intranquilidade

que agora sente é passageira, ainda

assim, no entanto, preferirá o isolameW

Recolha e adaptação:

Joana Araújo

Grande variedade

de carnes fresca,

todos os dias!

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Tel: 044 945 02 20 | 044 945 02 21

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ÚLTIMA

Breves da Suíça (*)

Suíços vão aumentar a

idade da aposentadoria

das mulheres

De acordo com as projeções

para a votação deste domingo,

o aumento da idade de

aposentadoria para as mulheres

de 64 para 65 anos

passaria com apenas 51%.

Casos de varíola dos macacos

chega na barra dos

500

A Suíça e o vizinho Liechtenstein

registraram mais de 500

casos de varíola dos macacos.

Carros a gasolina desaparecerão

das estradas suíças

Com o desenvolvimento do

mercado de carros elétricos

na Suíça, a principal questão

é saber: como carregar todas

essas baterias no futuro?

Suíça assina acordo para

compra de caças americanos

Autoridades suíças assinaram

um acordo com os EUA

para comprar uma frota de

caças F-35A.

Incêndio destrói restaurante

em alta altitude

Um restaurante construído a

3.000 metros nos Alpes suíços,

e um destino preferido

dos turistas de esqui, foi parcialmente

destruído pelo fogo.

Turistas russos continuam

vindo à Suíça

Os hotéis suíços registraram

61.214 diárias der turistas russos

até o final de julho.

Suíça revisa plano de lei C02

Após a rejeição de uma proposta

de lei climática no ano

passado, o governo suíço mapeou

novas mudanças na legislação.

Suíça acaba com vistos

acelerados para cidadãos

russos

O governo suíço decidiu na

sexta-feira deixar de emitir

vistos facilitados para os cidadãos

russos.

Parlamento suíço aprova

doação de óvulos

O Parlamento abre o caminho

para que as mulheres inférteis

recebam doações de

óvulos na Suíça.

Novartis vai gastar 300

milhões de dólares em

bioterapias

A empresa farmacêutica suíça

Novartis está investindo

$300 milhões ($288 milhões)

no desenvolvimento da bioterapêutica,

que inclui um

novo centro de biologia de

$100 milhões em sua sede na

Basileia.

Desenvolvimento aqui:

swissinfo.ch

(*) Autor escreve segundo

a variante brasileira da

Língua Portuguesa.

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