Lusitano de Zurique - digital
Lusitano de Zurique Outubro 2022
Lusitano de Zurique
Outubro 2022
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LUSITANO
de
ZURIQUE
[ OUTUBRO 2022 | Edição Nº. 293 | ANO XXVIII | Director: Armindo Alves | Director-adjunto: Manuel Araújo | Publicação mensal gratuita ]
EDIÇÃO
Rui
Nabeiro
merece ser céu
Pág.. 15
Campeonato
Mundial de
Futebol
Página 12 e 13
Foto:
Agência ECCLESIA
editorial
INTERNACIONAL
Comunidades
Espectáculo
Regresso à “normalidade” e
muitas preocupações.
Pág. 3
Crónica de Guerra - “Os baloiços
de Gorlovka” Pág.. 9
Festival Folclórico do CLZ
Pág.. 10
Reportagem - Grupos TAXI e
Purorock
Pág. 26 a 30
LUSITANO
de
ZURIQUE
EQUIPA EDITORIAL
Director: Armindo Alves
Jornalista CC15 A
Director-adjunto: Manuel Araújo
Jornalista 3000 A
EDITORIAL
Regresso à
normalidade?
Email: lusitanozurique@gmail.com
COLABORADORES
Alice Vieira, Aragonez Marques, Carlos Matos Gomes,
Carmindo de Carvalho, Costa Guimarães,
Cristina F. Alves, Daniel Bohren, Euclides Cavaco,
Graça Amiguinho, Ivo Margarido, Joana Araújo, Joaquim
Galante, Jorge Macieira, Luís Osório, Manuel
Araújo, Maria dos Santos, Maria José Praça, Nelson
Lima, Nelson Mateus, Pedro Nogueira.
EDIÇÃO, COMPOSIÇÃO E PAGINAÇÃO
Joana Araújo
Jornalista CC 11 A
Email: joanaaraujo@protonmail.ch
Centro Lusitano de Zurique
Armindo Alves
Director
Em editoriais anteriores, tenho escrito sobre o Covid e sobre as restrições pandémicas,
onde a nossa liberdade nos foi suprimida. Foram tempos difíceis.
Hoje, e fazendo fé nas autoridades de Saúde, parece termos conseguido, de
novo, voltar quase à normalidade!
Foi o fim do isolamento, das máscaras e de outras restrições, podendo assim,
desta forma, movimentar-nos e vivermos como o fazíamos há três anos, antes
da pandemia!
Assim, desta forma, conseguimos voltar aos nossos eventos festivos. Para começar,
tivemos o nosso Festival de Folclore, o primeiro grande evento após
a pandemia. Foi um festival de grande sucesso, muito bem organizado pelo
novo responsável do Rancho, o Zé Azevedo, um homem da casa, desde há
muitos anos. Chegou comigo ao CLZ no início da década 90 e ninguém melhor
q ue ele sabe o que é o Folclore, pois, cresceu no nosso rancho. O Folclore
corre-lhe nas veias, sabendo perfeitamente o que a “casa gasta”.
Como sabemos que o futuro está nos jovens, por isso, o grupo dele aposta nos
jovens com vista à preservação das nossas raízes, para que a nossa Cultura se
mantenha acesa e viva neste país que nos acolhe!
PUBLICIDADE
Tel.: 079 222 09 14
Email: pub.lusitano@gmail.com
IMPRESSÃO
Diário do Minho - Braga
Tiragem: 3000 exemplares
Periodicidade: Mensal
Distribuição gratuita
ARQUIVO DIGITAL:
https://tinyurl.com/gavetao
NOTA IMPORTANTE:
Os artigos assinados reflectem tão-somente
a opinião dos seus autores e não vinculam
necessariamente a direcção desta revista.
Apoio
Por discordância, esta publicação
não adopta, nem respeita as normas
do novo inútil Acordo Ortográfico.
1984 - 2022
38
anos
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acabe. Faça parte da Família,
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DEPARTAMENTO DE FUTEBOL
Tel.: 079 222 09 14
Email: armindo.alves@garage-
-mutschellen.ch
RANCHO FOLCLÓRICO
Tel.: 076 369 85 00
Email: rancho@cldz.eu
Vivemos num mundo complexo em fase de mudança, o alastramento da
Guerra a nível global é uma hipótese. Ninguém sabe o rumo que vai levar. A
incerteza impera. Esta guerra nos países vizinhos ameaça-nos e está em escalada
constante. As notícias que os meios de comunicação social “oficiais” nos
facultam, são habitualmente enviesadas/truncadas. A notícia da página nove
desta edição é prova disso.
Numa guerra não há santos; são todos culpados e não são apenas os intervenientes
directos que sofrem com ela. Um Inverno terrível aproxima-se. Veja-se
o que acontece actualmente com os combustíveis e com o custo de vida,
aqui, e em toda a Europa. Isto é apenas o início...
Estou deveras preocupado com o nosso futuro, principalmente com o da juventude,
porque serão eles os homens e mulheres de amanhã, que tomarão
as rédeas do Mundo, devendo por isso, sempre pensando positivo, prepará-
-los inteligentemente, para enfrentar a incógnita que está para vir!
RESTAURANTE (reservas)
Tel.: 044 241 52 15
PROPRIEDADE
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CENTRO LUSITANO
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Risweg, 1
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Motores
Motores
serviços (Consumer Reports) diz que
uma boa forma de saber como escolher
um bom mecânico é através de
pequenos testes, em coisas simples.
Em vez de esperar que o seu carro
precise de grandes reparações.
Para não correr grandes riscos faça
a manutenção nas oficinas que lhe
parecem ser de qualidade. Assim vai
conhecendo e avaliando o serviço,
sem ter que correr grandes riscos e
poderá evitar grandes reparações.
5. Preço e conveniência
Por último, um factor que em norma
leva a definitivamente escolher uma
oficina de confiança, temos a análise
de preços e de conveniência.
Uma boa oficina em norma não o
surpreenderá com grandes custos,
nem com grandes atrasos. Fará sempre
com que o serviço prestado lhe
seja conveniente, por exemplo, não
tenha de pagar serviços de que não
sejam necessários.
(*) Eidg. Dipl. Automobildiagnostiker
Geschäftsführer/Serviceleiter/Verkauf
DICAS PARA ESCOLHER
UM MECÂNICO/OFICINA
Armindo Alves (*)
Todos nós temos amigos em quem
confiamos e que nos estão muito
perto, não esquecendo os nossos
amiguinhos de quatro patas, mas no
texto que escrevo não vos vou falar
dos animais de estimação que penso
que seria um bom tema, mas não é
a minha praia, vou aqui abordar os
nossos amigos de quatro rodas.
Quando estamos doentes vamos a
um médico para nos tratar ou quando
o de quatro patas está doente fazemos
uma visita ao veterinário, no
entanto, quando é o nosso automóvel
a consulta é realizada na oficina.
Apesar de ser uma máquina os carros
de vez enquanto também tem que ir
ao “médico” mais precisamente ao
mecânico. Para o Automóvel estar
apto e em boas condições necessita
de ser periodicamente controlado,
as visitas à oficina são inevitáveis ao
longo da vida dos companheiros de
quatro rodas.
Como em tudo, no mercado da mecânica
temos bons e maus mecânicos,
assim como oficinas fiáveis e
outras menos fiáveis e como queremos
estes amigos em boas mãos, escrevo
aqui algumas dicas que o podem
ajudar a saber que entrega o
seu carro a alguém de confiança.
Em norma ou automóveis é um dos
bens mais valiosos que temos e
como tal, é preciso saber como escolher
um bom médico, um mecânico
de confiança, entregar a alguém
a quem tratará com amor e carinho,
digamos que o tratará como deve
ser.
5 DICAS PARA ESCO-
LHER UM MECÂNICO/
OFICINA DE CONFIANÇA
1. Fazer uma pesquisa
Hoje em dia a maioria das pessoas
pesquisa online, uma coisa que não é
errada, mas às vezes, eu direi mesmo
que as pessoas usam a plataforma
online mais para se lamentar e avaliar
as más experiências. As boas experiências
guardam-nas e são comunicadas
de boca em boca, sendo uma
boa oficina, um bom mecânico, normalmente
referenciado por alguém
que conhece.
Temos os Fóruns online, nos quais alguns
deles(nem todos) podem também
ser uma excelente fonte de informação,
depois temos intercâmbio,
poderá sempre trocar experiências
com outros automobilistas.
2. Avaliar as infra-estruturas e a
limpeza
Uma oficina limpa e organizada em
norma indica que quem lá trabalha
tem experiência, é cuidadoso, dá
atenção a pequenos pormenores, e
tratará bem do seu automóvel.
3. Procure oficinas autorizadas
As Oficinas autorizadas tem um nome
a defender, tem que preencher certas
normas de qualificação, os mecânicos
tem formação, a oficina tem que ter
um certo equipamento de diagnóstico
e por norma trabalham com uma
ou mais marcas. Além da formação,
trabalham com peças de qualidade e
com garantia. A formação garante-lhe
um serviço de qualidade.
No tempo em que o seu automóvel
ainda tem garantia da marca, deve
dar prioridade a oficinas autorizadas.
4. Fazer pequenos testes
A organização que ajuda os consumidores
a perceberem os produtos e
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Rue de Lausanne 67/69, 1202 Genève
Tel: Genève - 022 9080360 I Tel: Zurique - 078 6002699 I Tel: Lausanne – 078 9152465
email: geneve@cgd.pt
A Caixa Geral de Depósitos, S.A. é autorizada pelo Banco de Portugal.
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Recantos helvéticos
Opinião
“não é com vinagre que
se apanham moscas”
Rütli
Maria Dos Santos
Estamos a chegar ao final de Setembro
e as agradáveis temperaturas, ainda
fazem parte dos nossos dias.
Há anos que não tínhamos desfrutado
de um Verão tão longo. Se por um
lado nos trouxe boas energias, por outro
lado, sabemos que para a natureza
não é a melhor opção. Os glaciares estão
a derreter e a devolver às famílias,
pessoas desaparecidas há longos anos.
Ainda esta semana foi encontrado um
corpo, que era procurado há trinta anos.
Desta vez decidi alterar o meu passeio
dos Recantos Helvéticos, entre o comboio
e o barco.
O destino era o lago dos quatro Cantões,
que abrange, Obwalden Nidwalden,
Lucerne, Schwyz e Uri. Uma das
montanhas que se deixa ver uma grande
parte do trajecto de barco, é o famoso
Pilatus. Como podeis ver na fotografia
que acompanha este texto.
O meu destino era Beckenried. A primeira
paragem em Grütli, foi para
desfrutar das maravilhosas cascatas
Risleten. Senti-me no paraíso. Como o
caminho até lá não é dos mais fáceis,
éramos poucos os que ali se sentaram
para admirarem aquele que é um dos
fenómenos da natureza. Entre o som
das quedas de água e alguns passarinhos
que por ali habitam, a meia hora
que ali passei foi de profunda reflexão.
Ver aquela água deslizar até ao lago, foi
sentir que a vida é isso mesmo. Passa
a uma velocidade por vezes incontrolável.
Mais uma vez foi-me impossível não
pensar na guerra que se instalou desde
o 24 Fevereiro 2022 e que pouco a pouco
nos faz a vida cada vez mais difícil.
De mochila às costas rumo até o cimo
da montanha de Follen, onde a visão
do lago dos quartos cantões é sublime.
Ao fundo tenho a vista sob o grande
e pequeno Mythen, que me acompanham
na descida até Schwyzois, sempre
imponente devido à sua forma e tamanho.
Contorno os pés de Seelisberg,
que será o meu próximo destino.
Caminho até Rütli, uma cidade marcada
pelo famoso encontro entre os
três homens, Arnold de Melchtal, Walter
Frürst e Werner Stauffacher que
na Schwurplatz em 1307 prometeram
criar a que é hoje a Confederação helvética.
Um local carregado de história,
que para mim, é a verdadeira História
que ali começou e que permanece
um dos lugares mais procurados pelos
turistas e todos os que se interessam
pelas origens desta Suíça que um dia
escolhemos para viver. Continuará a
ser um Mito este famoso ponto Suíço,
o certo é que todos os que por ali passam,
merendam e alguns como eu, até
abrem uma garrafa de champanhe...
forma que tive de agradecer tudo o
que conquistei até agora nesta Confederação
helvética, que, se por cá não
tivesse passado, não teria construído as
minhas memórias da forma que sempre
quis e não me teria transformado
na mulher que sou.
Vá visitar esta cidade de Rütli, não precisa
de caminhar quatro horas, com um
desnível de setecentos metros. Pode ir
de carro de barco ou comboio e depois
beber um copo naquela que é a praça
dos juramentos. Lembre-se que este lugar
está associado ao Pacto Federal de
aliança perpétua, data de 1291 entre os
cantões de Uri de Schwyz e Unterwalden.
Se não gosta de multidões, não visite
este local no dia 1 Agosto, dia da Confederação
Helvética.
Não devemos deixar a Suíça, sem visitar
e conhecer este belo País. Quando
envelhecermos, teremos certamente
muitas histórias para contar do percurso
pela vida.
Manuel Araújo
Tendo como ponto de partida a personalidade
da capa desta edição, leva-me
a esta breve reflexão sobre algumas
qualidades dos portugueses.
Não sou economista, nem “doutor” em
qualquer área, mas sei, por experiência
própria, que se o trabalhador não
se sentir motivado, não rende, sendo
escusado ser pressionado ou aumentar-lhe
a carga horária para produzir
mais. Um funcionário descontente e
desmotivado, não produz qualidade,
nem quantidade. O segredo dessa
motivação e do “desenrasca”, do português
“lá fora”, está num ordenado
justo, num posto de trabalho seguro e
organizado, formação adequada, respeito,
um ambiente agradável e principalmente
ter bons gestores.
https://reisebuerofelix.ch
CRÉDITOS
PESSOAIS
- PEDIR UM NOVO
CRÉDITO
- AUMENTAR O CRÉDI-
TO ACTUAL
- COMPRA/TROCA DE
CRÉDITO
CONNOSCO EM QUAL-
QUER SITUAÇÃO.
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Quando regressei a Portugal foi como
voltar emigrar. Em muitos aspectos foi
necessário adaptar-me e reaprender
a viver. Estive durante vinte anos fora
e custou-me um pouco constatar que
alguns erros não haviam mudado muito
durante esse tempo; as desigualdades
sociais, as injustiças, mentiras, as
cunhas, as fraudes, fugas aos impostos
e o “safe-se quem puder”, tão tipicamente
português, quando todos
deveriam contribuir e pagar equitativamente,
porque se todos pagassem,
no futuro todos iríamos pagar menos
e ficaríamos a ganhar.
A fiscalização económica, em geral, é
deficiente e zarolha quando lhe interessa,
uma vez que existem grandes
empresas que fogem aos impostos e
que até utilizam trabalho ilegal não
declarado e nada lhes acontece. O trabalhador
continua a ser descartável,
como sendo uma mera mercadoria de
supermercado. Nota-se que em Portugal,
salvo escassas excepções, tanto
os governantes como os empresários,
não têm vontade, nem imaginação,
talvez até nem conhecimento, para
fazer espevitar a alma e o “desenrasca”
positivo que existe no nosso povo
e que está nos genes lusitanos, que
claramente o demonstramos durante
décadas além-fronteiras. Os dirigentes
e governantes deviam fazer um esforço
e lembrarem-se que somos bons,
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somos dos melhores.
Estou a recordar-me do exemplo ímpar
de um grande empresário português,
o Comendador Rui Nabeiro, referida
nesta edição, o patrão que nunca
despediu nenhum funcionário. Rui
Nabeiro é o proprietário do grupo Delta
Cafés, o qual rejeitou um negócio
milionário da Nestlé e da Pepsi, preferindo
sacrificar a rentabilidade da empresa
a ter de despedir trabalhadores
como eles exigiam. “Nasci numa terra
pobre, por isso sou socialista”, diz
Rui Nabeiro, que é o herói do povo do
Alentejo e que todos os portugueses
devem orgulhar-se.
Todos os empresários e governantes
deviam seguir-lhe o exemplo. Deviam
lembrar-se sempre que “não é com
vinagre que se apanham moscas” e
que qualquer empresa, em qualquer
país, só tem progresso e paz social, se
tiver o trabalhador do seu lado e se
souber organizar e gerir honestamente
as suas empresas. Para isso acontecer,
quem trabalha terá de ter chefias
preparadas e competentes, um ordenado
justo e ser respeitado para sentir-se
útil e motivado.
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Foto: Bruno de Carvalho
Bruno Amaral de Carvalho (*)
O céu está carregado de cinzento e
as cores do Outono pintam as árvores
desta praceta vazia. O silêncio é
apenas interrompido pelas explosões.
A arquitectura soviética domina
a paisagem em Gorlovka. Enormes
edifícios convivem com jardins nesta
cidade pró-russa a cerca de 60 quilómetros
de Donetsk. Os equipamentos
infantis e de ginástica ao ar livre ainda
são imagem de marca. Há-os em
todas as partes também no bairro de
Stroitel.
Não há nada mais triste do que um
parque infantil sem crianças, mas é o
que acontece nesta praceta. Ao lado
do tronco de uma árvore com uma
coroa de flores, há dois baloiços parados
e duas mães que choram abraçadas
aos seus maridos. Foi há cerca de
um mês que uma explosão abriu uma
cicatriz na memória destas duas famílias.
Para sempre.
Masha, de sete anos, e Polina, de doze,
brincavam juntas nestes baloiços
quando um rocket caiu na praceta. De
seguida, dois projécteis atingiram um
prédio e uma clínica. Para além dos estrondos,
centenas de estilhaços foram
projectados para todos os lados. A pequena
Masha e um homem foram as
vítimas mortais deste ataque atribuído
às forças ucranianas. Polina foi levada
para o hospital em estado muito grave.
Sobreviveu mas ficou sem um braço e
uma perna e luta contra uma infecção
provocada pela penetração destes pedaços
de metal na zona do dorso.
Olga, a mãe de Polina, leva-nos ao seu
apartamento. No sofá com os seus filhos,
Sofia e Matvey, senta-se também
a mãe de Masha, Tonya, e a avó Galina.
Olga acaba de chegar do hospital em
Donetsk. O ambiente é pesado. Indiferente
ao momento, há um gato que se
espreguiça e salta para o colo de Galina.
Tonya começa por explicar o que aconteceu.
Eram cerca das sete da tarde
quando se deram as explosões. “Quando
há bombardeamentos, não saímos.
Toda a gente fica em casa. Não deixamos
as crianças sozinhas. Quando ouvimos
alguma coisa, vamos para a entrada
do prédio. Mas este era um dia
calmo. Nós comprámos gelados para
as crianças e sentamo-nos enquanto
elas brincavam”, descreve. “As crianças
estavam nos baloiços”, precisa Olga. “E
de repente, bum, durou um segundo”,
acrescenta a mãe de Masha. “Foi isso.
A vida inteira arruinada num segundo”,
afirma a mãe de Polina.
Com a fotografia da pequena Masha
nas mãos e com um mar de lágrimas
nos olhos, Tonya recorda que viu a filha
morrer-lhe nos braços. “A nossa praceta
tem muita vida. Todos os jovens se
juntam ali. Também as idosas se sentam
a conversar. As crianças correm. É
uma praceta muito amigável. Não há
soldados aqui, apenas civis”. Olga assente
com a cabeça e diz que as forças
ucranianas disparam sobre civis. “O
Ocidente dá dinheiro e armas à Ucrânia,
percebe? E eles bombardeiam-
-nos. Atacam as nossas ruas, os nossos
civis, as nossas crianças. Aqui não há
nada militar”, denuncia. “O que é que
as crianças fizeram de errado? Compreendo
quando os soldados morrem,
mas as crianças... Se me dão licença...
Isto é…”, continua Olga. “Somos uma
nação. Somos um só povo. Por que
pensam eles que somos terroristas?”,
pergunta Tonya.
Actualidade
Os baloiços de Gorlovka
Um ataque com rockets, em Agosto, atribuído à Ucrânia, matou a pequena
Masha, de sete anos, e deixou Polina, de doze, sem um braço e uma perna.
Infância adiada
Gorlovka tinha quase 300 mil habitantes
antes de ter começado a guerra civil
em 2014. Com posições ucranianas
a poucos quilómetros da cidade, os
ataques são diários. Neste momento, é
uma das zonas mais quentes do conflito
no Donbass. A meio caminho entre
Gorlovka e importantes objectivos militares
das forças pró-russas como Kramatorsk
e Slaviansk, estão Artemivsk
[Bakhmut, em ucraniano] e Soledar,
onde neste momento se desenrolam
batalhas decisivas.
Em 2014, no princípio da guerra, foram
muitos os pais que contaram aos seus
filhos que as explosões eram trovões.
O então presidente ucraniano Petro
Poroshenko anunciou num discurso
inflamado que deixaria de pagar as
pensões aos idosos do Donbass e que
bombardearia de tal forma a região
que obrigaria as crianças a viver fechadas
em abrigos sem poderem ir à escola.
Ninguém pensou que oito anos depaois
tudo pudesse piorar ainda mais.
Não muito longe do bairro de Stroitel,
vários adolescentes jogam futebol. Nenhum
deles tem idade para se lembrar
de como era viver em paz, mas não
querem viver fechados em caves como
prometera Poroshenko. De vez em
quando, ouvem-se explosões e também
celebrações efusivas de golos em
balizas enferrujadas.
Desde 2014, já morreram mais de 130
crianças na parte controlada pelos rebeldes
pró-russos.
(*) Jornalista
Reportagem em:
https://tinyurl.com/guerra-ucrania1
9
Comunidade
Festival Folclórico
do Centro Lusitano de Zurique
Maria dos Santos
Após dois longos anos de espera, a cultura popular
portuguesa subiu de novo ao palco e mostrou
que não foi a pandemia, que os consegui anular.
Depois de se deixar o carro estacionado, o cheiro do
frango assado e das febras, aguçava já o apetite para
o jantar. É verdade, estava tudo uma delícia, para
além das deliciosas sobremesas caseiras. Um grande
obrigado a todos aqueles que trabalharam no lado
de dentro, nesse espaço chamado cozinha.
Ao entrar na sala, qual de nós não ficou deslumbrado
com a exímia decoração? Foi sem dúvida o típico
coração minhoto que fez toda a diferença. Três metros
e vinte de altura por dois metros de largura. Um
molde construído por Fernando Monteiro, soldado
também com a ajuda do Azevedo e claro decorado
pelas senhoras do R.C.L.Z. Sou a primeira a tirar o
chapéu pelo resultado maravilhoso e por tantas horas
de trabalho que ali estão depositadas.
A alegria contagiante que se vivia na sala era de tal
ordem, que parecia estarmos num paraíso onde se
respirava, se comia e bebia folclore. Que fascinante
foi este serão. O som das socas, o rodar das saias, o
som dos instrumentos, o entusiasmo geral é indescritível.
O primeiro rancho a subir ao palco, o R.F. Maravilhas
do Minho com a sua primeira actuação. Fundado
quando a pandemia do Covid 19 rebentou
18.02.2020. Foram muitos meses de desânimo, porque
quando se cria um grupo, quer-se mostrar as
danças e cantares da região que representam. Mas
a força psicológica não lhes faltou e demonstraram
que trabalharam, com tenacidade, para executaram
na perfeição as suas modas. Muitos aplausos que os
motivaram e os deixaram com mais vontade de seguir
este caminho na defesa do folclore.
Logo a seguir e numa postura muito lacrimosa tivemos
o R.Terras e Aldeias de Portugal de Lucerne.
Abatidos pelo falecimento inesperado do Joaquim
Pereira na véspera deste festival e que no próprio
dia do festival do R.C.L.Z. foram despedir-se do corpo
num adeus comovente. De luto e com muita dor,
conseguiram subir ao palco e mostrar que esta actuação
lhe foi dedicada inteiramente. O minuto de
silêncio foi a homenagem merecida e respeitada por
todos. Obrigada pela vossa coragem.
Para encerrar o festival, subiram ao palco, entre muitos
elogios, o rancho organizador. Primeiro dançaram
os adultos que criaram um ambiente extraordinário.
As coreografias não falharam. Executaram de
forma perfeita, o que arrancou aplausos, assobios e
muito barulho. Manifestações que deixam em todos,
mais vontade em continuar.
Depois o esperado, o sempre desejado rancho infantil/Juvenil.
Que emoção se viveu na sala.
Vemos crescer estes meninos, ensaiado pela Sofia
Azevedo com tanta garra, que podemos mesmo dizer
que esta mulher tem um dom natural para estimular
e fazer crescer este grupo de ouro do C.L.Z.
Sofia, não há palavras para descrever o teu trabalho.
Estamos todos não só orgulhosos do teu empenho,
mas também agradecidos pela tua dedicação.
As fitas e troféus, aqueles lindíssimos corações que
tinham tudo escrito, Alegria, Amizade e Amor, foram
entregues aos ranchos que participaram neste esperado
e esplendoroso festival.
O som e baile esteve nas mãos dos já conhecidos
Nova Onda e a noite prossegui com o Dj Diego FM,
que teve o prazer de encerrar a festa do R.C.L.Zurique
Regressamos a casa de coração cheio e com a esperança
de que a nossa cultura popular continue a
crescer e a estar presente neste país helvético, pois
é tão necessária para a nossa saúde mental e física.
Lembro que o número 17 é um dígito optimista, por
isso acreditamos que o R.C.L.Z. continue a crescer e a
brindar-nos com esta animação a que nos habituou.
Foi no dia 17 Setembro que o Rancho do Centro Lusitano
de Zurique brilhou com toda a classe na habitual
sala que os recebe em Schliren.
10
Lusitano de Zurique - OUTUBRO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - OUTUBRO 2022 | www.cldz.eu
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CRÓNICA
COSTA GUIMARÃES (*)
O Campeonato Mundial de Futebol no
Catar — a começar a 20 de Novembro
— é tudo (muito mau) menos bola. A
três meses da da prova, o Catar deporta
operários que protestaram por não
receber salário, e o governo disse que
migrantes “violaram leis de segurança”.
Pelo menos seis mil e quinhentas
pessoas morreram na construção dos
imponentes estádios, hotéis de luxo,
novas vias ladeadas de palmeiras, em
que tudo parece brilhar e apelar à vinda
dos que amam o futebol. Quando
a prova começar, ninguém se lembra
de como este milagre aconteceu,
quantas vidas se perderam, quantas
pessoas se sentiram violadas nos seus
direitos e o que delas vai ser no futuro.
Alguns trabalhadores disseram que ficaram
sete meses sem receber. As deportações
foram divulgadas pela ONG
Equidem, especializada em direitos laborais
(cf. https://tinyurl.com/catar11).
No dia do sorteio da fase de grupos
do Campeonato do Mundo, a sede da
FIFA em Zurique, um artista alemão
“ofereceu” 6500 bolas, enchidas com
areia, despejadas à porta das instalações
do organismo que gere o futebol
mundial. Volker-Johannes Trieb prestava
homenagem aos direitos dos trabalhadores
— 6500 — mortos que, há
Catar:
Campeonato Mundial
de Futebol é tudo
menos bola
um ano, foram reportados pelo The
Guardian.
Para a construção dos estádios, um
novo aeroporto e outras edificações
relacionadas com o “Mundial”, o Catar
precisou de milhares de migrantes,
de países pobres do Sudeste da Ásia,
como Índia, Nepal, Bangladesh e Paquistão.
Recorde-se que obtenção do estatuto
de sede do Mundial da Fifa, em 2010,
foi acompanhada por denúncias sobre
o péssimo respeito pelos direitos humanos
e pelas leis laborais no país. Só
sete anos depois, o Catar aboliu o sistema
Kafala, um sistema de trabalho
análogo à escravidão (OIT). O Kafala
(em árabe significa patrocínio), exige
que todos os trabalhadores não qualificados
tenham um patrocinador no
país, geralmente o seu empregador,
responsável pelo seu visto e estatuto
legal. Ou seja, este sistema “amarra” o
trabalhador ao seu “patrocinador” – o
kafeel – e este pode, em muito casos,
fazer dele o que entender, num regime
de semiescravidão, com trabalhadores
endividados e “com medo constante
de retaliação”.
Patrões sem escrúpulos opõem-se às
reformas, gerando elevados endividamentos
dos trabalhadores causados
por recrutamento ilegal e antiético, o
pagamento tardio ou mesmo inexistente
dos salários, as barreiras à obtenção
de justiça quando os direitos são
violados, a proibição de sindicatos e o
incumprimento das leis laborais sem
penalização dos empregadores, etc.
São muitos os relatos de trabalhadores
obrigados a trabalhar vinte horas por
dia, com intervalos mínimos, e sem
água e comida suficiente por 200 (duzentos)
euros mensais, na sua imensa
maioria: escaparam à pobreza no seu
país de origem, receiam perder o seu
emprego e os seus salários, e enfrentam
a ameaça da exploração e condições
de trabalho inseguras.
O MUNDIAL
MORTÍFERO
No ano passado, o diário britânico The
Guardian revelou que 6.500 trabalhadores
migrantes morreram em obras
de construção e infraestruturas relacionadas
com o Campeonato do Mundo
desde 2010. O número foi desmentido
pelo governo do Catar, mas a reportagem
— baseada em números fornecidos
por alguns países de origem
dos emigrantes — gerou uma onda de
protestos no mundo.
A Human Rights Watch e outras ONGs
pediram à Fifa e ao Catar um fundo de
compensação de pelo menos 500 milhões
de euros, o equivalente ao prémio
em dinheiro que é distribuído na
prova, destinado a migrantes e suas
famílias que sofreram abusos de direitos
humanos (cf. https://tinyurl.com/
catar112).
Gianni Infantino foi confrontado com
o número de pessoas que morreram
na construção dos estádios mas o presidente
da FIFA minimizou a questão,
dizendo que o organismo ajudou, isso
sim, a mudar a vida de 1,5 milhões de
trabalhadores.
“Não nos esqueçamos de uma coisa:
quando falamos deste assunto, falamos
de trabalho, de trabalho duro.
(…) Quando dás trabalho a alguém,
incluindo em condições difíceis, dás
dignidade e orgulho. Não é caridade,
não fazes caridade. É uma questão de
orgulho podermos mudar as condições
de um milhão e meio de pessoas”,
acrescentou Infantino.
O tema voltou a estar em destaque a
31 de Março último, no 72.º Congresso
Anual da FIFA, que teve lugar em
Doha, a capital do país anfitrião, quando
a presidente da Federação Norueguesa
de Futebol, Lise Klaveness, proferiu
um discurso onde mais uma vez
a decisão de permitir que o Qatar acolhesse
o Campeonato Mundial foi classificada
como “inaceitável” e exigindo
que a FIFA fizesse mais para defender
os direitos humanos, não só no âmbito
das condições de trabalho dos migrantes,
mas também dos direitos das
mulheres (que deles não gozam) e da
homossexualidade, proibida no país e
que pode resultar numa pena de prisão
efectiva de três anos (cf. https://
tinyurl.com/catar113).
Na sua intervenção “inesperada” no
Congress Anual da FIFA, Klaveness relembrou
o artigo publicado pelo jornal
The Guardian o ano passado, que denunciava
a morte de 6500 trabalhadores
migrantes ao longo dos 10 anos
que se seguiram ao Qatar ter ganho a
organização do torneio.
Na altura, o relatório foi “categoricamente”
negado pelo chefe executivo
do torneio, Nasser Al Khater e, em resposta
a Klaveness e no Congresso em
causa, o presidente da FIFA, Gianni Infantino,
afirmou que o Qatar tinha feito
um trabalho “exemplar” no que diz
respeito a mudanças em questões de
direitos humanos, acrescentando que
as reformas da legislação laboral no
país tinham sido “incríveis”.
Qual o custo a pagar? Gianni Infantino
não disse, mas sabia.
Não disse porque a quantidade total
de mortes é mais elevada, uma vez
que estes números não incluem os
dados de vários países que enviaram
muitos trabalhadores para o Qatar, incluindo
as Filipinas e o Quénia.
As mortes ocorridas nos últimos meses
de 2020 também não fazem parte
desta contagem. Adicionalmente,
uma pesquisa publicada no Cardiology
Journal em Julho de 2019 por um
grupo de especialistas climáticos e
cardiologistas explorou a relação entre
a morte de mais de 1300 trabalhadores
nepaleses entre 2009 e 2017 e a
exposição ao calor, tendo encontrado
uma forte correlação entre o stress térmico
e aqueles que morreram de problemas
cardiovasculares no Qatar (cf
https://tinyurl.com/catar114 e https://
tinyurl.com/catar115).
Mais complexo é — e Gianni Infantino
também não quer — saber quantas situações
de violações de direitos humanos
têm vindo a sofrer os migrantes.
O Business & Human Rights Center tem
vindo a acompanhar as violações dos
direitos humanos no Qatar desde 2016.
A organização tem vindo a rastrear casos
de abusos em sete dos oito estádios
do torneio, com a grande maioria
dos mesmos a estarem relacionados
com o não-pagamento de salários – o
que, e como consequência, tem efeitos
negativos em termos de alimentação,
alojamento e saúde -, trabalho forçado,
ausência de assistência em caso de
doença e enormes falhas na segurança
laboral responsáveis por ferimentos
de gravidade diversa e, como sabemos,
também pelas mortes. A liberdade de
expressão e a liberdade de circulação
dos migrantes foram igualmente restringidas,
diz a organização, sendo que
os trabalhadores mais penalizados são
provenientes, na sua maioria, do Sul
da Ásia e da África Oriental (cf. https://
tinyurl.com/catar116).
Como revelou o The Guardian a 31 de
Março último, “os trabalhadores migrantes
de baixos salários foram forçados
a pagar milhares de milhões
de dólares em taxas de recrutamento
para garantir os seus empregos no Qatar,
nação anfitriã do Campeonato do
Mundo, durante a última década”.
Desesperados por não encontrarem
trabalho nos seus próprios países, os
migrantes aceitam esta cobrança, à
custa de empréstimos com juros elevados
ou da venda de terras para pagar
as taxas, deixando-os vulneráveis
à servidão por dívidas – uma forma de
escravatura moderna – pois não podem
de deixar os seus empregos até
pagar a dívida.
O QUE IM-
PORTA É O
RESULTADO
FINAL
Deve ser mesmo o que pensa David
Beckam, ex-capitão da selecção inglesa
que assinou um contrato no valor
de dezassete milhões e setecentos mil
euros por ano, e ao longo da próxima
década, para ser a “cara” do Mundial.
Como diria o nosso amigo António Guterres,
“é só fazer as contas”. Façam.
Este (alegado) embaixador da UNICEF
e defensor de várias causas humanitárias,
agora rosto do Mundial 2022 fechou
os olhos à corrupção e às várias
violações dos direitos humanos que
transformaram a prova-rainha do futebol
num jogo porco desde o seu início
que fica a dever-se a muitos milhares
de migrantes contratados por 200 (duzentos)
euros mensais.
Mas que há-de fazer o Cavaleiro de Sua
Majestade? Ele olha para o lado e deslumbra-se
com a bola fabricado pela
marca Adidas, com 20 gomos, no centro
de um estádio com 60 mil lugares
sentados, projectado pela firma alemã
AS+P, querendo “AS” dizer Albert
Speer, o filho do arquitecto de Hitler.
Lá quis saber que a empresa holandesa
que forneceu os relvados dos últimos
três Mundiais se recusou a colaborar
neste torneio após ter sabido que só
na construção dos estádios já morreram
mais de 6750 trabalhadores.
Para alguns, bastantes, o que vale é o
resultado, perdão, o saldo final.
Apesar complexos esquemas de corrupção,
de milhares de mortes e de incontáveis
violações de direitos humanos,
a 21 de Novembro, nos estádios
ou nos sofás, ouvir-se-ão apenas gritos
entusiásticos que abafarão o silêncio
dos que sofreram o abuso de muitos
dos mais básicos direitos que lhes têm
sido negados. E você, também vai ignorar?
Faz alguma coisa. Não vejas nenhum
jogo, para diminuir a audiência
desta barbaridade.
(*) António Costa Guimarães, foi Capelão Militar, é
Jornalista, foi Director do jornal Correio do Minho,
trabalhou na empresa Antena Minho - A Rádio de Braga,
é Public Relations, Communications and Marketing
Manager na empresa EPATV - Escola Profissional Amar
Terra Verde.
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CRÓNICA Do Nosso Cantinho Para o Vosso Cantão
Aqui vai mais um pequeno conto das minhas
aventuras como emigrante. Aqui no
“Nosso Cantinho”, não podemos adoecer
nas férias. Espero ser operado em breve,
mas os médicos estão para banhos. Estão
a regressar com as chuvas. Depois de
dois anos de pandemia, os pobres funcionários
da saúde, não tiveram descanso e
também o merecem.
Julgo que lá para Outubro serei operado,
deixo-vos assim, mais uma pequena história
da minha experiência de emigrante.
Eu soldado
português!
Rui Nabeiro
merece
ser céu
CRÓNICA
CRÓNICA
Foto:
Agência ECCLESIA
ARAGONEZ MARQUEZ
Lino Alves
(…)
Como as mangas, as papaias,
os cocos e as jacas, Lino Alves
era fruto da ilha.
Falava português, como
quem fala uma língua perdida,
aos solavancos, verbos
sem conjugação, vocábulos
soltos, sem plural ou singular
mas com o sentido da representação
e o significado
da imagem: - Eu exército de
Portugal. – Fazia-o com orgulho,
pequenino, embrulhado
numa lipa, pés escuros como
o corpo, visíveis numas sandálias
finas, sola invisível e
leve, entaladas em dois dedos
magros e limpos.
Essa fotografia só foi para a
parede depois do referendo.
Esteve sempre escondida.
Pena que Portugal desde
que os companheiros foram
para Ataúro para se irem embora,
nunca mais até hoje tenham
pagado a Lino.
Mandei uma vez uma carta
a Portugal, enviada pelo Sr.
Cônsul e tive resposta.
Diziam-me que não pagavam
nada por eu não ser soldado
de Portugal, mas apenas
contratado.
Apontou a fotografia na parede,
camuflado, outra idade,
retida numa moldura que
lhe avantajava o tronco, boina
ao lado, bigode negro e
com desenho em arco abaixo
da boca - Eu exército português
- Sorriu, num convite
de orgulho e perdão – Bebe
cerveja comigo professor.
Carlos Novais acenou com a
cabeça, segurou a lata Bintang,
limpou-a bem, fez estalar
a argola e Lino Alves meteu
o dedo na sua. - Granada,
professor - e arrancou o selo
como quem despoleta uma
arma, levou-a aos lábios, bebeu
metade de um sôfrego,
limpou os bigodes que mantinham
a linha mas modificaram
a cor e rematou – esta
não mata - soltando depois
uma gargalhada de quem
estava feliz.
(…)
Aragonez Marques
In O Que Foste Lá Fazer?
...livro de contos...
Luís Osório (*)
1. - Rui Nabeiro deu uma entrevista
por estes dias.
Falou da morte, da pena de nos
deixar.
Não seria necessária nenhuma
notícia, nenhum pretexto, para
celebrarmos este extraordinário e
invulgar homem – mas a entrevista é
um bom pretexto.
Um homem com quem tive o prazer
de estar recentemente e a quem
disse o quanto era especial.
- Porquê especial, Luís? Sou apenas
um homem que fez o que melhor
lhe pareceu durante a sua vida.
2. - Porquê especial?
Pela simples razão de que foi sempre
admirável.
Porque preocupado com os outros.
Porque preocupado com a terra
onde nasceu, um lugar que parecia
condenado ao desemprego, à
ausência de sonho, à dificuldade do
caminho.
Porque capaz de inovar num tempo
em que não era possível a alguém
como ele ter uma hipótese de ter
mais do que uma malga de sopa ao
jantar.
Rui Nabeiro preocupou-se com os
outros.
Com a terra em que nasceu.
E teve a visão e o engenho para fazer
do nada um império.
Campo Maior tornou-se a terra do
café.
E não houve uma única família
na terra a quem não tivesse dado
emprego.
Ou a quem não tivesse ajudado.
Ou que não saiba o nome e a história
da família.
3. - Rui Nabeiro a quem apenas
a madrinha de batizado levava
um brinquedo no Natal. Um
brinquedo que depois substituiu
por uma nota de vinte escudos
muito embrulhadinha que ele
desembrulhava na esperança de
serem duas. Ou na ideia de que
talvez fosse uma surpresa ainda
maior se fechasse os olhos e pedisse
com muita força.
Rui Nabeiro que cresceu a ver o
esforço dos pais, as canseiras por
objetivos que nunca chegavam a ser
concretizados. O sonho do pai era
ter um carrinho seu, o que nunca
aconteceu.
Talvez tenha sido isso que o revoltou,
que o mobilizou, que lhe deu forças
para ousar, arriscar, ir em frente.
E ganhar.
Rui Nabeiro fez o ano passado 90
anos.
E o meu amigo José Luís Peixoto
escreveu-lhe um livro.
Ele mereceu.
Por ter sido sempre o que a maioria
das pessoas não eram e não são.
Nunca foi como os outros, foi
sempre dele próprio. Ele e as suas
convicções, ele a sua força, ele e a
sua generosidade.
Num tempo de feroz individualismo
em que celebramos sempre
vencedores que não se dão aos
outros, podemos por fim celebrar
um homem que fez um império
partilhando com os outros e
oferecendo à terra que
o viu nascer
uma hipótese de não ser deserto..
O meu, o nosso, so,
profundo,
agradecimento, senhor Rui.
Ah, e quando partir devem vir renas,
querubins e anjos buscá-lo. Nem
dará por isso.
(*) Luís Osório nasceu em 1971, em Lisboa. Dirigiu jornais e uma estação de rádio. Imaginou programas de
televisão, encenou uma peça de teatro, participou em comissões governamentais, coordenou a comunicação
política de uma campanha presidencial e é consultor empresarial. Comentou política, realizou documentários
e foi premiado como jornalista e criativo. Publicou oito livros, o último dos quais 30 Portugueses,
1 País, resultado de 30 conversas com figuras portuguesas das mais variadas áreas. É pai de três filhos e de
uma filha.
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Crónica
José Emílio Moreira (Monção):
Deu-la-Deu Martins no masculino
“Quando um homem sonha, angustia-se,
revolta-se, tem algumas
desilusões, é certo, mas inventa,
cria, procura novas soluções,
participa activamente na
própria construção do seu habitat
individual e colectivo. Ou seja: faz
cultura!
MOREIRA, José Emílio, in Muitos sonhos!
Algumas desilusões, ed.Gráfica Diário do
Minho, Braga, 2022, p. 16
COSTA GUIMARÃES (*)
Caros, leitores, procurei, indaguei e apenas
encontrei uma notícia sobre o mais recente
livro do ex-Presidente da Câmara Municipal
de Monção, José Emílio Pedreira Moreira,
um monçanense a quem a sua terra
deve muito do seu progresso nas últimas
décadas do século XX. O Jornal Aurora do
Lima (cf. www.auroradolima.com/regional/46830/)
foi a excepção num manto de
silêncio que se abateu sobre “Muitos sonhos!
Algumas desilusões”, com capa de
Marco Jacobel sobre uma pintura de Ricardo
Campos, impresso na Gráfica Diário do
Minho, Braga, 2022.
Trata-se de uma “obra grande, como o é
toda a História de Vida que se verte e decanta
em textos e memórias com a coragem
e humildade de algum modo se expor
à apreciação dos familiares e amigos e
também à opinião pública” — escreve José
Viriato Capela, no prefácio do livro.
Este livro recolhe “textos e reflexões”
de uma “grande História de
paixão e amor pela terra onde José
Emílio Moreira foi dado nascer e à
qual dedicou uma grande parte
das suas forças e inteligência que
sempre olhou de uma perspectiva
de terra mãe e à qual, como aos
seus filhos, deseja maior ventura”
— prossegue aquele Professor Catedrático
Jubilado.
De facto, José Emílio Moreira “faz
parte daquela geração de notáveis
autarcas que logo no pós-25 de
Abril, com eleições democráticas”,
faz entrar Monção “entrar por caminhos
novos” na sua luta contra
os mais “graves danos do centralismo
e o caciquismo” corporizando
o perfil de democrata, do socialista,
do humanista, o homem
de cultura e sabedoria, enfim, o
monçanense” universalista.
Tanto é assim que o Prof. Ernesto
Português classifica esta obra
como “uma história de dádiva e
paixão” de um “sonhador incorrigível”.
MEMÓRIAS?
NÃO!
Nesta obra, celebramos um homem
de cultura, presente em
toda a sua actividade pública.
“Não é um “livro de memórias” da
minha vida — avisa o ator — embora
fale de alguns dos seus retalhos,
nem tão pouco um tratado
sobre um tema desenvolvido
com profundidade e universalidade.
É antes uma compilação
de textos diversos que fui escrevinhando
e que registam as minhas
várias intervenções em momentos
díspares da minha vivência
pessoal, social e profissional,
uns dispersos em alguns órgãos
de comunicação social, outros
apenas dormentes em silenciosa
pasta de arquivo mas sempre
como testemunhos escritos das
minhas convicções, das minhas
controvérsias, das minhas inquietações
culturais, axiológicas, económicas
e políticas”.
Sobre o objectivo desta obra, José
Emílio Moreira esclarece os leitores:
“ “mostrar aos meus netos
(…) o que andou o avô a sonhar, a
pensar e fazer, antes deles terem
nascido e durante a sua meninice”
porque “um homem que não
sonha, submete-se ao jogo mecânico
da vida, aceita passivamente
o desenrolar rotineiro do destino
da história alheia, É efeito das
circunstâncias. Não é causa, não
é co-autor da história”.
Nesta obra honra-se um dirigente
que, chegando à Adega, percebeu
que o mundo não avança com
amadorismos, e criou condições
para que algumas estruturas fos-
sem entregues a profissionais para
uma melhor eficiência. Na Câmara
olhou para além dos caminhos, rede
pública de água, saneamento básico e
habitação social, mas com a limpeza
das muralhas da Vila, com a organização
do Arquivo Municipal, a Biblioteca,
a publicação de livros sobre o
Concelho e suas figuras, a aquisição e
recuperação do Cine-teatro João Verde.
Saboreou e escreveu sobre o vinho
Alvarinho, não atendendo apenas à
sua vertente económica, mas como
obra de arte, ex-libris da Sub-região
de Monção e Melgaço.
O livro testemunha um homem visionário
para a terra que o viu nascer na
sua Portela, abrindo uma Porta para o
futuro: é esta Porta que explica o sonho
realizado e comprova que é possível
ter ideais e lutar por eles, contra
ventos e marés da mentalidade dominante
de minifúndio, dos processos
burocráticos da máquina do estado,
quer central quer municipal, a eterna
falta de dinheiro, os prazos que se
consomem porque um papel foi parar
ao fundo de uma gaveta, etc.
Na leitura do livro, encontramos
marcas evidentes do Prof. Roque de
Aguiar Pereira Cabral, SJ — que grande
Mestre! — sobre a actividade política,
social e cultural sempre pautada
por valores ético-morais que o nosso
Professor tratava, longamente, nas
suas aulas e foi lá, de certeza, que a
convicção do José Emílio Moreira se
aprofundou.
São exemplo destes valores “o respeito
pela dignidade humana e a defesa
da liberdade e da igualdade de todos
enquanto cidadãos; a confiança no
ser humano; o respeito pelos outros,
amigos ou adversários; uma preocupação
profunda e constante com as
questões da justiça social, um dos
valores fundamentais que deve presidir
na vida coletiva; uma curiosidade
imensa por tudo o que o rodeia,
otimismo e confiança no futuro e
uma grande alegria de viver. Se essas
qualidades fossem comuns aos nossos
políticos, o país seria diferente, e
para melhor” cf. hhttps://tinyurl.com/
diarioacores
E tanto é assim que o presidente da
direcção da Casa Museu de Monção,
José Viriato Capela, lembrava José
Emílio Moreira como que “uma das
figuras mais entusiásticas para a instalação
desta Casa no concelho”.
O seu vice-presidente, Augusto Domingues,
na posse como seu substituto,
destaca uma das marcas de água
de José Emílio Moreira: “gostavas de
delegar competências, só querias
resultados. Não vai ser fácil manter
o ritmo e substituir-te” e “todos estamos
orgulhosos de ter nascido em
Monção depois dos teus 16 anos de
trabalho”.
Não há bela sem senão e não esquece
quando foi tratado “abaixo de cão”
pelo ministro dos Negócios Estrangeiros.
Em causa está o incumprimento
de promessa e a falta de resposta por
parte de Martins da Cruz, no âmbito
do processo que terá levado à perda
irremediável da ilha da Ínsua Grande
(110m2) para Espanha.
Já em 25 de Abril 2014, foi editada
uma volumosa publicação com 630
páginas, com a participação de 39 colaborações,
resultando em 34 artigos
e nove testemunhos pessoais. Os artigos
tratam as mais diversificadas temáticas
envolvendo temas de História
política, económica, social e religiosa,
para além de outras temáticas que
envolvem a Fronteira e riquezas monçanenses,
como a Coca de Monção.
Nessa data, a Casa Museu de Monção
da Universidade do Minho decidiu dedicar
esta obra a José Emílio Moreira,
em reconhecimento e homenagem
pelo perfil cultural da sua intervenção
enquanto autarca. A publicação tem
artigos de: Acílio Rocha, Artur Anselmo,
Henrique Barreto Nunes, Ramon
Villares, Albertino Gonçalves, António
Matos Reis, José António Barreto Nunes,
Alexandra Esteves, Marta Lobo
de Araújo, Elisa Lessa, José Marques,
Gonçalo Maia Marques, Ernesto Português,
Elsa Pacheco, José Viriato Capela,
Henrique Matos, Dionísio Pereira e
Lourenzo Fernández Prieto, Henrique
Rodrigues, Clodio González Pérez,
João Viriato Nunes, Paula Godinho,
José Machado, Fernando Prego, Maria
Manuela Martins, Francisco Sande
Lemos e Isabel Silva, Sandra Castro,
Norberto Cunha, António Cândido de
Oliveira, Augusto Domingues, Agostinho
Afonso Caldas, Carlos Vaz, António
Afonso Eça, José Luís Dias, Manuel
Amoedo Afonso, Rómulo Sousa e os
artistas plásticos Puskas e Ricardo de
Campos.
Um mês antes, no dia 12 Março, José
Emílio Moreira mostrou-se “muito
honrado” pela condecoração recebida
por parte do Município de Monção.
O antigo presidente da Câmara (1997-
2013) foi agraciado com o título de cidadão
honorário – medalha de ouro.
“É o reconhecimento do trabalho
que se fez, sempre na consciência de
que tudo o que foi feito não fui eu
que fiz sozinho. Fui eu e mais uma
equipa fantástica que me acompanhou
nas funções que desempenhei.
Tanto na Câmara, como na escola e
na Adega”, disse. O seu sucessor, Augusto
Domingues, responsabiliza José
Emílio Moreira por “Monção aparecer
no mapa do desenvolvimento nestes
16 anos”.
QUEM É O JOSÉ
EMÍLIO
Quem é o José Emílio? É um homem
bom, com um carácter raro e um servidor
da sua terra.
Para mim, seu amigo, é a versão masculina
da Deu-la-Deu Martins que,
durante as guerras fernandinas, entre
D. Fernando, rei de Portugal, com D.
Henrique de Castela, no séc. XIV, Castela
pôs cerco à vila de Monção.
O cerco já demorava há demasiado
tempo e dentro das muralhas o
alimento já era escasso. E foi aí que
Deu-la-deu Martins agiu, mandou recolher
a pouca farinha que restava e
com ela fazer os últimos pães. Com os
pães já cozidos, subiu à muralha com
os pães na mão e atirou-os gritando:
“A vós, que não podendo conquistar-
-nos pela força das armas, nos haveis
querido render pela fome, nós, mais
humanos e porque, graças a Deus,
nos achamos bem providos, vendo
que não estais fartos, vos enviamos
esse socorro e vos daremos mais, se
pedirdes!”
Os castelhanos acreditaram que ainda
havia muita resistência dentro das
muralhas, levantaram o cerco e partiram
para as terras de Castela. Desta
forma, com audácia e coragem, Deu-
-la-Deu salvou a praça e ficou, para
sempre, ligada à história de Monção.
Também ele levantou o cerco de Monção
ao centralismo, começando por
valorizar o produto melhor da sua terra:
o vinho Alvarinho. Depois fez saber
aos centralistas que havia, em Monção,
muita farinha para fermentar o
desenvolvimento da terra.
Estamos a falar de um “jovem” que
começou a estudar na escola primária
de Portela, atravessada pelo Gadanha
com a sua ponte romana, prosseguiu
as aulas no Colégio de Monção e continuou
no Seminário do Espírito Santo,
entre 1965 e 1971, frequentando
depois a Faculdade de Filosofia de
Braga.
Politicamente, arranca com a presidência
da Assembleia de Freguesia
de Portela, em 1979, seguindo-se a
presidência da Assembleia Municipal
de Monção, em 1986,, ano em que in-
16
Lusitano de Zurique - OUTUBRO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - OUTUBRO 2022 | www.cldz.eu
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tegra a Direcção da Adega Cooperativa
de Monção.
Em 1990 é eleito vereador da Câmara
municipal de Monção, enquanto frequenta
o Mestrado na Faculdade de
Filosofia de Braga, acabando por ser
eleito Presidente da Câmara Municipal
da sua terra, em 1998, cargo que mantém
até 2013.
José Emílio Pedreira Moreira põe à
disposição dos monçanenses, por escrito,
o que sonhou, pensou e realizou
ao longo da sua vida pública, disponibilizando
informação para melhor se
compreender e avaliar a obra feita. Pareceu-me
tão pouco eco para 640 páginas!
Voltei a procurar.
Depois procurei melhor e encontrei
duas páginas escritas pelo José Henrique
Silveira de Brito, no Diário do
Minho, na edição de 31 de Julho, pp.
14-15. Fiquei mais sossegado, mas soube-me
a pouco. Sossega-me a alma
que outros mais tenham dedicado algumas
letras a este magnífico livro de
sonhos e desilusões de um monçanense
ímpar.
De facto, ele afirma-se como alguém
que é da província do Minho,
do alto de Portugal, sou do campo, da
cidade, do mundo inteiro afinal...! Sou
da terra do bom vinho, da lampreia e
do salmão, da truta, do alvarinho, sou
de Monção”.
MONÇANENSE
MULTIFACETADO
O José Emílio Pedreira Moreira, 72 anos
de idade, professor de Filosofia, natural
de Monção, prendou-nos com esta
obra que é um documento ímpar para
conhecer a história da terra de Deu-la-
-Deu nas últimas décadas.
Ele foi quase tudo para os monçanenses,
a culminar como presidente da Câmara
da sua terra durante perto de 16
anos, além de outros cargos públicos a
nível local e regional, como presidente
da direção da Comissão de Viticultura
da Região dos Vinhos Verdes, presidente
da Adega Cooperativa de Monção
(12 anos), fundador da Associação das
Adegas Cooperativas da Região dos Vinhos
Verdes (REGIVERDE), presidente
da Associação de Estudantes da Faculdade
de Filosofia de Braga, diretor
da Escola Secundária de Monção (cinco
anos). É, ainda, Cidadão Honorário
do Município de Monção (Medalha de
Ouro).
“Muitos Sonhos! Algumas Desilusões” é
o título da sua obra mais recente — não
a última, por certo — com mais de 600
páginas que acaba de publicar, onde
dá conta, com extensa documentação,
de muitos episódios da vida, desde
18
campanhas políticas, comemorações,
atividade no mundo da agricultura e
vinhos, na educação, desporto e cultura,
ensaios de juventude e colaborações
na comunicação social, até “visitar
o tempo” com textos íntimos.
“Esta publicação não é um livro de memórias
da minha vida, embora fale de
alguns dos seus retalhos, nem tão pouco
é um tratado de um tema desenvolvido
com profundidade e universalidade.
É antes uma selecção subjetiva de
textos que fui “escrevinhando” nos últimos
50 anos e que registam as minhas
várias intervenções em momentos díspares
da minha vida pessoal, social e
profissional, uns dispersos em órgãos
de comunicação social, outros apenas
dormentes em silenciosas pastas
de arquivo, mas sempre como testemunhos
escritos das minhas emoções,
dos meus pensamentos, das minhas
convicções, das minhas inquietações
culturais, sociais e políticas.” — escreve
José Emílio Moreira.
Nestes reflecte, designadamente, sobre
a sua actividade nos mais diversos
cargos públicos. Para este amigo
— posso tratar-te assim? — “o poder só
tem sentido se for exercido com os outros
e para os outros, com a eficácia
de resultados para a coletividade beneficiada
e com liberdade de alma de
quem o exerce”, escreve.
Na sessão de apresentação — no Cine-Teatro
João Verde, a 9 de Julho —
marcaram presença muitos vultos da
cultura e da política, familiares, amigos
e gente anónima. Pouco faltou para a
apresentação, que decorreu no Cine-
-Teatro João Verde, não tivesse esgotado.
Vimos por lá os autarcas do Alto Minho
do seu tempo e os que agora são
do nosso tempo. Foi bonito, ver o Vassalo
Abreu e o seu sucessor, em Ponte
da Barca, o seu sucessor em Monção, o
mesmo acontecendo com os autarcas
de Melgaço, Paredes de Coura, entre
outros.
Ele viveu naquela sala cheia do Teatro
João Verde a afirmação de Aristóteles
(384-322 a.C., na sua Ética a Nicómaco),
quando escreveu que «o homem
feliz precisa de amigos». A amizade,
que pode ser de várias espécies, rege
«relações inter-pessoais» eleva tempo
a criar; implica uma vida partilhada, só
possível em grupos pequenos, em que
reina a igualdade e a mutualidade. É
por isso que normalmente conhecemos
muita gente, mas amigos temos
poucos. A amizade precisa de tempo e
convivência, razão pela qual as épocas
da vida mais favoráveis ao seu aparecimento
são a adolescência e a juventude,
os tempos do ensino básico e secundário
e da universidade.
Um dos meus amigos é o José Emílio
Pedreira Moreira, que conheci como
presidente da Câmara Municipal de
Monção, sucedendo a um condiscípulo
meu, o Armindo Guedes da Ponte.
Também ele esteve num curso semestral
com o título “Condicionalismos
Actuais do Agir Humano”, regido pelo
Padre Roque Cabral, SJ, singular professor
catedrático de Ética, de quem
nos tornaríamos com o tempo grandes
admiradores.
Terminada a licenciatura, o José Emílio
foi colocado na Escola Secundária de
Monção, sua terra natal. Em 1976-77,
foi colocado na Escola Secundária de
Sá de Miranda, em Braga, a fazer estágio
pedagógico. Com ele a amizade
aprofunda-se, sem mácula, dura até
hoje, independentemente de estarmos
ou não de acordo nas discussões, mesmo
quando se trata de política. Mas estamos
de acordo!
O José Emílio regressou à Escola Secundária
de Monção, sendo eleito, pouco
depois, presidente do seu Conselho
Diretivo. Nos anos seguintes, alargou a
sua atividade ao associativismo e à política.
Começou pela Direção da Adega
Cooperativa de Monção. Passados
uns anos foi nomeado Presidente da
Comissão de Viticultura da Região dos
Vinhos Verdes. Em 1997, concorreu à
Presidência da Câmara Municipal de
Monção; ganhou as eleições e cumpriu
quatro mandatos consecutivos à
frente do Município, até 2013, durante
os quais fez uma autêntica revolução
no Concelho: quando ele chegou havia
uma realidade, quando ele deixou
a presidência, Monção tinha mudado
radicalmente e para muito melhor. É
verdade que conseguiu estabilidade
de uma maioria que o comum amigo
Armindo não soube ou não pôde construir.
Em 2013, o José Emílio voltou à vida de
cidadão comum, dedicando mais tempo
à família e aos amigos, regressando
várias vezes a Braga por dedicações
familiares. Foi então que começou a
nasceu
este projecto: reunir para publicação
vários textos escritos ao longo da vida
— trabalhos académicos do tempo da
Faculdade ou os produzidos na sua
atividade política, social e cultural, tais
como discursos pronunciados nas diversas
funções políticas e empresariais,
e esquecidos na comunicação social.
Como não havia casos nem escândalos,
tiveram pouco eco.
Olhando, com olhos de ver, José Emílio
Moreira, teve como objectivo central,
nesta obra, “prestar contas perante a
comunidade” e a preocupação aparece
em variados textos: como presidente
da Adega, como vereador e depois
presidente da Câmara.
(*) António Costa Guimarães, foi Capelão Militar, é
Jornalista, foi Director do jornal Correio do Minho,
trabalhou na empresa Antena Minho - A Rádio de Braga,
é Public Relations, Communications and Marketing
Manager na empresa EPATV - Escola Profissional Amar
Terra Verde.
Autor escreve segundo o Acordo Ortográfico
Luís Osório (*)
1. - Os postais que escrevo são quase
sempre sobre a atualidade.
Mas hoje é diferente.
Fiz 51 anos, estarei hoje em cima de um
palco.
Hoje é diferente, posso falar-te um bocadinho
de mim?
Algumas vezes tenho sido insultado, o
que faz parte.
Umas vezes por gente de direita.
Outras por apoiantes do governo.
Outras pelos meus amigos comunistas.
E até já fui insultado por simpatizantes
do Bloco de Esquerda.
E por racistas e fachos – isso é quase
todos os dias.
Também por pessoas do Porto – por
acharem que não gosto do presidente
de câmara ou por ser do Benfica.
E por gente de Lisboa e do Benfica –
por acharem que não defendo o Benfica
nem a cidade de onde sou.
Os maçons já me atacaram por acharem
que sou do Opus Dei.
E os do Opus Dei já me acusaram de
ser maçon.
Os ateus acham-me beato.
E os beatos ateu.
Os socialistas acreditam que sou comunista.
Os comunistas, socialista.
Os jornalistas, escritor.
E os escritores, jornalista.
Alguns juram que sou um vendido.
Outros que sou um vendido de merda.
Há quem jure que sou homossexual –
como se fosse pecado sê-lo.
E outros que sou homofóbico – apesar
de falar muito do meu pai (apenas para
esconder a minha verdadeira natureza).
2. - Deixem-me que vos diga…
(apesar de não ser importante)
Mas deixem-me que vos diga para que
não existam equívocos…
Eu não sou filiado em nenhum partido.
Não sou praticante de nenhuma religião.
Não sou maçon.
Não sou sócio do Benfica nem de coisa
nenhuma.
Escrevo todos os dias aquilo que penso.
De acordo com as minhas convicções
e sem esperar receber nada em troca.
3. - Não tenho nada contra os partidos,
pelo contrário.
Já recusei integrar duas vezes listas
partidárias para ser deputado (e em lugares
ilegíveis).
Não me interessa, não tenho qualquer
ambição política.
Isso não me transforma num tipo humilde.
Não tenho nada de humilde,
infelizmente. Tenho-me em boa conta,
sou arrogante quando me sobe a mostrada
ao nariz, detesto pessoas que rebaixam
outras ou pessoas que insultam
sem sequer perceberem que o estão a
fazer – e não estou a pensar ou a escrever
sobre ninguém em especial.
4. - Sou de esquerda.
Nunca votei no PSD ou no CDS.
(mas tenho amigos do PSD e do CDS).
Já votei no PS, no BE e no PCP.
Quando era miúdo pertenci ao PSR. E
aos 23 anos estive no PS, mas fui apenas
a três reuniões e nunca mais lá pus
os pés.
Se escolhesse um lugar onde me sinto
mais próximo teria de me sentar à
mesa do PS, mas o PCP é o partido com
gente que mais admiro.
Era o partido do meu pai.
Um partido com muita gente inteira.
Quando escrevo contra o PCP há uma
parte de mim que sofre. Fico a pensar
no assunto, a remoer, o senhor Freud
explicaria. E aí, honra lhes seja feita,
não me poupam, não há ninguém que
seja capaz de ser tão agressivo como
um comunista.
5. - Escrevo os postais porque me
apetece.
E por achar que posso ajudar a ver os
temas sob prismas diferentes.
Vou continuar a fazê-lo.
Um dia desagradarei a uns.
Desagradar-te-ei a ti.
Noutro dia, talvez não.
Mas estranho sempre as análises extremadas,
os comentários histéricos ou as
defesas hipócritas para segurar um tacho
ou ficar bem na fotografia.
6. - Tenho quatro filhos e dois enteados.
Sou casado com uma médica e acreditamos
muito que será para sempre.
Já não tenho pai ou mãe.
Ou avós.
Já ninguém me chama Miguel – nome
Crónica
Autorretrato
pelo qual era chamado pelos que existiam
antes de mim.
Quando era criança passei necessidades.
Mas nada comparado com quem
realmente passa necessidades.
7. - Tenho 51, lixado escrevê-lo.
Sou careca.
Estou mais gordo.
Todos os dias penso que devo acordar
mais cedo para correr. Todos os dias arranjo
desculpas para não o fazer.
8. - Gosto de vir aqui.
De escrever.
Gosto de pessoas.
E por vezes detesto-as.
Sou solitário, mesmo acompanhado.
Escrevo livros.
Sou consultor de empresas.
Fui a maior parte da vida jornalista. Antes
de não me apetecer mais ser jornalista.
Gosto de cinema, vejo séries, oiço música.
Não escrevo contra os meus amigos.
Seria incapaz de o fazer, é a minha única
fragilidade.
Mas tenho poucos amigos públicos –
cinco ou seis. Coisa pouca.
9. - Gosto de pensar que sou boa pessoa,
mas por vezes sou detestável.
Gosto dos fracos e dos vencidos, mais
do que dos fortes e poderosos.
Gosto de gostar. Mas também gosto de
não gostar.
Detesto que me digam que sou bonzinho…
não o sou.
Sou tudo isto e se calhar nada disto.
Acredito mais na ficção do que na realidade.
Acredito mais num livro de Roth
do que nos telejornais de referência.
Acredito mais no teatro do que no discurso
político. Acredito menos no ser
humano do que dele desconfio.
Tenho muitos livros na cabeça.
E muita coisa que me ocupa espaço.
Acredito em Deus, mas o meu Deus
não é ortodoxo.
Acredito que o grande mistério é o
Bem, jamais o Mal.
Sou este e todos os outros que não estão
aqui.
Como tu.
Somos tantos, sempre.
10. - Era isto que te queria dizer.
Dizer-te…
… que o meu compromisso é apenas
comigo. O que faço pode ser uma
grande merda, mas não obedece a
qualquer agenda.
(*) autor escreve segundo o Acordo Ortográfico
Lusitano de Zurique - OUTUBRO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - OUTUBRO 2022 | www.cldz.eu
19
José Viale Moutinho
encontra a “Fidalga branca” em Amares
COSTA GUIMARÃES (*)
“Portugal Lendário — Tesouro da Tradição
Popular” foi uma das prendas
que o universo editorial português
nos ofereceu em Agosto, através da
“Temas e Debates”, da autoria de José
Viale Moutinho, que inclui uma lenda
de cada um dos concelhos de Portugal,
ao longo de 524 páginas.
De Amares, o autor recolhe a lenda de
“A Fidalga branca”, interligada com
Sá de Miranda, os Machados e Rendufe,
uma mula e uma D. Maria — “virtuosa”
— que era infiel. É uma história
que tem como cenário a Casa do Castro
dos Machados e a Casa de Tapada,
em Fiscal, onde, como escreve Sá de
Miranda, “O sol é grande: caem com
calma as aves, /Do tempo em tal sazão,
que sói ser fria”.
Vamos por partes.
“Um país sem lendas é um aborrecimento,
é capaz de nem existir” — explica
o autor no prefácio desta obra
com capa de Ana Monteiro.
José Viale Moutinho recorda que “temos
lendas a rodos por toda a parte,
como aqui se prova, que poderão entreter
o nosso imaginário durante uns
bons séculos, até à eternidade!”Desde
o tempo em que a lenda “era aquilo
que devia ser lido na festa de um santo,
mártir ou confessor” até aos tempos
novos em que ela se transforma
“num misto de realidade e fantasia,
com predomínio do segundo elemento”,
a obra agora editada apresenta
exemplares diversos.
Evocando o Romanceiro de Almeida
Garrett e as Lendas e Narrativas de Alexandre
Herculano, José Viale Moutinho
classifica Portugal lendário como
“uma grande manta de retalhos” e
pretende que este livro seja “um livro
de entretenimento com raízes no caldeirão
dos séculos” ao mesmo tempo
que exprime “o deslumbramento dos
povos procurando tocar com a imaginação
o intangível pela razão”.
Numa pesquisa “sobretudo bibliográfica”
José Viale Moutinho traduz um
“trabalho de campo considerável”
para que a sua obra, “numa época
marcada pela globalização seja uma
aventura identitária que ninguém, e
por nenhum preço, nos pode retirar.
É o tiras. Olhem o Zé Povinho como
responde tão bem a quem o tentar fazer”
(cf. p17).
Representativa do concelho de Amares,
a obra fala-nos da lenda “A fidalga
branca”, a partir de uma demorada
visita ao Mosteiro de Rendufe, onde
se encontra o túmulo de um seu antigo
comendatário, Herique de Sousa,
depois de uma passagem por Fiscal,
onde está a Casa da Tapada, onde viveu
e morreu o poeta Francisco Sá de
Miranda.
Na viagem fica a Casa de Castro, dos
Machados, onde franqueando o portal
de acesso, encontramos o território
da lenda de “A Fidalga Branca” que
aparecia no alto das muralhas da casa
acastelada, envolvida num manto “alvíssimo.
Quem é? D. Maria da Silva, da
casa nobre de Ponte da Barca, casada
com Francisco Machado, filho de Manuel
Machado, este senhor do Castro
Foto: Manuel Araújo
e intimo do Poeta do Neiva.
Na Casa da Tapada vivia o filho do
poeta, Jerónimo de Sá, comendatário
do Mosteiro de Rendufe, que não se
livra de ter tentado seduzir D. Maria
da Silva, que foi virtuosa senhora. Vá
lá saber-se porquê, Jerónimo de Sá
esforçou-se por semear a intriga junto
de Francisco Machado, insinuando
que a D. Maria lhe era infiel.
Na dúvida, Francisco entrou de espada
em punho nos aposentos da esposa e
viu-a adormecida, de “cilício cingido”
(cf. pp. 20-21).
“Virtuosa senhora! Mas o filho de Sá
de Miranda era um pulha de primeira,
pois insistiu na acusação. A situação
chegou a um ponto extremo.
Estando D. Maria a jogar às tabuínhas
com o inocentíssimo Henrique
de Sousa, um escravo negro de Francisco
Machado esmagou a cabeça do
comendatário. D. Maria da Silva gritou
ante o crime, e o marido, instigado
por Jerónimo, tentou dar-lhe uma
cutilada com a própria espada, mas
esta desfez-se em três bocados”.
Quanto ao final da história, leiam o livro,
se fazem favor.
Silva Automobile
Silva António Filipe
Heinrich Stutz-Strasse 2
8902 Urdorf
José Viale Moutinho nasceu no Funchal
no dia 12/6/1945. Escritor e jornalista
no Diário de Notícias, tem realizado
investigações sobre a vida e a obra
de alguns escritores portugueses do
Séc. XIX, recuperando epistolografia e
textos inéditos ou esquecidos de Camilo
Castelo Branco, Trindade Coelho,
António Nobre e Joaquim de Araújo,
entre outros. Também trabalha sobre
a Guerra Civil de Espanha (1936-1939),
guerrilheiros espanhóis antifranquistas
actuando em Espanha e na Resistência
Francesa, bem como acerca
da deportação de antigos combatentes
da II República Espanhola em
Mauthausen e Dachau. Participou no
movimento português da Poesia Experimental
e em exposições de Arte
Postal e integrou a Comissão Nacional
para as Comemorações do Centenário
da Morte de Camilo. Traduziu
romances, ensaios e peças de teatro,
para companhias profissionais que as
representaram.
Foi chefe de Redacção Adjunto do
Diário de Notícias, foi presidente da
Associação dos Jornalistas e Homens
de Letras do Porto e fez parte das direcções
da Associação Portuguesa de
Escritores, da Sociedade Portuguesa
de Antropologia e Etnologia e do
Círculo de Cultura Teatral. Integrou o
conselho geral da Comissão Nacional
da UNESCO e é membro de honra da
Real Academia Galega.
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Quanto a investigação etnográfica,
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publicou diversas recolhas de literatura
popular portuguesa. Também a
literatura infanto-juvenil não lhe foi
indiferente.
Tem colaboração em jornais como República,
Jornal de Notícias, Diário de
Lisboa, Prelo, Colóquio/Letras, Jornal
de Letras, Vértice, está representado
em antologias de literatura portuguesa
editadas na ex-União Soviética, na
Hungria, Bulgária, Brasil, Galiza e em
Portugal. Obras suas estão traduzidas
para castelhano, asturiano, catalão,
galego, italiano, húngaro, russo, etc.
Com vários prémios literários e de jornalismo,
na Galiza foi-lhe atribuído o
prestigiado Pedrón de Honra em 1995,
e, no ano anterior, na Alemanha, foi finalista
do Prémio Europeu de Conto.
Entre as suas obras destacam-se Contos
populares portugueses: antologia
(1978), O Adivinhão e Adivinhas Populares
Portuguesas (1979), As mãos
cheias de terra - Textos do Andarilho
(2000), O rapaz de pedra (2004)
e Portugal lendário: o livro de ouro
das nossas lendas e tradições.
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(*) António Costa Guimarães, foi Capelão Militar, é
Jornalista, foi Director do jornal Correio do Minho,
trabalhou na empresa Antena Minho - A Rádio de Braga,
é Public Relations, Communications and Marketing
Manager na empresa EPATV - Escola Profissional Amar
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ABRAÇO DE PALAVRAS
Crónica
CHEGOU SETEMBRO,
bem recheado de acontecimentos!
Graça Foles Amiguinho (*)
Com o início de setembro, após
um período de merecido descanso,
crianças e jovens regressam à escola,
com alegria e esperança de vencerem
mais um novo ano, ultrapassarem
uma nova meta, com sucesso.
Apesar de já estar muito distante,
esse período da minha vida, que vivi
com intensidade, colocando em cada
momento, toda a minha criatividade
e alegria, na condução de vidas em
flor, fazendo tudo o que estava ao
meu alcance para que se sentissem
felizes e aprendessem as matérias
programadas, com entusiasmo, continuo
lembrando o que foram esses 32
anos da minha carreira profissional
e como este tempo de um outono, a
surgir, com novos perfumes da natureza,
preenchia a minha mente e confortava
a minha alma.
Muito mudou, a sociedade, muito se
alteraram os métodos de ensino, mas
há coisas que permanecerão para
22
sempre, porque nada tem poder para
as alterar. Refiro-me a valores espirituais,
tais como: os olhares de carinho
trocados entre alunos e professores,
a simpatia, a partilha de saberes e o
desejo de que, através da Cultura, se
possam criar verdadeiros e indestrutíveis
laços de amizade e solidariedade,
entre os povos.
Quando, nos dias que vivemos, ouvimos
e vemos crianças em sofrimento,
por falta dos bens essenciais, porque
as famílias estão desunidas ou ainda,
porque se deparam com uma guerra
que lhes roubou quem amavam e
lhes destruiu a paz, num só dia, temos
muito a agradecer, porque Portugal
vive com dificuldades, mas vive em
paz.
Os valores fundamentais, como a Liberdade,
o Pão, a Habitação, a Saúde
e a Educação estão salvaguardados
na nossa Constituição e, mesmo debaixo
de pressão, o Estado Social faz
o que está ao seu alcance para ajudar
as famílias a superarem as dificuldades
destes tempos, devido a consequências
imprevisíveis, provenientes
de uma grande pandemia e, este ano,
devido à guerra na Ucrânia, que pôs
em sobressalto todo o mundo e de
uma forma especial, a Europa, em virtude
do ataque despudorado da Rússia,
uma ameaça que não sabemos
onde irá parar.
As aulas irão recomeçar nos próximos
dias e as escolas serão o ponto de encontro,
de convívio e o lugar onde novas
aprendizagens terão lugar seguro.
Porém, não poderemos ficar indiferentes
ao que se passa com outras
crianças, as que viram as suas escolas
ser totalmente destruídas por bombas
assassinas.
Onde irão recomeçar o ano letivo?
Que alegria pode existir nos seus corações,
perante um cenário de morte
e destruição?
E os seus professores, sobretudo os
que continuam a trabalhar nas regiões
ocupadas pelo invasor e são
obrigadas a ensinar numa língua que
não é a sua, como se sentirão?
Como conseguirão suportar essa situação?
Mais felizes estão as crianças que tiveram
possibilidade de emigrar e encontraram
as portas das escolas abertas,
em diversos países, realçando
Portugal, que as acolheu com abraços
fraternais.
Como portugueses, devemos orgulhar-nos
da nossa amabilidade e solidariedade
para com o povo Ucraniano,
em sofrimento. Como educadora,
sinto-me honrada com o comportamento
dos meus colegas, que sabem
acolher e ajudar a integrar na nossa
sociedade, as crianças e jovens que
fogem de uma guerra. Aos professores
e alunos, desejo um bom regresso
às aulas e que este ano escolar seja
calmo e com bons resultados.
Mas setembro não ficou por este acontecimento
previsto e programado, do
regresso às aulas. Tem sido fértil em
notícias de perto e de longe, que vão
despertando a nossa atenção.
Em Portugal são atribuídos, pelo governo,
subsídios às famílias para superarem
o extraordinário e anormal
aumento do custo de vida, e aos pensionistas,
foi decidido avançar com o
pagamento de meia pensão, no mês
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de outubro.
A Ministra da Saúde, Marta Temido,
pede a demissão devido ao resultado
desastroso na saúde, neste verão,
considerando não reunir as condições
necessárias para se manter no cargo
e é substituída por Manuel Pizarro,
eurodeputado socialista que liderava
a delegação dos deputados do PS no
Parlamento Europeu. O Novo Ministro
promete, como médico, especialista
em medicina interna, com experiência
como Secretário de Estado da
Saúde, entre 2008 e 2011, estar determinado
e cheio de vontade para trabalhar
a favor dos portugueses e do
SNS, cujo aniversário se celebra a 15
de setembro. Aguardamos que assim
aconteça!
Entretanto, soam os sinos, tocando a
finados, em Inglaterra, porque a sua
idosa rainha, Isabel II, fechou os olhos,
após 70 longos anos de reinado, certamente,
com dias de felicidade, outros
de tristeza, agradando a uns ou
sendo criticada por outros, pois uma
posição social, tão abrangente, corre
sempre riscos e nunca poderá ser totalmente
perfeita. Sucede-lhe o filho
mais velho, Carlos III, que promete
seguir o exemplo da Mãe. Sem querer
imiscuir-me na vida alheia, há um
aspeto em que o novo rei de Inglaterra
nunca poderá seguir o exemplo
da mãe. A rainha foi sempre fiel ao
marido, enquanto ele traiu a mãe dos
seus dois filhos, com a que agora foi
nomeada “rainha consorte”, história
que o mundo nunca esquecerá. Há
situações que, por muito que as queiram
branquear, ficarão eternamente
machadas.
Mais a leste, na Ucrânia, o povo permanece
na sua luta, contra o invasor,
com uma coragem e determinação
dignas da nossa admiração e respeito,
conquistando territórios que os russos
vilmente lhes roubaram, provocando
a morte de inocentes e sacrificando
os seus militares e os militares que
os enfrentam, a par da destruição de
bens materiais, avaliada em centenas
de milhões de euros. Desejamos que
o fim da guerra seja uma realidade, a
curto prazo.
Espero, muito brevemente, vos poder
dar a conhecer a minha nova obra, um
romance, escrito com a sensibilidade
própria de mulher, sobre “O AMOR NA
GUERRA”.
Que a saúde e a esperança sejam presença
constante nas vossas vidas!
(*) Autora escreve segundo
o Acordo Ortográfico
Opinião
PAPA FRANCISCO:
Ocidente é cemitério da humanidade e
está no caminho errado
Carlos Sério
“O Ocidente não pode ser chamado
de “um exemplo a seguir”
porque seguiu o caminho
errado, disse o Papa Francisco.
A declaração do pontífice foi
dada em entrevista coletiva a
jornalistas e publicada no jornal
italiano Corriere della Sera nesta
quinta-feira (15).
“O Ocidente como um todo não
é actualmente um exemplo de
modelo. O Ocidente está errado,
por exemplo, em termos de
justiça social”, afirmou a autoridade
mais elevada da Igreja
Católica.
O Papa Francisco classificou o
Ocidente como “o maior cemitério
da humanidade”.
Ele também expressou a opinião
de que o Ocidente, agora,
“não está no nível mais alto” e
não tem capacidade de ajudar
outras nações.
O pontífice disse aos jornalistas
que o fornecimento de armamentos
pode ser moralmente
aceitável se for para defender o
próprio país, mas seria condenável
se o objectivo for estimular
o confronto.
Pode ser imoral, se houver a intenção
de provocar a escalada
da guerra ou vender armas ou
enviar aqueles que você não
precisa mais”, disse o papa.
O papa já foi criticado na Ucrânia
pelas posições sobre a corrida
armamentista e sobre o papel
da Organização do Tratado
do Atlântico Norte (NATO) no
conflito.”
23
Günther Simmermacher
Retratos contados...
Cultura
Diário d e uma avó e de um neto
Nélson
Mateus
Alice
Vieira
A avó dos britânicos
V NELSON MATEUS (*)
Querida avó
A Rainha morreu. Viva o Rei!
Morreu Isabel II, a Rainha de Inglaterra, “avó” dos britânicos.
Tenho visto pessoas muito espantadas com a morte de Isabel II.
A senhora viveu até aos 96 anos e reinou durante uns longos 70
anos. De que estavam à espera?
Não me apetece falar de contos de fada, nem das escandaleiras
que fizeram capas de tablóides, em todo o mundo, ao longo de
tantos anos.
Prefiro partilhar contigo algumas curiosidades de “Lilibet”, como
sempre foi apelidada pela família
©: DR
Para começar, sabias que a casa onde nasceu Isabel II é agora um
restaurante chinês, com estrela Michelin?
Com apenas 18 anos, foi o primeiro membro da família real
britânica a cumprir serviços militares. Aprendeu mecânica e
durante este período, reparou vários automóveis, imagina.
©: DR
Sempre a vimos a conduzir e a viajar. Ao longo do seu reinado
viajou para mais do que uma centena de países. Mas
sabias que Isabel II nunca teve carta de condução nem passaporte?
Apesar de gostar de corridas de cavalos, não eram estes os únicos
animais que gostava de ver em competição. Era também fascinada
por corridas de pombos.
Se tivéssemos sido amigos da rainha aqui está algo que não iriamos
participar, uma vez que tanto eu como tu detestamos pombos!
Enviou mais de 300.000 postais de aniversário a pessoas que comemoram
os 100 anos de vida. Aqui já me parece alguém que
conheço…
O primeiro compromisso público de Isabel II, ainda como princesa,
foi no dia em que assinalou os seus 16 anos, em 1942, quando
passou revista à guarda no Castelo de Windsor.
Até ao último suspiro colocou sempre os deveres à frente de
tudo o resto.
Deu posse a Liz Truss, a nova Primeira- ministra do Reino Unido,
depois retirou-se para “morrer em paz”.
Primeiro os deveres depois é que se pode morrer!
Vou passar o fim de semana no sofá ligado à Netflix a ver
todas as temporadas da série: “The Crown”
God save de King.
Bjs
V ALICE VIEIRA (**)
Querido neto
Ainda sobre a Rainha Isabel II cujo enterro aconteceu na
passada segunda-feira.
Desde muito criança que fui grande admiradora da família
real britânica.
Naquela altura vendiam-se cá livros ingleses que contavam
tudo, absolutamente tudo, sobre os reis de Inglaterra,
os primos, os filhos, etc.
Por isso lamento desiludir-te mas já sabia tudo aquilo que
me contaste. Até te adianto mais uma coisa: a casa onde
a rainha nasceu é hoje um restaurante chinês porque a
casa verdadeira foi abaixo durante um bombardeamento
na Guerra.
Os ingleses, que sempre gostaram muito da família real,
ficaram a gostar ainda mais porque, ao contrário de muitos
reis (quase todos) de outros países, não fugiram do
seu país. Propuseram-lhes saírem para o Canadá—mas
não quiseram. E ficaram sempre no Castelo de Windsor.
Diz-se que a Rainha-Mãe, mulher do Rei Jorge VI, depois
de um grande bombardeamento, terá dito “que bom que
é termos a nossa casinha!”
E segui todos os documentários sobre o seu casamento,
a sua coroação.
Claro que fui sempre para a rua para a ver passar, das
duas vezes em que cá veio. E segui-a para todos os lugares
onde ela ia, além de Lisboa. Lembro-me do olhar
espantado dela quando, em Coimbra, os estudantes estenderam
as capas para ela passar por cima!
E também segui tudo sobre irmã, a Princesa Margarida, a
doida da família… Namorou meio mundo, embebedava-
-se, casou-se, divorciou-se, deixava-se filmar ao colo dos
namorados e atirava os sapatos pelo ar, fumava que nem
uma chaminé em toda a parte. O que prova que Isabel II
teve sempre problemas familiares a resolver.
Mas se fores rever “The Crown” vês lá isto tudo…
E… viva a República!
Os autores escrevem segundo o Acordo Ortográfico
(*) Jornalista - (**) Jornalista e Escritora
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Espectáculo
TAXI
deram concerto épico no
Festival Summer End
em Braga
Texto e fotos:
Joaquim Galante (*)
Os TAXI deram, dia 10 de Setembro, mais um grande
espectáculo musical, num concerto inserido no Festival
Summer End, no Fórum de Braga. Com o recinto completamente
cheio (talvez mais de 3.000 pessoas), os TAXI
deram um concerto para mais tarde recordar.
Num alinhamento com 14 músicas, que foram sucessos
na já longa carreira da banda, e durante cerca de 80’, os
TAXI fizeram-nos viajar no tempo a nós jovens de outrora,
e a fazer vibrar os jovens de hoje, revisitando alguns
dos maiores sucessos que atravessaram gerações. Na
mítica banda pontificam, como membros fundadores, os
carismáticos João Grande e o baixista Rui Taborda.
Com um coro de cerca de 3.000 vozes, João Grande teve
o público com ele, acompanharam-no nas letras de todas
as canções e empurraram a banda para um concerto épico.
Os TAXI estão aí, aos poucos, a reconquistar espaço
e audiências, para ajudar a alavancar o rock nacional, um
género musical que tem estado a perder adeptos.
Com uma presença em palco diferenciada, o vocalista,
João Grande, não só canta, e canta muito bem, como
encanta. O seu carisma e a sua energia funcionam como
um íman que atrai a atenção do público e somos como
que ‘obrigados’ a entrar na onda. Irrequieto, a sua imagem
de marca, corre o palco de uma ponta a outra vezes
sem conta, salta, deita-se no chão, enfim, numa linguagem
sonora e gestual que todos facilmente percebem e
alinham. Em palco o João é outra pessoa, extrovertido,
jovial, nota-se a felicidade e o brilho naquele olhar de um
jovem irreverente por fazer o que gosta e de ver que o
seu trabalho é reconhecido.
Os TAXI são actualmente o único grupo português de
rock que assenta a sua música num estilo mais ligeiro,
em que a musicalidade e a sonoridade não se baseiam
em riffs estridentes de guitarra, mas mais num tom melodioso
e suave, mais perto da onda musical com que a
juventude de hoje está mais identificada. A banda conta
ainda com os guitarristas Jorge Loura e Nelson San-
tos e na bateria o Hugo Pereira, todos eles músicos com
enorme talento.
Aliás, foi com este estilo bem ligeiro e musicalmente alegre,
com letras ainda muito actuais, que os TAXI conquistaram
o primeiro disco de ouro do rock português há 40
anos atrás.
No que ao concerto diz respeito, João Grande apresentou-
-se em palco com uma camisa bem colorida, que os ABBA
lhe emprestaram, disse-o na primeira oportunidade de comunicar
com o público em tom de brincadeira, depois de
ter cantado a música Cairo com que abriu as hostilidades.
Com ‘TVWC’ e ‘Rosete’, músicas com outro ritmo levou
os fãs à locura e a partir daí foi sempre a ‘abrir’. Depois
‘É-me Igual’, ‘Não Sei Se Sei’, ‘1, 2, Esq. Dir.’ e por fim
‘Sozinho’ uma balada lindíssima que serviu para abrandar
o ritmo louco do concerto, a que se seguiu ‘Fio da Navalha’
também ela calma pois estávamos todos a precisar de
descansar um pouco.
O ritmo começou a aumentar com ‘Sing Sing Club’ e ‘Meu
Manequim’, em dueto com Rute Simone, uma autentica
peça teatral representada pelo João e pela graciosa Rute,
esta no papel de Manequim, que acaba por ‘escravizar’
o humano, apaixonado pela sua beleza. A partir daqui o
ritmo voltou ao rubro com ‘Ás dos Flippers’, ‘TAXI’, ‘Vida de
Cão’ e ‘Chiclete’ para terminar um concerto que merecia
não ter fim.
Duas notas que quero deixar aqui em rodapé, a primeira
é que no alinhamento deveria constar a música ‘Rosete’
com o seu nome verdadeiro que é ‘Queda dos Anjos’ e a
segunda, é a falta do tema ‘Hipertensão’ no alinhamento,
para mim seria perfeito.
Alinhamento: Cairo – T.V.W.C. – Rosete – É-me Igual – Não Sei Se
Sei – 1, 2, Esq., Dto. – Sozinho – Fio da Navalha – Sing Sing Club – Meu
Manequim – Ás dos Flippers – TAXI – Vida de Cão – Chiclete
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Joaquim Galante (*)
Os PUROROCK foram a banda sensação na
abertura do Festival Sol da Caparica, oriundos
de Palmela, a banda liderada por Domingos
Guerreiro, foi a agradável surpresa.
Formada em 2017, é composta por experientes
músicos, irreverentes, que irradiam muita
energia em palco, mostram que o rock não tem
idade, é actual e com futuro. Quisemos saber
mais e fomos ao encontro de Domingos Guerreiro,
mentor do projecto, no restaurante TAJ
BOM, num ambiente acolhedor, segundo ele,
um dos melhores restaurantes da zona de Palmela.
FOCUSMSN (*)
PUROROCK
foram a banda sensação do
Festival Sol da Caparica
FOCUSMSN: Domingos, como te surgiu o gosto pela música,
em particular pelo rock cantado em português, e o que
te levou a avançar com este projecto musical?
Domingos: Nos idos anos 80, eu já tinha tido uma banda que
eram os ‘Prós&Contras’, nessa altura vivia-se os anos loucos
do denominado boom do rock em Portugal. A banda tocava
algumas músicas originais e covers de outras bandas de
sucesso naquela época. Foi nesta altura, da minha adolescência,
que nasceu o gosto pelo rock e que perdura até hoje.
Em relação aos ‘Prós&Contras’, teve vida curta, eu era muito
jovem, não tinha autonomia de mobilidade, tínhamos dificuldade
em ensaiar, ia a boleia de Palmela para Setúbal, ao
frio e à chuva, não tinha condições. Tinha vindo de Moçambique,
morava sozinho, vivia uma fase ‘psicadélica’ da minha
vida, de modo que o projecto ficou-se pelo caminho, mas
sempre tive na mente que quando tivesse a vida estabilizada
retomaria a ideia. A oportunidade surgiu em 2017, e mais
de 30 anos depois nasceram os ‘PUROROCK’.
F: Em que bandas nacionais e/ou internacionais te inspiraste?
D: Uma banda que me inspirou muito e que acompanhei
em diversos concertos por essa Europa fora foram os Rolling
Stones, cá dentro inspirei-me naquele que considero ser o
Mick Jagger nacional, que é o João Grande dos TAXI, nos
Xutos & Pontapés, nos UHF, em particular no AMR que é um
sobredotado nas letras que escreve, na música e na composição,
tem uma cultura imensa e conseguiu manter ao longo
de todos estes anos os UHF no topo do rock nacional, merece
toda a minha admiração. Para mim ele é o número um
do rock português.
F: Achas que o rock é um género musical que passou de
moda?
D: O rock não passou de moda, de modo algum, os ‘rockeiros’
é que pararam no tempo, ficaram presos a estigmas e
a formatos pré-estabelecidos e não acompanharam a evolução
geracional, o público jovem não quer ver uns tipos
unicamente vestidos de preto em palco, alguns que mal se
mexem, com riffs estridentes de guitarra, querem luz, cor,
animação, irreverência e muita adrenalina.
E neste quesito tiro o chapéu ao João Grande (TAXI), que
puxa pelo público, com coreografias arrojadas, roupas diferenciadas,
é este o caminho. Uma ‘guerra’ que tive com os
meus músicos foi na forma de vestir, traziam hábitos das
bandas onde tocavam, mas aos poucos mudamos a mentalidade
e hoje estamos em sintonia.
Tenho falado com alguns músicos que estão no mercado há
mais de 30 anos que se queixam que as televisões não os
convidam, nós temos que nos adaptar à realidade actual, ver
o que o público procura, ver o que lhes capta mais atenção
e dentro do nosso género musical ir ao encontro dessa realidade
e não o inverso.
Actualmente o rock vive dos êxitos do passado, os seguidores
são maioritariamente gente que era adolescente aquando
do boom do rock em Portugal e que por saudosismo
ainda vai a alguns concertos. Na minha opinião, as bandas
a quem muito devemos não precisam de fazer melhor, precisam
de fazer diferente, para captar juventude, e as novas
bandas olharem à realidade actual e não tentar imitar o que
se fazia há 40 anos atrás.
F: Mas os meios de divulgação, nomeadamente a rádio e
principalmente a televisão, parece que se divorciaram do
rock nacional…
D: A televisão passa aquilo que dá audiência, passa aquilo
que as pessoas querem ver e os ‘rockeiros’ teimam em não
procurar outras soluções para contornar a situação e cair
no goto do público. Olha o exemplo do fado, fadistas como
Ana Moura e Cuca Roseta, entre outras, ocupam o palco em
festivais pop/rock, com público jovem a cantar o fado com
uma outra roupagem, é disto que o rock precisa, uma nova
abordagem. Eu canto para ter audiência, se não conseguir
captar a atenção do público então não vale a pena, canto
no chuveiro.
Resumindo, o rock precisa de um som apelativo, muita cor,
luz e movimento, e não uns tipos vestidos com roupa escura,
num ambiente de pouca luz e um palco cheio de fumo
onde mal se veem. Infelizmente o rock vive do passado, de
bandas que não deixaram morrer o rock casos dos UHF,
Xutos & Pontapés, Alcoolémia e pouco mais, uma luz se
acendeu com o regresso dos TAXI, mas quando estes acabarem
como será?
F: A formação da banda PUROROCK nasceu de uma forma
pouco convencional, queres contar como foi?
D: (risos) Eu estava num bar de música ao vivo que se chamava
Santiago, aqui em Palmela, ao assistir à actuação de
uma determinada banda, veio-me à memória o que ficou
para trás em termos musicais e a vontade de retomar a
ideia de formar uma banda, naquele momento senti o clique.
Falei com o dono do bar e perguntei ‘Santiago, se eu formar
uma banda deixas-me vir tocar aqui?’, marcamos para
daí a dois meses para que eu pudesse encontrar os músicos,
ensaiar e aparecer em palco. Fui logo falar com o baterista,
que é um amigo da adolescência, os outros acabei
por encontrar entre os vizinhos (risos).
Antigamente fazia muitas festas em minha casa e para não
haver problemas com a vizinhança convidava-os para estarem
presentes, um dia bato a porta do Beto para o convidar
e conversa puxa conversa, às tantas ele diz-me ‘sou engenheiro
de formação mas gosto é de música’, ‘mas tocas
algum instrumento?’, perguntei eu, ‘toco guitarra’, diz ele,
pronto estava encontrado o guitarrista (risos), o baixista foi
numa esplanada, tinha-o visto tocar num bar, cheguei ao
pé dele e perguntei ‘olha lá, tocas baixo não tocas?’, ‘sim’,
diz-me ele, ‘não queres tocar com a banda que estou a formar,
ja tenho concerto marcado e só me falta o baixista?’, e
assim nasceram os PUROROCK.
O curioso desta situação foi a banda nem existir e já ter um
concerto marcado. No concerto tocámos covers dos UHF,
TAXI, Xutos & Pontapés, Paulo Gonzo, etc, foi um sucesso,
o bar estava a abarrotar de gente. Neste show actuaram o
Mário Costa (bateria), Humberto Delgado (guitarra), Pedro
Correia (baixo), Rita Vale (segunda voz), Vasco Avença (Saxofone)
e eu na voz.
F: És uma pessoa que viajas muito, estás atento ao que te
rodeia, é nestas viagens que encontras inspiração para escreveres
as letras das tuas músicas?
D: As letras que escrevo são sentidas, são vivências que tive,
‘És PUROROCK’ foi escrita durante uma das minhas viagens
com cinco amigos ao Peru, íamos num jeep a cantar
a caminho de Machu Picchu quando lá chegamos tinha a
letra da canção e a música na minha cabeça. A inspiração
Entrevista
vem principalmente da saudade do meu país, do meu distrito
e da minha vila.
F: Tens um álbum de originais já editado ‘Vestida de
Branco’ (2020), produzido pelo Flavio Serrinha e um EP
produzido pelo Sergio Corte-Real (UHF) e pelo Pedro Madeira
(Alcoolémia) mas preparas-te para lançar um segundo
álbum, queres revelar?
D: Tenho já algumas letras escritas e a sonoridade a ecoar
na minha cabeça, nomeadamente a canção ‘Raiva de
Amor’ que gostaria de cantar em dueto com uma cantora
que tenho na ideia, mas que quando for oportuno irei convidar,
tenho a ‘Estrada É Tua’, dedicada aos motards, uma
ideia do Emanuel, que é uma das pessoas que mais admiro
na música portuguesa e ‘Amor Amor’ que escrevi na véspera
da actuação no Sol da Caparica e mais umas outras.
F: Nestes vossos cinco anos de actividade para que público
e em que palcos costumam actuar?
D: A primeira vez que fomos abordados para tocar, por sinal
uma pessoa aqui de Palmela, pediu-nos dinheiro (risos).
Depois da nossa estreia no bar do Santiago, tocamos no cine-teatro
São João onde apresentamos o nosso EP ‘És PU-
ROROCK’, nas Festas das Vindimas, onde gostaria de voltar
a tocar como cabeças de cartaz, e em vários outros locais.
F: Depois da actuação no Sol da Caparica que ambições
tens para o futuro? A partir daqui há um novo PURORO-
CK?
D: É verdade, depois do Sol da Caparica tudo mudou, a começar
logo pelos músicos que compõem a banda, ficaram
com outra perspectiva das potencialidades dos PURORO-
CK, muito mais motivados, mais até do que quando foram
à televisão. Digamos que depois deste festival e da aceitação
que tivemos por parte do público jovem, que cantava
connosco o refrão das nossas músicas, fez-nos sentir que
podemos ir mais além.
Nesta altura, quero agradecer aos músicos que me acompanham
e acompanharam ao longo destes cinco anos que
são o Mário Costa (bateria), Humberto Delgado (guitarra) e
o Luis Pão Alvo (baixo) que estiveram em palco no Sol da
Caparica.
Estivemos também muito bem acompanhados, na música
‘Volta Para Mim’, pelas alunas do conservatório de Palmela
com Raquel Pernas (violoncelo), Maria Pires (viola de arco),
Margarida Dentinho (violino) e Ana Marta (violino).
Destaco ainda o Pedro Correia (baixo), Ivo Gomes (baixo),
Vasco Avença (saxofone), Rita Vale (segunda voz) pessoas
que acrescentaram muito à banda e que infelizmente por
motivos pessoais não podem continuar a dar o seu valioso
contributo musical, ao Telmo Gonçalves (baixo), Francisco
Nuno (bateria) e ao Gonçalo Rodrigues (guitarra) que são
parte integrante dos PUROROCK.
F: A tua irreverência em palco, a dinâmica que impuseste
ao concerto, captou a atenção do público. Sendo a banda
de abertura do festival, ainda assim, tiveste uma plateia
imensa, que foi aumentando durante o concerto.
O que sentiste em palco vendo tanta gente empolgada
com a vossa actuação e a cantar o refrão das tuas músicas?
D: Vieram-me as lágrimas aos olhos, na véspera o Mário
Costa nem dormiu (risos), foi uma emoção enorme e uma
situação para a qual não estava preparado, foi completamente
inesperado. Imagina estares num festival desta dimensão
e à segunda vez que cantas o refrão estarem jovens,
com um terço da minha idade, a cantarem comigo e a
fazerem corações, foi inacreditável. O Sol da Caparica ficará
para sempre marcado na história dos PUROROCK e nas mi-
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nhas memórias, só por termos chegado aqui, já valeu todo o
esforço e tempo dedicado à banda.
F: No trajecto da banda que pessoas, para além dos músicos
que já mencionaste, te ajudaram a trilhar o caminho?
D: A pessoa que mais acreditou em nós, e que nem sequer
está ligado ao rock, mas que viu méritos nas letras, nas músicas,
na banda, na minha irreverência em palco e nas minhas
ideias, foi o Emanuel. Inclusive, levou-nos ao programa dele
e ao Camião, onde o rock não é o género musical cabeça de
cartaz, não sei se com a anuência do director de programas
da SIC, Daniel de Oliveira, o certo é que o Emanuel teve a
coragem de acreditar nas nossas potencialidades e no nosso
carisma.
E recentemente o Zahir Assanali, CEO do Grupo Chiado, por
nos ter convidado para actuar no Festival Sol da Caparica.
Gostaríamos um dia de voltar ao Sol da Caparica, mas também
pisar os palcos de outros grandes festivais, nomeadamente
RockInRio, SuperBock SuperRock, Vodafone Paredes
de Coura e muitos outros, são ambições que tenho, o sonho
comanda a vida.
F: Normalmente distribuis a tua parte do cachet a instituições
humanitárias de Palmela. A que se deve este teu
altruismo?
D: Tem a ver com a minha história de vida, quando regressei
de Moçambique com 11 anos, vivia na rua, comecei a trabalhar
muito cedo, mas sempre com a ambição de querer ser
alguém na vida e deixar alguma marca. Aos poucos, com esforço
e dedicação, fui subindo a pulso e hoje tenho que agradecer
aqueles que nunca me viraram as costas e me apoiaram
porque viram em mim potencialidades no trabalho, na
honestidade e nas boas energias que transmito. Ao ponto de
ter vinhos dos melhores enólogos do país com marca registada
PUROROCK, desde a Casa Ermelinda Freitas, e outros
produtores do distrito, até à Niepoort em Gaia.
No palco do Sol da Caparica cantei a música ‘Soldados da
Paz’, que faz parte do disco ‘Vestida de branco’, vestido a rigor,
numa singela homenagem a estes homens e mulheres
que dão a vida para nos proteger e ajudar.
F: A banda tem sido muito acarinhada pelas gentes de
Palmela, idealizaste um espaço próprio que vais construir.
Queres falar disso?
D: Tenho em projecto um espaço, que está para aprovação
na CMP, que será futuramente o PUROROCK/CAFÉ, em que
existirão condições para música ao vivo, e onde se encontrarão
todos os néctares que poderás imaginar da marca PU-
ROROCK e irá estar aberto diariamente.
Além da música, terei também workshops de vinhos com
os produtores e jantares vinícolas, assim como a Fogaça de
Palmela, com o logotipo da banda, o pastel com o moscatel
PUROROCK feito pela confeitaria São Julião.
F: Depois de algumas vozes terem criticado a organização
do Festival Sol da Caparica com que opinião ficaste sobre
o festival?
D: Da nossa parte só podemos elogiar, tudo correu bem connosco
desde as condições em palco, ao sound check, aos
camarins, a maneira como fomos recebidos, o catering, foi
tudo óptimo e correu às mil maravilhas, foi sublime, muito
além daquilo que poderíamos ter imaginado.
(*) Jornalista
Saúde
Bronquiolite:
primeira vacina injectável do mundo para bebés aprovada na França
Um fisioterapeuta dá uma massagem respiratória
a um bebé de nove meses com bronquiolite
Swissinfo (*)
AMYCHELE DANIAU / AFP
Um avanço médico sem precedentes: a
empresa francesa Sanofi anunciou na
sexta-feira 16 de Setembro que a Agência
Europeia de Medicamentos tinha
dado a primeira luz verde à sua vacina
contra a bronquiolite em bebés. Uma vacina
anterior já existia, mas estava reservada
para bebés prematuros e bebés de
alto risco.
O laboratório francês Sanofi, em parceria
com a empresa sueco-britânica AstraZeneca,
desenvolveu uma vacina contra a
bronquiolite que pode ser injectada em
todos os bebés com menos de um ano de
idade. Esta é uma estreia mundial que recebeu
luz verde da Agência Europeia de
Medicamentos (EMA) na sexta-feira 16 de
Setembro.
Os laboratórios estavam numa corrida até
à meta, com cerca de 30 projectos semelhantes
em curso em todo o mundo. A
vacina injectável da Sanofi e da AstraZeneca
está, portanto, na liderança. Este é
um enorme desafio porque todos os anos,
500.000 bebés em França são infectados
com o vírus sincicial respiratório (RSV) que
causa a bronquiolite. O surto do ano passado
foi sem precedentes e os hospitais foram
sobrecarregados. A nível mundial, há
60.000 mortes infantis por ano.
Um anticorpo em vez
de uma vacina
Em vez de uma vacina, a solução injectável
da Sanofi-AstraZeneca é um tratamento
preventivo, um anticorpo monoclonal que
protegerá os bebés com menos de um ano
de idade durante todo o período da epidemia,
ou seja, o Outono e o Inverno. Reduz
as infecções em 75%. A ideia é que os bebés
ainda não têm um sistema de defesa
natural altamente desenvolvido, pelo que
o substituímos por este anticorpo. Já existia
uma vacina contra a bronquiolite, mas
era menos eficaz e estava reservada apenas
para os bebés prematuros e os de alto
risco. Isto será para todos os bebés com
menos de um ano de idade.
Infelizmente, o tratamento não estará
disponível este Inverno, uma vez que o
prazo é demasiado curto, uma vez que a
epidemia geralmente começa no Outono,
dentro de algumas semanas. E agora são
necessários vários meses de procedimentos
regulamentares, pelo que não haverá
comercialização possível na Europa antes
da epidemia do próximo ano.
Um último esclarecimento: quando falamos
de bronquiolite, geralmente pensamos
em crianças, em bebés. Mas saiba que
a epidemia também afecta gravemente os
idosos todos os anos. Este novo tratamento
preventivo não se destina a eles. Mas
muitas empresas farmacêuticas estão a
desenvolver vacinas específicas contra a
bronquiolite para os idosos.
Foto: DR
Timor Leste:
Presidente apela a nova
política de drogas
João Costa
O presidente de Timor-Leste e antigo laureado com o Prémio
Nobel da Paz, José Ramos-Horta, apelou ao Parlamento
Nacional, na passada quinta-feira, por uma nova
política de drogas para Timor-Leste, dando Portugal
como exemplo. Horta defendeu políticas mais informadas
e sem os preconceitos do passado: “É necessária a diferenciação
entre a canábis e outros narcóticos”, afirmou,
alertando ainda para o perigo do consumo de tabaco e
noz de bétel no país.
“O debate em torno da política de drogas em Timor-Leste
precisa de avançar. Tem sido mal informado e depende de
preconceitos herdados do passado. Está desfasado da situação
em muitos outros países”, afirmou José Ramos-Horta no
Parlamento Nacional. “Ao rever as nossas políticas em matéria
de drogas, é necessária a diferenciação entre a canábis
e outros narcóticos. A canábis já não pode ser agrupada em
conjunto com as drogas perigosas, como as metanfetaminas
e a heroína”, sustentou o Prémio Nobel da Paz de 1996.
Ramos Horta é também membro da Comissão Global de
Política de Drogas, uma Organização Não Governamental
(ONG) composta por antigos líderes políticos, que defende
políticas mais justas.
O chefe de Estado usou o caso de recentes operações poli-
Outras edições desta revista podem ser lidos, aqui: https://tinyurl.com/LUSITANO-ZURIQUE
Leia estes e outros artigos em
WWW.CANNAREPORTER.EU
Saúde
ciais que levaram à detenção de alegados traficantes e
consumidores de canábis em Timor-Leste para criticar
a forma de actuação da polícia e a política de drogas
do país. “Reconsiderar a forma como lidamos com as
drogas poderia lançar as bases para soluções alternativas
produzidas localmente. A proibição punitiva nega a
Timor-Leste muitos benefícios: canábis medicinal, rendimentos
para agricultores, impostos, produtos de cânhamo,
e turismo”, enfatizou.
No que se refere à política de drogas, Ramos-Horta
deu exemplos de “políticas esclarecedoras” como as de
Portugal e as “políticas esclarecidas” de países como a
Tailândia e Malásia, relativamente ao uso medicinal da
canábis”.
“Na Europa, Austrália e EUA, o uso médico de canábis
tem tido um efeito positivo na prevenção do crime, na
saúde e na economia. Alguns estados dos EUA dependem
agora de impostos provenientes da canábis medicinal
para financiar as suas economias”, referiu. “Prevê-se
que a indústria legal da canábis nos EUA resulte
em breve em 128,8 mil milhões de dólares em receitas
fiscais e uma estimativa de 1,6 milhões de novos empregos.
O Fórum da Ásia Oriental estima que o valor de
mercado da canábis medicinal na Tailândia esteja entre
660 milhões e 2,5 mil milhões de dólares americanos
até 2024”, enfatizou.
Abuso de álcool, tabaco e noz de
bétel
Ramos Horta insistiu que Timor-Leste “não é uma sociedade
livre de drogas”, referindo que “o álcool e tabaco
estão em constante uso e abuso”. “Temos de ser abertos
e francos e aceitar que o maior e possivelmente mais
perigoso... narcótico utilizado actualmente em Timor-
-Leste é a noz de bétel. Temos de compreender os seus
efeitos positivos e negativos”.
A noz de batel, também chamada noz de areca, provém
da palmeira de areca, que pode crescer até 15 metros
de altura. No Sudeste Asiático, Ásia Oriental e Índia,
mastigar esta noz de areca tem sido procurado há séculos,
devido aos seus efeitos estimulantes, ligeiramente
eufóricos. Mastigar a noz durante muito tempo faz com
que se crie uma pasta vermelha, que dá a mesma cor à
saliva. Com o uso continuado, os dentes também ficam
coloridos de vermelho. A utilização da noz de areca a
longo prazo está associada a vários riscos para a saúde,
incluindo dependência, cancro e perturbações da flora
oral. Mastigar em combinação com álcool ou fumar cigarros
aumenta o risco de complicações, mas o seu uso
está profundamente enraizado e é considerado uma
tradição.
O chefe de Estado referiu-se ainda às actuais políticas
de medicamentos que, considerou, “estão a ter efeitos
negativos sobre o direito das pessoas a cuidados de saúde”,
referindo que o acesso a certos analgésicos “tornou-
-se mais restrito, afectando aqueles que vivem diariamente
com dor”.
O CannaReporter é um projecto independente e
completamente suportado pela comunidade. Para
continuar a desenvolver este projecto, o apoio dos
leitores é fundamental. Torne-se apoiante do Can-
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Legalização da canábis
na Alemanha é um processo
“muito complexo”
João Xabregas
A Alemanha está cada vez mais perto de legalizar a
canábis e a grande maioria dos partidos políticos já concordou
em dar o passo em frente. Mas a efectiva implementação
das políticas que irão regulamentar o sector
está a ser dificultada pelo direito internacional, pela burocracia
e pelas regras fiscais. De acordo com uma análise
publicada no orgão de comunicação alemão Deutsche
Welle (DW), os activistas querem que o processo seja
acelerado, apelando à descriminalização imediata, mas
para o governo o processo de transição poderá demorar
pelo menos mais um ano.
A questão envolve quase todos os ministérios do governo
alemão e o facto de estarem envolvidos tantos organismos
torna o processo legislativo “muito complexo”, disse
o comissário do governo para a droga e toxicodependência,
Burkhard Blienert, ao Deutsche Welle (DW). “Abrange a
agricultura, protecção dos jovens, policiamento, questões
fiscais e muito mais”.
O governo de coligação dos sociais-democratas de centro-
-esquerda (SPD), os verdes ambientalistas e os democratas
livres neoliberais (FDP) declararam que estão a introduzir
“o fornecimento controlado de canábis recreativa a adultos
em lojas licenciadas”. No entanto, transformar as intenções
em políticas práticas está a revelar-se “uma tarefa monumental”,
diz o jornal alemão.
“O objectivo é um conceito coerente que permita aos adultos
obter canábis em lojas especializadas licenciadas, assegurando
a protecção da saúde e a protecção dos menores”,
disse Blienert.
A maioria dos partidos concorda com a legalização e até
os democratas cristãos conservadores da CDU amenizaram
o seu discurso, confirmado à DW pelo deputado
da CDU e membro do comité de saúde do Bundestag,
Erwin Rüddel.
“Conheço cada vez mais colegas de partido que têm
uma visão cada vez mais diferenciada. Há este consumo
extensivo de substâncias. É por isso que precisamos
de proporcionar um acesso seguro àqueles que querem
consumir canábis de forma recreativa. Ganharemos
mais controlo do problema da droga desta forma do
que fechando os olhos”, afirmou.
Consumidores ainda são detidos pela polícia
Na Alemanha, um utilizador de canábis é apanhado
pela polícia e julgado pelo sistema judicial na Alemanha
a cada três minutos. As autoridades vão continuar a
aplicar a lei dos estupefacientes e podem passar vários
anos até existirem de facto lojas especializadas com licença
para vender canábis. É exactamente por isso que
os activistas estão a pedir que o consumo de canábis na
Alemanha seja descriminalizado imediatamente.
O mais recente relatório sobre crimes relacionados com
droga do Departamento Federal de Polícia Criminal revela
que apenas um em cada seis casos de infractores
relacionados com canábis tem, efectivamente, a ver
com tráfico de droga. A maioria dos casos é apenas o
típico “delito relacionado com o consumo”, ou seja, não
são os traficantes ou o peixe graúdo que são apanhados
na rede da proibição, mas apenas os “stoners”.
Burkhard Blienert critica, porém, o apelo à descriminalização
imediata, dizendo que pretendia algo mais
abrangente. “Eu quero um mercado regulamentado. A
descriminalização vai a par com isso”, enfatizou o comissário
da droga. “É melhor não decompor agora as coisas
em elementos individuais, mas sim pensar em tudo em
conjunto”, afirmou.
Milhões de consumidores = milhares de milhões em
impostos
Baseado em Dusseldorf, o economista Justus Haucap,
disse também à DW que a legalização irá afectar cerca
de 4 milhões de pessoas que consomem canábis na Alemanha,
a maioria delas apenas ‘ocasionalmente’. “Tentámos
avaliar o que isso significa, em termos da quantidade
de canábis. Esperamos um volume de mercado de
cerca de 400 toneladas, que está avaliado entre 4 e 5 mil
milhões de euros”, afirmou. Os números foram apresentados
numa audição de peritos no Ministério da Saúde
no início deste ano.
Num relatório, realizado em 2021, Haucap calculou as
possíveis receitas de impostos e contribuições para a
segurança social, bem como as poupanças feitas pela
polícia e pelo sistema judicial (que ocorrerão quando se
deixar de processar os utilizadores).
Cerca de 200 peritos (alemães e internacionais), incluindo
Haucap, reuniram-se durante cinco dias para discutir
a legalização da canábis. “A coisa mais surpreendente
para mim foi que quase nunca discutimos o ‘se’, apenas
o ‘como’”, descrevendo o diálogo entre os vários grupos,
“que têm interesses bastante diferentes”, como
aberto e construtivo.
O caminho a seguir é tão ambicioso quanto incerto.
“O acordo é que o governo federal adoptará pontos-
-chave no Outono e elaborará uma lei com base nisso.
Será então deliberada no parlamento. Prevejo que isto
acontecerá no próximo ano. Quando é que a lei será
aprovada e entra em vigor? Isso está nas mãos do Parlamento”,
disse o comissário Blienert.
Até lá, muitas questões precisam de ser resolvidas,
mas uma delas é fundamental: de onde virá a canábis?
O representante da indústria, Heitepriem, vê pouco espaço
para o comércio internacional e a importação de
cultivadores tradicionais como Marrocos ou o Líbano.
“As convenções das Nações Unidas impedem-nos, tal
como os regulamentos europeus”, disse Heitepriem,
acrescentando: “Partimos do princípio que terá de haver
produção no país, pelo menos inicialmente. Isto requer
um enorme investimento e, sobretudo, um prazo
de ano e meio a 2 anos para assegurar as capacidades
de produção necessárias”.
Contornar as Convenções da ONU
A Convenção das Nações Unidas sobre Estupefacientes
também preocupa Burkhard Blienert. “Até agora,
os acordos internacionais têm sido lidos de tal forma
que a canábis deve ser estritamente perseguida”, observa,
salientando que uma das convenções relevantes
da ONU data dos anos sessenta. “Foi uma época diferente.
Mas se agora se quiser avançar para uma nova
era, com novas políticas em torno das drogas e da toxicodependência,
que também servem as políticas de
saúde modernas, então é necessário conduzir debates
e discussões – incluindo sobre como estes acordos devem
ser entendidos em 2022”.
No seu mais recente relatório anual, em Março, o Conselho
Internacional de Controlo de Estupefacientes
(INCB), que monitoriza as convenções da ONU sobre
drogas, deixou claro: “As medidas para descriminalizar
o uso pessoal e a posse de pequenas quantidades de
drogas são consistentes com as disposições das convenções
sob controlo de drogas”. Ao mesmo tempo,
sustentaram que a legalização de toda a cadeia de
abastecimento, desde o cultivo até ao consumidor,
viola as convenções de controlo de drogas.
No entanto, dois países – Uruguai e Canadá – já legalizaram
o cultivo, comércio e distribuição de canábis,
tal como o fizeram 22 estados nos EUA. As “violações”
das regras da ONU não acarretaram quaisquer consequências
significativas. Haucap vê um forte movimento
internacional em direcção à legalização da canábis.
Uma vez que a Alemanha é o país mais populoso da
Europa, os seus vizinhos seguem com grande interesse
os desenvolvimentos, de acordo com Haucap: “Se
a Alemanha criar um mercado legal para a canábis,
penso que isso enviaria um sinal muito positivo”.
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O paradoxo da legalização
da canábis em Espanha
Laura Ramos + João Xabregas
Espanha é o país europeu que mais registou ofensas à
lei de drogas, apesar de ocupar apenas o terceiro lugar
no consumo, o que a encerra num paradoxo de legalização.
Em 2020, Espanha gerou 276.742 relatórios sobre
utilizadores de canábis, representando 43% do total da
Europa.
Há pelo menos 25 anos que Espanha vive numa espécie
de desobediência civil generalizada no que respeita ao
cultivo e consumo de canábis, nomeadamente através dos
tão conhecidos clubes sociais ou dos inúmeros bancos de
sementes — o que poderá causar uma falsa percepção a
quem olha para este país de fora.
De acordo com dados do relatório de 2022 do Observatório
Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT),
de todas as ofensas à lei de drogas registadas na Europa
foram, 43% foi aplicado aos consumidores espanhóis,
num total, 276.742 registos. Desse total, a grande maioria
(258.379) refere-se a intervenções pelo consumo ou posse
de canábis, sendo que apenas 18.363 foram respectivas
à venda ou tráfico. Apenas a Alemanha se aproxima de
Espanha nesta estatística, com 227.958 registos relacionados
com ofensas por canábis, seguida de longe pela Turquia,
com 59.716 relatórios.
Portugal surge em oitavo lugar no ranking, com 5.336 registos
por uso e posse de canábis e 1.464 por venda ou
tráfico, num total de 6.800 contra-ordenações. Os dados
contrariam a crença de que, em Espanha, o consumo de
canábis é menos “perseguido” do que em Portugal.
A Ley de Seguridad Ciudadana (Lei de Segurança do Cidadão),
mais conhecida em Espanha como “Lei da Mordaça”,
é uma das responsáveis por este paradoxo, que já dura
há pelo menos duas décadas. Apesar de liderar as tabelas
do relatório da EMCDDA em termos de ofensas por uso e/
ou posse de canábis, Espanha não é o país europeu onde
a planta é mais consumida. Segundo o portal Statista, é
a República Checa que lidera o ranking do consumo de
canábis, , com 11,1%, seguida de França, com 11%. Espanha
tem 10,5% e Portugal surge na 17ª posição com 5,1%
da população a admitir o consumo de canábis.
Cruzando os dados obtidos pelo relatório do OEDT e a
tabela da Statista, apesar de a liderança em termos de
consumo pertencer à República Checa, este país apenas
registou 4.195 intervenções no uso de canábis em 2020,
62 vezes menos do que as que foram impostas em Espanha
no mesmo ano. Quase todos os países tinham já
implementados programas de regulamentação do uso de
canábis para fins medicinais, à excepção de Espanha, onde
apenas em Junho de 2022, o Congresso de Deputados Espanhol
aprovou a lei para o uso medicinal da canábis.
Estes dados indicam que, por cada 10 relatórios gerados
em toda a Europa pelo consumo (e não por tráfico), de
canábis, 4 são feitas em Espanha, o que fica muito próximo
de metade dos 600.802 relatórios criados nos 17
países europeus que forneceram dados ao OEDT, o órgão
consultivo da EU sobre este assunto, que tem a sua sede
em Lisboa, Portugal.
Sanções variam de país para país
A EMCDDA alertou o Cannareporter que o termo ‘relatório
por infracções à lei de drogas” abrange diferentes conceitos,
variando entre os países. “Os delitos de drogas geralmente
referem-se a delitos como produção, tráfico e tráfico
de drogas, bem como uso e posse de drogas para uso.
Embora em alguns países o uso de drogas e/ou posse para
uso não sejam considerados infracções penais e suscitem
sanções administrativas, os relatórios para estes foram incluídos
nos dados aqui apresentados”.
As unidades estatísticas variam entre os países. “Alguns
países registam ofensas, enquanto outros registam pessoas
(ou presumíveis infractores). Entre as infracções registadas,
algumas registam todas as infracções que lhes são
comunicadas, enquanto outras registam apenas as infracções
principais — ou seja, no caso de várias infracções cometidas
pela mesma pessoa, apenas a infracção mais grave
(normalmente aquela que implica a pena mais elevada) é
gravada”.
25 anos para regulamentar a canábis medicinal
Apesar de Espanha ter há cerca de 25 anos anos uma política
“amigável” no que diz respeito ao consumo adulto de
canábis, devido a uma “descriminalização” que daria origem
aos famosos Clubes Sociais, o uso medicinal da planta nunca
tinha sido legalmente reconhecido. Apesar de Espanha
ser um dos países mais vanguardistas no que toca à investigação
do uso de canabinóides para tratamentos de doenças
neurológicas e cancerígenas, os seus pacientes nunca
tiveram a possibilidade de ter acesso legalizado e regulado
a medicamentos à base de canábis.
Até à aprovação desta nova lei, qualquer paciente espanhol
via-se obrigado a navegar pelas zonas cinzentas da lei para
ter acesso a canábis, fosse através dos famosos Clubes Sociais,
que originalmente até foram criados para esse efeito
(e não propriamente com intuitos “turísticos”), ou então arriscando-se
a cultivar as suas próprias plantas, algo “tolerado”
pelas autoridades, desde que as mesmas nunca fossem
visíveis publicamente.
Foram necessários cerca de sete longos e árduos anos de
inúmeras e incansáveis reuniões
entre o Observatório Espanhol de
Canábis Medicinal (OECM), presidido
por Carola Pérez (e também
co-fundado pelos investigadores
Manuel Guzmán e Cristina Sánchez,
da Universidade Complutense
de Madrid), e os vários partidos
políticos espanhóis, a maioria dos
quais se opôs, até muito recentemente,
a qualquer iniciativa de
regulamentar o uso medicinal da
canábis.
“Por vezes estávamos muito optimistas
e outras vezes pessimistas,
porque em algumas fases parecia
que havia um beco sem saída”,
disse Guzmán ao Projecto CBD.
Patologias, farmácias e alguns médicos
fora da nova lei
Embora se estime que cerca de 300 mil pacientes espanhóis
possam vir a beneficiar da nova lei, à semelhança de
Portugal foram definidas apenas algumas indicações passíveis
de obter uma prescrição para canábis. Patologias como
a fibromialgia, doença inflamatória intestinal, caquexia
relacionada com o cancro ou o glaucoma foram deixadas
de fora, o que obriga a que os pacientes que delas sofrem
continuem a ter de recorrer ao mercado ilícito, aos Clubes
Sociais ou então a enveredar pelo auto-cultivo para a obtenção
dos seus medicamentos.
“Tudo pode ser melhorado”, reconhece Guzmán. “Claro que
gostaríamos que outras indicações tivessem sido incluídas…
Mas se me tivessem dito há dois ou três anos o que temos
agora, eu teria dito que é bastante bom”.
Ainda residem dúvidas sobre quais e como serão os pacientes
espanhóis capazes de adquirir os seus medicamentos
de forma legal, pois tudo depende de como a Agência Espanhola
de Saúde, a entidade equivalente ao Infarmed em
Portugal, interpretar as directrizes do projecto aprovado. O
limite para o fazer é até ao final do ano de 2022.
As novas directrizes do projecto de lei aprovado determinam
que as preparações à base de canábis, incluindo formulações
com diferentes rácios de THC:CBD preparadas
localmente em farmácias especificas para cada paciente,
serão prescritas por médicos especialistas e distribuídas por
farmácias hospitalares, embora Guzmán e os seus colegas
do Observatório esperem que isto se estenda também aos
Médicos de Clínica Geral e às farmácias comunitárias.
Outra das dúvidas é se as flores de canábis, que não são
propriamente mencionadas no projecto apresentado, serão
ou não incluídas no novo programa de acesso a canábis
para fins medicinais, o que está a suscitar algumas preocupações
entre os pacientes sobre como aceder às mesmas
por vias legais, especialmente os que já as utilizam para gerir
dores e náuseas.
Empresas licenciadas apenas irão exportar
Excluindo o facto de se um programa médico sobre o uso
de canábis pode ser realmente lançado em apenas seis
meses, Guzmán acredita
que o seu sucesso irá
depender do dinheiro e
recursos que lhe forem
afectados, pois será necessário
educar e formar
os médicos no que toca a
terapias com canábis. Os
próprios produtos devem
estar prontamente disponíveis
para prescrever
e serem consumidos. “Se
houver um regulamento
mas não houver produtos
ou não houver médicos,
então será inútil”, diz Guzmán.
O que leva a outro
factor também importante,
que é o custo que
estas prescrições e medicamentos vão ter para os pacientes.
Guzmán espera que a maior parte do custo acabe por
ser coberto pelo sistema de segurança social espanhol. No
entanto, caberá à Agência Espanhola de Saúde decidir, em
última análise, onde recairá o encargo financeiro.
“Nós (OECM) teremos de estar muito atentos se os pontos
principais são cumpridos”, diz Guzmán. “Ainda temos um
papel a desempenhar no processo, mas temos de continuar
a observar e ser tão activos quanto possível para termos o
melhor e mais generoso programa”.
O Governo espanhol também já autorizou e emitiu licenças
a várias empresas para o cultivo de “canábis medicinal”, porém
restritas à exportação para outros países, como Alemanha,
Reino unido e Polónia.
______________________________________________
* Artigo corrigido e aumentado a 19-09-2022, após declarações da
EMCDDA. Foram substituídos os termos “sanção” ou “multas” para
“registo” ou “relatório” por “ofensa a lei de drogas”, já que muitas vezes
são registadas apenas “sanções administrativas” sem qualquer
pena ou multa aplicada.
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Lusitano de Zurique - OUTUBRO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - OUTUBRO 2022 | www.cldz.eu
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AGENDA
AGENDA
Informações
MAPS
SEGUNDA-FEIRA - 3.10.
MUSEU DO RELÓGIO
A Suíça é uma terra dos relógios! Não
“Uhrenmuseum Beyer” em Zurique,
você conhecerá a história desta indústria
e verá relógios de colecionadores.
As visitas guiadas em alemão
acontecem maiores toda primeira
segunda-feira do mês, das 17:30 às
18:30. Após o passeio, os convidados
desfrutam juntos de um aperitivo. Seg-sex
14:00-18:00. É necessária uma
inscrição para as visitas guiadas. CHF
10.- (CHF 5.- para estudantes). Entrada
livre com o status de refugiado N/S/
F/B.
Uhrenmuseum Beyer Zurique. Bahnhofstr.
31.
Autocarro 2/6/7/8/9/11/13/17 bis “de
Paradeplatz”.
www.beyer-ch
TERÇA-FEIRA - 4.10.
OFICINA DE VOZ NO
TEATRO DA ÓPERA
Toda terça-feira à noite, você participa
de uma oficina de voz e pronúncia
na “Opernhaus”. Lá, você representará
pequenas cenas com um grupo, cantará
e assistirá aos ensaios da “Opernhaus”.
Para todas as pessoas a partir
de 16 anos de idade. 19:00-21:00. Entrada
livre.
Opernhaus. Sechseläutenplatz 1.
Autocarro 2/4 oder Autocarro 912/916
bis “Opernhaus”.
www.opernhaus.ch
QUINTA-FEIRA - 6.10.
APRESENTAÇÃO SO-
BRE O ISLÃO “Fórum der Religionen”
apresenta como diferentes
tradições religiosas. Hoje você aprenderá
sobre o Islã e a peregrinação
a Meca. Em seguida, você discutirá
com os outros participantes durante
um aperitivo. Inscrição obrigatória.
19:00. Participação gratuita.
Dzemat der islamischen Gemeinschaften
Bosniens Grabenstr. 7. Schlieren.
Eléctrico 2, Autocarro 201/302/303/308
oder S11/S12 bis “Schlieren, Zentrum/
Bahnhof”.
www.forum-der-religionen.ch
SÁBADO - 8.10.
FILME CHINÊS
A “trigon-film” é uma fundação suíça
de cinema que selecciona filmes internacionais
para as salas de cinema.
O filme chinês “Return to Dust” conta
a história de um casal chinês que
vive em uma vila pobre. O escritório
da MAPS soretia 3×2 entradas gratuitas
para este filme em todos os cinemas
parceiros “Trigon-Filme” na Suíça.
Basta ligar para: 044 415 65 89 ou
enviar seu endereço postal por e-mail
para maps@aoz.ch. Mais informações
em www.trigon-film.org.
www.trigon-film.org
DOMINGO - 9.10.
JARDIM DE ABÓBORAS
O Outono é a época das abóboras! Na
“Römerhof Jucker Farm” você encontrará
divertidas exposições de abóboras
e estátuas gigantes construídas
com abóboras. Vá com sua família e
faça caminhadas pelo campo. 08:00-
19:00. Entrada gratuita.
Römerhof Jucker Fazenda. Bülacherstr.
100.
Autocarro 732/734 bis “de Kloten,
Hohrainli”.
www.juckerfarm.ch
TERÇA-FEIRA - 11.10.
COZINHAR PRATOS DI-
NAMARQUESES
(TAMBÉM EM 25.10)
Você tem vontade de conhecer a culinária
de outros países? Uma associação
“Expo Transkultur” organização,
cursos de culinária de especialidades
internacionais. Cozinhe junto com
uma equipe e coma como refeições
preparadas. Hoje você vai conhecer
uma cozinha dinamarquesa! 10:00-
13:00. Participação gratuita, contribuição
espontânea.
GZ Hirzenbach. Helen-Keller-Str. 55.
O eléctrico 9 bis “Hirzenbach”.
www.expotranskultur.org
QUINTA-FEIRA - 13.10.
LABIRINTO DO FOGO
O calor fazer o verão acabou e agora
chegamos ao outono frio! Um “Labyrinthplatz”
celebra uma estação
fria do ano com um show de fogo!
Uma Praça do Labirinto será decorada
com fogo. O “Ensemble Musigruum
Winterthur” se encarrega da
música. 19:00-21:00. Entrada livre.
Zeughaushof. Labyrinthplatz.
O autocarro 31 bis “Kanonengasse”.
www.labyrinthplatz.ch
SEXTA-FEIRA - 14.10.
FESTIVAL DE CINEMA
ETNOGRÁFICO
O festival etnográfico “Respeito Bleu
Festival de Cinema” acontece hoje.
Assisten aos novos filmes de estudantes
etnográficos da Suíça e do exterior.
Em seguida, haverá um debate. A
partir das 18:00. Entrada livre.
Völkerkundemuseum. Pelikanstr. 40.
Autocarro 2/9 oder Barramento de 66
bis “Sihlstrasse”.
www.agenda.uzh.ch
SÁBADO - 15.10.
COLHEITA DE COGUME-
LOS
É novamente a época dos cogumelos!
Onde quer que haja uma floresta,
você pode colher cogumelos gratuitamente:
“Uetliberg”, “Höggerberg”,
“Käferberg”, “Züriberg” ou “Adlisberg”.
Na “Amtliche Pilzkontrolle” você
pode verificar se seus cogumelos são
comestíveis! Especialistas explicam
como procurar cogumelos, quais cogumelos
são comestíveis e até dão
receitas saborosas para pratos com
cogumelos! Ter/qui 18:00-19:00. Sab-
-dom 18:00-19:30. Gratuito. Atenção:
A colheita de cogumelos é proibida
entre os dias 1° e 10 de cada mês!
Amtliche Pilzkontrolle. Eggbühlstr.
21.
Autocarro 14 oder Autocarro 768 bis
“Felsenrainstrasse”.
www.stadt-zuerich.ch
DOMINGO - 16.10.
MUSEU DOS BRINQUE-
DOS
Você conhece a história dos brinquedos?
Descubra os brinquedos europeus
do século XVIII a meados do
século XX, no Museu de Brinquedos.
Seg-sex: de 14:00 às 18:00. Sáb 13:00-
16:00. CHF 7.-. Entrada gratuita com
ZürichCARD.
Zürcher Spielzeugmuseum. Altstetterstr.
127.
Autocarro 6/7/11/13/17 bis “de
Rennweg”.
www.zürcher-spielzeugmuseum.ch
SEGUNDA-FEIRA - 17.10.
PASSEIO PELAS ESTU-
FAS DOS TRÓPICOS
Quando lá fora chove e está frio, vale
a pena fazer uma visita às estufas dos
trópicos no Jardim Botânico da Universidade
de Zurique. Coloridas plantas,
flores e aromas exóticos fazem-
-nos esquecero Outono. Diariamente
09:30-16:45. Entrada livre.
Botanischer Garten. Zollikerstr. 107.
Autocarro 33/77 bis “de Botanischer
Garten”.
www.bg.uzh.ch
TERÇA-FEIRA - 18.10.
VISITA GUIADA NOC-
TURNA POR ZURIQUE
Quando a noite chega, descubra uma
zona medieval da cidade de Zurique.
Um guia vestido com traje de época
conta histórias terríveis sobre a Idade
Média em Zurique. Visitas guiadas públicas
em alemão. Inscrição necessária.
20:30. CHF 15.-.
Início: Lindenhof.
Autocarro 7/10/11/13 bis “de Rennweg”.
www.zuerich.com
QUARTA-FEIRA - 19.10.
MUSEU DA DOENÇA
Estamos na época do Halloween. O
“Moulagenmuseum” tem todo o gosto
em lhe provocar medo! Neste museu
pode ver partes do corpo doentes
feitas de cera. Qua 14:00-18:00. Sáb
13:00-17:00. Entrada livre.
Moulagenmuseum. Haldenbachstr. 14.
Autocarro 9/10 bis “Haldenbach”.
www.moulagen.uzh.ch
QUINTA-FEIRA - 20.10.
FESTIVAL DE ARTE DIGI-
TAL DE ZURIQUE
(20.10.-30.10.)
O desenvolvimento de novas tecnologias
também permite realize arte
de outra forma. Durante o “DAZ Arte
Digital Zurique Festival” diversos museus
e centros de arte de Zurique mostram
arte digital, como por exemplo,
no “Museum für Gestaltung” ou não
“Opernhaus”. Os visitantes podem
apreciar vídeos, concertos uo participar
em workshops com efeitos de
realidade virtual. O escritório da MAPS
oferece 3×2 entrada diários. Basta ligar
044 415 65 89 ou enviar um e-mail
para maps@aoz.ch.
www.da-z.net
SÁBADO - 22.10.
MERCADO DE FRUTA
Maçãs, peras, uvas... e muito mais! Hoje
no “Botanischen Garten” há um mercado
de fruta, onde pode encontrar
produtos de Outono, mas também peritos
que esclarecem as suas dúvidas
sobre fruta. 11:00-17:00. Entrada livre.
Zollikerstr. 107.
Autocarro 33 bis “de Botanischer Garten”.www.bg.uzh.ch
DOMINGO - 23.10.
VER FILMES EM CASA
O site não www.playsuisse.ch pode
ver gratuitamente filmes, documentários
e séries suíças e estrangeiras. Os
filmes estão disponíveis em várias línguas.
Gratuito.
www.playsuisse.ch
TERÇA-FEIRA - 25.10.
HISTÓRIA DE ARTE
É apreciador de história de arte e de
chá? Então que venha por às tardes
“Kunst zum Tee”! Enquanto tomam
chá e biscoitos, os participantes debatem
e apresentam diversos factos sobre
a história de arte, desde a Idade da
Pedra até aos dias de hoje! 15:30-17:00.
Participação gratuita.
GZ Hirzenbach. Helen-Keller-Str. 55.
O eléctrico 9 bis “Hirzenbach”.
www.expotranskultur.org
QUARTA-FEIRA - 26.10.
CONCERTO DE MÚSICA
POPULAR
Gosta do ambiente festivo com cheirinho
a Itália? Então apareça hoje à
noite no “Clube de Folk Züri” para o
concerto da banda italiana “eu Liguriani”,
que toca música tradicional da região
italiana da Ligúria. Bom ambiente
garantido! Abertura de portas: 19:30.
Concerto: 20:00. O escritório da MAPS
oferece 3×2 entrada. Basta ligar 044
415 65 89 uo enviar um e-mail para
maps@aoz.ch.
GZ Buchegg. Bucheggstr. 93.
Autocarro 11/15 oder Autocarro 32/72
bis “Bucheggplatz”.
www.folkclub.ch
SEXTA-FEIRA - 28.10.
DESFRUTAR DA SEXTA-
-FEIRA NA NATUREZA
É Outono! Altura ideal para dar um
passeio pela maravilhosa natureza
vermelho-amarelada. À volta de Zurique
encontra diversos percursos para
fazer caminhadas e jogging. Por exemplo,
o trilho “Dorfbachtobelweg”, com
10 km, no qual há uma queda de água
e até uma lendária gruta do dragão.
www.zuerich.com
SÁBADO - 29.10.
MERCADO NA ZONA
ANTIGA DA CIDADE
Procura um presente especial uo quer
simplesmente descobrir produtos suíços
locais? Então tem de ir ao mercado
“Rosenhof-Markt” na zona histórica
de Zurique. É também uma oportunidade
para dar um belo passeio pela
zona antiga de Zurique. Todos os Sábados
até 12.11. 10:00-18:00. Gratuito.
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Autocarro 4/15 bis “Rathaus”.
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DOMINGO - 30.10.
ELÉCTRICO NOSTALGIA
Já pensou como seria o eléctrico há
100 anos? No último fim-de-semana
de cada mês (excepto em Dezembro)
pode andar sem antigo carro eléctrico
com condutor vestido com traje histórico.
Basta apanhar o 21, o eléctrico
de museu, usando qualquer bilhete
válido na rede ZVV. Se desejar saber
mais sobre os eléctricos em Zurique,
visite o Museu do Eléctrico (on-line ou
no local)!
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Humor - ”Quem não sabe rir, não sabe viver” Passatempo
brasileiro, todo feliz da vida foi patentear
sua mais nova invenção: a água em
O
pó ! É tão simples de se utilizar que só é
preciso acrescentar água .
m jornalista foi fazer uma reportagem a
Uum asilo de velhos e pergunta a um velhote
que estava sentado:
A que é que se deve a sua idade tão
-avançada?
Método, meu filho... Sempre tive uma
-hora certa para me deitar e para me levantar.
O nosso organismo é uma máquina
que precisa de método e horário. O jornalista
foi ter com outro e faz-lhe a mesma
pergunta, ao que o velho responde: -Sempre
evitei as mulheres, meu jovem! A seguir
pergunta a outro:
Eu nunca fumei, nunca bebi nem tive vícios
de qualquer espécie. A seguir o jor-
-
nalista descobre o mais velho, o mais acabado,
o mais enrugado de todos e muito
admirado pergunta:
Então, e o senhor, a que deve essa lon-
Nunca teve vícios, festas ou
-gevidade?
mulheres?
Qual quê! Eu nunca tive horário para
-
nada, muita borga, copos, fumava três
maços de tabaco por dia, jogo, mulheres
com força, noites e noites sem dormir, eu
sei lá que mais...
-
-
E
-
-
-
Então, e quantos anos é que tem?
Trinta e dois.
stava um velhote de gatas a olhar para
o chão, chega uma pessoa ao pé dele e
pergunta-lhe:
O senhor perdeu alguma coisa?
Perdi sim, um caramelo.
Então e o senhor está aqui de gatas
há tanto tempo por causa de um caramelo,
que importância pode ter um caramelo?
É que este tem os meus dentes agarrados!...
-
Manére e as Juaquina já estavam fartos
de ser pretos e queriam ser brancos.
O
Vai daí, o Manére pede às Juaquina para
comprar um pacote de lixívia. Despejam a
lixívia para uma celha e metem-se todos
lá dentro, Manére, Juaquina e os seus três
pimpolhos. Aí toca a esfregar com força,
mas... Nada, continuaram pretos e com algumas
dores adicionais. O Manére pensa
e pede à Juaquina para comprar aguarrás
e... O mesmo resultado. Pensa novamente
e compra um balde de cal. Chegado à
palhota, ele e a Juaquina tomam banho
na cal e ficam brancos e de imediato chamam
os pimpolhos para os tornar brancos,
mas, depois dos maus tratos infligidos anteriormente,
eles recusam-se a embarcar
na nova experiência. O Manére para a Juaquina:
-
Porra!!! Ainda num há cinco minutos qui
nós é branco e nós já está a ter chatices
com os sacana dos preto!!!.
stavam 10 pretos no cinema, a mascar
Echiclas de menta. De repente levantam-
-se todos, e atiram as chiclas contra a tela.
Como se chama o filme?
R: Os dez mandamenta.
m antigo herói revolucionário, Vasily Iva-
Chapaev, e o seu fiel ajudante de
Unovitch
ordens, Pyetka, estavam a saltar de pára-
-quedas:
”Estamos a 100 metros do solo”, exclamou
preocupadamente Pyetka, “puxe a
-
corda para abrir o para-quedas, Vasily Ivanovitch.”
“É cedo ainda,” respondeu calmamente
- Chapaev.
”Agora faltam apenas 50 metros,” gritou
- Pyetka. “Puxe a corda agora”
”Calma, Pyetka, ainda falta muito tempo”
- exclamou Chapaev, tão calmo quanto da
outra vez.
”Só faltam três metros,” gritou Pyetka.
-“Puxe a corda.”
“Só três metros ?... Então não se preocupe,”
comentou Chapaev. “Desta altura eu
-
não preciso de um pára-quedas para saltar.”
o meio de uma violenta tempestade,
Nmarcada por raios e trovões, um argentino
sai para a chuva. Alguém passa pelo
local, estranhando a situação do argentino
e pergunta-lhe:
O que está aqui a fazer? porque não sai
-do meio da tempestade ?
Não posso, estou à espera que Deus me
-tire uma fotografia.
inglês aristocrático liga para sua casa
O à noite. Como de costume, o mordomo
(cujo nome é sempre James) atende lentamente,
com classe e sobrancelhas arqueadas:
Yes, “sar”!! -James?? - Yes, “sar”!! - Por
-obséquio, James, dirija-se ao quarto de
Lady e verifique cuidadosamente se ela
se encontra em presença de seu amante.
Aguardo ao telefone. -Yes, “sar”!! Então o
mordomo sobe dois lances de escada cuidadosamente,
vai até o quarto do casal e
ouve sons..sinistros. Desce silenciosamente
e volta ao telefone
Sir?? -Pois bem, James, ele está lá? -Yes,
-
sir!! -Hmmm... Faça o seguinte, James:
Vá à sala de estar, pegue o rifle de caça,
carregue-o e mate os dois. Depois volte
ao telefone que lhe darei mais instruções.
-Yes, sir!! O mordomo pega o rifle, sobe as
escadas e BAM!!! BAM!!! destroça os pombinhos.
Volta ao telefone e diz: O.k., sir. Tudo
realizado a contento. -Muito bem, James.
Agora, por favor, jogue os corpos na piscina
e limpe o quarto. Chegando a casa eu
acerto os detalhes. -Mas... sir... nós não temos
piscina em casa... - Não?!? Hmmm...
Desculpe-me, enganei-me no número!
Baptista Soares
(Endireita)
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POESIA
Romaria
Maria José Praça
Enfeitei-me com brincos de cereja
Pus um colar de bolas de azevinho
Pintei a cara com sumo de morangos
E perfumei-me com chá de rosmaninho
Ao vento, ao som do peito, era a blusa
Que em bordados d’espigas se vestia
E os lábios de medronhos com papoilas
Rezavam à Senhora d’Agonia
A saia que vestia volteava
Com filigranas de sol brilhando ao mundo
Eram chinelas d’asas que a voavam
Ao som do campanário a tocar fundo
Novos e velhos
oesia
Soavam estrelas à volta do coreto
Que bramiam do pulso ao fim de mim
E o canto dos foguetes e da banda
Escorria para o rio em trajes de clarim
Para lá de cantos ou valsas de Viena
Mais do que violinos ou harpas de cetim
Soavam chulas, fandangos, corridinhos
Modas e viras do ventre da raiz
Comi farturas douradas com canela
Comprei cavacas, regueifas e alecrim
E em coração aos molhos d’algodão doce
Olhei do chão um balão no céu de mim
E n’esse passo do olhar solto em magia
Solltei-me à Lua Cheia d’esse dia...
Maria José Praça
(“Pedras do meu andar ° 126080 da SPA)
-Vila Nova de Cerveira, ao chegar de Caminha
-
Na Praia
Carmindo
de Carvalho
Água em ondas
Que chegam e ronronantes
Enroscam-se na areia
Como carinhosas amantes.
Gente a fervilhar
A caminhar.
Riscos, desenhos
Mensagens e pégadas.
De joelhos
De rabo pró ar
A brincarem
Às fortalezas
Castelos e muralhas.
Corpos esbeltos
Deitados a tostar!
Corpos balofos, gelatinosos
Com tudo a baloiçar!
Barrigas de grávidas
E de pançudos
Quase a rebentar.
Banhas a gingarem no ir
E no vir
Para dentro e para fora
Nos passos
Vacilantes e desengonçados
Como bomba
Ausência Breve
Pedro Barroso
x
1950 - 2020
Uma íntima e anunciada ausência permite-me
experienciar uma invulgar solidão
com tranquilidade e compromisso. Mesmo
sabendo que é uma ausência provisória,
sobra-me a casa imensa, demais para mim,
chamando pelas horas longas do acontecer.
Tão breves e falsas sempre, as horas.
Lentas, quando as queríamos céleres.
Fugazes, quando as queríamos perenes.
Aproveito para o jogo interior de organizar
a poesia que há dentro dum projecto que
se aproxima. E organizar-me em mim, que
sempre na escrita me perco, me espelho e
me transbordo.
Tudo feito devagar, que chove um dia proibido
e mole.
Lá longe, das Caraíbas, amigos telefonam, felizes,
lembrando o Verão intenso e abolerado
onde se estendem. Trocando o frio pelo sol.
Não me apeteceu, desta vez, ir a parte alguma.
Ficar e ser interior, também tem o seu encanto;
vasculhar nas gavetas imensas do pensar.
Ou deveria dizer intensas. Não sei.
Sobrevivo na interioridade plena desse amealhar
confidencial, desse reflectir pessoal.
E fujo da frivolidade pública. Tento. Sem fotos
de vaidade, nem certezas grandes, nem
indulgências plenas.
Mas atento. Procuro muito ouvir o que os outros
dizem. E depois reflectir.
Pensar é sinceramente, um desporto em
que falharei imenso nos remates, mas de
que continuo a gostar muito. Por cá, à minha
volta, na cidade grande, a chuva torna o
Natal uma indústria omnipresente, cansativa,
luzida e opressiva. Somos tão pequenos,
perante os constructos que nós próprios
fabricámos do maravilhoso. Tristes por não
comprarmos tudo na feira luzida dos presentes.
E as ruas brilham em desafio no asfalto
molhado.
Tudo uma óbvia e imensa construção de mitos
e deslumbres. Cuidado, penso eu. A vida
não é este júbilo datado e “jinglebélico”.
Quero lá saber do Verão do outro lado do
mundo. Sejam felizes.
A grande Luz, creio, é sempre outra. A que
nos ergue outro planeta. E em todo o sonho
que a ele nos conduz.
Embora não seja ainda nele que mora a catedral.
A prodigalidade. O jardim de poetas. O entendimento.
A luz.
O mais belo de tudo-creio ter percebido é,
sobretudo, o caminho.
O remoto, mas sabido e que dos outros,
mesmo longe, vamos sabendo. E o outro.
Interior e profundo, o tal que mora em nós.
Esse sim, mesmo em dias de bátega sofrida,
e de ausência, esse vale a pena. Embora conte
os dias. Fazes-me falta.
Sempre.
TRIBUTO AO BOMBEIRO
Euclides Cavaco
Nobre soldado da paz
Duma audácia desmedida
Pelos outros é capaz
Pôr em risco a própria vida.
Arrojada profissão
Que só o bem simboliza
Por nos dar a protecção
Quando dele se precisa.
Quase a explodir!
Hoje, esta praia
É uma grande feira
Onde alguns mostram
O que têm com muita vaidade.
E onde outros coitados
Tentam esconder ou disfarçar
O que têm para mostrar.
É o povo. Cada qual como é, ou como
pode ser.
Felizmente a viverem a vida em paz.
Praia de Armação de Pêra, 11 de
setembro, de 2022
Ser bombeiro é altruísmo
De insigne tenacidade
Gesto de puro humanismo
Protegendo a sociedade.
Com muito apreço e respeito
Pla sua missão suprema
Presto-lhe devido preito
Nos versos deste poema.
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Horóscopo
Publicidade
CARNEIRO
Muita energia durante todo o mês. A única
coisa a que deve prestar mais atenção é à
ingestão de água, que deve ser abundante.
No amor terá muita necessidade de demonstrar
os seus sentimentos, podendo
chegar ao exagero.
Não encontrará a resposta que procura na
pessoa que ama.
No trabalho demonstrará muita actividade
e capacidade de improvisação para solucionar
alguns problemas.
TOURO
Marte em oposição à Lua representa um
momento de emoções intensas e conflitos
emocionais. Neste momento poderá ser difícil
lidar com o sexo oposto, embora fosse
bom nesta altura desse mais importância
aos aspectos positivos de qualquer relação.
Um trabalho que dava por
terminado, reaparecerá para
sofrer pequenas alterações
e ser melhorado na sua totalidade.
VIRGEM
Como está com uma certa
falta de concentração
nesta fase deve evitar tomar
decisões importantes
tanto nos negócios como
na sua vida pessoal. Poderá
sentir-se enervado sem saber
a causa. Este é uma boa
altura para se auto examinar.
BALANÇA
Necessitará dormir mais horas do
que tem dormido até aqui e o seu organismo
agradecerá se fizer alguma dieta
depurativa.
Horário
Seg. a Sexta. — 08h00 às 20h00
Sábado — 08h00 às 19h00
GÉMEOS
Haverá uma preocupação exagerada com a
saúde e com a estética corporal, podendo
chegar à obsessão. Continuará a pensar em
alguém do seu passado que deixou marcas
profundas na sua vida e a pessoa que está
actualmente consigo notá-lo-á.
A chegada de novos companheiros de trabalho
serão a desculpa para um rendimento
mais alto do que o habitual e também
para quebrar a rotina.
CARANGUEJO
Esta altura constitui já a passagem a um
momento mais tranquilo, mais interiorizado.
A passagem da Lua será responsável
por esta gradual transformação do seu
diálogo com o mundo. Pode trazer-lhe, por
um lado, uma súbita falta de confiança,
mas, por outro, um diálogo esclarecedor e
construtivo.
LEÃO
Se necessita tomar medicamentos, opte
pela via natural, e melhorará a sua qualidade
de vida. Sairá com a pessoa que ama
mais vezes do que o habitual e procurarão
locais diferentes para os momentos de
mais intimidade.
A sua relação não passa por dos seus melhores
momentos e a pessoa que ama estará
em baixo de forma e necessitando estar
sozinha. Façam uma pausa no caminho!
Sentirá o apoio dos seus companheiros de
trabalho para realizar uma tarefa que é da
sua responsabilidade.
ESCORPIÃO
Está a entrar num momento de grande
descontracção, sobretudo devido à sua
paz interior. Terá uma real sensação de
segurança, tranquilidade, sem a preocupação
de assuntos pendentes que noutras
alturas, embora nem sejam significativos, o
deixam insatisfeito.
SAGITÁRIO
As costas e os órgãos sexuais poderão dar-
-lhe algum problema que será de fácil solução
se consultar o médico a tempo.
Uma ligeira indisposição deixará a pessoa
que ama em baixo de forma, mas saberá
como levantar-lhe a moral e o ânimo.
Assumirá responsabilidades que não são
suas e saberá ultrapassar as dificuldades
que surgirem.
CAPRICÓRNIO
Embora possa sentir uma maior vontade
de tirar mais partido da casa e da família,
vai ser aí onde as coisas se poderão mostrar
um pouco mais atabalhoadas, menos
harmoniosas ou menos controladas.
AQUÁRIO
Respire mais ar puro e melhorará grandemente
a sua saúde. Corrija posições incorrectas
no trabalho. A pessoa que comparte
a sua vida, comparte também os seus gostos
e juntos poderão viver momentos de
muita cumplicidade.
Começa uma nova etapa profissional que
estimulará a sua competitividade e dará a
conhecer as suas capacidades.
PEIXES
Durante este trânsito de Mercúrio pode
tomar iniciativas, mas prepare-se para defender
as suas ideias com unhas e dentes.
Da sua convicção e determinação poderá
nascer a vitória. A insatisfação e intranquilidade
que agora sente é passageira, ainda
assim, no entanto, preferirá o isolameW
Recolha e adaptação:
Joana Araújo
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ÚLTIMA
Breves da Suíça (*)
Suíços vão aumentar a
idade da aposentadoria
das mulheres
De acordo com as projeções
para a votação deste domingo,
o aumento da idade de
aposentadoria para as mulheres
de 64 para 65 anos
passaria com apenas 51%.
Casos de varíola dos macacos
chega na barra dos
500
A Suíça e o vizinho Liechtenstein
registraram mais de 500
casos de varíola dos macacos.
Carros a gasolina desaparecerão
das estradas suíças
Com o desenvolvimento do
mercado de carros elétricos
na Suíça, a principal questão
é saber: como carregar todas
essas baterias no futuro?
Suíça assina acordo para
compra de caças americanos
Autoridades suíças assinaram
um acordo com os EUA
para comprar uma frota de
caças F-35A.
Incêndio destrói restaurante
em alta altitude
Um restaurante construído a
3.000 metros nos Alpes suíços,
e um destino preferido
dos turistas de esqui, foi parcialmente
destruído pelo fogo.
Turistas russos continuam
vindo à Suíça
Os hotéis suíços registraram
61.214 diárias der turistas russos
até o final de julho.
Suíça revisa plano de lei C02
Após a rejeição de uma proposta
de lei climática no ano
passado, o governo suíço mapeou
novas mudanças na legislação.
Suíça acaba com vistos
acelerados para cidadãos
russos
O governo suíço decidiu na
sexta-feira deixar de emitir
vistos facilitados para os cidadãos
russos.
Parlamento suíço aprova
doação de óvulos
O Parlamento abre o caminho
para que as mulheres inférteis
recebam doações de
óvulos na Suíça.
Novartis vai gastar 300
milhões de dólares em
bioterapias
A empresa farmacêutica suíça
Novartis está investindo
$300 milhões ($288 milhões)
no desenvolvimento da bioterapêutica,
que inclui um
novo centro de biologia de
$100 milhões em sua sede na
Basileia.
Desenvolvimento aqui:
swissinfo.ch
(*) Autor escreve segundo
a variante brasileira da
Língua Portuguesa.
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