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SCMedia News | Revista | Junho 2022

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

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78<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

O MUNDO É REDONDO, por Cláudia Brito<br />

“Uma filosofia de sucesso mais gentil”<br />

Ideas worth spreading, TEDGlobal2009,<br />

Alain de Botton, 9 millhões de visualizações<br />

No que diz respeito às nossas carreiras, há um hiato entre o que queremos e o que temos. Já é mau não se ter<br />

o que se quer, pior é ter uma ideia do que se quer, e no fim chegar à conclusão de que não era nada disso.<br />

Alain de Botton desafia-nos a analisar se a nossa ideia de sucesso é mesmo nossa, ou se nos foi incutida,<br />

seja pelos nossos pais, seja pelos instrumentos da sociedade de consumo em que vivemos.<br />

Algo que é único no nosso tempo, em relação<br />

a qualquer outra época da humanidade, é que<br />

nos adoramos a nós mesmos. Os nossos heróis<br />

modernos são seres humanos, de carne e osso,<br />

em vez de criaturas míticas, deuses, espíritos<br />

ou forças da natureza, como antigamente. Este<br />

paradigma cria-nos um desafio adicional, que é o<br />

de que temos a total responsabilidade por tudo o<br />

que nos acontece, bom ou mau. Leva-nos também<br />

a procurar a Natureza, não necessariamente por<br />

questões de saúde, como racionalizamos, mas<br />

para fugirmos a esta intensa e sempre presente<br />

“humanidade”, à competição intensa e aos dramas<br />

humanos.<br />

Na nossa sociedade actual, a nossa carreira<br />

define-nos. Conforme o que fazemos é mais ou<br />

menos valorizado pelos outros, assim somos mais<br />

ou menos bem-sucedidos. O dinheiro e a fama<br />

são a medida do sucesso, e criando um mundo<br />

materialista. Alain de Botton propõe uma visão<br />

alternativa, em que não é pelos bens de consumo<br />

que ansiamos, mas pelo reconhecimento social<br />

que eles trazem, na proporção directa do seu<br />

valor percepcionado. Nesta perspectiva, o dono<br />

dum Ferrari deveria suscitar muita simpatia e<br />

carinho.<br />

Na realidade, a ideia de que vivemos numa<br />

meritocracia, em que qualquer pessoa com<br />

suficiente energia, competências e talento pode<br />

chegar ao topo, gera mais inveja do que amor.<br />

Segundo Alain de Botton, este sentimento surge<br />

devido ao pressuposto de igualdade ser falso,<br />

porque há demasiados factores aleatórios que se<br />

impõem. É aqui que um outro recurso em desuso<br />

se revela útil, nomeadamente a arte e o teatro. As<br />

tragédias gregas, por exemplo, permitiam tratar<br />

com dignidade os que perdiam, que não eram<br />

reduzidos a descartáveis “perdedores”, porque<br />

eram simplesmente desafortunados. Hoje em dia,<br />

a comunicação social procura, e é procurada, para<br />

julgar e ridicularizar aqueles que perdem estatuto<br />

e controlo. A premissa é que, se dominamos o<br />

nosso destino, como acreditamos, merecemos<br />

tudo de mau que nos acontece.<br />

Não podemos ter tudo o que queremos, por<br />

isso temos de aceitar que vamos sempre perder<br />

nalguma área. A sabedoria vem de reconhecermos<br />

que a justiça absoluta é algo que merece ser<br />

ambicionado, mas objectivamente é impossível de<br />

alcançar.<br />

Alain de Botton é de origem suiça, falando<br />

fluentemente francês, alemão e inglês. Estudou<br />

História na Universidade de Cambridge e Filosofia no<br />

King’s College em Londres, tendo-se depois dedicado<br />

a escrever sobre diversos temas contemporâneos, em<br />

vários livros que foram “best-sellers”.

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