12.07.2022 Views

SCMedia News | Revista | Maio 2022

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Maio</strong> <strong>2022</strong><br />

4,60€<br />

Mensal<br />

32<br />

NIKE REFURBISHED<br />

O CAMINHO DE VOLTA<br />

ABREU LOGISTICS<br />

PREPARADA PARA<br />

CRESCER<br />

OPTIPLY<br />

NEM A MAIS, NEM A<br />

MENOS<br />

DIGITALIZAÇÃO<br />

NUVENS EM FORMA<br />

DE ARMAZÉM<br />

Supply chain:<br />

Da disrupção à reinvenção


2<br />

MAIO <strong>2022</strong>


SCM Supply Chain Magazine 3<br />

fabio.santos@supplychainmagazine.pt<br />

Fábio Santos<br />

EDITORIAL<br />

A CORRENTE NÃO ESTICA<br />

“Nunca se pode planear o futuro pelo passado.”<br />

Edmund Burke<br />

Nos últimos anos a supply chain entrelaçou-se<br />

de tal maneira que o imprevisível tornou-se uma<br />

constante diária. Ser proativo é cada vez mais<br />

uma necessidade, mas a dificuldade de o ser<br />

também acompanha esse crescimento, e quando<br />

tudo parece estar bem - ou sensivelmente<br />

melhor -, damos por nós a enfrentar uma<br />

pandemia, um navio encalhado numa das<br />

rotas mais movimentadas do mundo, falhas<br />

no abastecimento de produtos e de matériasprimas,<br />

ou até mesmo, veja-se bem, guerras.<br />

Tanto comerciais como político-militares.<br />

No meio do caos, todos tentam dar o seu melhor<br />

e puxar pelas suas supply chains. Os mais<br />

astutos puxam também pelas dos seus parceiros<br />

e tentam garantir uma subsistência, mas chega<br />

a um ponto em que as correntes não esticam<br />

mais.<br />

A inconsistência de eventos força os<br />

profissionais a “dormir de olhos abertos” para<br />

poderem ser mais proativos, e mais do que<br />

nunca precisam de estar atentos ao mundo que<br />

os rodeia e de estar bem informados. E é essa a<br />

nossa missão.<br />

Ao longo desta edição, procurámos ser esses<br />

olhos, e mostrar o que está a acontecer ao<br />

redor das empresas. Talvez assim, com maior<br />

confiança, se retire alguma da tensão feita<br />

na corrente. Temas que abordam o que está<br />

a acontecer internacionalmente, análises de<br />

mercado, as formas como as empresas estão<br />

a reagir e a adaptar-se, ou mesmo tendências<br />

para um futuro próximo, são algumas das<br />

temáticas que poderá encontrar nesta revista.<br />

E este não é o passado, nem o futuro. É o<br />

agora.<br />

Em momentos de incerteza, olhar para o<br />

passado e replicar essas ações deixou de ser<br />

uma garantia de segurança. Sabemos quando<br />

tudo isto começou, mas ainda não sabemos<br />

quando e como vai terminar. É necessário olhar<br />

para o que está a acontecer ao nosso redor<br />

e interpretá-lo da melhor maneira possível.<br />

Por essa razão, trazemos-lhe uma panóplia<br />

de temas que poderão dar-lhe uma ajuda a<br />

antecipar algumas possíveis disrupções na sua<br />

supply chain.<br />

É o nosso “presente”. Boas leituras!


4<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

#08 #42 #48<br />

ÍNDICE<br />

FACTOS & NÚMEROS<br />

Componentes automóveis - Exportações<br />

diminuem 06<br />

LOGÍSTICA<br />

Fulfillment by FHB Group - No coração da<br />

logística europeia 08<br />

Nike Refurbished - O caminho<br />

de volta 16<br />

Abreu Logistics - Preparados para<br />

crescer 20<br />

Estudo Accenture 24<br />

PROCUREMENT<br />

Entrevista a Pedro Silva da OPCO 28<br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Optiply - Nem a mais, nem a menos. É no<br />

ponto 34<br />

Tecnologia de voz - Axfood aumenta<br />

eficiência operacional 36<br />

Feiras - Impulso aos setores de<br />

embalagem e logística 40<br />

The State of Fashion: Technology 42<br />

TECNOLOGIAS<br />

Körber Supply Chain “A resposta<br />

para a complexidade passa pela<br />

automatização” 48<br />

IDC Portugal - Nuvens em forma de<br />

armazém 52<br />

Siemens aumenta rede<br />

de fornecedores 56


SCM Supply Chain Magazine 5<br />

CARREIRA<br />

#52<br />

TRANSPORTES<br />

Eurowag - Abastecer com segurança e<br />

controlo total 58<br />

Safety and Shipping Review <strong>2022</strong> 64<br />

Estudo de employer branding 70<br />

Mestrado - Desenvolver blue skills no<br />

setor empresarial 74<br />

DIÁRIO DE BORDO<br />

Quando a Ferrari mexe, é porque é para<br />

mexer! 76<br />

O MUNDO É REDONDO<br />

Ideas worth spreading, TED2018, “Como refazer<br />

a confiança” 78<br />

#64<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Sede editor, Administração e Redação_<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

Direção Geral_<br />

Filipe Barros<br />

Diretora_<br />

Dora Assis<br />

Redação_<br />

Fábio Santos<br />

Projeto gráfico_<br />

Maria João Carvalho<br />

Design Gráfico & Paginação _<br />

Laura Dias<br />

Direção Comercial _<br />

Filipe Barros<br />

Sales & Marketing _<br />

Margarida Matildes<br />

Marketing Digital_<br />

Catarina Santos<br />

Impressão _<br />

VASP DPS<br />

MLP – Quinta do Grajal,<br />

Venda Seca<br />

2739-511 Agualva Cacém<br />

Tiragem _<br />

3 mil exemplares<br />

Propriedade_<br />

SC Media Unipessoal, Lda.<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

E: geral@supplychainmagazine.pt<br />

W: supplychainmagazine.pt<br />

NPC _<br />

514707143<br />

Capital Social_<br />

100,00€<br />

Participações sociais_<br />

Susana Silva<br />

Administração_<br />

Filipe Barros<br />

Registo na ERC n.º _<br />

127322<br />

Depósito Legal n.º _<br />

458604/19<br />

Os artigos assinados apenas veiculam<br />

a posição dos seus autores.<br />

Interdita a reprodução de textos e<br />

imagens sem autorização expressa.


6<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

FACTOS<br />

& NÚMEROS<br />

Componentes<br />

automóveis<br />

EXPORTAÇÕES ENFRENTAM DIMINUIÇÃO DE 14,8%<br />

De acordo com os dados publicados pela<br />

AFIA- Associação de Fabricantes para a<br />

Indústria Automóvel, as exportações de<br />

componentes automóveis registaram no mês<br />

de abril uma descida de 14,8%, face ao mesmo<br />

mês do ano passado, estando agora na casa<br />

dos 681 milhões de euros. Também se verificou<br />

uma descida de 8,2% nos primeiros quatro<br />

meses do ano, comparativamente ao mesmo<br />

período de 2021, atingindo o valor de 3.077<br />

milhões de euros.<br />

Analisando as exportações de componentes<br />

automóveis por país, Espanha mantém a<br />

liderança com 882 milhões de euros (-11,9%).<br />

Já a Alemanha representou 679 milhões de<br />

euros (+2,9%), sendo a França a próxima na<br />

lista com 317 milhões de euros (-25,1%). O<br />

quarto lugar continua a ser preenchido pelos<br />

Estados Unidos da América com 176 milhões<br />

de euros ganhos (+33%), e o quinto lugar é<br />

ocupado pelo Reino Unido, com 133 milhões<br />

de euros (-21,5%). O total das exportações de<br />

componentes automóveis destes cinco países<br />

representam assim 71% das vendas realizadas<br />

pelas empresas nacionais do setor ao exterior.<br />

Apesar da totalidade da indústria automóvel<br />

estar a ser afetada pelos problemas existentes<br />

nas cadeias de abastecimento, provenientes<br />

do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que<br />

consequentemente leva a paragens de toda a<br />

cadeia de produção, esta continua a procurar<br />

soluções alternativas, reinventando-se de modo<br />

a ultrapassar estes fatores. E, como nem tudo<br />

são aspetos negativos, há pontos favoráveis<br />

a destacar, como a evolução das exportações<br />

para a Alemanha que, enquanto segundo maior<br />

país cliente dos componentes fabricados em<br />

Portugal, aumentou 2,9% das suas vendas nos<br />

quatro primeiros meses do ano de 2021. O<br />

mesmo aconteceu com as exportações para os<br />

EUA que aumentaram em 33%.<br />

Não obstante, segundo a AFIA é necessário<br />

que se implementem medidas de apoio flexíveis,<br />

à semelhança das existentes nos países<br />

concorrentes, que sejam eficazes na proteção<br />

dos postos de trabalho e na sua capacidade<br />

de produção, de forma a possibilitar que as<br />

empresas mantenham a sua competitividade<br />

após este período, que se espera que volte de<br />

forma gradual economicamente. •


R F id<br />

ESPECIALISTAS EM SOLUÇÕES DE<br />

LOGÍSTICA E PRODUÇÃO<br />

VOICE PICKING<br />

Solução de RFid com<br />

ligação ERP, MRP, WMS<br />

Solução multimodal que<br />

pode coabitar com leitor<br />

código de barras ou RFid<br />

Tag’s<br />

RFID<br />

Solução de RFid com<br />

ligação ERP, MRP, WMS<br />

CÓDIGO DE BARRAS<br />

Terminais/PDA<br />

Tablets<br />

Scanners e impressoras<br />

Etiquetas e Ribbons<br />

+351 215 885 556<br />

+351 220 931 713<br />

comercial@identprint.com


8<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Texto: Fábio Santos<br />

Fulfillment by<br />

FHB Group


SCM Supply Chain Magazine 9<br />

Rastislav Tinák, PR & Marketing manager<br />

NO CORAÇÃO<br />

DA LOGÍSTICA<br />

EUROPEIA<br />

Seja em que lugar for, a logística<br />

nunca é tarefa fácil. No caso de<br />

Portugal, estamos num cantinho<br />

da Europa, ladeados por Espanha e<br />

pelo oceano, mas e quando em vez<br />

de um país à nossa volta são cinco?<br />

Esta é a realidade da Fulfillment by<br />

FHB Group, um operador logístico<br />

internacional, que através da<br />

Eslováquia chega a qualquer ponto<br />

da Europa numa questão de horas.<br />

Em entrevista, Rastislav Tinák, PR &<br />

Marketing manager na Fulfillment by FHB<br />

Group, conta-nos que “de um ponto de<br />

vista logístico, esta é uma localização ideal,<br />

por estarmos localizados no meio da Europa”,<br />

e como tal, chegam rapidamente a qualquer<br />

ponto, principalmente europeu, mas também<br />

do mundo, fazendo envios para 220 países.<br />

“Temos as nossas linhas de transporte próprias<br />

para a maioria dos países europeus, e temos<br />

entregas para o resto do mundo graças aos<br />

acordos vantajosos com empresas externas de<br />

entregas”.<br />

Os principais armazéns da Fulfillment by FHB<br />

Group encontram-se na região de Bratislava,<br />

capital eslovaca, mas também contam com<br />

espaços em países como a República Checa,<br />

Polónia e Hungria, num total de algumas<br />

dezenas de milhares de metros quadrados de<br />

armazenagem. O responsável comenta ainda<br />

que aproveitam todo o espaço de armazenagem<br />

disponível, através de um sistema de vários<br />

andares em mezzanine.


10<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

E-COMMERCE É QUEM MAIS<br />

PROCURA OS SERVIÇOS<br />

Embora a maioria dos clientes utilize os<br />

serviços da empresa associados ao e-commerce,<br />

eles são utilizados de formas muito diversas<br />

e para várias áreas. Ao nível do comércio<br />

eletrónico, os vendedores “tradicionalmente<br />

recebem encomendas de diferentes partes<br />

do mundo, e nós, com base nas encomendas,<br />

recolhemos os bens, empacotamo-los e<br />

entregamo-los diretamente nas casas dos<br />

clientes”. No entanto, o responsável também<br />

conta que clientes que vendem os seus<br />

produtos através de diversos marketplaces,<br />

como Amazon, Shopify ou Shoptet, também<br />

utilizam os seus serviços.<br />

“A vantagem para os clientes de e-commerce<br />

é que nós tratamos da sua logística na<br />

totalidade, o que elimina esta obrigação”,<br />

explica Rastislav Tinák, acrescentando que “não<br />

têm de ser apenas as e-shops que, por exemplo,<br />

não acompanham a sua logística. Estas podem<br />

ser empresas que estão simplesmente a<br />

expandir-se para novos mercados. Atualmente,<br />

é comum no domínio do comércio eletrónico<br />

que os comerciantes também entrem em novos<br />

territórios”. Neste sentido, tiram proveito desta<br />

localização estratégica e do seu vasto know-<br />

-how de vários anos para garantir uma entrega<br />

internacional rápida e sem incidentes.<br />

A razão que Rastislav Tinák indica para a<br />

procura por parte de retalhistas online é as<br />

suas comuns necessidades de soluções de<br />

armazenamento, de recolha, embalagem<br />

e entrega rápidas e isentas de erros.<br />

Exemplificando de uma forma mais concreta,<br />

no caso de uma empresa que tenha uma loja<br />

online, conforme as encomendas aumentam, é<br />

necessário um maior espaço de armazenagem,<br />

ou até mesmo pela falta de funcionários, que


SCM Supply Chain Magazine 11<br />

impedem as empresas de embalar e entregar,<br />

num tempo mais reduzido, como até 48 horas<br />

em alturas de picos sazonais, e existe uma<br />

necessidade de investir ou de subcontratar.<br />

Outra razão apontada por Rastislav Tinák é<br />

que “o ambiente de comércio eletrónico está a<br />

tornar-se mais internacional, uma vez que os<br />

comerciantes têm progressivamente maiores<br />

ambições de superar os seus mercados locais. É<br />

por isso que os vendedores estão à procura de<br />

alguém que os consiga levar ao novo mercado<br />

internacional facilmente e sem problemas. E<br />

isso pode passar por um bom operador logístico<br />

parceiro como nós”.<br />

Por outro lado, os clientes da Fulfillment<br />

by FHB Group também utilizam os seus<br />

serviços para fornecimentos regulares, como<br />

lojas de vendedores de tijolos e argamassas,<br />

onde, nesse caso, pode ser uma maior oferta<br />

dos mesmos bens. “Limitamo-nos a cobrir a<br />

logística para vários clientes, o que nos permite<br />

prestar os nossos serviços complexos, que<br />

podem ser adaptados às suas necessidades.<br />

Processamos as encomendas imediatamente e<br />

eles deixam o nosso armazém no dia do recibo,<br />

ou no próximo, dependendo da hora do seu<br />

upload”, explica Rastislav Tinák.<br />

ENVIOS REGULARES E<br />

ESPORÁDICOS<br />

Questionado relativamente às diferenças<br />

sentidas entre os serviços regulares e<br />

esporádicos, o responsável aponta não sentirem<br />

uma distinção direta entre eles, pois o seu<br />

processo está preparado para responder a<br />

ambos. “No entanto, a maioria dos clientes são<br />

os que contam com encomendas regulares,


12<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

com volumes na ordem dos milhares de<br />

encomendas”, avança.<br />

“O procedimento é o mesmo em ambos os<br />

casos, pois temos muitos clientes e milhares<br />

de encomendas vêm até nós todos os dias, e<br />

tratamos cada um da mesma forma, mas claro<br />

que há clientes que requerem alguns serviços<br />

adicionais, seja na embalagem ou na adição<br />

de manuais, panfletos, materiais promocionais<br />

e similares”. Para estes casos, contam com<br />

um sistema de informação de armazém que<br />

“simplifica significativamente o trabalho com<br />

bens e encomendas”, e regista tudo e funciona<br />

com os bens e embalagens.<br />

“O processo de fulfillment permanece<br />

essencialmente o mesmo, sem exceções<br />

baseadas no e-shop ou na sua regularidade<br />

de encomendas”, esclarece, “as encomendas<br />

são enviadas para o sistema, processadas<br />

por nós, colhidas, ordenadas, embaladas e<br />

reencaminhadas para entrega”.<br />

O sistema de informação acompanha o<br />

processo e torna-as o mais eficientes possível,<br />

enquanto verifica várias vezes o conteúdo<br />

da encomenda, para que esta contenha<br />

exatamente o que é necessário.<br />

“A nossa vantagem é a ampla rede das nossas<br />

linhas de transporte diárias para a maioria dos<br />

países europeus”, aponta, e “porque o processo<br />

de entrega é muito rápido, prevenimos erros e<br />

temos o trajeto da encomenda sob controlo”.<br />

Para além disso, por trabalharem com<br />

diversos países regularmente, apresentam<br />

ainda a vantagem de conseguir gerir dinheiro<br />

em diversas moedas pelo mundo, e “os nossos<br />

clientes conseguem uma posição melhor no<br />

mercado externo, conforme os métodos de<br />

pagamento preferidos mudam em diferentes<br />

países”.<br />

LOGÍSTICA INVERSA<br />

Num negócio online, o vendedor tem sempre<br />

de contar com um determinado retorno de<br />

produtos, e o responsável comenta que algumas<br />

dessas entregas não chegam a ser feitas por<br />

o endereço dos destinatários estar errado, ou<br />

mesmo por mudança de ideias. “As pessoas<br />

encomendam produtos em vários tamanhos ou<br />

cores, e os inadequados são devolvidos”, explica.<br />

Todos os dias a Fulfillment By FHB Group<br />

envia novas encomendas para transportadores<br />

locais, e a nível mundial cooperam com todas<br />

as principais empresas de transporte, para<br />

que os clientes possam receber os seus bens<br />

rapidamente por todo o mundo. “Claro que no<br />

caminho de volta, os nossos transportadores<br />

trazem envios devolvidos ou não entregues, que<br />

processamos como parte dos nossos serviços”,<br />

nota Rastislav Tinák.<br />

Ao nível das devoluções, a empresa faz uma<br />

gestão completa, e conta com várias filiais em<br />

diversos países para a ajudar com essa gestão,<br />

e ao final do dia as suas linhas de transportes<br />

tratam dos envios não rececionados ou entregas<br />

devolvidas, evitando viagens em vazio, uma<br />

aposta na sustentabilidade ambiental.<br />

Estes produtos são depois processados,<br />

documentados e comunicados ao cliente. “Se<br />

não houver nada de errado com o produto e o<br />

cliente concordar, é armazenado novamente, e o<br />

produto está pronto para ser transportado mais<br />

uma vez. Caso contrário, enviamos os produtos<br />

devolvidos ao cliente”, comenta.<br />

No final, o cliente acaba por não ter de lidar<br />

com quaisquer devoluções, mesmo que venham<br />

do estrangeiro, tendo assim mais tempo para<br />

dedicar ao seu negócio, onde se concentra nas<br />

áreas em que o e-shop se destaca.


SCM Supply Chain Magazine 13<br />

Outsourcing Logístico<br />

Serviços<br />

Descarga e receção de mercadorias Conferência e arrumação Manipulações e<br />

Recondicionamento Etiquetagem Co-packing Kitting Picking e Embalamento<br />

Cross-docking Carregamento e Expedição de Mercadorias Carga e Descarga de Contentores<br />

Operações “One-shot” (campanhas) Controlo de Qualidade Realização de inventários<br />

Gestão de Devoluções Controlo e Manutenção de Suportes de Manuseamento<br />

Tratamento de Vasilhame e Resíduos<br />

Gesgrup, o parceiro Ideal.<br />

www.gesgrup.pt


14<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

PROCESSO PARA AS EMPRESAS<br />

O PR & Marketing manager da empresa conta<br />

que o processo para o vendedor é simples:<br />

os bens da empresa são enviados para os<br />

armazéns da Fulfillment by FHB Group, seja<br />

pela própria empresa, seja diretamente do<br />

fornecedor, e o sistema da empresa oferece<br />

uma visibilidade do estado dos bens, estando<br />

conectado pelo API.<br />

“Imaginando que recebe encomendas,<br />

por exemplo, da Polónia ou da Estónia. Elas<br />

vão ser carregadas no nosso sistema e nós<br />

começaremos a trabalhar nelas imediatamente.<br />

As mercadorias são escolhidas, classificadas,<br />

embaladas e atribuídas à forma de entrega. As<br />

nossas linhas de transporte cuidarão da entrega<br />

mais rápida possível”, explica o responsável.<br />

“A nossa função é assegurar uma<br />

transferência de bens sem erros e cuidada<br />

desde os nossos armazéns até ao destinatário<br />

final. Mesmo que tenham destinos diferentes,<br />

onde possa ser necessário preparar documentos<br />

adicionais alfandegários. Os pacotes contêm,<br />

portanto, tudo o que precisam, e mesmo os<br />

obstáculos na alfândega não representam um<br />

problema para a nossa entrega”, garante.<br />

SITUAÇÃO PANDÉMICA E<br />

CRESCIMENTO DO E-COMMERCE<br />

Se por um lado a pandemia de Covid-19<br />

trouxe o caos ao mundo há cerca de dois<br />

anos, também veio acelerar o comércio<br />

eletrónico mundial, impulsionado, em parte,<br />

pelos confinamentos e pela necessidade de as<br />

pessoas se manterem em casa, mas também<br />

devido ao crescimento que já se vinha a<br />

notar desde há alguns anos e que acentuou<br />

drasticamente.


SCM Supply Chain Magazine 15<br />

“Na Fulfillment by FHB Group, temos<br />

vindo a registar esta tendência cada vez<br />

maior há muito tempo e estamos a adaptar<br />

os nossos processos em conformidade”,<br />

revela Rastislav Tinák, acrescentando que “a<br />

automação é uma forma eficaz de lidar com<br />

o crescente volume de encomendas, bem<br />

como com o número crescente de clientes de<br />

e-commerce”.<br />

Como exemplo, conta que no ano<br />

passado a empresa introduziu a máquina<br />

de embalagem automática mais rápida do<br />

mundo, aumentando assim drasticamente<br />

o volume de encomendas embaladas na<br />

empresa. “Também instalámos recentemente<br />

um classificador automatizado que classifica<br />

os nossos pacotes dependendo do país de<br />

entrega”, comenta o responsável, apontando<br />

que hoje têm a capacidade de processar<br />

milhões de encomendas por ano, e que este<br />

número duplica anualmente.<br />

Para além destes recentes investimentos,<br />

foram ainda feitos outros em elevadores,<br />

classificadores, empilhadores, quilómetros de<br />

transportadores em combinação com o nosso<br />

sistema de prateleiras de mezzanine, e afins.<br />

Uma das mudanças sentidas com o<br />

crescimento do e-commerce foi durante as<br />

encomendas para a época natalícia, que<br />

começou cerca de um mês antes do habitual.<br />

“Além disso, durante os primeiros cinco meses<br />

do ano, quando as medidas antipandemia<br />

restringiram a circulação de pessoas, as<br />

vendas de comércio eletrónico aumentaram”.<br />

Apesar das dificuldades, o responsável<br />

nota que geriram estes momentos de final<br />

da época sem atrasos, por se estarem a<br />

preparar para estes picos a longo prazo.<br />

“No entanto, podemos imaginar que,<br />

para algumas empresas, este pico de<br />

encomendas prolongado poderia ter causado<br />

atrasos, especialmente se não estivessem<br />

tecnologicamente preparados ou não<br />

antecipassem os picos mais antigos e maiores<br />

da temporada”.<br />

Rastislav Tinák aponta também que devido<br />

a este crescimento do e-commerce, a procura<br />

por parte de clientes, os ambientes de<br />

e-commerce e o número de clientes estão a<br />

crescer regularmente. Segundo explica, “cada<br />

vez mais as e-shops procuram um parceiro 3PL<br />

para se manterem competitivas ou terem a<br />

oportunidade de vender em novos mercados.<br />

Desde o início das nossas operações no<br />

mercado de fulfillment, em média temos vindo<br />

a duplicar o nosso crescimento todos os anos”.<br />

IMPACTOS DA GUERRA<br />

Embora se encontrem no centro da Europa e<br />

a poucas centenas de quilómetros da Ucrânia,<br />

por estarem sediados na UE e na NATO, os<br />

impactos sentidos pela guerra não são maiores,<br />

e as operações não estão limitadas por esta<br />

questão, no entanto, sentem as variações dos<br />

mercados. “Hoje podemos ver como reagem os<br />

mercados de matérias-primas e como afeta os<br />

produtos. Os preços estão a subir a um ritmo<br />

acelerado, o que se reflete na eletricidade,<br />

no combustível, no gás ou mesmo em vários<br />

materiais de embalagem”, aponta Rastislav<br />

Tinák, “isto está atualmente a ter um impacto<br />

crescente no mundo global. E isto aplica-se<br />

aos fabricantes, à logística ou aos próprios<br />

consumidores”.<br />

“A guerra na Ucrânia é um acontecimento<br />

muito lamentável que não pertence ao<br />

século XXI”, considera o responsável,<br />

acrescentando que apoiam a Ucrânia “através<br />

de várias coleções nos nossos armazéns ou do<br />

fornecimento de materiais de embalagem a<br />

várias organizações, que trazemos quer para a<br />

Ucrânia, quer para a passagem fronteiriça”. •


16<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Nike Refurbished<br />

Texto: Bruna Manguito


SCM Supply Chain Magazine 17<br />

O CAMINHO DE VOLTA<br />

Se a logística envolve desafios, a<br />

logística inversa está intrinsecamente<br />

ligada a desafios mais globais e<br />

emergentes. Parte desta dificuldade<br />

corresponde à necessidade de incorporar<br />

soluções mais sustentáveis, de modo a<br />

minimizar o impacto ambiental causado<br />

pelas cadeias logísticas. A economia<br />

circular procura dar resposta a estas<br />

questões e a Nike é uma das empresas<br />

que já deu o passo.<br />

QUAL O PONTO DE PARTIDA?<br />

A iniciativa nasceu porque no passado<br />

todas as sapatilhas da Nike eram destruídas<br />

como parte do Nike Grind, o seu programa<br />

de reciclagem de sapatilhas que se iniciou<br />

em 1992 e que fornecia matérias-primas a<br />

superfícies de campos desportivos, acessórios<br />

tecnológicos, acolchoamento de carpetes,<br />

entre outros fins. Assim sendo e porque cada<br />

vez mais se fala no tema sustentabilidade,<br />

tanto por parte dos fabricantes que<br />

veem uma oportunidade de ganhar mais<br />

visibilidade aumentando o valor da empresa,<br />

como por parte dos consumidores que<br />

querem adquirir alternativas sustentáveis,<br />

demonstrando cada vez mais confiança<br />

nas marcas que o proporcionam, a marca<br />

decidiu investir num programa de resgate de<br />

sapatilhas, o Nike Refurbished.<br />

O objetivo é resgatar todas as sapatilhas<br />

que de outra forma iriam parar ao lixo, de<br />

maneira a serem colocadas de novo nas<br />

prateleiras das lojas a um preço reduzido.


18<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

Valerie Nash, gestora de operações Inbound<br />

da empresa, explica que “no Nike Refurbished,<br />

damos uma segunda vida aos produtos.<br />

Limpâmo-los, fazemos com que pareçam<br />

novos e voltamos a colocá-los no mercado.”<br />

A CAMINHADA<br />

Milhares de pares por dia são devolvidos às<br />

instalações da Nike por estarem estragados,<br />

lamacentos e até serem o número errado,<br />

entre muitas outras razões. Desta maneira,<br />

agora serão enviadas para a cidade de<br />

Lebanon, no estado do Indiana, localização<br />

da instalação de logística inversa da Nike<br />

Rebound, que conta com três andares de<br />

10,21 hectares (cerca de 20 campos de futebol<br />

americano) de maneira a dar uma segunda<br />

vida a estes artigos.<br />

Mas como é realizado o processo de<br />

recuperação destas sapatilhas? Primeiramente<br />

é essencial organizar as devoluções que chegam<br />

e depois decidir o que fazer com as mesmas. As<br />

sapatilhas que se encontrem em bom estado,<br />

ou seja, sem sinais aparentes de desgaste, são<br />

imediatamente enviadas para a loja, passando<br />

novamente a fazer parte do stock. Já as<br />

sapatilhas que forem devolvidas após serem<br />

experimentadas, e que estejam sujas, irão a<br />

inspeção e serão limpas. Embora nem todas<br />

as sapatilhas consigam ser aproveitadas nesta<br />

secção, a equipa da Rebound não desiste e envia<br />

estes pares em caixas que são transportadas<br />

através de um tapete rolante com destino à<br />

sede da equipa de técnicos que as tenta renovar.<br />

É de referir que estas estações de trabalho<br />

estão equipadas com toalhas, tira-nódoas,


SCM Supply Chain Magazine 19<br />

desinfetante e mesmo pinças. Ferramentas<br />

que irão ser utilizadas para esfregar, polir e<br />

pulverizar as sapatilhas até que fiquem limpas<br />

e possam ser separadas e colocadas em caixas<br />

de forma a serem enviadas para as lojas.<br />

Anthony Clark, gestor de operações Outbound,<br />

questiona: “sabe aqueles camiões que têm um<br />

atrelado de 15 metros?”, explicando que “um<br />

camião desses consegue transportar cerca de<br />

5.000 caixas de sapatilhas. É mais ou menos<br />

esse número que esta equipa renova e “relança”<br />

para as pessoas todos os dias”.<br />

CASA DE CHEGADA<br />

As sapatilhas poderão ser encontradas<br />

nos EUA nas lojas Nike, dentro das caixas<br />

“Nike Refurbished” assinaladas com “novas”,<br />

“ligeiramente desgastadas” ou “com falhas<br />

cosméticas”. Anthony Clark explica: “isto<br />

é apenas o início. O nosso objetivo é ter<br />

sapatilhas Nike Refurbished em todas as<br />

lojas”, missão que parece não estar muito<br />

longe de ser alcançada, uma vez que a marca<br />

começou por lançar o programa em três<br />

lojas e “um ano depois, estamos a enviar<br />

sapatilhas renovadas para 30 lojas. Estamos<br />

atualmente a expandir a nossa capacidade para<br />

podermos processar ainda mais unidades sem<br />

possibilidade de colocação em stock na nossa<br />

cadeia de abastecimento da América do Norte”,<br />

declara Fabian Garcia, gestor do processo de<br />

sustentabilidade. •


20<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

PREPARADOS<br />

PARA CRESCER<br />

Abreu Logistics<br />

Desde janeiro que a Abreu Logistics tem<br />

operacional uma nova plataforma na<br />

margem sul, em Palmela. São mais 6.000<br />

metros quadrados e um complemento às<br />

duas localizações do operador logístico a<br />

norte do Tejo que, em conjunto, passa a ter<br />

na área da grande Lisboa uma capacidade<br />

superior a 15.000 metros quadrados. Já com<br />

uma taxa de ocupação superior a 70%, o<br />

operador está preparado para crescer, assim<br />

que haja espaço.<br />

Texto: Dora Assis<br />

Fotos: Fábio Santos


SCM Supply Chain Magazine 21<br />

Pilar Rodrigues, Logistics Manager<br />

A<br />

estratégia da Abreu Logistics passa por<br />

reforçar o seu posicionamento no mercado<br />

como operador logístico vertical e que vai<br />

muito para além do simples transporte de carga,<br />

e Pilar Rodrigues, Logistics Manager, leva-nos a<br />

conhecer os cantos à nova casa.<br />

O novo armazém de 6.000 metros quadrados e<br />

12 de pé direito, tem uma capacidade instalada<br />

para cerca de 4.500 paletes, além de possuir<br />

ainda um espaço livre para operações em massa.<br />

Ali, as operações iniciaram-se em janeiro,<br />

sem qualquer cliente, “uma aposta da empresa<br />

em novos espaços para começar a desenvolver<br />

mais a área da logística, e cinco meses depois<br />

já estamos com uma taxa de ocupação superior<br />

a 70%”, revela visivelmente satisfeita Pilar<br />

Rodrigues.<br />

“A ideia é desenvolver o negócio de contrato<br />

de logística, que já temos na plataforma de<br />

Santa Iria, ainda com pouca expressão, e em<br />

Alverca também, embora pelas características<br />

do próprio espaço se adeque mais a um produto<br />

em massa. E queríamos ir buscar outro tipo de<br />

contratos”, esclarece.<br />

“QUANDO HÁ ESPAÇO, VENDE-SE”<br />

As coisas desenrolaram-se, “quando há espaço,<br />

vende-se, e tudo acabou por acontecer muito<br />

rapidamente”. Mas não é só o espaço que<br />

é novo, as pessoas também: “temos uma<br />

equipa completamente nova a dar suporte<br />

às operações. São operações ainda muito<br />

indiferenciadas, ou seja, neste momento<br />

não é um armazém pré-definido para uma<br />

tipologia de produto ou mercadoria. Temos aqui<br />

bricolage, mas também temos areia para gato,<br />

rodízios ou até mesmo livros”.<br />

O centro é constituído por duas naves,<br />

cada uma com 3.000 metros quadrados,<br />

estrategicamente uma com estrutura de racks<br />

e a outra em massa “porque temos ainda<br />

alguns clientes cujos produtos não podem<br />

ser empilhados em altura. Mas já estamos a<br />

equacionar montar mais racks”, pois a procura<br />

que têm tido a isso obriga. ”Assistimos a uma<br />

procura crescente por parte do mercado de<br />

espaços externos, ou seja, operações que<br />

já estão montadas e a funcionar, mas que<br />

querem espaço adicional de armazenagem”. É<br />

a resposta das empresas à instabilidade que se<br />

vive nas cadeias de abastecimento, procurando<br />

ter stock e espaço de armazenagem para<br />

responder a algum imprevisto ou disrupção que<br />

estava fora dos planos do melhor gestor de<br />

logística ou operações.<br />

Do lado dos operadores logísticos, haja espaço<br />

e recursos para rapidamente receber e instalar<br />

um novo cliente e as coisas acontecem. Tudo<br />

passa por “heterogeneidade de possibilidades e<br />

de respostas, como um bom operador logístico<br />

deve ter”, sublinha Pilar Rodrigues.


22<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

PESSOAS, ESSE PROBLEMA<br />

Neste momento nas preocupações desta<br />

gestora logística está a capacidade de<br />

resposta à época de férias em termos de<br />

recursos humanos. “A zona de Palmela por<br />

vezes levanta alguns problemas desse ponto<br />

de vista, ainda que o problema seja geral.<br />

Até ao momento temos beneficiado da<br />

desaceleração de atividade da Autoeuropa,<br />

mas a verdade é que como tanto se tem<br />

falado, os recursos humanos são um dos<br />

nossos maiores problemas”. Escassez,<br />

dificuldade de retenção e falta de algumas<br />

competências são três dos obstáculos ou<br />

entraves apontados pela nossa interlocutora<br />

quando o tema é mão de obra.<br />

”O armazém não é atrativo para a maioria<br />

das pessoas e, por outro lado, atualmente<br />

a atividade vai muito para além da<br />

movimentação de mercadorias ou paletes.<br />

As pessoas têm que ter conhecimentos e<br />

formação, perceber de planeamento de<br />

trabalho, dinâmicas de produtividade, rádio-<br />

-frequência, picking por voz…” e este é no<br />

entender desta diretora de logística o grande<br />

desafio com que a atividade e o setor se vão<br />

defrontar nos próximos tempos. Até porque<br />

melhores níveis de produtividade e de<br />

serviço exigem pessoas melhor qualificadas,<br />

polivalentes e responsáveis.<br />

AGARRAR OPORTUNIDADES<br />

Ali, o picking é feito por rádio-frequência,<br />

“ainda não houve necessidade de avançar para<br />

outro tipo de solução”, conta-nos e embora<br />

não tenham operações dedicadas, a verdade é<br />

que com o desenvolvimento e crescimento das<br />

energias alternativas, isso também se nota na<br />

atividade deste operador logístico.<br />

Painéis solares é uma das tipologias de<br />

produtos em que têm vários clientes - tanto<br />

no armazém de Palmela como no espaço<br />

localizado no Norte, em Perafita -, desde<br />

o fabricante ao distribuidor e agora mais<br />

recentemente também quem vende ao<br />

cliente final. “Só de um cliente, em três<br />

meses, chegaram 500 contentores”, salienta<br />

a responsável de logística. Entre os clientes<br />

está um dos três maiores fabricantes<br />

mundiais, que escolheu a Abreu Logistics<br />

como entreposto ibérico. “Movimentamos<br />

paletes, mas também podemos fazer picking<br />

ao painel solar”, o que parecendo simples<br />

não é já que se trata de um produto bastante<br />

frágil, que deve ser movimentado com<br />

cuidado e em que é feito o controlo dos<br />

números de série de tudo o que ali chega.<br />

“Em alguns casos, as entregas são feitas em<br />

obra”, detalha Pilar, lembrando que a Abreu<br />

também assegura a distribuição através da<br />

divisão do transporte rodoviário, não só a nível<br />

ibérico como também para países como França,<br />

Itália, Alemanha ou Polónia. Este cliente<br />

encontra ali uma solução de produto global:<br />

marítimo, coordenação logística e distribuição,<br />

nacional e internacional.<br />

No cenário atual, está tudo a ser<br />

reequacionado. Quem tem capacidade<br />

financeira investe em stocks e o just in time<br />

está a ceder espaço ao just in case, porque<br />

como diz o povo “O seguro morreu de velho”.<br />

Questionam-se fundamentos, reorganizam-<br />

-se processos e repensam-se valores nas<br />

cadeias de abastecimento. Porque com todas<br />

estas disrupções e constrangimentos a que<br />

temos assistido globalmente, a logística e os<br />

logísticos procuram não perder o foco: servir o


SCM Supply Chain Magazine 23<br />

cliente e colocar o produto no local pretendido,<br />

ainda que nem sempre seja possível garantir<br />

que será à hora certa ou com o melhor preço.<br />

Será mais ao preço possível face a todas as<br />

flutuações a que se assiste. Ainda assim, a<br />

Abreu Logistics está atenta ao mercado, às<br />

oportunidades e preparada para crescer. •<br />

ESCASSEZ, DIFICULDADE<br />

DE RETENÇÃO E FALTA DE<br />

ALGUMAS COMPETÊNCIAS<br />

SÃO TRÊS DOS OBSTÁCULOS<br />

OU ENTRAVES APONTADOS<br />

PELA NOSSA INTERLOCUTORA<br />

QUANDO O TEMA É MÃO DE<br />

OBRA


24<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

DA DISRUPÇÃO<br />

À REINVENÇÃO<br />

A palavra “disrupção” passou a fazer<br />

parte do dia a dia das cadeias de<br />

abastecimento, que veem as suas<br />

fragilidades expostas, em consequência<br />

da pandemia e agora da invasão russa<br />

à Ucrânia. O novo estudo da Accenture<br />

revela que, de modo a que a supply<br />

chain consiga recuperar, é imperativo<br />

apostar em sustentabilidade,<br />

resiliência e relevância. Vamos tentar<br />

perceber porquê.<br />

Estudo Accenture<br />

O<br />

estudo “From Disruption to Reinvention<br />

– The future of supply chains in Europe”<br />

realizado pela Accenture deixa uma<br />

nota clara: mais problemas económicos se<br />

adivinham. Dificuldades provenientes da<br />

pandemia de COVID-19 e da invasão da Rússia<br />

à Ucrânia que além do impacto humanitário<br />

imediato sentido, ainda retardam o crescimento<br />

económico aumentando a inflação a nível<br />

mundial. De acordo com a empresa, prevê-se<br />

uma potencial perda cumulativa de 920 mil<br />

milhões de euros para o Produto Interno Bruto<br />

(PIB) só em toda a Zona Euro até 2023, o que<br />

corresponde a 7,7% do PIB desse mesmo ano. É<br />

de referir que este estudo apresenta assim três<br />

cenários de forma a prevenir custos e prazos<br />

de recuperação dada a evolução da guerra no<br />

próximo ano. Segundo a Accenture a disrupção<br />

da cadeia de abastecimento em consequência<br />

da pandemia “custou às economias da zona<br />

euro 112,7 mil milhões de euros”, que agora<br />

com o efeito da guerra “pode levar a uma perda<br />

adicional do PIB de até 318 mil milhões de<br />

euros em <strong>2022</strong> e 602 mil milhões de euros em<br />

2023”. No que diz respeito à inflação, “pode<br />

chegar a 7,8% em <strong>2022</strong>, antes de cair em 2023”.<br />

Vale ainda a pena relembrar que mesmo<br />

antes da pandemia já se denotava a falta<br />

de fornecimento de materiais, falhas na<br />

logística e ainda pressões inflacionárias. Não<br />

obstante, a guerra veio agravar a sobrecarga<br />

existente nas cadeias de abastecimento devido


SCM Supply Chain Magazine 25<br />

ao ressurgimento da procura e o acumular<br />

preventivo por parte dos consumidores de<br />

bens. Jean-Marc Ollagnier, o CEO da Accenture<br />

na Europa, refere que “embora o consenso dos<br />

especialistas seja de que a Europa evitará a<br />

recessão este ano, a combinação da COVID-19<br />

e da guerra na Ucrânia tem o potencial de<br />

impactar significativamente a economia da<br />

Europa, causando uma desaceleração material<br />

no crescimento”, acrescentando “enquanto<br />

que antes da guerra era esperado algum tipo<br />

de normalização da cadeia de abastecimento<br />

no segundo semestre de <strong>2022</strong>, agora não<br />

esperamos que isso aconteça antes de 2023,<br />

talvez nem até 2024, dependendo de como a<br />

guerra evoluir”.<br />

MUDANÇA DE PARADIGMA<br />

Pedro Galhardas, líder da área de strategy<br />

& consulting da Accenture em Portugal,<br />

clarifica: “A guerra na Ucrânia terá um impacto<br />

significativo, aumentando a quantidade e a<br />

duração das disrupções. A gravidade dependerá<br />

de como a guerra evoluir, mas nada menos do<br />

que uma reinvenção será necessária, à medida<br />

que uma nova ordem económica toma forma<br />

dentro de um ambiente inflacionário, maior<br />

regionalização, transição energética e um<br />

mercado de talentos limitado”. Desta forma,<br />

Pedro Galhardas garante que para mitigar<br />

as perdas e efeitos advindos deste período<br />

se deve “melhorar a eficiência energética e


26<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

acelerar a transição para fontes de energia<br />

verde, será fundamental para alcançar a<br />

segurança. E a capacidade de atrair, reter, e<br />

fazer o reskill e upskill dos trabalhadores está<br />

a tornar-se uma das questões mais urgentes<br />

desta década”.<br />

O estudo sugere, por isso, uma reinvenção<br />

das cadeias de abastecimento de modo<br />

a mudar o paradigma atual, uma vez que<br />

representam 30% do PIB da zona euro. Para<br />

que este processo seja possível é necessário<br />

além de otimizar custos, que as cadeias de<br />

abastecimento sejam capazes de ser mais<br />

resilientes e que tenham capacidade de<br />

adaptação para responder de forma célere<br />

à procura do consumidor, uma vantagem<br />

competitiva que permitirá a estas empresas<br />

crescerem no futuro.<br />

Contudo, para que assim seja, há que ter<br />

em conta três aspetos essenciais: resiliência,<br />

relevância e sustentabilidade. Primeiramente,<br />

as entidades têm de ser resilientes, pois<br />

é fundamental ter a capacidade de se<br />

adaptarem e de recuperarem de todas as<br />

disrupções que ocorram, melhorando a sua<br />

visibilidade, dinâmica, identificando riscos<br />

e soluções de mitigação, de maneira a<br />

combater mudanças repentinas nas cadeias<br />

de abastecimento.<br />

GERIR NA INCERTEZA<br />

Além disso, o planeamento de cenários como<br />

a análise de riscos são uma oportunidade<br />

de as empresas conseguirem moldar-se às<br />

ofertas e procura em evolução. Ademais,<br />

a modelagem de rede e simulação como<br />

testes de stress, dimensionamento de buffers<br />

estratégicos e opções de multi-sourcing<br />

darão confiança às empresas para que estas<br />

consigam gerir incertezas.<br />

No que diz respeito à relevância, as cadeias<br />

de abastecimento devem estar voltadas<br />

principalmente para o seu cliente e, como tal,<br />

espera-se que sejam ágeis e económicas para<br />

lidar com as mudanças na procura. Por isso,<br />

capturar novos conjuntos de dados, incluindo<br />

dados em tempo real, de dentro e de fora da<br />

organização e em toda a cadeia de valor será<br />

fulcral.<br />

Já a automação e a inteligência artificial<br />

permitirão que as organizações identifiquem<br />

rapidamente novos padrões de dados para<br />

informar melhor a tomada de decisões. Pode<br />

ainda ajudar as empresas a responderem<br />

melhor aos desejos do cliente ao nível dos<br />

pedidos, mudar de modelos de fornecimento<br />

centralizados e lineares para redes<br />

descentralizadas que usam a produção on-<br />

-demand e, em alguns casos, aproximar a<br />

produção do ponto de venda.<br />

Tendo em vista a sustentabilidade, as<br />

cadeias de abastecimento modernas precisam<br />

de acelerar as suas agendas nestas matérias,<br />

de maneira a tornarem-se mais transparentes,<br />

e posteriormente, ganharem a confiança<br />

dos stakeholders. Blockchain ou tecnologias<br />

similares e uma mudança de processos<br />

lineares para processos circulares em loop<br />

fechado, que minimizam o desperdício,<br />

poderão ser um bom começo. •


SCM Supply Chain Magazine 27


28<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

PROCUREMENT<br />

OPCO<br />

Texto: Fábio Santos<br />

SETOR AUTOMOTIVE<br />

SEMICONDUZIDO<br />

PELA INCERTEZA<br />

A pandemia e a guerra entre a<br />

Rússia e a Ucrânia trouxeram<br />

grandes dificuldades para várias<br />

indústrias, como a automóvel.<br />

Um dos tópicos incontornáveis é a<br />

crise dos semicondutores, só que a<br />

questão já não é apenas a falta de<br />

abastecimento, mas também a cadeia<br />

que está para trás, envolvendo a<br />

deslocalização das produções e a falta<br />

de matérias-primas para a criação<br />

destes chips.


SCM Supply Chain Magazine 29<br />

Os desafios nas cadeias de abastecimento<br />

parecem não ter fim, e quando pensamos<br />

estarmos livres de um problema… surge<br />

outro. Esta tem sido a realidade nos últimos<br />

anos, desde a pandemia, que fez parar grande<br />

parte da indústria, e que quando voltou ao<br />

ativo necessitou de grandes quantidades de<br />

materiais em simultâneo, e os fornecedores<br />

não estavam prontos para responder a essa<br />

demanda. O retorno repentino da produção foi<br />

um dos causadores da escassez mundial deste<br />

produto, mas não só.<br />

À conversa com Pedro Silva, diretor-<br />

-geral da OPCO, procurámos compreender<br />

melhor o estado deste setor, e quais as<br />

implicações mundiais de termos “as cadeias de<br />

abastecimento completamente alteradas”, seja<br />

pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia, pela<br />

deslocalização das produções ou pela falta<br />

destes pequenos dispositivos, que apesar do<br />

seu tamanho, conseguem abrandar as maiores<br />

indústrias.<br />

Embora sejam grandes e importantes temas,<br />

“estes pontos são apenas a ponta do iceberg”,<br />

destaca o responsável.<br />

FALTA DE MATÉRIAS-PRIMAS<br />

Alguns dos impactos mais comentados<br />

relativamente à guerra é no preço do gás e dos<br />

cereais e seus derivados, no entanto, Pedro<br />

Silva revela que “a Ucrânia também é um dos<br />

principais exportadores do gás Néon, que é<br />

utilizado no processo de gravação a laser dos<br />

semicondutores”, e como tal, o problema já<br />

não passa apenas pela falta do produto em si,<br />

Pedro Silva, diretor-geral da OPCO<br />

mas também pela sua produção. “Tudo isso<br />

só veio agravar aquilo que já era o impacto<br />

da COVID-19, e que ainda continuava a ser,<br />

o impacto da falta de matérias-primas, e<br />

agora com a guerra, digamos que se já era<br />

a tempestade perfeita, agora continua a<br />

aperfeiçoar-se”.<br />

Cerca de 70 a 75% da produção de chips<br />

vinha do extremo oriente, onde se encontram,<br />

inclusive, os principais players do mercado,<br />

o que deixou uma margem muito pequena<br />

de produção a nível mundial. Ao nível da<br />

indústria automóvel o impacto é estrondoso,<br />

pois “se há uns 10 ou 15 anos um carro teria<br />

quatro ou cinco chips, hoje são milhares”,<br />

revela o responsável.<br />

Quando se começou a dar esta crise,<br />

começaram ainda a surgir casos de chips<br />

contrafeitos, o que Pedro Silva apontou que<br />

não se verificou neste setor, devido aos seus


30<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

elevados padrões e exigências. “Comprar<br />

em fornecedores aprovados, certificados, e<br />

todos os controlos que existem na cadeia de<br />

fornecimento dos vários níveis de fornecedor”<br />

são algumas das principais práticas que<br />

garantem esta qualidade.<br />

Para além dos chips existe ainda a<br />

dependência de matérias como níquel e<br />

cobalto para a produção de baterias, e o<br />

responsável recorda que já em 2018, aquando<br />

do anúncio da Volkswagen de pretender tornar<br />

todos os seus veículos 100% elétricos em<br />

alguns anos, a produção mundial de cobalto<br />

da época não seria suficiente para responder a<br />

esses pedidos da empresa.<br />

DESLOCALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO<br />

Embora deslocalizar o fabrico de um produto<br />

como este possa parecer algo simples por<br />

não ser muito complexo, na verdade não é<br />

assim. Pedro Silva explica que é necessário<br />

formar as pessoas, obter aprovação por parte<br />

dos clientes, realizar testes de homologação,<br />

garantir que cumprem as exigências ao nível<br />

da segurança impostas pelos clientes, etc.<br />

Um dos exemplos apontados pelo<br />

responsável é a produção de carruagens,<br />

que durante anos foram deslocalizadas para<br />

o norte de África ou para países de leste, e<br />

atualmente “45% da produção de carruagens


SCM Supply Chain Magazine 31<br />

da Ucrânia era para alimentar a Polónia<br />

e a Alemanha”. Este foi um dos setores<br />

impactados por uma situação de paragem e<br />

necessidade de transferência de produção.<br />

Algumas produções, principalmente de Tier<br />

1, estão a transferir-se para países vizinhos, e<br />

outras mesmo para países como Marrocos.<br />

Por vezes, mesmo fábricas que estejam<br />

em menor perigo geograficamente também<br />

precisam de ser deslocalizadas porque os<br />

próprios funcionários são chamados para<br />

combater, gerando-se uma questão de falta<br />

de mão de obra.<br />

“Se em termos de indústria automóvel<br />

o paradigma estava a mudar, por todas as<br />

razões, agora com todas estas situações<br />

de pandemia, falta de matérias-primas,<br />

guerra, etc., continua a complicar-se”, nota o<br />

responsável.<br />

ALTERNATIVAS<br />

Ao nível do chip em si, não existe uma<br />

alternativa possível, mas ao nível da produção<br />

sim, no entanto, Pedro Silva aponta que essa<br />

não é uma mudança que possa ser feita da<br />

noite para o dia, e “começar a produzir de<br />

raiz com tudo o que é necessário, construir<br />

as infraestruturas, estabelecer as cadeias<br />

de fornecimento, qualificar e validar<br />

equipamentos, etc., vai demorar o seu tempo”.


32<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

O responsável da OPCO deixa, no entanto,<br />

uma nota positiva: a tecnologia de fabrico<br />

dos chips é essencialmente ocidental, norte-<br />

-americana.<br />

A questão da descentralização asiática é<br />

um dos pontos de debate, e já começam a<br />

surgir notícias de empresas que vão instalar<br />

produções de chips noutras regiões do mundo,<br />

como a Europa ou EUA. Isto irá reduzir essa<br />

dependência do extremo oriente e aproximará<br />

as cadeias de abastecimento, reduzindo o<br />

risco das empresas.<br />

ELETRIFICAÇÃO E<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

Ao nível da sustentabilidade, a questão<br />

da falta de matérias-primas também não<br />

consegue acompanhar os níveis de produção<br />

pretendidos. Embora os governos estejam<br />

a apoiar cada vez mais a eletrificação das<br />

viaturas, e as próprias empresas estejam<br />

também atentas à questão dos veículos<br />

elétricos para reduzirem as suas emissões,<br />

estes veículos consomem, geralmente, mais<br />

chips do que os de combustão fóssil.<br />

Se a falta de capacidade de resposta para o<br />

abastecimento de chips já era um problema,<br />

com o aumento da eletrificação o problema<br />

também se agrava a esse nível. Acrescendo<br />

a isso as questões de aprovisionamento de<br />

matérias como o níquel e o cobalto, que<br />

como Pedro Silva referiu anteriormente, são<br />

necessárias para o fabrico de baterias, e que<br />

em grande parte têm origem em países como<br />

a Ucrânia ou a Rússia.<br />

“Isto para além daquilo que também é a<br />

realidade: o modelo elétrico é uma opção, e<br />

começa a ser atrativo com o preço a que o<br />

combustível está, mas que também tem muitas<br />

perguntas ainda em aberto, nomeadamente<br />

o que fazer às baterias no final de vida, ou a<br />

origem da energia elétrica”, aponta Pedro Silva.<br />

“Existem ainda muitas perguntas em aberto.<br />

Poderá ser uma opção, mas também não é uma<br />

solução segura para amanhã, até porque as<br />

autonomias continuam a ser muito baixas”.<br />

A acrescer ao tema da eletrificação há a<br />

cada vez maior necessidade de postos de<br />

carregamento rápido, pois “tudo terá de<br />

acompanhar o processo”.<br />

O responsável da OPCO nota que há cerca<br />

de 8 anos tudo o que se falava ao nível da<br />

mobilidade elétrica envolvia um conceito de<br />

rede. “O veículo elétrico que era colocado<br />

à carga num posto tinha como objetivo não<br />

só carregar a bateria, mas partilhar toda a<br />

informação para toda a rede que geria todo o<br />

sistema de abastecimento”, explica, e ao nível<br />

da condução autónoma envolvia também uma<br />

conectividade entre veículos, o que hoje ao<br />

nível da proteção de dados já é uma questão<br />

sensível.<br />

OUTRAS PREOCUPAÇÕES A TER<br />

EM CONTA<br />

Pedro Silva destaca ainda alguns impactos que<br />

possam vir a sentir-se futuramente, como é a<br />

questão das certificações, que já se verifica na<br />

indústria aeronáutica e que poderá vir a ter<br />

um impacto também na automóvel. A entidade<br />

que regula a norma AS 9100, certificação<br />

equiparável à IATF 16949, anunciou a expulsão<br />

da Rússia, e que todos os certificados passados<br />

a empresas russas ficaram suspensos. Embora


SCM Supply Chain Magazine 33<br />

ainda não seja uma realidade no setor<br />

automóvel, é uma preocupação que deixa em<br />

cima da mesa.<br />

Nos próximos anos, Pedro Silva antecipa<br />

que a Europa começa a mudar o seu ponto de<br />

vista relativamente à dependência da energia,<br />

passando antes para uma independência<br />

energética.<br />

Ainda no tópico da sustentabilidade, ao nível<br />

da descarbonização, o responsável da OPCO<br />

aponta que não se deve medir o impacto<br />

ambiental de uma empresa apenas pelo seu<br />

impacto direto, mas também “por tudo o que<br />

está para trás dessa empresa”, como é o caso<br />

dos transportes ou matérias-primas.<br />

“Em termos de produção e operações, ter-<br />

-se-á de reagir muito mais depressa do que<br />

com este tema, que irá levar anos, certamente.<br />

Em relação a isto, é a capacidade de adaptação<br />

das organizações. Não é o ser grande que o vai<br />

garantir, é o ser capaz de adaptar e de reagir a<br />

todas estas mudanças”, aponta.<br />

Por fim, o nosso interlocutor lança a<br />

questão para a qual todos procuram resposta:<br />

“onde é que isto tudo vai chegar e que<br />

consequências irá trazer para toda a cadeia de<br />

fornecimento?”. A incerteza é a única certeza<br />

que nos semiconduz. •<br />

Centro Logístico da LPR, Warrington, Inglaterra<br />

Red is<br />

making<br />

things<br />

easier<br />

Com a LPR consegue facilmente gerir as suas<br />

encomendas e monitorizar os seus stocks online<br />

A LPR apresenta as soluções adequadas para uma gestão mais eficiente do<br />

seu parque de paletes. Todos os nossos serviços logísticos e de gestão de<br />

informação são automáticos. Para além disso, no nosso Portal poderá<br />

facilmente acompanhar toda a sua atividade: visualizar os fluxos de paletes,<br />

encomendas, stocks, inspeções de qualidade, rentabilizando tempo, espaço<br />

físico e custos de transporte. Para mais informações visite a LPR.eu<br />

A pallet is red, red is a pallet


34<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Optiply<br />

Texto: Fábio Santos<br />

NEM A MAIS, NEM A<br />

MENOS. É NO PONTO<br />

Extremos são sempre sinais de prejuízo, em<br />

tudo, e nem a logística escapa à fórmula.<br />

Por um lado, ruturas de stocks levam a<br />

não conseguir abastecer os clientes, e por<br />

outro, excessos de stock implicam custos<br />

adicionais de armazenagem, falta de espaço<br />

e necessidade de escoamento de produto.<br />

O ideal é tentar manter os stocks no ponto<br />

certo, o mais difícil é acertar com a fórmula.<br />

Um dos problemas que atinge as empresas<br />

é ao nível da gestão de stock. Todos os<br />

produtos têm o seu lead time, e se a sua<br />

reposição for demorada, existe uma tendência<br />

de manter algum stock, que pode demorar<br />

muito ou pouco tempo a escoar. Por outro<br />

lado, se houver uma rápida reposição de<br />

stock, a preocupação é menor e os stocks são<br />

mínimos, o que leva a que por vezes não exista<br />

disponível para os clientes que os procuram, o<br />

que representa uma oportunidade perdida.<br />

A Optiply, empresa tecnológica de gestão de<br />

inventários, tem como objetivo responder de<br />

forma eficaz a estes problemas, ajudando as<br />

empresas a gerir os seus stocks de forma mais<br />

eficiente. O próprio nome da empresa deriva<br />

da aglutinação da frase “Optimize your supply”<br />

(otimize o seu abastecimento). Em entrevista,<br />

Sander van den Broek, Co-Founder & CTO<br />

da Optiply, revela-nos que a empresa está a<br />

preparar-se para lançar a sua plataforma de<br />

gestão de stocks inteligente no país, sendo<br />

a logística a beneficiar com isso, e que se<br />

encontra a investir um mínimo de 4 milhões de<br />

euros em Portugal para os próximos anos.<br />

Criada nos Países Baixos em 2015, e com<br />

grande experiência na área da gestão de stocks,<br />

está presente em Portugal com um tech hub<br />

desde 2017, em Évora, estando agora a reforçar<br />

a equipa e a entrar com as suas soluções no<br />

mercado.<br />

“Pretendemos aumentar a equipa em<br />

Portugal para cerca de 50 pessoas nos<br />

próximos 24 meses, incluindo área comercial”,<br />

aponta o responsável, “o primeiro passo é criar


SCM Supply Chain Magazine 35<br />

uma primeira equipa de vendas outbound<br />

para obter os primeiros clientes, e de seguida<br />

criar parcerias com WMS e ERP locais para<br />

que possamos abordar potenciais clientes em<br />

conjunto”.<br />

Segundo avança o Co-Founder, esta nova<br />

plataforma em Portugal “vai permitir a<br />

retalhistas e distribuidores levarem a gestão do<br />

seu stock ao próximo nível: menos situações de<br />

falta de stock, redução de stock e um processo<br />

mais eficiente”, sendo integrável com WMS, ERP<br />

ou soluções de e-commerce. Para além disso,<br />

Sander van den Broek nota que “temos um<br />

vasto número de integrações standard e uma<br />

API para quem pretender desenvolver a sua<br />

própria integração”.<br />

O responsável nota que ao contrário do<br />

que acontecia anteriormente com os ERP, que<br />

“prometiam soluções globais e soluções para<br />

todos os problemas, mas onde o desempenho<br />

era baixo em cada aspeto individual do<br />

processo”, o foco está apenas num ponto,<br />

mantendo um alto desempenho no mesmo:<br />

“Como se pode ser bom em tudo ao mesmo<br />

tempo? Nós fazemos uma única coisa, mas<br />

fazemo-la bem. Nós automatizamos e<br />

otimizamos o sistema de stock”.<br />

Sander van den Broek conta que a principal<br />

diferença de trabalhar com o software é<br />

que existe desde logo um afastamento de<br />

processos de trabalho baseados em folhas<br />

Excel e várias fontes de dados diferentes.<br />

“Com a Optiply existe um único sistema onde<br />

se tomam todas as decisões de abastecimento.<br />

Isto leva a um maior controle sobre o stock<br />

à medida que a empresa vai crescendo, e<br />

também cerca de 10% maior revenue devido<br />

ao menor stockout e um stock mais pequeno<br />

em cerca de 30 a 40%. Ou seja, uma operação<br />

muito mais sustentável”, explica.<br />

Sander van den Broek, Co-Founder & CTO da Optiply<br />

Com isto em mente, a plataforma analisa<br />

constantemente a informação da cadeia de<br />

abastecimento de modo a conseguir indicar<br />

o fornecedor ideal para a empresa, tendo em<br />

conta valores mínimos de encomenda, tamanho<br />

de contentores de transporte/envio, ou preços<br />

de compra, entre outros, e tudo em tempo real.<br />

Face às imprevisibilidades atuais das cadeias<br />

de abastecimento, que têm gerado quebras de<br />

stocks, o Co-Founder da empresa considera<br />

que agora “é necessário um nível de inventário<br />

mais alto para obter os mesmos resultados de<br />

há um ou dois anos atrás”, e que “empresas que<br />

não façam um compromisso entre níveis de<br />

inventário e performance, estão destinadas a<br />

ficar abaixo nos níveis de stock ou gastar em<br />

excesso no período seguinte”.<br />

“Sempre considerámos o stock como uma<br />

mais-valia e não como uma dependência”,<br />

remata o responsável, acrescentando que<br />

“é cada vez mais imperativo a análise dos<br />

dados” para fazer face à velocidade a que as<br />

cadeias de abastecimento se estão a alterar,<br />

e “sem as ferramentas certas ou processos<br />

bem desenvolvidos, estas empresas irão<br />

desaparecer”. •


36<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

Texto: Dora Assis<br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Tecnologia de voz


SCM Supply Chain Magazine<br />

37<br />

AXFOOD AUMENTA<br />

EFICIÊNCIA<br />

OPERACIONAL<br />

A Axfood, grupo sueco de retalho<br />

alimentar, como parte de um vasto<br />

projeto de modernização no armazém,<br />

implementou a solução ZetesMedea<br />

Voice. Com o novo sistema espera<br />

alcançar velocidade, precisão de<br />

picking e manter elevado desempenho<br />

de atividade em vários armazéns e<br />

locais de distribuição.<br />

Na Suécia, entre as marcas da Axfood<br />

incluem-se Willys, Hemköp, Snabbgross<br />

e Dagab, e integra uma equipa de mais<br />

de 12.000 funcionários, centenas dos quais<br />

são operadores de armazém, localizados em<br />

várias partes da Suécia.<br />

Para otimizar os processos em armazém<br />

e aumentar a produtividade, a Axfood<br />

procurou uma nova solução de execução de<br />

armazém (WES) capaz de permitir à empresa<br />

uma forma de trabalhar consistente e de<br />

alto desempenho em todas as instalações, e<br />

acabou por selecionar a ZetesMedea como a<br />

WES unificada para todos os seus armazéns.<br />

O projeto, de larga escala, já está totalmente<br />

desenvolvido e em execução pela Axfood.<br />

TECNOLOGIA PREPARADA<br />

PARA O FUTURO<br />

Ao garantir que a produtividade, precisão<br />

e tempo de atividade são totalmente<br />

maximizados, a Axfood ficou segura de que a<br />

solução que escolheram era a resposta mais<br />

adequada para as suas necessidades.<br />

Objetivamente, vai ajudar o picker a obter<br />

máxima eficiência operacional, otimizando<br />

por completo os processos do fluxo de<br />

trabalho para a organização das encomendas<br />

e da expedição, sem necessidade de qualquer<br />

reengenharia do sistema de gestão de<br />

armazém antigo.<br />

O avançado sistema de reconhecimento de<br />

voz da solução adotada comporta equipas de<br />

trabalho multilingues, tornando a integração<br />

mais simples para os falantes não nativos<br />

e eliminando custos com necessidades<br />

adicionais de formação.


38<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

Ao utilizar um sistema de voz independente<br />

do utilizador ajuda substancialmente a<br />

aumentar a eficiência da força de trabalho<br />

e dos processos de armazenamento,<br />

especialmente quando se enfrentam desafios<br />

operacionais relacionados com a elevada<br />

rotação de funcionários ou necessidade de<br />

dar resposta a picos de atividade com práticas<br />

sazonais de contratação.<br />

Para a Axfood, isto traduz-se em grandes<br />

poupanças de custos e em ganhos de<br />

produtividade. Ao trabalhar atualmente<br />

com 500 pickers, número que se prevê que<br />

duplique nos próximos anos, a solução de voz<br />

agora adotada desempenhará uma função<br />

crucial para garantir o normal funcionamento<br />

das operações em armazém.<br />

UMA PLATAFORMA PARA TODOS<br />

OS PROCESSOS<br />

A tecnológica explica que “a ZetesMedea,<br />

é uma plataforma WES modular, oferece a<br />

escolha mais ampla possível em termos de<br />

funcionalidade, flexibilidade e capacidade<br />

de integração, tais como trabalho orientado<br />

por voz, captura de dados em tempo real e<br />

visibilidade dos dados”.<br />

Com uma arquitetura flexível, é facilmente<br />

expansivel e ágil na abordagem a quaisquer<br />

processos de armazenamento, para que a<br />

Axfood consiga responder e implementar<br />

rapidamente a solução para novos locais e<br />

equipas de operadores de armazém, em função<br />

da procura e do crescimento do negócio.<br />

É que na ótica da gestão, com esta<br />

implementação, a Axfood beneficiará de<br />

visibilidade total e em tempo real nas suas<br />

instalações, permitindo-lhe aceder facilmente<br />

a informações de desempenho e monitorizar os<br />

KPI’s operacionais mais críticos.<br />

“Durante quase uma década, a nossa<br />

parceria com a Zetes permitiu-nos aumentar a<br />

eficiência e reduzir o custo em toda a cadeia de<br />

abastecimento. Estamos, mais uma vez, muito<br />

contentes com a solução proposta e os níveis<br />

de serviço e assistência exibidos”, conclui Lenny<br />

Eriksson, gestor de sistemas na Axfood. •


SCM Supply Chain Magazine 39


40<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Texto: Dora Assis<br />

Feiras<br />

IMPULSO AOS SETORES<br />

DE EMBALAGEM<br />

E LOGÍSTICA<br />

Depois da ausência imposta pela pandemia,<br />

a Empack e Logistics & Automation voltou<br />

ao Porto e reuniu na Exponor 80 empresas<br />

expositoras, ávidas de novos contactos e<br />

dispostas a dar a conhecer as soluções que<br />

preconizam para responder às necessidades<br />

dos clientes.


SCM Supply Chain Magazine 41<br />

O<br />

maior ponto de encontro de embalagem<br />

e logística do país regressou ao Porto<br />

para dois dias de negócio e networking,<br />

onde diversas empresas e marcas nacionais e<br />

internacionais apresentaram as novidades para<br />

o setor.<br />

Apesar de algumas ausências de peso do lado<br />

das empresas expositoras, nomeadamente em<br />

termos de equipamentos para movimentação<br />

de mercadorias, houve muita inovação e este<br />

ano os visitantes podiam inclusivamente<br />

participar nas “Tours de Inovação”, guiadas<br />

e lideradas por especialistas que lhes<br />

proporcionaram demonstrações exclusivas ao<br />

vivo, durante os dois dias da feira.<br />

Bastante preenchido foi também o programa<br />

de conferências e debates, que procurou trazer<br />

para discussão os temas e as preocupações<br />

dos profissionais que se movimentam nas<br />

cadeias de abastecimento, munindo-os de mais<br />

conhecimento e ferramentas para o futuro<br />

próximo.<br />

RECUPERAR DA PANDEMIA<br />

“Estamos muito satisfeitos com a adesão das<br />

marcas à feira. Foram dois anos de interrupção<br />

por causa da pandemia, mas a verdade é que os<br />

eventos presenciais trazem muitas vantagens<br />

às empresas, especialmente pela criação de<br />

ligações mais rápidas e eficazes com parceiros,<br />

fornecedores e clientes”, salientou na ocasião<br />

Óscar Barranco, diretor do evento.<br />

Os profissionais puderam encontrar<br />

ferramentas e conteúdos adaptados às<br />

suas necessidades e desafios atuais desde<br />

as soluções de automação e robótica aos<br />

softwares, passando pelas soluções de<br />

embalagem e transporte de mercadorias, e<br />

muito mais.<br />

Foram dois dias muito focados na inovação,<br />

quer nas soluções apresentadas pelas empresas<br />

expositoras, quer no auditório Signode onde<br />

temas como sustentabilidade, disrupção, os<br />

impactos na guerra e a necessidade de aceitar e<br />

gerir a mudança estiveram em destaque.<br />

MAIS DE 3.000 VISITANTES<br />

Segundo números da organização, a Empack<br />

e Logistics & Automation Porto alcançou um<br />

recorde de visitantes nesta sexta edição, com<br />

mais de 3.200 pessoas, o que representa um<br />

aumento de 27% em comparação com a última<br />

edição, realizada em 2019.<br />

“Estamos muito felizes e orgulhosos com<br />

a receção que tivemos este ano. A Empack<br />

e Logistics & Automation é um evento que<br />

traz muitos benefícios para o setor, e este<br />

regresso, depois de dois anos de interrupção<br />

devido à pandemia, foi tão excecional, que<br />

quase metade dos expositores já garantiram<br />

participação na edição de 2023. O setor da<br />

embalagem e logística está em constante<br />

crescimento, com mais de 11.500 empresas<br />

em Portugal, pelo que feiras profissionais<br />

como a Empack e Logistics & Automation são<br />

extremamente importantes para impulsionar a<br />

indústria”, sublinhou Óscar Barranco. •


42<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

INTRALOGÍSTICA<br />

The State of Fashion:<br />

Technology<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

MODA: A GRANDE<br />

ACELERAÇÃO<br />

Na próxima década, o mundo irá deparar-se<br />

com o maior progresso tecnológico dos<br />

últimos 100 anos e na indústria da moda os<br />

avanços tecnológicos estão agora a acelerar<br />

ao longo de toda a cadeia de valor.


SCM Supply Chain Magazine 43<br />

O<br />

relatório “The State of Fashion:<br />

Technology”, divulgado pelo The Business<br />

of Fashion (BoF) e pela McKinsey &<br />

Company, explora a razão pela qual os<br />

intervenientes desta indústria devem utilizar<br />

este período de mudança acelerada para<br />

reformular as suas prioridades estratégicas e<br />

transformar os desafios em oportunidades, de<br />

maneira a criar novas vantagens competitivas<br />

com base em novas tecnologias.<br />

“No ano passado, as empresas de moda<br />

investiram entre 1,6% e 1,8% das suas receitas<br />

em tecnologia. Estamos convencidos de que,<br />

até 2030, esse número aumentará para entre<br />

3% e 3,5%, porque a tecnologia pode ajudar<br />

as marcas a criar uma vantagem competitiva<br />

em atividades de contacto direto com o<br />

cliente – às quais as empresas têm dedicado<br />

mais atenção até agora – e também, cada<br />

vez mais, nas operações. Além disso, e ainda<br />

mais importante, a tecnologia pode ajudar a<br />

resolver questões de sustentabilidade”, afirma<br />

Carlos Sánchez, da McKinsey & Company.<br />

Entretanto, o capital já está a fluir para<br />

tecnologias que tornam o comércio da moda<br />

mais ágil, sustentável e cativante para os<br />

compradores. Em 2021, o valor dos 50 maiores<br />

investimentos em tecnologia relacionada<br />

com a moda cresceu 66% em relação a<br />

2019, atingindo 16,2 mil milhões de dólares,<br />

de acordo com uma análise da McKinsey<br />

para este relatório, baseada em dados da<br />

plataforma de informação empresarial<br />

Crunchbase.<br />

Estes investimentos destinaram-se quer<br />

a retalhistas de moda, quer a empresas que<br />

vendem produtos e serviços a empresas<br />

de moda, em vez de se direcionarem a<br />

marcas de moda. O comércio eletrónico,<br />

tendo beneficiado do aumento das compras<br />

online provocado pela pandemia, recebeu<br />

cerca de 55% do investimento. O restante<br />

correspondeu, em grande parte, a tecnologias<br />

de pagamento – incluindo empresas “compre<br />

agora, pague mais tarde” –, comércio social e<br />

revenda, seguidas por empresas da cadeia de<br />

fornecimento e logística e as que trabalham<br />

em NFT ou tecnologias como realidade<br />

virtual.<br />

IMPACTO E RETORNO DO<br />

INVESTIMENTO<br />

Atualmente, são poucas as marcas que<br />

abraçaram com sucesso a tecnologia,<br />

mantendo uma mentalidade competitiva, mas<br />

aquelas que investem podem ver o impacto<br />

nos seus resultados. Em concreto, empresas<br />

que já estão a incorporar tecnologias de<br />

inteligência artificial (IA) nos seus negócios,<br />

para aumentar a eficiência operacional<br />

e melhorar o envolvimento dos clientes,<br />

poderão obter um aumento potencial<br />

cumulativo de 118% no cash flow até 2030.<br />

Para aquelas que estão apenas a iniciar esta<br />

jornada, a implementação de iniciativas<br />

impulsionadas pela IA até 2030 poderá gerar<br />

um aumento de 13% no cash flow.


44<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

Estes investimentos e avanços tecnológicos<br />

estão a ter impacto em todos os segmentos<br />

da indústria da moda, desde a fast fashion<br />

ao luxo, embora de formas diferentes. É o<br />

caso da moda de luxo, onde, de acordo com o<br />

que revelam neste relatório os especialistas<br />

da indústria, cerca de 80% das vendas<br />

são influenciadas por pontos de contacto<br />

digitais, os serviços pessoais e presenciais<br />

permanecem no centro da experiência de<br />

compra, além de que, as app de clientes, entre<br />

outras ferramentas, estão a tornar-se parte<br />

integrante de como os responsáveis da loja<br />

melhoram as relações com os clientes.<br />

OS IMPERATIVOS DA<br />

TECNOLOGIA<br />

O foco na tecnologia está a mudar. Da<br />

concentração no cliente no final da cadeia de<br />

abastecimento, as atenções viram-se agora<br />

para a revolução dos processos internos<br />

dentro do negócio, de forma a gerar um<br />

maior benefício geral. A análise revela as três<br />

principais áreas em que os executivos do setor<br />

da moda planeiam fazer investimentos digitais<br />

até 2025: personalização, tecnologias de loja e<br />

gestão da cadeia de valor de ponta a ponta.<br />

A tecnologia está também no topo da<br />

agenda dos líderes empresariais que fazem<br />

planos estratégicos para os próximos anos:<br />

à medida que olham para o futuro até 2025,<br />

os executivos de moda acreditam que a<br />

integração de processos digitais em todas as<br />

suas organizações estará entre as suas cinco<br />

principais áreas do processo de digitalização.<br />

O relatório “The State of Fashion:<br />

Technology” identifica cinco temas-chave que<br />

as empresas de todos os segmentos de valor<br />

precisam de considerar à medida que nivelam<br />

as suas estratégias tecnológicas.<br />

1. Verificação da Realidade<br />

“Metaverso”: Bens virtuais e<br />

realidade aumentada<br />

Embora as despesas em bens virtuais estejam<br />

a aumentar de ano para ano, o sucesso de<br />

toda a indústria no metaverso ainda depende<br />

largamente da rapidez com que se tornará<br />

aceite a uma escala mais ampla. De acordo<br />

com as estimativas, as marcas poderiam gerar<br />

até 5% das receitas nos próximos dois a cinco<br />

anos a partir de oportunidades relacionadas<br />

com o metaverso.<br />

2. Hiper Personalização:<br />

Marketing e e-commerce liderado<br />

por IA<br />

A competição pela atenção do cliente está<br />

a intensificar-se e os custos de conversão<br />

estão a aumentar entre novas restrições<br />

de privacidade e limites à recolha de dados<br />

de terceiros. Porém, as marcas têm acesso<br />

a um arsenal crescente de ferramentas e<br />

tecnologias de personalização para atualizar<br />

a forma como personalizam as suas relações<br />

com os clientes. A oportunidade para os<br />

executivos está, agora, em aproveitar o Big<br />

Data e a IA para proporcionar experiências<br />

individuais que construam uma lealdade a<br />

longo prazo.


SCM Supply Chain Magazine 45<br />

3. Lojas conectadas: Experiência<br />

do cliente na loja com aplicações<br />

móveis e micro-fulfillment<br />

O crescimento inexorável do comércio<br />

eletrónico forçou os intervenientes da<br />

indústria da moda a repensar o papel das<br />

lojas físicas. Mas, apesar da aceleração dos<br />

hábitos de compras digitais, a investigação<br />

mostra que os clientes ainda querem comprar<br />

nas lojas para poderem procurar e tocar nos<br />

produtos físicos antes de fazer compras. O<br />

relatório revela ainda como os executivos<br />

da moda podem abordar os problemas dos<br />

consumidores ao utilizarem aplicações<br />

ESTES INVESTIMENTOS E<br />

AVANÇOS TECNOLÓGICOS<br />

ESTÃO A TER IMPACTO EM<br />

TODOS OS SEGMENTOS<br />

DA INDÚSTRIA DA MODA,<br />

DESDE A FAST FASHION AO<br />

LUXO, EMBORA DE FORMAS<br />

DIFERENTES<br />

Soluções de<br />

impressão e<br />

etiquetagem<br />

para uma<br />

melhor gestão<br />

da sua cadeia de<br />

abastecimento<br />

/// www.tscprinters.com


46<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

móveis na loja e assim melhorar a experiência<br />

e as tecnologias de micro-fulfillment para<br />

alavancar as suas redes de retalho físico para<br />

a era do quick commerce.<br />

4. Atualização End-to-End:<br />

Integração da cadeia de valor<br />

alimentada pela IA<br />

As ferramentas digitais e a análise<br />

transformaram partes-chave da cadeia<br />

de valor da moda, mas estas otimizações<br />

decorrem, muitas vezes, em silos dentro<br />

das organizações, limitando o potencial<br />

de melhorias interfuncionais. Atualmente,<br />

muitos profissionais de moda estão a procurar<br />

embarcar na integração de ponta a ponta<br />

da cadeia de valor para criar formas mais<br />

eficientes e mais rentáveis de operar. Como<br />

o relatório explica, o machine learning<br />

e a computação em cloud estão entre as<br />

principais tecnologias que permitem às<br />

marcas alcançar esse objetivo.<br />

5. Rastrear primeiro: Tecnologia<br />

de rastreio da cadeia de<br />

abastecimento e blockchain<br />

Na generalidade, as marcas estão mal<br />

preparadas para monitorizar e gerir as<br />

práticas sociais e ambientais nas suas<br />

cadeias de abastecimento. Para que as


SCM Supply Chain Magazine 47<br />

marcas de moda possam atingir objetivos de<br />

sustentabilidade, que vão desde a obtenção<br />

de melhores materiais até à melhoria da<br />

conformidade regulamentar e à redução de<br />

emissões, terão de estabelecer uma linha<br />

de visão completa sobre a forma como os<br />

seus produtos são fabricados. O relatório<br />

analisa como os sistemas de rastreabilidade<br />

alimentados por um software de rastreio<br />

e por Big Data podem ajudar as marcas de<br />

moda a chegar mais longe nas suas cadeias<br />

de abastecimento.<br />

Imran Amed, fundador e CEO da The<br />

Business of Fashion, refere que “a pandemia<br />

cimentou o papel crítico da tecnologia<br />

na indústria da moda, particularmente<br />

em termos de aceitação do e-commerce.<br />

Contudo, ao longo dos próximos anos, a<br />

indústria inclinar-se-á ainda mais para a<br />

tecnologia à medida que as empresas olham,<br />

por exemplo, para além das experiências<br />

no metaverso, incorporando fluxos de<br />

trabalho totalmente digitalizados nas suas<br />

organizações, ou investindo em ferramentas<br />

de rastreabilidade para as ajudar a atingir<br />

os objetivos de sustentabilidade. A forma<br />

como os executivos decidem dar prioridade e<br />

investir nestas tecnologias pode determinar<br />

se as suas empresas são líderes da indústria<br />

ou se estão atrasadas”. •


48<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

TECNOLOGIAS<br />

Körber Supply Chain<br />

Texto: Dora Assis<br />

“A RESPOSTA PARA A<br />

COMPLEXIDADE PASSA<br />

PELA AUTOMATIZAÇÃO”<br />

Já foi Efacec Handling Solutions, depois<br />

Consoveyo e desde setembro de 2020<br />

Körber Supply Chain, juntando na mesma<br />

marca o know-how das várias empresas do<br />

universo Körber. Sof tware, automação, voz,<br />

robótica, movimentação de materiais e a<br />

capacidade de integrar tudo isto sintetizam<br />

o posicionamento da Körber Supply Chain<br />

Portugal para responder às exigências das<br />

cadeias de abastecimento e da intralogística.<br />

O<br />

contexto para a entrevista não poderia ter<br />

sido melhor: a feira Empack e Logistics &<br />

Automation, na Exponor, e a primeira vez<br />

que depois da mudança de nome ali estavam<br />

como expositores, retomando o contacto<br />

direto com o mercado e com os clientes.<br />

Transelevadores, sistemas de miniloads,<br />

layer pickers, veículos guiados por carris e<br />

muitos outros equipamentos e soluções de<br />

transporte de materiais chamaram a atenção<br />

dos profissionais em busca de soluções de<br />

automação, e de explorar novas possibilidades<br />

de otimização da sua intralogística. Embora<br />

com a casa cheia e muitas reuniões a<br />

acontecerem, roubámos um quarto de hora<br />

a António Conde, Chief Executive Officer da<br />

divisão de Portugal da Körber Supply Chain<br />

para falar sobre o mercado e a estratégia de<br />

negócio em Portugal.


SCM Supply Chain Magazine 49<br />

SCM - A mudança de nome para Körber<br />

Supply Chain e a ampliação da vossa oferta<br />

aconteceram já em período de pandemia. Foi o<br />

momento certo?<br />

António Conde > Foi e precisamente por<br />

estarmos em pandemia. É que a Körber até<br />

àquele momento tinha 12 marcas, de 12<br />

companhias diferentes que tinha vindo a<br />

adquirir e todas operavam na área de supply<br />

chain. Quando surge a pandemia e nos vimos<br />

privados da possibilidade de contactos mais<br />

próximos com os clientes, decidimos apostar<br />

numa forte estratégia de marketing digital,<br />

mas fazê-lo com 12 marcas diferentes seria um<br />

desperdício de energia e recursos. O processo<br />

de unificação da marca já estava pensado, pelo<br />

que decidimos acelerá-lo, para assim conseguir<br />

concentrar esforços. Só para ter uma ideia,<br />

fizemos recentemente o balanço do primeiro<br />

trimestre em termos de notoriedade da marca<br />

e garanto-lhe que os esforços que fizemos<br />

foram recompensados.<br />

O nível de complexidade na supply chain<br />

aumentou. Vivem-se momentos únicos e<br />

sobretudo inéditos. Enquanto fornecedores<br />

de soluções, como é que avaliam o momento<br />

e que tipo de solicitações têm por parte dos<br />

vossos clientes?<br />

> O que começamos a perceber é que aquilo<br />

que originou esta disrupção nas cadeias<br />

de abastecimento no mundo inteiro não<br />

são fatores passageiros, aliás, muitos deles<br />

já cá estavam. As fragilidades já existiam,<br />

simplesmente eram pouco visíveis. O que já<br />

sabemos hoje é que não vai haver um voltar<br />

atrás, não vamos voltar ao antigamente. E os<br />

nossos clientes estão obviamente a adaptar-se<br />

a todo este novo cenário.<br />

António Conde, Chief Executive Of fi i cer<br />

Bilhete de Identidade<br />

António Conde é o primeiro CEO português<br />

desde a aquisição da Consoveyo pelo Grupo<br />

Körber em 2015.<br />

Era anteriormente Diretor de Operações da<br />

Consoveyo e vice-CEO desde outubro de 2017.<br />

Antes disso, trabalhou internacionalmente<br />

em várias funções de gestão sénior no grupo<br />

alemão Bosch. A partir dessa experiência,<br />

destacam-se vários casos de sucesso. Um<br />

deles foi o trabalho de reforma de uma<br />

fábrica em Aveiro, que se tornou a melhor<br />

unidade do Grupo Bosch a nível mundial.<br />

Desde setembro de 2020 passaram a ser<br />

oficialmente Körber Supply Chain e nos planos<br />

do gestor está a manutenção da liderança no<br />

mercado nacional, cobrindo todas as soluções<br />

relevantes em tecnologias de automação.<br />

Previsível é também a expansão das<br />

instalações e o aumento das infraestruturas<br />

e atividade produtiva da Körber Supply Chain<br />

em Portugal.


50<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

O que é que nós observamos? Que o just in<br />

time é hoje o just in case, com um aumento do<br />

volume de armazenamento; a produção está<br />

a relocalizar-se para mais próximo do cliente,<br />

até por uma questão de sustentabilidade,<br />

que é hoje muito mais premente e está<br />

presente no pensamento da grande maioria;<br />

se juntarmos a isto tudo o advento do<br />

comércio eletrónico, que também explodiu<br />

nestes últimos dois anos, o resultado é uma<br />

gigantesca complexidade para os nossos<br />

clientes. No nosso entender, a resposta para<br />

a complexidade passa pela automatização. E,<br />

quando digo automatização, não estou a falar<br />

de uma máquina a transportar do ponto A<br />

para o ponto B. Estou a falar de processos com<br />

alguma inteligência, inteligência artificial, que<br />

ajudem de facto as empresas a lidar com toda<br />

esta complexidade. É aí que temos estado a<br />

apostar.<br />

O que os nossos clientes nos pedem é<br />

gestão da complexidade, performance,<br />

velocidade e depois algo que todos já<br />

sabíamos, mas que agora se faz sentir com<br />

grande premência: redução dos consumos<br />

energéticos. É possível reduzir os consumos<br />

energéticos com máquinas mais eficientes,<br />

mas também com operações logísticas mais<br />

eficientes, que combatem o desperdício, e<br />

para isso nada como a inteligência artificial.<br />

Tudo o que tenha a ver com controlo e<br />

software é onde estamos a fazer os maiores<br />

investimentos, para compensar este aumento<br />

de complexidade.<br />

De acordo com a vossa experiência, há<br />

setores mais sensibilizados para a necessidade<br />

de investir neste tipo de soluções?<br />

> Sim, claramente. Para além do comércio<br />

eletrónico, temos sentido uma aceleração<br />

grande nos Fast Moving Consumer Goods<br />

e uma procura crescente de soluções de<br />

automação logística e também no Food &<br />

Beverage. Casos particulares é, por exemplo,<br />

a explosão do segmento de mercado da<br />

temperatura controlada, ou seja, tudo o que<br />

tenha a ver com cadeias de abastecimento<br />

de congelados ou frio, que também têm<br />

registado grande procura. Depois há aqueles<br />

crescimentos naturais, ou conjunturais se<br />

quiser, como foi o caso do setor farmacêutico.<br />

Como é que estamos em matéria de<br />

digitalização das cadeias de abastecimento em<br />

Portugal?<br />

> O primeiro projeto que nós temos de IoT<br />

e em que tratamos dados de forma maciça,<br />

com tecnologia de big data, é em Portugal. E<br />

aqui Portugal não destoa, já que normalmente<br />

somos quase sempre early adopters neste tipo<br />

de soluções. Acho que não estou muito longe<br />

da verdade se disser que somos uma sociedade<br />

que revela abertura a soluções novas. O que<br />

eu temo é que depois não saibamos manter<br />

o ritmo, como tantas vezes acontece, e os<br />

outros, que normalmente levam mais tempo<br />

a arrancar, acabam por ser mais constantes e<br />

consistentes no ritmo de desenvolvimento.<br />

Portanto, respondendo à sua pergunta, é<br />

aqui que experimentamos as coisas novas,<br />

mas temo que à semelhança de outros casos,<br />

depois não sejamos capazes de manter o<br />

ritmo. Já começo a ver mercados como o<br />

inglês, ou até mesmo a Alemanha, que é<br />

um mercado muito conservador ao nível da<br />

automação, a despertarem para esta urgência<br />

do digital.<br />

Em termos de inovação e I&D, é uma grande<br />

vantagem estarem inseridos num grupo como<br />

a Körber.<br />

> Sim, sem dúvida. A Körber tem hoje


SCM Supply Chain Magazine 51<br />

valências como a área de produção de<br />

equipamentos, que é mais tangível, mas<br />

depois há a área que representa praticamente<br />

50% do grupo só dedicada ao digital e ao<br />

software, o que para nós funciona como<br />

uma grande alavanca, pois temos recursos<br />

próprios. E todos sabemos como são escassos<br />

atualmente os recursos de software. Termos<br />

estas soluções dentro de casa dá-nos um<br />

tempo de resposta substancialmente mais<br />

rápido do que o da nossa concorrência e, em<br />

simultâneo, permite-nos sermos muito mais<br />

ágeis. Eu diria que conseguimos alcançar<br />

soluções de customização para os nossos<br />

clientes que não estão ao alcance da maioria.<br />

Automação, robótica, voz… a indústria 4.0<br />

tem criado as oportunidades esperadas? Como<br />

é que vê o futuro neste domínio e em que<br />

sentido é que é preciso evoluir?<br />

> A indústria 4.0, para além do conceito<br />

em si, trouxe-nos algo que já cá estava mas<br />

que agora funciona em pleno: integração.<br />

Hoje, com o desenvolvimento da tecnologia<br />

digital nós conseguimos, de facto, integrar<br />

máquinas, equipamentos e soluções que foram<br />

produzidos por outros, noutras condições,<br />

longe daqui, o que nos permite abordar<br />

o cliente com o conceito de ecossistema.<br />

Enquanto integradores de sistemas, aquilo<br />

que oferecemos ao cliente é uma solução<br />

integrada: desde a produção ao fim da cadeia<br />

de valor, com um centro de controlo único<br />

feito por nós, com uma aquição de dados<br />

única feita por nós, independentemente das<br />

máquinas que integram o sistema. No fundo,<br />

temos um “chapéu de chuva transversal”<br />

que monitoriza toda a cadeia de valor e que<br />

possibilita a integração de soluções muito<br />

diversas, com vantagens óbvias para o cliente,<br />

que passa a ter um interlocutor único. E<br />

isto, queira-se, ou não, só foi possível com o<br />

desenvolvimento da digitalização.<br />

Já temos, por exemplo, uma solução<br />

muito desenvolvida na área do tissue, que<br />

começa nas máquinas de produção, passando<br />

pelo armazenamento automático até à<br />

expedição. Para nós é isso que tem sido mais<br />

deslumbrante na indústria 4.0. Graças à<br />

digitalização e à eficiência que os processos<br />

digitais trouxeram, hoje é possível ter o<br />

mesmo nível de performance com menos<br />

equipamentos. Se tenho menos equipamentos,<br />

tenho menos material, menos consumo<br />

energético, mais sustentabilidade e é por aí<br />

que temos que caminhar. Conheci empresários<br />

que tinham dificuldade em investir em<br />

soluções automáticas de logística por receio<br />

que à medida que o mercado e os clientes<br />

evoluíssem ficassem ali com um sistema<br />

que, por ser tão rígido, se tornaria obsoleto<br />

e incapaz de evoluir à mesma velocidade.<br />

Hoje, com o software, conseguimos ter<br />

soluções muito mais flexíveis e adaptáveis<br />

às necessidades. Ou seja, com o mesmo<br />

harware é possível reconverter as soluções<br />

graças ao software. A intralogística está a<br />

evoluir e o futuro do armazenamento requer<br />

automatização flexível e baseada em dados. •


52<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

TECNOLOGIAS<br />

IDC Portugal<br />

Texto: Fábio Santos<br />

NUVENS EM FORMA<br />

DE ARMAZÉM<br />

As nuvens podem assumir várias formas,<br />

depende apenas da criatividade de cada<br />

pessoa. Com a digitalização estas nuvens<br />

ganharam novas funções: armazenagem<br />

de informação, interligação entre sistemas,<br />

acesso remoto a ficheiros… As aplicações<br />

em cloud são imensas.


SCM Supply Chain Magazine 53<br />

Gabriel Coimbra, IDC Portugal<br />

A<br />

digitalização passou de modernização<br />

a necessidade, vindo facilitar imenso os<br />

processos das empresas. As soluções<br />

em cloud são exemplo disso, deixando as<br />

empresas de estar dependentes de um “espaço<br />

digital físico”, ou seja, um dispositivo eletrónico<br />

de armazenamento, e passando a poder manter<br />

os seus dados disponíveis em plataformas<br />

digitais, às quais podem ter acesso a qualquer<br />

momento.<br />

Gabriel Coimbra, Group Vice President and<br />

Country Manager na IDC Portugal, explica que<br />

antes de surgirem estas soluções, a informação<br />

e os dados estavam disponíveis em sistemas<br />

“on-prem”, “ou seja, em datacenters existentes<br />

nas próprias organizações, e comunicavam<br />

através da internet”. Existe ainda o conceito<br />

de Cloud Híbrida e Multicloud, associado à<br />

capacidade de gerir os dados e as aplicações na<br />

Cloud Pública (entre as várias clouds), na Cloud<br />

Privada e “on-prem” ao mesmo tempo.<br />

O responsável da IDC Portugal aponta<br />

que “as soluções cloud vieram a facilitar a<br />

integração entre as várias aplicações, mas<br />

sobretudo vieram trazer mais agilidade<br />

e escalabilidade, já que os sistemas são<br />

disponibilizados de forma muito mais rápida”,<br />

e nota que entre os principais benefícios<br />

encontram-se a agilidade, escalabilidade,<br />

resiliência e integração entre aplicações.<br />

A cloud desempenha ainda um papel<br />

fundamental na indústria 4.0 e na<br />

transformação digital, sendo necessária para<br />

suportar a inovação, agilidade e escalabilidade<br />

da infraestrutura tecnológica que suporta o<br />

negócio, realça.<br />

Existem, no entanto, vários desafios<br />

associados à gestão da tecnologia, processos,<br />

pessoas e dados. “Diria que a arquitetura de<br />

dados e respetivos processos de governação<br />

são fatores críticos e um dos principais<br />

desafios para as organizações garantirem a<br />

segurança, privacidade e cumprimento com<br />

as normas e legislação”, destaca Gabriel<br />

Coimbra, acrescentando ainda as questões de<br />

automatização entre ambientes e de controlo<br />

de custo como dois aspetos críticos.<br />

Ao nível da segurança, o country manager<br />

destaca que tanto os grandes fornecedores<br />

de cloud, como os “hyperscales” (Microsoft,<br />

Google e AWS), como os grandes fornecedores<br />

de SaaS (SalesForce, SAP, Microsoft, Oracle,<br />

etc), “têm condições de segurança muito<br />

mais sofisticadas do que qualquer datacenter<br />

de uma organização”, porém, ao nível das<br />

políticas de segurança e gestão de dados,<br />

essas responsabilidades são das próprias<br />

organizações, tanto em cloud como em “on-<br />

-prem”.


54<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

Logo no início do confinamento devido<br />

à pandemia de COVID-19, ainda em 2020, a<br />

digitalização foi um dos principais focos das<br />

empresas, tendo os investimentos em cloud<br />

crescido 30%, e em 2021 mais 25%, esperando-<br />

-se uma subida de 20% para <strong>2022</strong>.<br />

Gabriel Coimbra aponta que “pela primeira<br />

vez na história verificámos uma correlação<br />

inversa entre o IT e a Economia, ou seja, mesmo<br />

com uma das maiores quebras da história no<br />

PIB, o mercado de IT continuou a crescer”.<br />

Segundo avança, em 2021, apesar da quebra<br />

de quase 5% do PIB, o mercado de IT mundial<br />

cresceu quase 3%, e em Portugal, onde essa<br />

quebra foi ainda maior, chegando quase aos<br />

10%, o mercado de IT cresceu quase 2%.<br />

A nível nacional, o responsável da IDC<br />

Portugal considera termos grandes empresas<br />

capazes de acompanhar os níveis de maturidade<br />

europeias de transformação digital, no entanto,<br />

aponta que ainda pecamos ao nível das PME,<br />

com um atraso de 3-4 anos.<br />

As soluções cloud para a supply chain fazem<br />

parte do Top 10 das previsões da IDC, no seu<br />

estudo “IDC FutureScape: Worldwide Supply<br />

Chain <strong>2022</strong> Predictions”. A empresa antecipa<br />

que até 2024 a adoção de soluções cloud<br />

irá crescer 25 pontos percentuais, em parte<br />

impulsionada pelas ameaças cibernéticas.<br />

Algumas das recomendações e previsões do<br />

estudo são:<br />

Impacto das TI<br />

• Abordagem em nuvem para a cadeia<br />

de abastecimento significa pensar mais<br />

estrategicamente sobre substituições e<br />

melhoramentos;<br />

• O aumento da adoção da cloud será uma<br />

opção viável para evitar o impacto de<br />

futuras disrupções;<br />

• As TI devem estabelecer um mapa para a<br />

transição suave e atempada de ambientes<br />

predominantemente em instalações para<br />

predominantemente em cloud.<br />

Orientação<br />

• Quase toda a energia intelectual e<br />

inovadora está agora a focar-se nas<br />

aplicações cloud para a cadeia de<br />

abastecimento — certifique-se de que está<br />

a par das ferramentas disponíveis;<br />

• A IDC recomenda que as empresas<br />

invistam algum tempo e esforço a analisar<br />

as capacidades futuras mais prováveis<br />

de ser exigidas pelas suas cadeias de<br />

abastecimento, e se as ferramentas<br />

existentes estão à altura da tarefa;<br />

• Certifique-se de que se envolve com<br />

fornecedores SCM, grandes e pequenos,


SCM Supply Chain Magazine 55<br />

que oferecem uma ampla gama de<br />

ferramentas SCM em cloud totalmente<br />

caracterizada.<br />

“Das nossas conversas com produtores<br />

e retalhistas, a grande maioria dos novos<br />

investimentos está a ser feita na cloud”, pode<br />

ainda ler-se no estudo, e ao nível da proteção,<br />

“tivemos mais do que uma empresa a dizer-<br />

-nos que agora acreditam que a cloud é mais<br />

segura”.<br />

É certo que a transformação digital é um<br />

dos tópicos na ordem do dia, e os armazéns<br />

e interligação de processos são constantes<br />

da logística. Então e se juntarmos esses<br />

elementos? Segundo a física não se dá uma<br />

reação, mas segundo a digitalização eles<br />

“evaporam” para a nuvem. •


56<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

TECNOLOGIAS<br />

Siemens aumenta rede<br />

de fornecedores<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

“A CADEIA DE VALOR<br />

ESTÁ CADA VEZ MAIS<br />

SOFISTICADA”<br />

A ligação entre comprador e fornecedor é<br />

um ponto a ter em atenção no mercado B2B,<br />

especialmente numa altura de pós-pandemia<br />

e atual guerra na Ucrânia, marcada pela<br />

disrupção das cadeias de abastecimento e a<br />

urgência do fornecimento célere e próximo.<br />

A Siemens Portugal sabe disso e pretende<br />

alargar a sua rede de fornecedores de forma<br />

a encontrar alternativas locais para lidar com<br />

estas questões.<br />

A EMERGÊNCIA DO<br />

FORNECIMENTO<br />

A Siemens Portugal conta neste momento<br />

com mais de 970 fornecedores externos,<br />

dos quais 70% são portugueses. Contudo,<br />

apesar de a empresa estar num processo de<br />

crescimento, Pedro Pires de Miranda, CEO da<br />

Siemens Portugal, garante que “tem subido,<br />

mas tem de subir mais”, tendo em vista a<br />

procura de alternativas locais no que diz<br />

respeito ao fornecimento, pois “a cadeia de<br />

valor é elástica, mas a matriz está cada vez<br />

mais sofisticada no tipo de fornecimento”,<br />

acrescentou. Consequências, em parte, advindas<br />

da pandemia e da guerra na Ucrânia que<br />

ditaram a emergência de um fornecimento mais<br />

rápido, sustentável e próximo devido à falta de<br />

produtos e à inflação dos preços. Relembramos


SCM Supply Chain Magazine 57<br />

que a empresa cortou todo o fornecimento<br />

à Rússia após o início da guerra na Ucrânia,<br />

o que esperaria ter impactos na economia<br />

da empresa. Contudo, o CEO da Siemens<br />

Portugal, quando questionado, respondeu que<br />

as vendas que realizavam à Rússia não faziam<br />

a empresa lucrar “um valor exorbitante”. A<br />

empresa apenas exportava “alguns produtos”,<br />

por exemplo, da fábrica de Correios, como fazia<br />

“suporte de IT” ao país, prestando também<br />

serviços partilhados a partir de Portugal. Já em<br />

relação aos componentes ligados à tecnologia,<br />

o diretor referiu que tem sofrido bastante<br />

com a supply chain da eletrónica, uma vez<br />

que continua “muito dependente do exterior”,<br />

exemplificando: “Temos máquinas prontas que<br />

não podem sair por causa da falta de um chip,<br />

o que prejudica a exportação deste tipo de<br />

produtos. Não deixa fazer o scale up”.<br />

NOVOS OBJETIVOS EM CURSO<br />

É de ressalvar que a empresa opera há 116<br />

anos em Portugal, sendo a 10.ª empresa<br />

alemã que mais vende, ocupando o 11.º<br />

lugar como exportadora. “A força enquanto<br />

empresa está na exportação”, dado que, o<br />

“mercado nacional [está] a crescer de acordo<br />

com o crescimento económico português”,<br />

explica o líder da Siemens Portugal. Aliás, do<br />

volume de negócios total de 260,7 milhões<br />

de euros no exercício terminado em setembro<br />

de 2021, 158,8 milhões foram faturados fora<br />

de Portugal. A empresa é, ainda, a 3.ª maior<br />

empregadora de origem germânica no país<br />

com atualmente 3.150 funcionários, dos<br />

quais só 20% não têm formação superior e<br />

apenas 15% são estrangeiros, cerca de 58<br />

nacionalidades, sendo a predominante, a<br />

brasileira. Até 2025 a empresa quer ter a<br />

trabalhar para si 3.500 colaboradores, tendo<br />

a maior parte das suas vagas na área do<br />

desenvolvimento de software. A Siemens<br />

Portugal espera também ultrapassar barreiras<br />

com a sua empresa parceira, a Introsys, com<br />

o desenvolvimento de sistema de localização<br />

em tempo real de veículos autónomos para<br />

a Volkswagen Autoeuropa, dado que existe<br />

“potencial de alargar este sistema a toda a<br />

fábrica e a outras, quer no automóvel quer<br />

noutras áreas que tenham necessidade de<br />

transportar peças dentro das fábricas”, refere<br />

Luís Bastos, responsável pela área de indústria<br />

na Siemens Portugal. Este foi implementado<br />

em 2021 com o objetivo de “incrementar o<br />

fluxo e reduzir os estrangulamentos nas várias<br />

rotas”. O gestor mostrou até ao momento<br />

interesse nas áreas do têxtil e do vinho que<br />

seriam associadas a este sistema devolvido<br />

pela marca. Outros dos projetos da empresa<br />

são, ainda, um sistema de gestão inteligente<br />

de resposta a inundações, energia e qualidade<br />

das águas balneares desenvolvido com a Águas<br />

do Algarve; a plataforma de produção modular<br />

adaptável a várias indústrias, com a Zeugma<br />

e a Faculdade de Engenharia da Universidade<br />

do Porto (FEUP); o armazenamento de energia<br />

e gestão de microrrede na ilha Terceira para<br />

a EDA – Eletricidade dos Açores; a parceria<br />

com a CaetanoBus para a eletrificação e<br />

descarbonização de autocarros; ou o projeto<br />

que acelera a recuperação de pacientes<br />

no Hospital da Luz, através de luzes<br />

humanizadoras, e a criação de dois centros<br />

de competências exportadores: um deles<br />

relacionado com soluções logísticas para<br />

armazéns automáticos e o outro, um hub<br />

especializado na modernização de portos.<br />

Pedro Pires de Miranda acabou por adiantar que<br />

na maior parte dos projetos da Siemens está<br />

a ser praticado o “comissionamento remoto”,<br />

tendência que já foi experimentada no Dubai e<br />

irá “aumentar a competitividade de Portugal”. •


58<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

TRANSPORTE<br />

Eurowag<br />

Texto: Fábio Santos<br />

ABASTECER COM<br />

SEGURANÇA E<br />

CONTROLO TOTAL<br />

Numa altura em que os combustíveis estão<br />

em crescimento constante, os casos de<br />

fraude por roubo e clonagem de cartões<br />

têm aumentado. Garantir que se mantém<br />

uma maior segurança e transparência<br />

nestes gastos das empresas passou a<br />

ser ainda mais importante, e como tal, a<br />

Eurowag desenvolveu uma solução pioneira<br />

antifraude que permite aos utilizadores<br />

não só abastecer com maior segurança,<br />

mas também obter algumas vantagens no<br />

processo, a acrescentar à oferta de gestão de<br />

custos da sua plataforma.


SCM Supply Chain Magazine 59<br />

Os aumentos dos custos dos combustíveis<br />

fizeram com que encher um depósito de<br />

1.000 litros, que há um ano custava 750<br />

euros, hoje duplicasse o valor. A gestão destes<br />

custos e a segurança dos cartões passaram a<br />

ter uma maior importância para as empresas,<br />

que veem as suas margens de lucro cada<br />

vez mais limitadas. Carlos Guerra, Country<br />

Manager da Eurowag para Portugal, destaca<br />

a importância da segurança e da gestão dos<br />

custos de transporte, não só em termos de<br />

controlo de gastos internos, mas também de<br />

previsão de gastos com serviços, para que as<br />

empresas verifiquem antecipadamente a sua<br />

rentabilidade.<br />

Carlos Guerra, Country Manager da Eurowag Portugal


60<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

Enquanto fornecedor líder europeu de<br />

soluções de mobilidade para o transporte<br />

rodoviário comercial, com grande foco<br />

na vertente tecnológica, a Eurowag tem<br />

investido no desenvolvimento de soluções<br />

complementares à sua oferta de modo<br />

a responder às necessidades atuais das<br />

empresas. Dessa forma, não só conseguem<br />

novas sinergias tecnológicas próprias, como<br />

também os seus clientes podem beneficiar de<br />

soluções complementares e diversificadas.<br />

A Eurowag conta com empresas internas<br />

que complementam as suas soluções, criando<br />

sinergias internas de empresas, como é o<br />

caso da Sygic, adquirida há cerca de quatro<br />

anos, que é responsável pelo mapeamento e<br />

localização do sistema. “Não foi só adquirida<br />

a companhia, como também todos os recursos<br />

existentes, todos os programadores e toda a<br />

estrutura. Toda essa estrutura foi readaptada<br />

à realidade do negócio da Eurowag e tirado<br />

o aproveitamento, não só para a parte da<br />

telemática – já em nome da Eurowag –, mas<br />

também as outras áreas de negócio, dando-<br />

-lhes complementos para potenciar os outros<br />

produtos”, explica o responsável.<br />

Uma das aquisições recentes da empresa<br />

foi a ADS, um fornecedor líder de serviços de<br />

transporte rodoviário comercial em Espanha<br />

e Portugal, em março de 2021. Foi através<br />

dessa aquisição que a Eurowag ganhou<br />

uma maior notoriedade a nível nacional,<br />

sendo que anteriormente à compra a sua<br />

expressão no nosso país era pequena. Se por<br />

um lado ganhou com a quota de mercado<br />

de transportes internacionais da ADS, na<br />

ordem dos 60%, também esta adquiriu novas<br />

ferramentas complementares à sua atividade.<br />

ABASTECER COM MAIOR<br />

SEGURANÇA<br />

“A Eurowag é uma empresa muito tecnológica<br />

e sempre apostou muito na realidade dos<br />

problemas do dia a dia”, avança, destacando<br />

a segurança como sendo uma dessas<br />

preocupações. “A fraude é uma realidade,<br />

e também existe no setor de venda de<br />

combustíveis”, aponta o responsável, notando<br />

que as empresas têm uma média de custo de<br />

aproximadamente 1.500 euros por ano em<br />

fraudes, por matrícula, que podem acontecer.<br />

Face a esta realidade, a empresa adiantou-<br />

-se e começou a criar sistemas de controlo<br />

para evitar estes problemas dos clientes,<br />

desde “a criação de monitorização online de<br />

todas as transações, reportes automáticos de<br />

suspeitas de fraude enviados diretamente ao<br />

cliente, limitações de cartões configuráveis<br />

pelos clientes para garantir o crédito<br />

concedido a esse cartão”.<br />

Uma das soluções lançadas recentemente<br />

pela Eurowag foi o Fuel Guard, que através de<br />

um sistema de geofencing consegue garantir<br />

uma maior segurança de abastecimento, ao<br />

identificar se o veículo da frota da empresa se<br />

encontra nas proximidades do cartão, e caso<br />

não esteja, o pagamento com este cartão é<br />

bloqueado. Através deste sistema, existe uma<br />

maior garantia de segurança, não só em caso<br />

de roubo, mas também em caso de perda do<br />

cartão.<br />

Carlos Guerra explica-nos que esta “é<br />

a única solução no mercado que garante<br />

este nível de segurança”, e que graças ao<br />

background tecnológico da empresa e à<br />

integração com outros serviços digitais e


SCM Supply Chain Magazine 61<br />

soluções antifraude, permitem à empresa<br />

“inovar mais rapidamente”, caracteriza.<br />

O country manager nota que os cartões<br />

têm banda magnética, pin e são entregues<br />

separadamente e de forma individualizada<br />

aos clientes, para não haver nenhum tipo de<br />

intervenção externa a esse cartão e pin. Outro<br />

serviço inovador com que a Eurowag já contava<br />

era o bloqueio ativo, em que o cartão estava<br />

constantemente bloqueado e ao aproximarse<br />

da estação gerava um pin por SMS que o<br />

desbloqueava por 30 minutos, e que reduziu<br />

consideravelmente as fraudes por toda a<br />

Europa, e que, embora ainda conte com alguns<br />

utilizadores, recentemente se viu ultrapassado<br />

por este sistema de Fuel Guard mais atual, e<br />

que envolve também a integração com um<br />

aparelho próprio da Eurowag , o EVA.<br />

Esse aparelho de criação própria, que<br />

além de pagar portagens, também tem<br />

serviços telemáticos associados: localiza o<br />

veículo; calcula e cria rotas com uma análise<br />

completa dos custos associados à viagem<br />

(combustível, portagens…); e está vinculado<br />

online diretamente à plataforma do cliente,<br />

de modo a que quando o motorista chegar<br />

à bomba para abastecer, para além de ser<br />

necessária uma introdução do cartão e do<br />

pin, a localização do veículo também tem de<br />

corresponder com estes dados, caso contrário<br />

o cartão irá manter-se bloqueado.<br />

“Já não é só roubar um cartão e copiar um<br />

pin, o veículo também tem de estar presente”,<br />

defende o responsável. “A máquina é de<br />

instalação rápida, como um aparelho de<br />

portagem que vai colada no vidro e tem uma<br />

28 th -29 th JUNE 2023<br />

manufacturing<br />

PARTNERS<br />

VALLADOLID | SPAIN<br />

GLOBAL THIRD PARTY MANUFACTURERS EXHIBITION<br />

SUPPLIERS SHOWCASE SUMMIT HUB<br />

MARKETPLACE<br />

www.manufacturing-partners.com<br />

HOSTED BUYER<br />

EXHIBITOR<br />

VISITOR


62<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

ligação de isqueiro, mas tem de ser instalada<br />

no veículo”, explica o responsável.<br />

Carlos Guerra destaca que “isso hoje não<br />

existe em nenhuma empresa”, e que tal se<br />

deve ao facto de se tratar de equipamentos<br />

internos e não dependerem de terceiros. “É<br />

difícil que possa existir, porque estamos a<br />

combinar uma empresa que tem um aparelho<br />

próprio de portagem – e não precisa do<br />

desenvolvimento de um terceiro –, que tem<br />

empresas que adquiriu e que se dedicam a<br />

fazer mapeamentos e monitorização de pontos<br />

de posição, e que desenvolveu todo o sistema<br />

de plataforma para poder fazer estas ligações”,<br />

existindo depois a plataforma do cliente, que<br />

leva ao controlo total do cartão.<br />

O country manager nota ainda que este<br />

sistema tem um pormenor importante:<br />

“algumas das queixas que os clientes tinham<br />

dos sistemas de segurança de bloqueio ativo e<br />

de SMS, é o facto da dependência do motorista,<br />

que tinha que se preocupar e enviar uma SMS,<br />

que o número associado ao cartão estivesse<br />

sempre correto… Com este aparelho retiram-<br />

-se essas dependências, ou o uso manual<br />

da ferramenta, e ela fica automatizada. O<br />

motorista não tem de fazer nada e a empresa<br />

não tem de se preocupar, porque o sistema<br />

funciona de forma autónoma e automática”.<br />

GESTÃO DE CUSTOS PARA TRÁS E<br />

PARA A FRENTE DA CADEIA<br />

A plataforma da Eurowag tem agora as suas<br />

ofertas todas integradas, e hoje em dia o<br />

cliente entra na plataforma, pode visualizar


SCM Supply Chain Magazine<br />

63<br />

todas as bombas de combustível aderentes,<br />

ao preço a que elas estão, todos os custos<br />

de portagens pelas quais circula, “e isso<br />

combinado com o mapeamento, com a<br />

telemática e com os serviços que prestamos e<br />

que estão todos integrados nesta plataforma,<br />

um cliente facilmente faz um planeamento de<br />

rota e previamente informar o seu cliente quais<br />

serão os custos para efetuar essa viagem”,<br />

explica o responsável.<br />

“Isso possibilita ao cliente uma visualização<br />

muito rápida de se o valor que está a receber<br />

por aquela viagem vai ter rentabilidade ou<br />

não”, acrescenta Carlos Guerra. “Se o meu<br />

cliente funciona bem, tem serviço, sabe<br />

quais os seus custos e pode cobrar o dinheiro<br />

necessário para lucrar, também pode garantir<br />

um bom cumprimento para com o prestador<br />

de serviço, portanto isto é uma ajuda<br />

recíproca”.<br />

Outra das vantagens ao nível dos custos<br />

é a otimização dos processos para o cliente,<br />

pois “na integração, é simplesmente trocar<br />

um cartão por outro, mas a troca é entre um<br />

cartão que estava limitado a um país por<br />

um cartão que funciona em toda a Europa”,<br />

conta o responsável. Deste modo, em vez de o<br />

cliente ter seis faturas tem apenas uma, bem<br />

como apenas um cartão e uma plataforma de<br />

gestão para todo o serviço que precisa.<br />

“PARA A EUROWAG, PORTUGAL É<br />

UM PAÍS MUITO IMPORTANTE”<br />

Um dos destaques que deixa relativamente<br />

a Portugal é a sua profissionalização<br />

ao nível do transporte internacional.<br />

“Portugal é dos países da Europa com maior<br />

profissionalismo e experiência no transporte<br />

internacional, e mesmo sendo um país com<br />

um tamanho reduzido tem das maiores frotas<br />

internacionais”, nota o responsável.<br />

Apesar de o mercado espanhol ser cerca<br />

de 10 vezes maior, “a nível internacional<br />

o mercado português é muito amplo e<br />

profissionalizou-se nessa área. Hoje em<br />

dia a prestação de serviço do mercado de<br />

transportadores internacionais portugueses é<br />

reconhecida por toda a Europa”, explica Carlos<br />

Guerra.<br />

A Eurowag notou que Portugal era um<br />

mercado importante, e manteve a sua<br />

presença com instalações físicas e recursos<br />

existentes para manter uma boa qualidade de<br />

serviço ao cliente. De forma a poder responder<br />

de forma proativa às necessidades dos clientes<br />

e prestar-lhes um melhor serviço, conta que<br />

procuram estar constantemente próximos e a<br />

observar as realidades e dificuldades que os<br />

clientes têm.<br />

O responsável nota que a Eurowag está a<br />

investir muito no nosso país porque sente<br />

o nível de profissionalização do setor, e que<br />

é um país que controla grande parte dos<br />

trânsitos dos transportes internacionais,<br />

ao contrário de países como Espanha,<br />

França ou Itália, que se focam mais nos<br />

transportes nacionais. “Países como<br />

Portugal especializaram-se no transporte<br />

internacional e hoje são eles que prestam o<br />

serviço internacional a estes países. Não nos<br />

limitemos só a pensar que o nosso transporte<br />

internacional é só para as exportações que<br />

faz Portugal. A realidade dos transportes<br />

internacionais portugueses é que fazem as<br />

exportações de Portugal e de muitos outros<br />

países da União Europeia, e têm muita<br />

importância e credibilidade”, conclui. •


64<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

TRANSPORTE<br />

Safety and Shipping<br />

Review <strong>2022</strong><br />

ESTARÁ O SHIPPING<br />

A METER ÁGUA?<br />

Nestes últimos anos o mundo começou a sofrer abalos maiores no transporte<br />

marítimo. Primeiro, o navio cargueiro da Evergreen encalhado no canal do Suez,<br />

causando um grande tráfego para o transporte marítimo, depois a crise dos<br />

contentores, e agora mais recentemente o bloqueio de Xangai e a invasão da Ucrânia,<br />

que também tiveram impactos nas cargas, lead times e nas próprias rotas marítimas.<br />

O transporte marítimo tem passado por momentos difíceis, e o relatório Safety and<br />

Shipping Review <strong>2022</strong> da Allianz traz essa análise mais a fundo.


SCM Supply Chain Magazine 65<br />

Texto: Fábio Santos<br />

O<br />

transporte marítimo tem sofrido alguns<br />

infortúnios nos últimos tempos, é certo,<br />

mas felizmente não meteu água. O<br />

relatório da Allianz Global Corporate &<br />

Speciality’s (AGCS) faz um levantamento das<br />

perdas a nível global, mas também deixa<br />

alguns apontamentos sobre tendências atuais<br />

de risco para o setor.<br />

“A indústria de transporte marítimo<br />

internacional é responsável pelo transporte de<br />

cerca de 90% das trocas comerciais mundiais,<br />

portanto a segurança dos navios é crítica”,<br />

começa por expor o relatório. Segundo os<br />

dados, nos anos 90 as frotas globais perdiam<br />

mais de 200 navios por ano, o que nos últimos<br />

quatro anos reduziu para entre 50 e 75,<br />

mesmo existindo mais cerca de 62% a navios<br />

com capacidade superior a 100 toneladas<br />

brutas no mundo, comparativamente ao que<br />

existia há 30 anos.<br />

As perdas mundiais reduziram em 57%<br />

na última década, e 2021 representou uma<br />

melhoria face aos últimos 10 anos, “refletindo<br />

o maior foco nas medidas de segurança ao<br />

longo do tempo, tais como as regulações,<br />

melhorias de design dos navios e avanços<br />

da tecnologia e gestão de risco”. Metade das<br />

perdas neste ano foram de navios cargueiros.<br />

De acordo com o relatório, o sul da China,<br />

Indochina, Indonésia e Filipinas são as<br />

regiões globais onde se verificam as maiores<br />

perdas a nível global, representando cerca<br />

de 20% dos incidentes. Na última década, o<br />

sudeste asiático foi o local que representou<br />

o maior número de perdas (225 em 892)<br />

tendo como principais razões “os elevados<br />

níveis de comércio local e internacional,<br />

portos congestionados, frotas mais antigas e<br />

condições climáticas extremas”.


66<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

IMPACTO DA UCRÂNIA<br />

A invasão da Ucrânia também teve um grande<br />

impacto no transporte marítimo, tendo causado<br />

perturbações generalizadas no transporte<br />

marítimo global, agravando a rutura contínua da<br />

cadeia de abastecimento, o congestionamento<br />

portuário e as crises de tripulação causadas pela<br />

pandemia de COVID-19.<br />

Foram apontadas perdas no Mar Negro<br />

(o local de maior impacto), disrupções nas<br />

trocas comerciais com a Ucrânia e com a<br />

Rússia, e o crescimento de sanções. Isto criou<br />

desafios às operações diárias, tendo impactos<br />

nas tripulações, custo e disponibilidade de<br />

combustível e potencial crescente de risco<br />

cibernético.<br />

OS PROBLEMAS COM NAVIOS<br />

MAIORES<br />

Uma das tendências que têm tido impacto<br />

na supply chain é a aposta em navios cada<br />

vez maiores. Por um lado, são menos navios<br />

nos mares, mas por outro existe uma maior<br />

possibilidade de incidências, como foram caso<br />

disso o Ever Forward, que encalhou nos EUA<br />

durante um mês, ou o Ever Given no Canal do<br />

Suez durante seis dias, impedindo a passagem<br />

de um grande número de navios.<br />

Um tema que o relatório destaca são<br />

os incêndios a bordo de navios de grande<br />

dimensão, por serem de rápida propagação<br />

e particularmente complicados de controlar,<br />

levando geralmente ao abandono dos navios<br />

por parte das tripulações. Nos últimos cinco<br />

anos foram registados mais de 70 fogos em<br />

navios de carga, que geralmente têm início<br />

nos contentores e que se podem dever a carga<br />

não declarada, segundo nota o relatório.<br />

“Quanto mais contentores a bordo, maior é a<br />

probabilidade de pelo menos um se incendiar<br />

e causar um incêndio, e mais difícil é contê-lo<br />

e apagá-lo”, pode ainda ler-se no relatório.<br />

Outro perigo apontado é no transporte de<br />

veículos, podendo ocorrer incêndios devido a<br />

falhas nos sistemas, ou curto-circuitos. Neste<br />

caso, costuma acarretar grandes custos, não<br />

só devido ao custo da carga, mas também ao<br />

custo ambiental para a remoção dos destroços<br />

e mitigação da poluição.<br />

No caso dos veículos elétricos, o relatório<br />

destaca que o seu transporte representa<br />

desafios acrescidos, e que a tendência é de<br />

que aumente. Face aos veículos tradicionais,<br />

os elétricos podem exigir algumas alterações<br />

no design dos navios, nas capacidades de<br />

deteção e de combate a incêndios, e nos<br />

procedimentos de carregamento de carga.<br />

“As baterias de iões de lítio dos veículos<br />

elétricos podem potencialmente inflamar-se<br />

se danificadas, são suscetíveis à deslocação<br />

de carga em mares agitados se não forem<br />

devidamente protegidas, e podem também<br />

entrar em combustão com um aumento de<br />

temperatura devido a um incêndio próximo<br />

ou mesmo durante o carregamento a bordo”,<br />

destaca o relatório da Allianz.<br />

Outra questão é a grande quantidade de<br />

água que os incêndios requerem para extinguir<br />

e arrefecer a área circundante, e embora não<br />

seja difícil de conseguir esses volumes de<br />

água devido ao ambiente em que circulam,<br />

estas quantidades podem pôr em perigo a<br />

estabilidade do navio. “As tripulações terão<br />

de ser especialmente treinadas e equipadas<br />

com detetores adequados e equipamentos de<br />

extinção de incêndios”, reforça o relatório.


SCM Supply Chain Magazine 67


68<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

PÓS-PANDEMIA<br />

Durante a pandemia, o setor marítimo não<br />

só sofreu um impacto ao nível da carga, mas<br />

também ao nível dos recursos humanos. O<br />

relatório revela que as tripulações foram<br />

bastante afetadas, sendo que por vezes<br />

necessitaram de ficar confinadas durante<br />

longos períodos de tempo nos navios. Isto<br />

levou a um grande abandono da profissão e<br />

a uma desmoralização das tripulações que<br />

ficaram, levando a que a procura por membros<br />

de tripulação se encontre elevada.<br />

“As pressões comerciais e as cargas de<br />

trabalho estão a elevar-se, o que pode levar<br />

a erros e atalhos, enquanto o peso crescente<br />

do cumprimento está a tornar o trabalho<br />

menos atrativo”, pode ler-se no Safety and<br />

Shipping Review <strong>2022</strong>. O relatório também<br />

prevê uma grave falta de oficiais dentro de<br />

cinco anos, e defende que “particularmente<br />

com embarcações e tecnologia mais modernas,<br />

a capacidade de atrair e reter tripulações<br />

experientes é fundamental”.<br />

As repercussões dos lockdowns por causa<br />

da pandemia geraram um crescimento no<br />

shipping, com aumentos recorde nas taxas<br />

dos fretes, e embora isso possa ser positivo<br />

do ponto de vista de crescimento, este não<br />

acompanhou a capacidade de transporte.<br />

“Taxas de frete mais elevadas e escassez de<br />

capacidade dos navios está a fazer com que<br />

alguns operadores utilizem transportadores<br />

de produtos e granéis para o transporte de<br />

contentores”, e o facto de utilizarem estes<br />

navios pode trazer novos problemas ao nível


SCM Supply Chain Magazine 69<br />

da estabilidade, capacidade de combate contra<br />

incêndios ou segurança da carga. “Os navios<br />

graneleiros e os navios-tanque não foram<br />

concebidos para transportar contentores, e<br />

as tripulações podem não ter experiência<br />

suficiente para manusear contentores ou<br />

responder a um incidente no mar”, nota ainda<br />

a Allianz.<br />

“As medidas Covid-19 na China, o aumento<br />

da procura dos consumidores e a invasão da<br />

Ucrânia foram fatores para o congestionamento<br />

portuário sem precedentes”, tendo aumentado<br />

significativamente a nível mundial.<br />

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS:<br />

PROBLEMAS DE TRANSIÇÃO<br />

O shipping é o maior contribuidor para as<br />

alterações climáticas, tendo as emissões<br />

de gases com efeito de estufa aumentado<br />

em cerca de 10% entre 2012 e 2018, nota o<br />

estudo. O desafio para a indústria marítima<br />

é grande, tal como as pressões feitas pela<br />

Organização Marítima Internacional (IMO em<br />

inglês), que pretende um corte de 40% nas<br />

emissões até 2030 e de pelo menos 50% até<br />

2050.<br />

“A descarbonização da indústria exigirá<br />

grandes investimentos em tecnologia verde e<br />

combustíveis alternativos”, aponta o relatório.<br />

Já vários armadores estão a alterar para<br />

combustão de gás natural liquefeito (GNL),<br />

enquanto outros combustíveis ainda estão em<br />

desenvolvimento, como é o caso dos testes<br />

com amoníaco, hidrogénio ou metanol, ou<br />

mesmo elétricos.<br />

TAXAS DE FRETE MAIS<br />

ELEVADAS E ESCASSEZ<br />

DE CAPACIDADE DOS<br />

NAVIOS ESTÁ A FAZER<br />

COM QUE ALGUNS<br />

OPERADORES UTILIZEM<br />

TRANSPORTADORES DE<br />

PRODUTOS E GRANÉIS<br />

PARA O TRANSPORTE DE<br />

CONTENTORES<br />

“Embora existam muitas ideias inovadoras<br />

na mesa, ainda não existe uma solução técnica<br />

óbvia disponível que possa levar a indústria<br />

aos seus objetivos para 2050”, aponta ainda o<br />

relatório. •


70<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

CARREIRA<br />

Estudo de employer<br />

branding<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

AS 20 EMPRESAS<br />

MAIS ATRATIVAS<br />

PARA TRABALHAR<br />

A Randstad Employer Brand Research<br />

<strong>2022</strong> é um estudo independente de<br />

employer branding, realizado pela<br />

Kantar tendo em conta 31 países,<br />

incluindo Portugal. Este permitiu,<br />

através da opinião de cerca de 5000<br />

portugueses, eleger as 20 melhores<br />

empresas para trabalhar no país, bem<br />

como os setores de atividade mais<br />

chamativos. Mas, afinal, quais são as<br />

empresas mais atrativas aos olhos<br />

da população? E, qual o setor que<br />

predomina como o mais interessante?


SCM Supply Chain Magazine 71<br />

A<br />

resposta a estas questões passa pela Delta<br />

Cafés, a empresa eleita mais atrativa para<br />

trabalhar pelo segundo ano consecutivo,<br />

sendo que os restantes lugares do top 3 foram<br />

destinados à Farfetch que subiu 8 lugares e à<br />

Bosch que saltou 15 posições sucessivamente.<br />

Em quarto lugar destaca-se a Nestlé e o<br />

quinto lugar foi entregue à empresa Hovione.<br />

Rui Miguel Nabeiro, o CEO do Grupo Nabeiro<br />

- Delta Cafés, comentou a sua distinção: “É<br />

com grande orgulho e satisfação que vejo,<br />

uma vez mais, reconhecido os nossos esforços<br />

e investimento na valorização das nossas<br />

pessoas. O Grupo Nabeiro – Delta Cafés<br />

rege-se desde sempre por valores sólidos e<br />

princípios humanos, assente numa política de<br />

proximidade com os colaboradores. Somos<br />

feitos de pessoas e para pessoas. Valorizamos<br />

os nossos colaboradores e apostamos na sua<br />

formação e no seu desenvolvimento contínuo”.<br />

Já em relação aos setores de atividade, o da<br />

saúde foi considerado o mais chamativo para<br />

trabalhar, segundo a opinião dos portugueses.<br />

O setor das tecnologias de informação (IT) vêm<br />

em segundo lugar e o setor automóvel logo<br />

a seguir, representando um crescimento de<br />

cinco lugares em relação ao ano passado. José<br />

Miguel Leonardo, o CEO da Randstad Portugal<br />

comentou os resultados deste ano: “Os últimos<br />

anos fizeram com que as pessoas colocassem<br />

em perspetiva a sua vida e passassem a<br />

olhar para o emprego com outros olhos, e os<br />

resultados deste ano são já reflexo do efeito<br />

que os últimos eventos a nível económico e<br />

social tiveram em todos nós, dando destaque<br />

a marcas que se mostraram muito ativas e<br />

próximas dos seus colaboradores, como é o<br />

caso da Delta Cafés. Este resultado e este<br />

estudo de uma maneira geral, só vem reforçar<br />

a importância do employer brand na atração<br />

e retenção de talento”. É de ressaltar que<br />

o Randstad Employer Brand Research se<br />

realiza pelo 7.º ano consecutivo, tendo como<br />

objetivo perceber a opinião dos cidadãos,<br />

respetivamente aos 150 maiores empregadores<br />

existentes nos 31 países escolhidos para este<br />

estudo. Em Portugal, o inquérito foi feito<br />

de forma online em Janeiro de <strong>2022</strong> a 4.997<br />

indivíduos e entre eles estão profissionais<br />

ativos, desempregados e estudantes, com<br />

idades compreendidas entre os 18 e os 65 anos.<br />

A maioria dos participantes reside em Lisboa<br />

(38%), seguindo-se a região Norte (34%) e o<br />

Centro (18%) do país.<br />

O QUE VALORIZAM OS<br />

PORTUGUESES?<br />

Sobressaem este ano entre os fatores mais<br />

valorizados numa empresa por quem procura<br />

trabalhar, o salário e benefícios com 72%,<br />

apesar de também valorizarem o equilíbrio<br />

entre a vida pessoal e o trabalho com 67%,<br />

valores que subiram 1% em relação ao ano<br />

passado. Já o ambiente de trabalho subiu 2%<br />

em relação ao ano anterior, estando na casa<br />

dos 67%. Assim, o salário e os benefícios<br />

continuam como fator decisivo para a escolha<br />

de um trabalho por parte dos portugueses,<br />

estando lado a lado com o critério da<br />

conciliação profissional e o bom ambiente<br />

de trabalho. Respetivamente aos benefícios<br />

que os portugueses gostariam de ter nos seus<br />

trabalhos de forma a aliarem o tempo que<br />

trabalham com a sua vida pessoal, salientam-<br />

-se os acordos de trabalho flexíveis (48%),<br />

as oportunidades de progressão na carreira<br />

(47%) e 89% dos inquiridos consideram, ainda,<br />

importante que a empresa onde colaboram lhes<br />

dê a chance de fazerem upskilling e reskilling.<br />

Já 81% dos portugueses consideram necessário<br />

adquirir novas competências para desenvolver


72<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

a sua carreira, uma média muito superior à<br />

europeia (59%). Neste sentido, José Miguel<br />

Leonardo, CEO da Randstad Portugal denota<br />

que “a rápida transformação digital acelerou<br />

o risco das competências atuais se tornarem<br />

obsoletas. Os profissionais têm o desafio de<br />

se reinventarem num mercado de trabalho em<br />

constante mudança e as empresas devem ter<br />

isto em consideração”. O estudo revela inclusive<br />

que um em cada três portugueses demonstra<br />

que o trabalho se tornou mais importante<br />

(33%), principalmente na faixa etária mais<br />

jovem, entre os 18 e os 24 anos, para os quais a<br />

importância do trabalho aumentou nos últimos<br />

12 meses (50%). E, apesar da progressão na<br />

carreira ser muito importante para maior parte<br />

dos portugueses (81%) verifica-se que assume<br />

uma maior relevância por parte desta geração<br />

(85%) e com maiores habilitações literárias<br />

(84%). No entanto, foi possível registar que os<br />

inquiridos com maior formação académica dão<br />

agora menor importância ao trabalho (23%).<br />

DIFERENÇAS GERACIONAIS<br />

Este ano o trabalho remoto passou dos<br />

52% de 2021 para 38%, sendo as mulheres<br />

(40%) e as pessoas com mais habilitações<br />

literárias (48%) que trabalham a partir de<br />

casa. Daqueles que trabalham a partir da<br />

sua habitação apenas remotamente (23%),<br />

menos da metade espera continuar assim no<br />

futuro (41%). É de referir que abaixo dos 25<br />

anos o trabalho remoto é menos valorizado<br />

apesar de as pessoas com menos de 35 anos<br />

valorizarem mais a progressão da carreira.<br />

Já para 32% dos colaboradores portugueses<br />

trabalhar a partir de casa não é possível ou não<br />

é permitido. Além disso, um em cada cinco está<br />

a pensar mudar de trabalho este ano (26%),<br />

uma tendência crescente em relação ao ano de<br />

2021. Esta decisão recai maioritariamente sobre<br />

as mulheres (28%), os menores de 35 anos<br />

(31%) e os inquiridos com maiores habilitações<br />

literárias (28%). Só no último semestre de 2021,<br />

13% dos trabalhadores portugueses mudaram<br />

de trabalho, uma escolha mais preponderante<br />

na camada jovem, o que significou um aumento<br />

de 9% em relação ao ano passado. De facto, a<br />

maneira como as diferentes gerações olham<br />

para o mercado de trabalho mudou e apesar<br />

de existir um empate entre os critérios da<br />

conciliação da vida profissional e vida pessoal<br />

como do ambiente de trabalho, a geração z e<br />

x valoriza mais a conciliação vida profissional<br />

vida pessoal enquanto que os millenials<br />

preferem um bom ambiente de trabalho. •<br />

TOP 10 DOS SECTORES MAIS<br />

ATRATIVOS PARA TRABALHAR:


TOP 20 DAS EMPRESAS MAIS ATRATIVAS<br />

PARA TRABALHAR EM PORTUGAL:<br />

SCM Supply Chain Magazine 73


74<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

CARREIRA<br />

Mestrado<br />

Texto: Dora Assis<br />

DESENVOLVER BLUE<br />

SKILLS NO SETOR<br />

EMPRESARIAL<br />

São muitos e de diferentes naturezas<br />

os desafios que se colocam ao setor<br />

marítimo. A NOVA School of Science<br />

and Technology (FCT NOVA) e a Escola<br />

Naval, em parceria, avançaram para<br />

um mestrado em logística marítima,<br />

de caráter internacional, cuja primeira<br />

edição arranca no ano letivo de <strong>2022</strong>-<br />

-23. Conversámos com Helena Carvalho,<br />

professora da FCT Nova e coordenadora<br />

do mestrado, para conhecer as maisvalias<br />

e linhas de força do mesmo.<br />

uma lacuna de competências na<br />

logística marítima, a todos os níveis de<br />

“Existe<br />

qualificação dos seus recursos humanos.<br />

Esta lacuna é reconhecida por várias entidades,<br />

como a União Europeia e a OCDE, e também<br />

pelo tecido empresarial. Foi neste contexto que<br />

surgiu o projeto MarLEM – Maritime Logistics<br />

Engineering and Management, cofinanciado<br />

pela União Europeia, e cujo objetivo é contribuir<br />

para o desenvolvimento das denominadas<br />

Blue Skills ao nível dos quadros superiores das<br />

organizações”, contextualiza Helena Carvalho.<br />

O Mestrado em Logística Marítima é, pois,<br />

um resultado fundamental desse projeto e<br />

foi desenhado para dotar os seus estudantes<br />

de competências relevantes nos domínios da<br />

inovação, digitalização, sustentabilidade e<br />

soft skills, incluindo o raciocínio crítico e uma<br />

predisposição proativa.<br />

Helena Carvalho considera que se trata<br />

de “uma oferta formativa diferenciadora” e<br />

explica que os destinatários são “profissionais<br />

com pelo menos cinco anos de experiência.<br />

Tem a duração de apenas um ano: no primeiro<br />

semestre serão lecionadas nove unidades<br />

curriculares; no segundo semestre, de caráter<br />

prático, os estudantes realizam um estágio, e<br />

ou desenvolvem um projeto numa empresa,<br />

ou num centro de investigação. Por outro lado,<br />

o mestrado tem um caráter multidisciplinar<br />

integrando conhecimentos de áreas tão<br />

diversas como engenharia e gestão industrial,<br />

operações, tecnologia, gestão, direito marítimo<br />

ou administração marítima e portuária. O<br />

objetivo é proporcionar uma visão sistémica e<br />

integrada do fenómeno da logística marítima”.<br />

DIFERENTES DINÂMICAS DE<br />

APRENDIZAGEM<br />

Em termos de foco e metodologia, a<br />

coordenadora do mestrado explica que o foco<br />

está “não só nas vertentes de conhecimento


SCM Supply Chain Magazine 75<br />

técnico, como a avaliação de projetos de<br />

investimento, mas também em soft skills,<br />

como negociação ou liderança. Será usada<br />

uma abordagem didático-pedagógica ativa<br />

e dinâmica, com métodos de ensino ativos e<br />

aprendizagem baseada em problemas”. O corpo<br />

docente pertence às instituições envolvidas,<br />

mas também contarão com professores e<br />

investigadores de várias universidades nacionais<br />

e internacionais, além de especialistas da<br />

indústria.<br />

O primeiro semestre, acomoda 10 semanas de<br />

aulas, sendo que as nove unidades curriculares<br />

são oferecidas em formato de módulo de cerca<br />

de cinco dias, com aproximadamente seis<br />

horas diárias. De forma a acomodar a atividade<br />

profissional dos estudantes, está prevista uma<br />

semana sem aulas entre cada unidade curricular.<br />

“Este regime permite assegurar a qualidade<br />

do ensino, criando dinâmicas de aprendizagem<br />

entre os alunos, e promovendo a partilha de<br />

experiências e conhecimentos. Estão também<br />

previstos vários momentos de networking<br />

com os estudantes, parceiros académicos e<br />

industriais, assim como visitas de estudo a portos<br />

e empresas nacionais”, salienta Helena Carvalho.<br />

Uma outra novidade deste Mestrado é<br />

em 2023 proporcionar ações de mobilidade<br />

financiadas entre a Noruega e Portugal.<br />

Quatro estudantes do Mestrado poderão<br />

realizar o estágio ou projeto numa organização<br />

na Noruega e um estudante da NTNU<br />

(Universidade de Ciência e Tecnologia da<br />

Noruega), por seu turno, terá oportunidade<br />

de realizar unidades curriculares ou o seu<br />

estágio ou projeto em Portugal. Estas ações<br />

de mobilidade são realizadas no âmbito do<br />

projeto M4ML – Mobility for Maritime Logistics<br />

financiado pelas EEA Grants.<br />

VALORIZAR PESSOAS E<br />

PROFISSÕES<br />

À velocidade a que tudo está a mudar no setor,<br />

a formação contínua revela-se cada vez mais<br />

importante. No caso do mestrado em logística<br />

marítima, este permite quer o reskilling de<br />

profissionais, atraindo mais profissionais para<br />

o setor, quer o upskiling, contribuindo para a<br />

qualificação dos colaboradores das empresas,<br />

assim como a valorização pessoal e profissional<br />

dos colaboradores e a retenção de talento nas<br />

empresas e organizações.<br />

“Há áreas de atividade em que a evolução<br />

é notória e outras em que as coisas parecem<br />

ter parado no tempo ou evoluído de forma<br />

muito lenta. A logística marítima, em particular<br />

o transporte marítimo e as operações e<br />

gestão portuárias, tiveram uma evolução<br />

relativamente lenta até há algumas décadas,<br />

e a sua própria génese milenar alimentou<br />

essa perspetiva. As mudanças relativamente<br />

recentes, sobretudo a globalização da<br />

economia e do comércio, trouxeram exigências<br />

a que este setor tem dado resposta, numa<br />

base competitiva, com ganhadores e<br />

perdedores. As exigências ora emergentes,<br />

como a digitalização, a sustentabilidade e<br />

descarbonização, ou a inovação tecnológica<br />

acelerada, que é simultaneamente promessa<br />

e ameaça, obrigam os vários intervenientes,<br />

instituições de ensino superior, empresas e<br />

autoridades, a uma atualização contínua de<br />

competências”, enfatiza Helena Carvalho.<br />

As aulas começam no fim de setembro de <strong>2022</strong><br />

e decorrem em regime presencial, no campus da<br />

FCT NOVA e da Escola Naval, ambas localizadas<br />

no concelho de Almada. A 2.ª fase de inscrições<br />

decorrerá de 15 de junho a 15 de julho. •


76<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

DIÁRIO DE BORDO<br />

Henrique Germano Cardador<br />

Corporate Strategy Analyst Europe & Africa<br />

QUANDO A FERRARI<br />

MEXE, É PORQUE É PARA<br />

MEXER!<br />

Aqueles que hoje são diretores intermédios, para sobreviverem ao século XXI, não<br />

devem ter medo da competição, da comparação e principalmente, não devem ter<br />

medo de trabalhar junto dos seus subordinados, pois só assim poderão acrescentar<br />

valor à sua cadeia, quer a montante, quer a jusante.<br />

Está tudo vendido, seja elétrico ou de<br />

combustão, até o que ainda não está<br />

fabricado, está vendido!<br />

Não tenho a certeza de que o futuro seja<br />

elétrico, mas para que uma marca como a<br />

Ferrari continue a ter sucesso tem de se<br />

adaptar à nova realidade e aos novos desafios<br />

e, para tal, foram substituídos gestores-chave<br />

para uma transição bem sucedida. Uma das<br />

alterações foi o próprio CEO (Benedetto Vigna)<br />

que vem de uma tecnológica e já começou a<br />

arrumar a casa, como diz Alfredo Lavrador,<br />

“libertando assim vários cargos intermédios<br />

de gestão, com a finalidade de tornar a Ferrari<br />

mais ágil na resposta às necessidades do<br />

futuro.”<br />

Mas a Ferrari não esteve sozinha. Em<br />

resposta, a Mercedes, a BMW e a Volkswagen<br />

já anunciaram as suas linhas estratégicas<br />

na gestão das empresas, num conceito TOP-<br />

-DOWN para fazer frente a uma realidade que<br />

já não é clássica, a um presente futurista e a<br />

um futuro disruptivo.<br />

As empresas mais pequenas, do automotive<br />

ou não, devem olhar para estes exemplos,<br />

retirar os ensinamentos positivos e avançar<br />

para a mudança, (p.e.) em muitos países<br />

do norte da Europa a imagem do project<br />

manager já não corresponde à versão clássica<br />

que ainda presenciamos a sul, pois esta<br />

figura já não existe, mas antes um par com<br />

responsabilidades de team leader.<br />

Infelizmente em Portugal as empresas<br />

insistem em manter os modelos clássicos,<br />

desatualizados e desajustados à nova realidade<br />

e a novos modelos de gestão.<br />

No norte da Europa, a reboque ou não<br />

desta decisão estratégica da Ferrari,


SCM Supply Chain Magazine 77<br />

algumas empresas já começaram a reavaliar<br />

a necessidade da existência de diretores<br />

intermédios, do envelhecido modelo<br />

clássico. Estas figuras têm peso na estrutura<br />

e representam pouco valor acrescentado.<br />

Pois muitas vezes os diretores intermédios<br />

protagonizam um paradoxo empresarial. Estes<br />

trabalhadores colocam-se numa situação muito<br />

peculiar e no seu dia a dia não são nada mais<br />

nada menos do que uma caixa de email que<br />

faz forward dos emails do CEO para as suas<br />

equipas, sem acrescentar o que quer que seja<br />

à informação. Quando isto acontece, o diretor<br />

está só a tentar sobreviver numa estrutura<br />

rígida e está a tornar-se dispensável, porque<br />

se o (X) for retirado da equação, não abala a<br />

estrutura!! Fica tudo exatamente na mesma!!<br />

Pelo que, a sua sobrevivência estará a prazo.<br />

Aqueles que hoje são diretores intermédios,<br />

para sobreviverem ao século XXI, não devem<br />

ter medo da competição, da comparação<br />

e principalmente, não devem ter medo de<br />

trabalhar junto dos seus subordinados, pois só<br />

assim poderão acrescentar valor à sua cadeia,<br />

quer a montante, quer a jusante.<br />

Este “achatar das estruturas” simboliza o<br />

agilizar de procedimentos para responder à<br />

velocidade dos acontecimentos e não é por<br />

acaso que lemos, cada vez mais, a expressão<br />

“get your hands dirty”, em anúncios para team<br />

leaders em mercados externos.<br />

Os diretores intermédios para as futuras<br />

gerações serão muito semelhantes a figuras do<br />

paleolítico superior. •


78<br />

MAIO <strong>2022</strong><br />

O MUNDO É REDONDO, por Cláudia Brito<br />

“Como refazer a confiança”<br />

Ideas worth spreading, TED2018, Francis Frei,<br />

553 mil visualizações<br />

É mais fácil sermos nós próprios quando estamos rodeados de pessoas como nós. Quanto mais diferentes<br />

somos dos outros, maior pressão sentimos para nos comportarmos como os outros esperam que nos<br />

comportemos. A tendência que os líderes têm para reconhecer as pessoas que dizem o que eles diriam é<br />

grande, mas não é assim que se cria uma empresa ou uma sociedade inclusiva, e de excelência, em que a<br />

diferença e a diversidade são celebradas.<br />

Francis Frei acredita que a confiança é a<br />

fundação de tudo o que fazemos, e a base de<br />

todo o progresso humano. Do ponto de vista<br />

académico, a confiança está muito bem definida,<br />

sendo composta de três partes: autenticidade,<br />

uma lógica rigorosa e empatia para com o outro.<br />

Se qualquer um destes componentes vacila, a<br />

confiança é ameaçada.<br />

O primeiro componente normalmente a vacilar<br />

é a empatia. A maioria das pessoas não acredita<br />

que estamos realmente interessados nelas, e<br />

acha que estamos sobretudo distraídos com<br />

nós próprios. É fácil não termos tempo para os<br />

outros, mas criamos um círculo vicioso ao ignorar<br />

a empatia, porque tudo se torna mais penoso<br />

e mais demorado. Assim, a receita é simples:<br />

identificar quando, onde e com quem a distracção<br />

nos invade, e será nessas circunstâncias que<br />

a empatia se retrai. É então essa a deixa para<br />

ouvirmos com atenção o outro, e mergulharmos<br />

nas suas perspectivas, de forma a fortalecermos<br />

este suporte da confiança. Nota: o telemóvel<br />

é o maior magnete da distracção, e deve ser o<br />

primeiro a ser eliminado.<br />

Quanto à lógica, divide-se em dois elementos:<br />

qualidade e comunicação. Esta última, mais<br />

comummente em falta, tem duas formas, sendo<br />

que a primeira é a do contador de histórias,<br />

que nos leva numa longa jornada até chegar ao<br />

final, mas exige muita perícia. A outra forma de<br />

comunicar, em que se começa por anunciar o<br />

final numa frase concisa, e depois se descreve as<br />

evidências, é a mais segura para incutir confiança.<br />

Finalmente, a autenticidade. O ser humano<br />

tem a capacidade de “cheirar” alguém que não<br />

é genuíno. Para estarmos em terreno firme no<br />

domínio da confiança, temos de ser nós mesmos.<br />

O que é fácil de dizer, mas difícil de fazer. É<br />

tentador esconder ou calar opiniões diferentes,<br />

gostos diferentes, qualquer diferença que nos<br />

dê a conhecer realmente. E assim acabamos por<br />

incutir menos confiança, o que leva a que não<br />

nos atribuam desafios, não nos considerem para<br />

promoções, levando à depressão generalizada<br />

do perfil demográfico dos gestores de topo que<br />

hoje existe. Todos nós, como líderes, devemos<br />

criar um ambiente em que não só seja seguro,<br />

mas desejado, que as pessoas tragam o seu “eu”<br />

autêntico para o trabalho.<br />

Frances Frei licenciou-se em Matemática na<br />

Universidade da Pensilvânia, seguido dum mestrado<br />

em Engenharia Industrial, e um doutoramento em<br />

Gestão de Operações e Informação. É professora de<br />

Gestão de Operações e Tecnologia na Harvard Business<br />

School, tendo sido vice-presidente senior de liderança<br />

e estratégia de liderança, na Uber, durante cerca de<br />

um ano.


80

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!