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edição de 23 de maio de 2022

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PROPMARK 57 ANOS<br />

Divulgação<br />

A criativida<strong>de</strong> no<br />

meio da diversida<strong>de</strong><br />

Guilherme Pierri*<br />

Se nos Estados Unidos o berço da economia<br />

criativa é o Vale do Silício, no<br />

Brasil posso afirmar que são as favelas.<br />

Se estivéssemos falando <strong>de</strong> um<br />

estado, as favelas seriam hoje o 4º <strong>maio</strong>r<br />

da nossa fe<strong>de</strong>ração, com números mais expressivos<br />

que Bolívia e Paraguai somados.<br />

Uma população <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 17 milhões <strong>de</strong><br />

pessoas, em sua <strong>maio</strong>ria com perfil empreen<strong>de</strong>dor.<br />

Uma potência em termos <strong>de</strong> produção<br />

e consumo em meio a um universo<br />

pujante <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s e também <strong>de</strong><br />

muita dificulda<strong>de</strong>.<br />

Em pesquisa recente do Data Favela (Instituto<br />

Locomotiva), quase 50% dos moradores<br />

já se consi<strong>de</strong>ram empreen<strong>de</strong>dores,<br />

sendo que 4 em cada 10 já possuem um<br />

negócio próprio, <strong>de</strong> maneira formal ou informal.<br />

Pessoas que empreen<strong>de</strong>m mesmo<br />

na ausência do Estado, <strong>de</strong> forma orgânica<br />

e com pouca margem ao erro, sem investidores,<br />

crédito ou um plano <strong>de</strong> negócio estruturado.<br />

A prática da economia criativa hoje é um<br />

dos principais influenciadores na economia<br />

brasileira. Mas na favela, isso não é nenhuma<br />

novida<strong>de</strong>.<br />

A versatilida<strong>de</strong> na criativida<strong>de</strong> sobra<br />

quando falamos <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>dorismo e<br />

inovação, seja na parte social, ambiental,<br />

tecnológica, artesanal ou até mesmo no<br />

âmbito financeiro. Para se ter uma i<strong>de</strong>ia,<br />

mais <strong>de</strong> 29% dos trabalhadores da favela<br />

obtêm alguma renda graças a um aplicativo,<br />

sejam eles os mais populares do asfalto<br />

ou até mesmo apps próprios, como no <strong>de</strong>livery<br />

<strong>de</strong> comida ou na locomoção <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

suas comunida<strong>de</strong>s.<br />

A favela está cheia <strong>de</strong> iniciativas criativas<br />

e, por conta dos territórios, na <strong>maio</strong>ria<br />

das vezes carentes <strong>de</strong> recursos – tanto no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento humano quanto na formação<br />

<strong>de</strong> profissionais no mercado (principalmente<br />

por uma herança histórica) –,<br />

o empreen<strong>de</strong>dorismo é feito em todos os<br />

âmbitos, por uma questão <strong>de</strong> urgência e sobrevivência.<br />

E o que a princípio era apenas uma questão<br />

<strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>, agora fortalece ainda<br />

mais não só as favelas e os moradores, mas<br />

também o país como um todo. País esse em<br />

que os pequenos negócios são mais <strong>de</strong> um<br />

quarto do PIB e os trabalhadores das favelas,<br />

além <strong>de</strong> movimentarem a roda, mantêm<br />

ela girando. É a economia na base da<br />

pirâmi<strong>de</strong> que mantém a chama acesa do<br />

nosso Brasil.<br />

É essa criativida<strong>de</strong> que nos mostra que,<br />

a partir do momento em que a inteligência<br />

encontra a oportunida<strong>de</strong>, chegamos à virtuosa<br />

combinação <strong>de</strong> renda e esperança. A<br />

favela é protagonista da própria existência<br />

e <strong>de</strong>senvolvimento, e os moradores são os<br />

personagens da transformação através da<br />

engenhosida<strong>de</strong>.<br />

É a marca <strong>de</strong> roupas do Complexo do Alemão,<br />

que hoje é também vendida na Zona<br />

Sul e vestida por um ator numa série da<br />

Netflix. É a influenciadora digital que usa<br />

suas re<strong>de</strong>s sociais para falar <strong>de</strong> educação<br />

financeira e investimentos, e hoje estampa<br />

comerciais <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s bancos. É o jornal da<br />

comunida<strong>de</strong>, que relata os acontecimentos<br />

dos territórios <strong>de</strong> forma legítima e com<br />

mais acesso e informação do que qualquer<br />

outro veículo <strong>de</strong> comunicação.<br />

Até aqui, vimos que, embora inicialmente<br />

não haja tantos recursos, há sagacida<strong>de</strong> e<br />

ousadia <strong>de</strong> sobra para fazer isso acontecer.<br />

São os próprios moradores, sendo os protagonistas<br />

das suas histórias, que estão chamando<br />

para si a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas<br />

vidas. Daqui em diante, acredito que ouviremos<br />

cada vez mais o dito “a favela venceu”.<br />

Afinal, além <strong>de</strong> ser um gran<strong>de</strong> território<br />

<strong>de</strong> inovação e empreen<strong>de</strong>dorismo, ela já<br />

vem há tempos vencendo muitas barreiras<br />

e preconceitos.<br />

“A fAvelA está<br />

cheiA <strong>de</strong> iniciAtivAs<br />

criAtivAs e, por contA<br />

dos territórios,<br />

nA mAioriA dAs<br />

vezes cArentes<br />

<strong>de</strong> recursos”<br />

*Guilherme Pierri é cofundador e co-CEO<br />

da Digital Favela<br />

guilherme@digitalfavela.com.br<br />

jornal propmark - <strong>23</strong> <strong>de</strong> <strong>maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2022</strong> 99

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