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edição de 23 de maio de 2022

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Iwan Baan/Divulgação/Zaha Hadid Architects<br />

Centro Heydar Aliyev, em Baku, no Azerbaijão, mostra curvas e ângulos característicos do trabalho da iraquiana-britânica Zaha Hadid, que inspira arquitetos em todo o mundo<br />

Brasil não valoriza<br />

a sua matéria-prima<br />

Quem é arquiteto e publicitário, <strong>de</strong>ixa<br />

uma análise afiada sobre o contexto do<br />

mercado brasileiro. Vindo <strong>de</strong> uma família<br />

<strong>de</strong> arquitetos da Bahia, Sergio Gordilho,<br />

copresi<strong>de</strong>nte e CCO da Africa, ratifica<br />

o potencial da matéria-prima nativa,<br />

mencionando a dianteira alcançada pelos<br />

mexicanos. Mas lembra que o Brasil não<br />

segue essa tendência. “Temos uma riqueza<br />

<strong>de</strong> pedras, como a vitória régia, <strong>de</strong><br />

Minas Gerais, mas preferimos comprar as<br />

italianas, que custam três vezes mais”,<br />

critica Gordilho. Falta educação. Para o<br />

executivo, o Brasil não prepara engenheiros<br />

para inovações, e os arquitetos são<br />

mais reconhecidos por projetos resi<strong>de</strong>nciais.<br />

“Só padronizamos. O Brasil não é<br />

um país <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s arquitetos porque não<br />

conseguiu encontrar a própria arquitetura”,<br />

emenda.<br />

O sucesso da dupla <strong>de</strong> <strong>de</strong>signers Fernando<br />

e Humberto Campana dá guarida à<br />

bronca. Com a Ca<strong>de</strong>ira Favela, os Irmãos<br />

Campana viraram ícones “porque criaram<br />

uma obra que traduz o que nós somos”,<br />

constata Gordilho, fã da <strong>de</strong>signer espanhola<br />

Patricia Urquiola, que exaltou a textura<br />

africana em seus móveis. O executivo<br />

ainda enaltece a trajetória do brasileiro<br />

Isay Weinfeld, cujo trabalho mostra que a<br />

arquitetura está em todo lugar.<br />

Da experiência da propaganda, vem a<br />

certeza <strong>de</strong> que as áreas da economia criativa<br />

se misturam cada vez mais em projetos<br />

colaborativos capazes <strong>de</strong> entreter<br />

Sergio Gordilho, copresi<strong>de</strong>nte e CCO da Africa<br />

Divulgação<br />

e engajar, gerando conversão e venda.<br />

“Está tudo misturado. Na moda, por<br />

exemplo, vemos <strong>de</strong>sfiles feitos para transmitir<br />

uma mensagem, mais que mostrar<br />

roupas”, observa. Para Gordilho, os profissionais<br />

que atuam na indústria criativa<br />

brasileira precisam acreditar no potencial<br />

do Brasil. A publicida<strong>de</strong> dá o seu exemplo<br />

ao colocar o país entre os mais criativos do<br />

mundo. “Devo muito à arquitetura, que<br />

me ensinou a transformar ambientes”, reconhece<br />

Gordilho.<br />

nha, o arquiteto venceu o Prêmio Pritzker<br />

<strong>2022</strong>, o <strong>maio</strong>r reconhecimento mundial<br />

do setor. O direito das crianças a uma sala<br />

<strong>de</strong> aula confortável estampa uma das ban<strong>de</strong>iras<br />

<strong>de</strong> Kéré. Criada em 2001, a Escola<br />

Primária Gando foi erguida por moradores<br />

locais com um <strong>de</strong>senho que combina<br />

materiais nativos e engenharia mo<strong>de</strong>rna.<br />

Ganhador do Prêmio Aga Khan <strong>de</strong> Arquitetura<br />

em 2004, o projeto abriu caminho<br />

para um trabalho pautado na visão social<br />

da arquitetura.<br />

“Uma expressão poética <strong>de</strong> luz é consistente<br />

em toda a obra <strong>de</strong> Kéré. Os raios<br />

<strong>de</strong> sol se infiltram em edifícios, pátios e<br />

espaços intermediários, superando as duras<br />

condições do meio-dia para oferecer<br />

locais <strong>de</strong> serenida<strong>de</strong> ou encontro”, diz o<br />

comunicado oficial do Prêmio Pritzker.<br />

O portfólio <strong>de</strong> Kéré ainda tem instalações<br />

médicas, edifícios <strong>de</strong> parlamento e<br />

campus <strong>de</strong> tecnologias espalhados por<br />

Burkina Faso, República do Benin e Quênia,<br />

entre outras regiões da África. “A arquitetura<br />

sempre teve um papel <strong>de</strong> transformação<br />

social. Kéré é um exemplo <strong>de</strong><br />

autossuperação, que enten<strong>de</strong>u a verda<strong>de</strong>ira<br />

missão da arquitetura, colocando-a<br />

em prática <strong>de</strong> forma colaborativa e viável<br />

economicamente”, afirma o arquiteto<br />

Carlos Marcelo Campos Teixeira, professor<br />

da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Arquitetura e Urbanismo<br />

e Design (FAU) da Universida<strong>de</strong><br />

Presbiteriana Mackenzie.<br />

atemporal<br />

Cada um a seu tempo, Lina e Kéré<br />

mostram que não precisa ir longe para<br />

colocar a criativida<strong>de</strong> a serviço do país.<br />

Ambos <strong>de</strong>ixam referências que seguem<br />

inspirando gerações. A leitura e a i<strong>de</strong>ntificação<br />

das condições do entorno <strong>de</strong> uma<br />

intervenção arquitetônica são o ponto <strong>de</strong><br />

partida para iniciar um projeto. A imersão<br />

jornal propmark - <strong>23</strong> <strong>de</strong> <strong>maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2022</strong> 83

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