edição de 23 de maio de 2022
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propmark 57 anos<br />
sucateadas pelo governo <strong>de</strong> Jair Bolsonaro,<br />
as áreas da cultura inseridas na economia<br />
criativa contam com a sua própria resiliência<br />
e talento para inventar jeitos <strong>de</strong> sobreviver à<br />
falta <strong>de</strong> políticas públicas capazes <strong>de</strong> fomentar<br />
investimentos à altura do potencial criativo<br />
brasileiro.<br />
O professor <strong>de</strong> filosofia Rafael Nogueira<br />
é o atual secretário Nacional da Economia<br />
Criativa e Diversida<strong>de</strong> Cultural, da Secretaria<br />
Especial <strong>de</strong> Cultura (Secult), pasta do Ministério<br />
do Turismo. Procurado, o órgão não se<br />
manifestou.<br />
“O governo fe<strong>de</strong>ral tem paralisado<br />
incentivos, como Lei Rouanet, Fundo<br />
Nacional <strong>de</strong> Cultura, <strong>de</strong>mandando leis como<br />
a Aldir Blanc e a Paulo Gustavo, vetadas recentemente”,<br />
lamenta Luciana Modé, coor<strong>de</strong>nadora<br />
do Observatório Itaú Cultural.<br />
No início <strong>de</strong> <strong>maio</strong>, o presi<strong>de</strong>nte Jair Bolsonaro<br />
barrou a nova Lei Aldir Blanc, que<br />
repassaria R$ 3 bilhões ao ano até 2027 para<br />
o setor cultural, e um mês antes vetou a Lei<br />
Paulo Gustavo, que previa um investimento<br />
<strong>de</strong> R$ 3,8 bilhões para recuperar o setor. O<br />
músico Aldir Blanc e o ator e humorista Paulo<br />
Gustavo morreram por complicações da<br />
Covid-19.<br />
HorizontE<br />
A esperança é <strong>de</strong> que, a partir <strong>de</strong> 20<strong>23</strong>, o<br />
país volte a ter um pensamento sistemático<br />
das políticas culturais no Brasil. “Funk e hip<br />
hop, por exemplo, são dois ritmos extremamente<br />
lucrativos, mas em vez <strong>de</strong> receber financiamento,<br />
são criminalizados. Enquanto<br />
isso, temos Anitta explodindo no Spotify”,<br />
reflete Luciana. Seja qual for o território, é<br />
premente o reconhecimento do potencial<br />
criativo do Brasil, dos ritmos do Nor<strong>de</strong>ste às<br />
diversida<strong>de</strong>s da periferia.<br />
A carência vai <strong>de</strong> políticas públicas a regulamentações<br />
capazes <strong>de</strong> acirrar a competitivida<strong>de</strong><br />
e engrossar as chances <strong>de</strong> internacionalização.<br />
“Ainda há uma série <strong>de</strong> etapas,<br />
além da reconstrução do que foi <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong><br />
lado nesse governo, para fazer frente ao potencial<br />
da diversida<strong>de</strong> e criativida<strong>de</strong> do Brasil<br />
rumo a um <strong>de</strong>senvolvimento econômico<br />
sustentável, mais justo e igualitário”, confirma<br />
Luciana.<br />
Estudos mostram que, se a economia criativa global fosse um país, ela teria o quarto <strong>maio</strong>r PIB, <strong>de</strong> US$ 4,3 trilhões<br />
a Economia cRiativa<br />
gERou 855,5 mil Postos dE<br />
tRabalho EntRE outubRo E<br />
dEzEmbRo do ano Passado,<br />
alta dE 13% Em RElação ao<br />
mEsmo intERvalo dE 2020<br />
O retrospecto não é alvissareiro. Entre<br />
2010 e 2020, a representativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> empresas<br />
criativas em relação ao total <strong>de</strong> companhias<br />
brasileiras ficou em cerca <strong>de</strong> 4%. A participação<br />
vem caindo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2013. O menor<br />
patamar foi visto em 2020, com participação<br />
<strong>de</strong> 3,6%. As informações do Painel <strong>de</strong> Dados<br />
do Observatório Itaú Cultural indicam curva<br />
<strong>de</strong> queda, acentuada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2014. “Tivemos<br />
um pico no período da Copa do Mundo, e <strong>de</strong>pois<br />
nota-se uma baixa em função do cenário<br />
<strong>de</strong> crise a partir <strong>de</strong> 2015”, contextualiza Luciana<br />
Modé.<br />
A propaganda foi a única a crescer em volume<br />
<strong>de</strong> empresas. O aumento foi <strong>de</strong> 7.347<br />
negócios entre 2010 e 2020, e <strong>de</strong> 268 empre-<br />
Freepik<br />
endimentos entre 2019 e 2021. A alavanca<br />
foi a área <strong>de</strong> marketing direto e promoção<br />
<strong>de</strong> vendas, reflexo do movimento nas re<strong>de</strong>s<br />
sociais.<br />
A diminuição do setor editorial, influenciado<br />
pela digitalização, é a mais alarmante.<br />
A receita bruta encolheu cerca <strong>de</strong> 50% entre<br />
2010 e 2019, com uma leve recuperação<br />
<strong>de</strong> 2018 para 2019. Já a receita bruta da área<br />
<strong>de</strong> tecnologia da informação pulou <strong>de</strong> R$<br />
120.909.592 em 2010 para R$ 215.159.097 em<br />
2019. Enquanto isso, a publicida<strong>de</strong> passou <strong>de</strong><br />
R$ 18.333.799 para R$ 27.055.346, perfazendo<br />
os dois setores mais exuberantes do período.<br />
Contágio<br />
O baque em 2020 não foi à toa. A pan<strong>de</strong>mia<br />
da Covid-19 golpeou ativida<strong>de</strong>s presenciais<br />
como espetáculos <strong>de</strong> teatro, música,<br />
festivais, cinemas e museus. O impacto foi<br />
medido em levantamento da Fundação Getúlio<br />
Vargas (FGV), feito em parceria com o<br />
Serviço Brasileiro <strong>de</strong> Apoio às Micro e Pequenas<br />
Empresas (Sebrae) e a Secretaria <strong>de</strong> Cultura<br />
e Economia Criativa <strong>de</strong> São Paulo.<br />
Realizada em junho <strong>de</strong> 2020, a Pesquisa<br />
<strong>de</strong> Conjuntura do Setor <strong>de</strong> Economia Criativa<br />
– Efeitos da Crise da Covid-19 mostra queda<br />
<strong>de</strong> faturamento (88,6%), projetos suspensos<br />
Painel <strong>de</strong> Dados do Observatório Itaú Cultural<br />
34 <strong>23</strong> <strong>de</strong> <strong>maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2022</strong> - jornal propmark