edição de 23 de maio de 2022
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propmark 57 anos<br />
Fotos: Divulgação<br />
“não dá PaRa<br />
EntEndER a Economia<br />
cRiativa sEm<br />
considERaR o PodER<br />
da cultuRa do<br />
comPaRtilhamEnto”<br />
Lucas Foster: diluição <strong>de</strong> riscos e boas parcerias<br />
artistas e suas equipes técnicas até montadores<br />
<strong>de</strong> palco, <strong>de</strong>signers, arquitetos, técnicos<br />
<strong>de</strong> som, iluminadores e profissionais <strong>de</strong> logística,<br />
que convergem em uma experiência<br />
multiplicada pelos espectadores.<br />
Área emblemática da economia criativa, a<br />
cultura abriga artes cênicas, dança, museus,<br />
folclore e gastronomia, além da música. O<br />
setor <strong>de</strong> consumo também evoca a criação<br />
<strong>de</strong> signos criativos com o <strong>de</strong>sign, a publicida<strong>de</strong><br />
e a moda. Criativos por excelência, os<br />
segmentos editorial e audiovisual também<br />
<strong>de</strong>ixam a contribuição vinda dos cinemas,<br />
ví<strong>de</strong>os, livros, televisão e streaming.<br />
Outro campo que vem ganhando espaço é<br />
o dos jogos eletrônicos. “Os games têm hoje<br />
a <strong>maio</strong>r participação na geração <strong>de</strong> negócios<br />
da economia criativa, e o Brasil é muito competitivo”,<br />
aponta Nunes, lembrando que o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um jogo para as plataformas<br />
mais cobiçadas do mercado chega a<br />
empregar até 400 pessoas, entre <strong>de</strong>signers<br />
gráficos, roteiristas e programadores. A área<br />
<strong>de</strong> tecnologia é uma das mais pujantes, com<br />
conhecimento gerado a partir <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>s,<br />
institutos <strong>de</strong> pesquisa, aceleradoras <strong>de</strong><br />
empresas, centros <strong>de</strong> investigação e polos <strong>de</strong><br />
inovação.<br />
DE mãos DaDas<br />
Conferência das Nações Unidas para<br />
o Comércio e o Desenvolvimento (UNC-<br />
TAD), Programa das Nações Unidas para<br />
o Desenvolvimento (PNUD) e Organização<br />
das Nações Unidas para a Educação, a<br />
Ciência e a Cultura (Unesco) estão entre os<br />
órgãos que já alar<strong>de</strong>aram o valor <strong>de</strong> uma<br />
socieda<strong>de</strong> iluminada pela criativida<strong>de</strong>, por<br />
vezes ignorada nos arautos da economia industrial,<br />
baseada na produção tangível - <strong>de</strong><br />
gela<strong>de</strong>iras a televisores e carros.<br />
O momento é <strong>de</strong> mudança. Cindido <strong>de</strong><br />
pensar, o trabalhador forjado na Revolução<br />
Industrial foi levado a executar, não criar. Era<br />
mais fácil produzir em escala que investir em<br />
educação para estimular inovações capazes<br />
<strong>de</strong> se diferenciar entre os competidores. Mas<br />
a mão <strong>de</strong> obra foi abraçada por tecnologias<br />
que hoje rechaçam o mo<strong>de</strong>lo encaixotado <strong>de</strong><br />
gestão. Agora <strong>de</strong> mãos dadas, digital e criativida<strong>de</strong><br />
emanam um ativo intransferível<br />
anunciado pela Indústria 4.0. “A principal<br />
característica da economia criativa é a produção<br />
<strong>de</strong> valor intangível para a socieda<strong>de</strong>”,<br />
frisa Nunes, da FGV.<br />
A estratégia não é nova. “A humanida<strong>de</strong><br />
sempre produziu bens culturais”, lembra<br />
Nunes. Trata-se <strong>de</strong> um conceito novo <strong>de</strong> origem<br />
antiga. A concepção <strong>de</strong> economia criativa<br />
surgiu no Reino Unido, entre as décadas<br />
<strong>de</strong> 1980 e 1990, da tentativa do Ministério<br />
Britânico da Cultura (UK Department for Culture,<br />
Media and Sports – DCMS) <strong>de</strong> reerguer<br />
não só movimentos criativos outrora capitaneados<br />
pelo furor do <strong>de</strong>sign ou pela música<br />
do The Beatles, mas também para inspirar<br />
Monique Evelle, fundadora da plataforma Inventivos, no Dia Mundial da Criativida<strong>de</strong> e Inovação, em Salvador (BA)<br />
José Mauro Nunes: colaboração e cooperação<br />
alternativas capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar a produção<br />
local frente à disputa travada com os chineses.<br />
Em 2002, o inglês John Howkins escreveu<br />
o best-seller The Creative Economy: How<br />
People Make Money from I<strong>de</strong>as, ratificando o<br />
po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias lucrativas.<br />
DEsvio<br />
Autorida<strong>de</strong>s brasileiras também montaram<br />
as suas diligências. Uma <strong>de</strong>las é Celso<br />
Furtado. Fervoroso <strong>de</strong>fensor das capacida<strong>de</strong>s<br />
criativas do povo brasileiro, o economista<br />
paraibano foi precursor da Lei Rouanet e<br />
se tornou ministro da Cultura do governo do<br />
presi<strong>de</strong>nte José Sarney, em 1986.<br />
Mas foi no mandato da presi<strong>de</strong>nte Dilma<br />
Rousseff, em 2011, que veio a Secretaria<br />
da Economia Criativa (SEC) com o plano<br />
da então ministra da Cultura, Ana <strong>de</strong><br />
Hollanda, <strong>de</strong> recuperar, 25 anos <strong>de</strong>pois, os<br />
preceitos <strong>de</strong> Furtado acerca da ligação entre<br />
cultura e criativida<strong>de</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
do Brasil.<br />
Conforme o Decreto 7743/2012, foram listados<br />
um total <strong>de</strong> 20 ativida<strong>de</strong>s diretamente<br />
relacionadas ao setor: animação, arquitetura,<br />
artesanato, artes cênicas, artes visuais,<br />
audiovisual, cultura popular, <strong>de</strong>sign, entretenimento,<br />
eventos, games, gastronomia, literatura<br />
e mercado editorial, moda, música,<br />
publicida<strong>de</strong>, rádio, software, turismo cultural<br />
e TV.<br />
“A iniciativa foi um divisor <strong>de</strong> águas para<br />
o fomento da economia criativa no Brasil,<br />
pois <strong>de</strong>limitou setores e criou políticas, diretrizes<br />
e ações que foram implementadas<br />
por estados e prefeituras para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> ecossistemas criativos em todo<br />
o país”, analisa Lucas Foster, i<strong>de</strong>alizador do<br />
World Creativity Day no Brasil, em 2014, antes<br />
mesmo <strong>de</strong> a Organização das Nações Unidas<br />
(ONU) instituir a data <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> abril como<br />
o Dia Mundial da Criativida<strong>de</strong> e Inovação,<br />
em 2017. Nesse ano, a economia criativa representava<br />
2,64% do PIB do país, abrigando<br />
837.206 empregos formais, o equivalente a<br />
1,8% <strong>de</strong> toda a mão <strong>de</strong> obra nacional.<br />
A expectativa era <strong>de</strong> que atingisse a cifra<br />
<strong>de</strong> US$ 43,7 bilhões até 2021, <strong>de</strong> acordo com<br />
estudo feito à época pela consultoria Price<br />
Waterhouse Coopers para a Fe<strong>de</strong>ração das<br />
Indústrias do Rio <strong>de</strong> Janeiro (Firjan). Hoje<br />
32 <strong>23</strong> <strong>de</strong> <strong>maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2022</strong> - jornal propmark