20.05.2022 Views

edição de 23 de maio de 2022

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

do pequeno, já comecei nos painéis,<br />

com esse <strong>de</strong>safio dos materiais, das<br />

escadas, <strong>de</strong> estar na rua no frio, na<br />

chuva, no calor, na neve, seja lá<br />

o que for. Com as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

segurança também, altura, os perigos.<br />

E os <strong>de</strong>safios das superfícies,<br />

porque algumas pare<strong>de</strong>s têm muitas<br />

intervenções <strong>de</strong> janelas, portas, os<br />

formatos das pare<strong>de</strong>s às vezes não<br />

correspon<strong>de</strong>m à arte que eu quero<br />

fazer. As viagens, os hotéis, a comida,<br />

estar longe da família, ou seja,<br />

tem milhares <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

estar nas ruas. Mas tem a gran<strong>de</strong> satisfação<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ver o resultado das<br />

produções, do esforço, dos <strong>de</strong>safios.<br />

É isso que continua me movendo.<br />

Tem uma equipe que te ajuda na pintura<br />

dos murais?<br />

Eu optei por um time bem pequeno.<br />

Na realida<strong>de</strong> eu tenho algumas<br />

parcerias em partes mais<br />

burocráticas, porque eu acabo<br />

trabalhando em diversos países e<br />

isso requer uma documentação <strong>de</strong><br />

segurança <strong>de</strong> trabalho, advogados,<br />

parte <strong>de</strong> divulgação <strong>de</strong> assessoria.<br />

Eu costumo dizer que a parte da<br />

pintura é o mais fácil, chegar até<br />

ela é o mais difícil. Mas eu sou um<br />

cara que estou totalmente empenhado<br />

na criação 100%. Eu amo<br />

fazer isso, amo pintar. Mas é claro<br />

que, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo das dimensões,<br />

eu sempre tenho dois profissionais<br />

comigo, que são o Agnaldo e o Marcos.<br />

Eu acabei criando um projeto<br />

chamado Envolva-se, em que eu<br />

dou oportunida<strong>de</strong>s para pessoas<br />

<strong>de</strong> várias partes do mundo e quando<br />

eu estou nesses países acabo<br />

chamando-as para participarem<br />

dos projetos e ter essa troca <strong>de</strong> informações.<br />

Isso para mim também<br />

está sendo bastante produtivo.<br />

O que acha do trabalho colaborativo?<br />

Funciona no seu caso?<br />

Acho que tudo faz parte, nós<br />

somos todos inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e<br />

interconectados. A gente não sabe<br />

tudo, é importante se conectar<br />

com pessoas que têm informação.<br />

Eu preciso muitas vezes estar ligado<br />

a historiadores, pesquisadores,<br />

porque eu gosto <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a<br />

história dos lugares e países on<strong>de</strong><br />

estou. A questão da tecnologia<br />

também, da utilização <strong>de</strong> novos<br />

materiais, novos equipamentos.<br />

Eu acho isso superimportante. É<br />

como uma peça <strong>de</strong> quebra-cabeças,<br />

a peça que muitas vezes falta<br />

“às vezes,<br />

olhar<br />

para trás<br />

também nos<br />

leva para o<br />

futuro”<br />

Alan Teixeira/Divulgação<br />

na gente e po<strong>de</strong> acrescentar com<br />

a informação <strong>de</strong> alguém. Eu pesquiso<br />

muita coisa da história do<br />

passado. Às vezes, algo que foi<br />

criado na arte egípcia acaba servindo<br />

<strong>de</strong> referência para o que eu<br />

estou fazendo hoje. Às vezes, o<br />

olhar para trás também nos leva<br />

para o futuro.<br />

Sua arte abriu caminho para outros<br />

artistas? Ou vice-versa?<br />

É um processo interessante,<br />

porque eu tive pouquíssimas oportunida<strong>de</strong>s.<br />

Os meus pares me excluíram<br />

durante o início da minha<br />

trajetória, talvez por <strong>de</strong>sconhecerem<br />

a origem do meu trabalho.<br />

Mas hoje eu acho que as portas<br />

estão abertas, o muro que existia<br />

<strong>de</strong> divisão entre os museus, as galerias<br />

e as universida<strong>de</strong>s, as ruas,<br />

a comunida<strong>de</strong>, a favela, os artistas<br />

que estão nos lugares, países mais<br />

simples, todos estão conectados.<br />

Não há mais diferença nesse aspecto.<br />

Um segue inspirando o outro. A<br />

arte é infinita, a gente sempre vai<br />

ver uma forma diferente <strong>de</strong> pensar,<br />

<strong>de</strong> criar, cada artista tem seu mundo,<br />

seu universo. É interessante<br />

quando a gente começa a apren<strong>de</strong>r<br />

sobre a história da arte, os artistas,<br />

por que fizeram aquilo e como funcionou,<br />

qual é a conexão da arte<br />

que eles fazem com a vida que tiveram<br />

ou preten<strong>de</strong>m ter. Acho que<br />

essa é a beleza da arte, nos tornar<br />

todos conectados e aprendizes um<br />

dos outros.<br />

Em quais ruas <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s brasileiras a<br />

sua arte está exposta? E em quais outros<br />

países?<br />

Vale a pena comentar que o meu<br />

trabalho, em alguns aspectos para<br />

que ele aconteça, é muito similar<br />

a uma peça <strong>de</strong> teatro. Eu faço a<br />

criação, tenho a i<strong>de</strong>ia, o conceito, a<br />

mensagem, aquilo que eu quero <strong>de</strong>senvolver,<br />

e algumas empresas se<br />

conectam a essa proposta, que muitas<br />

vezes fala <strong>de</strong> proteção do meio<br />

ambiente, dos animais, dos mananciais,<br />

florestas, povos indígenas,<br />

questões <strong>de</strong> racismo, <strong>de</strong> violência.<br />

Enfim, quando existe essa conexão<br />

funciona muito bem porque a empresa<br />

po<strong>de</strong> patrocinar isso, como<br />

já aconteceu inúmeras vezes. A minha<br />

arte continua completamente<br />

íntegra. A gente mantém a criação<br />

original e a marca consegue aproveitar<br />

o fato <strong>de</strong> estar entregando<br />

algo para a cida<strong>de</strong>, estar participando<br />

<strong>de</strong> um painel que muitas vezes<br />

está numa avenida, num local relevante<br />

da cida<strong>de</strong>. Temos toda uma<br />

repercussão midiática e isso acaba<br />

sendo bastante importante para<br />

todos os lados. E no que diz respeito<br />

às cida<strong>de</strong>s, eu tenho murais em<br />

muitas capitais, cida<strong>de</strong>s do interior<br />

e cerca <strong>de</strong> 50 países. Vale a pena comentar<br />

que nos Estados Unidos são<br />

50 murais, sendo 20 <strong>de</strong>les em Nova<br />

York. Enfim, eu acho que a cada dia<br />

mais as portas vão se abrindo para<br />

esse tipo <strong>de</strong> trabalho e acho que a<br />

street art, <strong>de</strong> alguma forma, já marcou<br />

essa geração, assim como outros<br />

movimentos <strong>de</strong> arte marcaram<br />

outras épocas.<br />

“a arte é<br />

infinita, a<br />

gente sempre<br />

vai ver<br />

uma forma<br />

diferente<br />

<strong>de</strong> pensar,<br />

<strong>de</strong> criar”<br />

Quando e como a arte <strong>de</strong> rua começou<br />

a ser mais valorizada, e qual é a importância<br />

<strong>de</strong>la para a economia criativa<br />

no Brasil?<br />

Hoje eu sou privilegiado <strong>de</strong> ter<br />

um dos trabalhos mais publicados<br />

em livros didáticos, tenho circulado<br />

por universida<strong>de</strong>s realizando<br />

palestras, tive a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ter dois murais no Guinness Book.<br />

Nada disso eu busquei, nada disso<br />

eu esperava. Aconteceu <strong>de</strong> forma<br />

orgânica, natural, espontânea mesmo.<br />

Acho que uma resposta simples<br />

para a sua pergunta é o retorno<br />

que eu tenho todos os dias, meninos<br />

e meninas nas comunida<strong>de</strong>s,<br />

nos lugares mais simples, carentes,<br />

voltando a sonhar, a ter esperança,<br />

pensando que é possível através<br />

da arte abrir portas e fronteiras. A<br />

possibilida<strong>de</strong> que a arte me <strong>de</strong>u,<br />

vindo <strong>de</strong> uma origem simples, <strong>de</strong><br />

certa forma tem movimentado<br />

mentes, corações e emoções <strong>de</strong><br />

muitas pessoas. O feedback que eu<br />

tenho pelos lugares que passo é relacionado<br />

a esse universo. Hoje eu<br />

tenho feito obras para 12 diferentes<br />

países, porque todas as obras que<br />

eu tenho em mural, tenho original<br />

em tela, e acabo distribuindo para<br />

galerias ao redor do mundo. Comecei<br />

esse movimento embrionário,<br />

fui um dos precursores no Brasil,<br />

um movimento que ainda era novo<br />

no mundo, e hoje a gente vê esse<br />

crescimento estrondoso da street<br />

art no planeta, movimentando<br />

muita coisa. Não só a parte financeira,<br />

mas as i<strong>de</strong>ias, as emoções, os<br />

sentimentos, mudando a cara das<br />

cida<strong>de</strong>s, levando arte para os lugares<br />

mais inusitados e simples, on<strong>de</strong><br />

pessoas das mais diversas classes<br />

sociais po<strong>de</strong>m ter acesso. E com o<br />

meu instituto, o Instituto Kobra, eu<br />

quero amplificar isso e dar oportunida<strong>de</strong>s<br />

para meninos e meninas.<br />

28 <strong>23</strong> <strong>de</strong> <strong>maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2022</strong> - jornal propmark

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!