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L+D 82

Edição 1º semestre

Edição 1º semestre

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R$25,00<br />

PALÁCIO PEREIRA (SANTIAGO DO CHILE)<br />

HOTEL FASANO E RESTAURANTE GERO (BELO HORIZONTE) | MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA (SÃO PAULO)<br />

RESIDÊNCIA (JOANÓPOLIS) | FOTO LUZ FOTO: PEDRO MASCARO


LED Lighting Solutions


SUMÁRIO<br />

1º semestre 2022<br />

edição <strong>82</strong><br />

VOCÊ JÁ TENTOU<br />

ESCUTAR O SILÊNCIO?<br />

38<br />

52 58<br />

66<br />

44<br />

Halo Acústica<br />

nas versões embutir, sobrepor e pendente.<br />

Ecoshape by Lady.<br />

8<br />

¿QUÉ PASA?<br />

38<br />

44<br />

52<br />

58<br />

66<br />

HOTEL FASANO E RESTAURANTE GERO<br />

Brilhante sonoridade<br />

MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA<br />

Olhar integral e luz integradora<br />

PALÁCIO PEREIRA<br />

Passado, presente e futuro<br />

RESIDÊNCIA JOANÓPOLIS<br />

Sonho construído<br />

FOTO LUZ FOTO<br />

Pedro Mascaro<br />

4<br />

@luxion_<br />

www.luxion.com.br<br />

contato@luxion.com.br


EDITORIAL<br />

Bespoke, onde produtos exclusivos são<br />

especialmente gerados para o seu projeto.<br />

Paula Carnelós<br />

CAPA<br />

Palácio Pereira, Santiago do Chile<br />

Iluminação: Limarí Lighting Design<br />

Foto: Aryeh Kornfeld<br />

PUBLISHER<br />

Thiago Gaya<br />

CONSTRUIR, DESTRUIR, RECONSTRUIR<br />

Vivemos tempos de transformações. Edifícios, países, valores, tudo<br />

parece estar se desfazendo/refazendo o tempo todo. Eros e Thanatos em luta<br />

permanente; “tudo parece que era ainda construção e já é ruína” – lembra-nos<br />

Caetano. Sentimos o reflexo dessas transformações/contradições em nosso<br />

trabalho, e não podia ser diferente, nas matérias trazidas aqui.<br />

Pascal Chautard nos traz o projeto de ressignificação de um edifício que<br />

outrora fora um palácio, e hoje, de suas ruínas, surge um museu. Fala do<br />

cuidado em distinguir o novo do antigo, quase como se o novo fosse a moldura<br />

que protege o quadro (o antigo). Fernanda Carvalho e Paula Carnelós lidam<br />

com a reconstrução de um patrimônio – aliás, dois, pois o edifício construído<br />

para ser a sede de uma ferrovia, há 18 anos tornou-se um dos museus mais<br />

originais do mundo: o Museu da Língua Portuguesa, que, como sabemos, foi<br />

destruído por um incêndio. Incêndios, sempre eles... tentando consumir nossos<br />

patrimônios. Em todo o caso, temos agora o museu e o edifício impecavelmente<br />

reconstituídos pela equipe multidisciplinar, iluminação inclusa.<br />

Na direção oposta, trazemos um ¿Qué Pasa? que apresenta a iluminação<br />

de um bar (inaugurado no “longínquo” ano de 2021) em Kiev, na Ucrânia.<br />

O material fora preparado previamente para a revista por Orlando Marques,<br />

quando ninguém imaginava o que viria a acontecer. Curiosamente o texto<br />

fala de preservação, inclusive da arquitetura do edifício. Sequer sabemos se<br />

o edifício e o bar estarão lá neste momento, ou quanto tempo se passará até<br />

que tudo se normalize.<br />

Mas de uma coisa sabemos: no entremeio disso tudo está o trabalho que<br />

fazemos. Trabalho de parcerias e colaborações; construções e reconstruções<br />

feitas a muitas mãos. E os tempos atuais exigem que o façamos sempre o<br />

melhor possível. E não faltam exemplos nas páginas a seguir.<br />

Boa leitura!<br />

EDITOR CONVIDADO<br />

Gilberto Franco<br />

DIAGRAMAÇÃO<br />

Maria Fraga<br />

PROJETO GRÁFICO<br />

Thais Moro<br />

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO<br />

Débora Torii, Diana Joels, Camille Laurent, Carlos Fortes,<br />

Diogo de Oliveira, Emília Ramos, Fernanda Carvalho,<br />

Mariana Novaes, Orlando Marques, Pedro Mascaro<br />

REVISÃO<br />

Débora Tamayose<br />

ASSINATURAS E OPERAÇÕES<br />

Márcio Silva<br />

PUBLICADA POR<br />

Lumière Mídia<br />

Rua Catalunha, 350, 05329-030<br />

São Paulo SP, T 11 3062.2622<br />

ld@editoralumiere.com.br<br />

www.editoralumiere.com.br<br />

Gilberto Franco, Editor convidado<br />

Thiago Gaya, Publisher<br />

6<br />

Obra Dasian - São Paulo<br />

Lighting Design: Rafael Leão<br />

Arquitetura: Studio Zeh<br />

Fotografia: Marcelo Kahn<br />

#ProdutosOmegaLight


Pedro Mascaro<br />

¿QUÉ PASA?<br />

VIDA PARA O<br />

PÓRTICO DO MASP<br />

Desde 25 de janeiro deste ano, em comemoração ao<br />

aniversário de São Paulo, o pórtico vermelho do MASP passou a<br />

brilhar na cena noturna da cidade. Uma engenhosa combinação<br />

de projetores submersos no espelho-d’água iluminando os<br />

pilares com outra sequência sob a cobertura do edifício para<br />

a viga fazem o conjunto vermelho que sustenta o museu se<br />

“acender” durante a noite.<br />

Para conseguir esse resultado sem que se agredisse<br />

visualmente o edifício – tombado pelo Patrimônio Histórico –,<br />

as arquitetas e lighting designers Fernanda Carvalho e Paula<br />

Carnelós desenvolveram uma espécie de “aquário invertido” – a<br />

água fica fora dele –, dentro do qual são alojadas as diferentes<br />

luminárias que iluminam as colunas. Esse sistema garante que<br />

as luminárias não tenham contato direto com a água, embora<br />

estejam abaixo da superfície. Três ópticas diferentes, distribuídas<br />

em duas linhas de luz, garantem homogeneidade à iluminação<br />

das colunas. Na cobertura, projetores de facho elíptico ultraalongado<br />

foram dimensionados para iluminar a viga de forma<br />

homogênea e com intensidade compatível com a das colunas.<br />

(Gilberto Franco)<br />

8 9


Design, inovação e tecnologia<br />

em iluminação desde 1974.<br />

¿QUÉ PASA?<br />

A CASA DO PARQUE<br />

Maxime Brouillet<br />

10<br />

Localizada em Montreal, Canadá, com vista para o Parque<br />

La Fontaine, esta casa combina elementos históricos das vilas<br />

do início do século XX com arquitetura moderna, de inspiração<br />

minimalista. O projeto foi realizado pelo escritório canadense<br />

La SHED e premiado pela Ordem dos Arquitetos de Quebec.<br />

A criação de contrastes, por meio de uma paleta de cores<br />

essencialmente monocromática, é o mote desse projeto, seja<br />

nas referências de estilo, nos espaços internos e externos, na<br />

percepção dos tons de branco, cinza e preto, nos volumes ora<br />

cheios ora vazios, nas divisórias translúcidas ou nas fachadas<br />

de frente e fundo.<br />

A escada, no centro da casa, integra os três andares e ganha<br />

luz natural de uma grande claraboia posicionada no topo para<br />

destacar o seu desenho. A própria estrutura da escada permite<br />

a passagem de luz, com divisórias translúcidas servindo de<br />

guarda-corpo e espelhos dos degraus vazados para ativar<br />

efeitos de luz.<br />

Enquanto a fachada da frente da casa foi restaurada para<br />

manter seus elementos originais, o fundo foi todo aberto com<br />

janelas para a luz do dia vinda do pátio. A casa do parque parece<br />

buscar tanto a elegância do mínimo quanto o acolhimento do<br />

antigo e do natural. (Diogo de Oliveira)<br />

www.lightdesign.com.br<br />

Empório Santa Maria – SP<br />

Arquitetura Espaço Novo Projeto luminotécnico Mingrone Iluminação Fotografia Ricardo Basseti


Yunpu Cai<br />

¿QUÉ PASA?<br />

O HÁBITO FAZ A VISÃO<br />

“O pescador avistou uma colina com uma pequena abertura,<br />

da qual emitia-se um vislumbre de luz.” (T. Yuanming)<br />

Escrita pelo poeta chinês Tao Yuanming (365 d.C.-427 d.C.),<br />

a fábula “A primavera em flor de pessegueiro” descreve um<br />

pescador navegando por um rio cercado por pessegueiros em<br />

flor. Ao chegar ao fim do rio, ele avistou a luz pela abertura da<br />

colina, que o levou a uma idílica aldeia reclusa, cujos ancestrais<br />

fugiram dos distúrbios civis da Dinastia Qin (221 a.C.-206 a.C.),<br />

a primeira e mais curta dinastia imperial chinesa.<br />

A fábula e os demais elementos simbólicos da cultura<br />

oriental foram fonte de inspiração para os designers do estúdio<br />

Vermilion Zhou Design Group para compor os interiores do<br />

Green Massage, um spa localizado no agitado centro financeiro<br />

de Xangai.<br />

A cor preta presente nos revestimentos, símbolo de<br />

mistério e dignidade, ajuda a criar ambientes escuros, para<br />

aguçar os sentidos e mudar os hábitos visuais dos usuários,<br />

superexpostos à crescente iluminação das cidades. O desenho<br />

das divisórias das salas de tratamento em formato curvo foi<br />

inspirado no símbolo do yin-yang, o princípio do Tai Chi para as<br />

forças opostas complementares que permeia o círculo da vida.<br />

(Orlando Marques)<br />

12


¿QUÉ PASA?<br />

ATEMPORAL<br />

Andrés Otero<br />

2001<br />

2001<br />

Em 2021, ao completar 20 anos, o Estúdio Jacqueline Terpins<br />

passou por um processo de atualização de seu sistema de<br />

iluminação. Flexibilidade sempre foi um pré-requisito do projeto<br />

de iluminação – originalmente desenvolvido por mim e Gilberto<br />

Franco – para atender à pulsante criatividade da designer e<br />

artista e sua produção variada e em constante evolução. Vidro<br />

soprado, vidro temperado, espelhos, aço, pedra, madeira e até<br />

corian são algumas das matérias-primas de seus trabalhos,<br />

sempre apresentados em escalas variadas no espaço concebido<br />

pelo arquiteto Felippe Crescenti, uma espécie de caixa branca<br />

que abriga tudo.<br />

Durante esses 20 anos, nas diversas exposições e<br />

lançamentos, o sistema de iluminação foi posto à prova ao ser<br />

focalizado para os diferentes layouts que surgiam. Ao discutir<br />

com a cliente a modernização da tecnologia, percebemos que<br />

do ponto de vista conceitual o sistema a atendia perfeitamente,<br />

nada havendo para mudar! O que fizemos então foi apenas<br />

substituir a tecnologia halógena por LED, mantendo inalteradas<br />

suas características formais.<br />

A coleção apresentada aqui, fotografada por Andrés Otero,<br />

exibe o acervo de peças icônicas da artista já com a iluminação<br />

renovada e focalizada para o novo layout. Um exercício<br />

interessante é comparar essas imagens com os primeiros registros<br />

do espaço, por sinal fotografados pelo mesmo Andrés para o livro<br />

Lighting Design Brasil, dos editores Débora Curbi e Thiago Gaya.<br />

Passadas duas décadas de sua concepção, o projeto reafirma<br />

a atemporalidade de suas premissas, mostrando-se atual ainda<br />

hoje. (Carlos Fortes)<br />

14<br />

experience room: avenida dos tajurás, 152 cidade jardim são paulo | 11.3062 7525 | goelight.com.br


O LED em sua versão<br />

m a i s c o m p a c t a .<br />

Também na versão<br />

embutido ‘’no frame’’.<br />

UGR


GALILEO TOP<br />

projetor orientável IP66<br />

Iara Rennó<br />

¿QUÉ PASA?<br />

TRANSFLORESTAR<br />

fotografia Pedro Mascaro<br />

MASP<br />

Museu de Arte de São Paulo<br />

Assis Chateaubriand<br />

São Paulo<br />

arquitetura:<br />

Lina Bo Bardi<br />

Metro Arquitetos Associados<br />

luminotécnica:<br />

Fernanda Carvalho<br />

Paula Carnelós<br />

A flor em coração que pulsa. O brilho no rosto. A contraluz<br />

nos cabelos dela. A luz filtrada nas folhas da floresta. O brilho da<br />

voz. O escuro da tela.<br />

Fiquei pensando sobre uma experiência de luz que pudesse<br />

compartilhar, então me lembrei de Transflorestar – Ato I. Foi<br />

durante a 19ª Flip (Festa Literária de Paraty) que Iara Rennó<br />

lançou o filme – mais que um filme, uma obra híbrida que se<br />

apresenta em diálogos entre vozes, música, poesia, artes visuais,<br />

corpo e, para mim, luz.<br />

E tudo começa no escuro. Estalos de som de água ou de<br />

fogo… ou serão galhos e folhas secas sendo pisados? Vento<br />

talvez… Voz em língua indígena e surge a primeira imagem na<br />

tela: um coração em luz que pulsa e logo vira flor. Materialidades<br />

vão brotando, e então reconhecemos árvores, folhas, céu, chão.<br />

Entre as imagens surge ela, Iara, cantando.<br />

A pandemia tornou a Flip virtual e trouxe Paraty,<br />

Guaranis e Florestas para dentro de nossa casa. Criou outras<br />

linguagens, aproximou-se do cinema, abriu-se a novas<br />

discussões. Ela aconteceu no final de novembro de<br />

2021, mas mesas e conteúdos estão disponíveis no link<br />

https://bit.ly/3OjH3Wm , a partir do minuto 16:30. (Emilia Ramos)<br />

fotografia Ana Mello<br />

GALILEO TOP<br />

projetor orientável IP66<br />

VENUS SURFACE<br />

projetor fixo IP65<br />

SIDE EMITTER<br />

projetor ajustável IP65 de emissão<br />

lateral<br />

Museu da Língua Portuguesa<br />

São Paulo<br />

arquitetura:<br />

Paulo Mendes da Rocha<br />

Pedro Mendes da Rocha<br />

Metrópole Arquitetura<br />

luminotécnica:<br />

Fernanda Carvalho<br />

Paula Carnelós<br />

18<br />

São Paulo SP Brasil www.lightsource.com.br @lightsource_lighting


Daniele Speranza<br />

¿QUÉ PASA?<br />

NASCE UMA ESTRELA<br />

Design Hub Barcelona SL<br />

Acompanhando a tradição de muitas das catedrais da<br />

Europa, o Templo Expiatório da Sagrada Família em Barcelona<br />

tem um processo de construção muito vagaroso, no qual o<br />

tempo dos homens parece de pouca importância diante da<br />

magnitude da obra.<br />

Mas, para alegria dos barcelonenses – e do mundo –,<br />

inaugurou-se, nos festejos do Natal de 2021, a “Estrella de<br />

Maria”, conforme previsto no projeto original de Gaudí: uma<br />

estrela de doze pontas com 7,5 m de diâmetro fixada no topo da<br />

Torre de Maria, uma das torres já prontas.<br />

Sua aparição no céu de Barcelona veio cheia de simbologia,<br />

explica Martina Weiss, lighting designer sênior do escritório LKL<br />

– Licht Kunst Licht, que assina o projeto. “Quiseram enviar um<br />

sinal de esperança para o mundo, como que prenunciando o fim<br />

da era de isolamento das pessoas”, explica.<br />

“Gaudí” – prossegue – “sabia exatamente o que queria<br />

e determinou que a estrela deveria ser luminosa, mas não<br />

ofuscante. ” Uma equipe multidisciplinar, composta de arquitetos,<br />

engenheiros e lighting designers, resolveu os diversos aspectos<br />

técnicos envolvidos, como a opacidade do vidro, a intensidade e<br />

a óptica da luz, os sistemas de manutenção etc. Há 12 projetores<br />

de baixa intensidade que produzem o brilho da peça, um para<br />

cada ponta da estrela, fixados num icosaedro central.<br />

Para que a estrela não ficasse perdida numa obra ainda<br />

inacabada, iluminou-se por transparência o coroamento da torre<br />

que a sustenta. Uma luz internamente rebatida escapa pelas<br />

aberturas, criando um sutil efeito rendilhado, em negativo, que<br />

se percebe durante o dia.<br />

Mas isso é apenas a ponta do iceberg. Dois masterplans de<br />

iluminação, um para as áreas externas e outro para as internas,<br />

foram desenvolvidos pela LKL, sempre tendo como norte as<br />

intenções de Gaudí acerca da luz. Se tudo correr bem, devem<br />

estar implantados em 2026, ao menos nas partes já concluídas<br />

da catedral. (Gilberto Franco)<br />

20 21


Rafaela Netto @rtnetto<br />

¿QUÉ PASA?<br />

VOZ E LUZ<br />

Camille Laurent nasceu na França e este ano completa<br />

12 anos de residência no Brasil. Sua trajetória, desde a<br />

graduação em Arquitetura até a atuação como lighting designer<br />

e artista visual, liga-se intimamente à sua escolha pelo país e<br />

pela cidade de São Paulo. Já estudou a formação do movimento<br />

dos ciclistas na cidade e intervenções em espaços públicos,<br />

integrou equipe em escritórios paulistanos e trabalhou com<br />

iluminação de palco.<br />

No entanto, sua inquietação não parou por aí. Em um<br />

movimento de afirmação da importância dos desenhos de<br />

iluminação, Camille passou a ocupar espaços com instalações<br />

de luz. Nas palavras dela, “bombas de luz” que eram como<br />

gritos, para grifar a importância da iluminação na nossa vida. Em<br />

edifícios. No cotidiano. Nos afetos.<br />

Em 2020 surgiu a coleção SAMPA, publicada na edição #79<br />

da <strong>L+D</strong>: sete esculturas de tubos translúcidos com perfis de LED<br />

coloridos – pela primeira vez, já que, até então, seus trabalhos<br />

variavam tonalidades de branco. As peças são fendas e janelas,<br />

como que para acessar experiências na cidade a partir do<br />

isolamento e trazer o céu, os parques, o relevo, os bairros, para<br />

dentro dos espaços fechados, por meio de traços minimalistas<br />

e jogos de cores.<br />

O trabalho mais recente de Camille é constituído de uma<br />

série de três esculturas, atravessadas pelo seu contato com as<br />

experiências dos povos originários brasileiros. As formas e as<br />

cores, entre relâmpagos e serpentes, conversam com o universo<br />

onírico e refletem o encontro entre cosmologias. (Camille Laurent,<br />

Débora Torii, Diogo de Oliveira e Orlando Marques)<br />

22


¿QUÉ PASA?<br />

FRAGMENTOS DO CÉU<br />

Ana Pigosso | Galeria Lume<br />

Projeto: Luval Lighting Design<br />

A distância entre a área da graduação (Engenharia Elétrica)<br />

e a da pós-graduação (História da Arte) de Eduardo Coimbra<br />

dão conta de quão difícil é o enquadramento do artista<br />

carioca. Fotógrafo e escultor, seus trabalhos lidam com uma<br />

grande diversidade de materiais, e suas temáticas abrangem<br />

propostas tanto para a escala de interiores como projetos para<br />

o espaço público.<br />

É, no entanto, na paisagem que encontramos uma linha<br />

perene em sua obra tão diversificada. Em suas instalações, o<br />

artista a trata a distância por meio de representações e escalas<br />

diferentes daquelas a que estamos acostumados.<br />

Seus primeiros trabalhos (no início dos anos 1990) utilizavam<br />

mecanismos elétricos, motores e luminosos aplicados a objetos<br />

do cotidiano. Em suas instalações, as imagens de céu surgiam<br />

como primeira utilização da fotografia em seu trabalho. Nos<br />

últimos dez anos, a proximidade com a arquitetura e as pesquisas<br />

de registro, conceituação e recriação da paisagem geraram<br />

trabalhos fotográficos, desenhos, colagens, instalações em<br />

espaços institucionais, maquetes e projetos para o espaço público.<br />

A obra Persianas, de 2021, brinca com nossa capacidade<br />

de reconstituir imagens a partir de poucos fragmentos, mas,<br />

nesse caso, pregando-nos uma boa peça. Uma persiana é uma<br />

sucessão de elementos concretos que interrompe um céu<br />

luminoso e contínuo. Mas a persiana de Coimbra subverte, ou<br />

melhor, inverte essa lógica; as lâmpadas tubulares passam a<br />

ser os fragmentos do céu luminoso, e a persiana é o não objeto.<br />

Em que isso se assemelha ao trabalho diário do lighting<br />

designer? (Thiago Gaya e Gilberto Franco)<br />

24


¿QUÉ PASA?<br />

A LUZ DA TORRE<br />

Foto: Daniel Ribeiro<br />

NOS MELHORES PROJETOS,<br />

COM OS MELHORES PROFISSIONAIS.<br />

Stefano Ferrando, Studio Vetroblu<br />

Erguida em 1572 sobre um pequeno promontório da costa<br />

leste da Sardenha, a Torre de Barì Sardo tinha a função de<br />

defender a região dos contínuos saques dos piratas sarracenos.<br />

Todo de granito local e rochas basálticas, o monumento tem<br />

13 m de altura, com diâmetro de 11 m na base e 8 m no terraço.<br />

De seu mirante, a vista alcança 15 km, estendendo-se do Capo<br />

Bellavista ao Capo Sferracavallo.<br />

O projeto para a nova iluminação da torre, do lighting<br />

designer sardo Michele Schintu (studio essequadro | p),<br />

proporciona uma luz suave e elegante capaz de envolver<br />

homogeneamente todo o monumento, deixando em penumbra<br />

apenas a escada de acesso. Suas aberturas (janelas e entrada)<br />

tem um sutil destaque graças às luminárias instaladas no interior<br />

da torre. Reduzir a poluição luminosa ao mínimo possível foi<br />

também uma importante premissa do projeto.<br />

Os projetores principais da iluminação geral são RGBW,<br />

regularmente personalizados em branco 3.000 K, tonalidade<br />

escolhida para realçar a cor natural das pedras. Para que eles<br />

não pudessem ser vistos, foram confeccionadas conchas de<br />

basalto bruto pesando mais de 500 kg cada. É quase impossível<br />

localizá-los durante o dia.<br />

Tanto a cor como a intensidade luminosa podem<br />

ser gerenciados por Bluetooth, embora se note o devido<br />

comedimento nesse uso. Apenas ocasionalmente se vê a torre<br />

num azul pálido e bastante elegante. A precisão dos fachos e da<br />

intensidade da luz e sua cuidadosa focalização permitem que,<br />

mesmo estando próximo à torre, se possa desfrutar a magnífica<br />

vista do mar e do céu estrelado da região. (Thiago Gaya)<br />

FEIRA NA ROSENBAUM<br />

Local: São Paulo<br />

Projeto de arquitetura: Marcelo Rosenbaum e Adriana Benguela<br />

Desenvolvimento de projeto: Rebeca Trindade<br />

Projeto de iluminação: Marcelo Rosenbaum e Ricardo Heder<br />

Curadoria e direção: Cristiane Rosenbaum<br />

26<br />

Portfólio | Pontualidade | Suporte


¿QUÉ PASA?<br />

IV BIENAL<br />

IBERO-AMERICANA<br />

Lacunas de luz<br />

Alvaro Val de Cantos<br />

Em fevereiro deste ano foram divulgados os resultados<br />

da IV Bienal Ibero-Americana de Desenho de Iluminação.<br />

Além de dois projetos vencedores, foram outorgados cinco<br />

menções honrosas, quatro menções especiais e um prêmio<br />

Seleção de Público, conferido por meio de votação online.<br />

Durante a cerimônia, que aconteceu no Museu da Memória<br />

e Tolerância, na Cidade do México, os organizadores Luis Juan<br />

López Barreiro e Diana Solis divulgaram o livro da premiação,<br />

que reúne 49 projetos selecionados dentre os inscritos<br />

no concurso.<br />

A Bienal é uma iniciativa da Iluminet, revista online de<br />

iluminação, e neste ano reuniu 196 inscrições de 19 países,<br />

analisados anonimamente por um grupo de seis especialistas<br />

da área, provenientes de diferentes países: Claudia Paz (Peru),<br />

Dean Skira (Croácia), Esther Torelló (Espanha), Javier Ten,<br />

Diana Solis e Marco Gongora (México).<br />

Os dois projetos vencedores foram a revitalização da Catedral<br />

de Santiago de Compostela, na Espanha (naves e pórtico) do<br />

escritório espanhol Arkilum, e a Capela da Fazenda As Marias,<br />

em Villavicencio, Colômbia, do escritório Schallertech. Cinco<br />

menções honrosas foram outorgadas, dentre elas o Museu da<br />

Língua Portuguesa, das lighting designers Fernanda Carvalho e<br />

Paula Carnelós, cuja matéria está publicada nesta edição.<br />

Selecionamos a Catedral de Santiago de Compostela para<br />

publicação nesta edição. Em visitas de reconhecimento do<br />

local, os lighting designers identificaram que a iluminação<br />

artificial existente mascarava totalmente a percepção da luz<br />

natural que provinha das poucas aberturas situadas no alto da<br />

nave. Conquanto esta última fosse insuficiente para os serviços<br />

religiosos, perceberam que continha uma magia fascinante,<br />

resultado do modo desigual como banhava o interior da igreja,<br />

iluminando muito algumas regiões e deixando grandes extensões<br />

de sombra. Decidiram então que a iluminação artificial a ser<br />

proposta deveria não só preservar esse caráter, mas repetilo.<br />

Assim, o projeto recriou intencionalmente lacunas de luz,<br />

de modo análogo à luz natural, apenas acentuando pontos de<br />

destaque e oferecendo a luz necessária às atividades religiosas,<br />

em um resultado deslumbrante. O que se vê durante o dia é<br />

uma curiosa orquestração entre a luz natural e a artificial, que se<br />

permeiam entre as sombras.<br />

Graças à miniaturização dos elementos de luz que a tecnologia<br />

nos oferece hoje, conseguiram criar de modo imperceptível essas<br />

camadas de luz. Mesmo os elementos visíveis – candelabros que<br />

desabam desde os altos da nave – possuem uma delicadeza que<br />

chega a comover. Um presente para os peregrinos que chegam<br />

de suas longas jornadas. (Gilberto Franco)<br />

28 29


¿QUÉ PASA?<br />

UM PERCURSO SEDUTOR<br />

w<br />

Casa Luís Barragán<br />

Entrar na casa-estúdio de Luis Barragán, arquiteto mexicano,<br />

é uma experiência arrebatadora e singular. Interessa-me aqui<br />

falar não apenas sobre a obra que está ali ao longo do tempo<br />

como espaço construído e visitável, mas sim relatar a experiência<br />

de visitar esse lugar. Trata-se não apenas de descrever materiais,<br />

cores e luzes, mas também as sensações despertadas pela<br />

orquestração visual a que Barragán nos submete.<br />

A portaria é um corredor amarelo, com entrada de luz<br />

filtrada por um vidro amarelo. Fico ali um tempo, e meu cérebro<br />

começa a ver muitas variações de cor e luz. Passo para o hall<br />

com parede rosa, e esse rosa é extremamente vibrante, dada a<br />

saturação pela qual minha retina passou segundos antes.<br />

Noto que a parede rosa tem incontáveis nuances de<br />

luminosidade e cor, já que recebe luz natural que vem de cima<br />

da escada adjacente, irradiando tanto uma luz azulada direta<br />

quanto outra luz refletida por um quadro dourado na parede ao<br />

lado. Um degradê sedutor me hipnotiza, e não quero sair dali.<br />

Sigo sabendo que morri um pouco, pois esse momento<br />

nunca mais voltará. Passo para o ambiente da biblioteca e<br />

observo as impressões que o canto escuro para leitura e trabalho<br />

provocam. O cuidado e o respeito à introspecção me lembram<br />

da responsabilidade que é iluminar um ambiente habitado.<br />

Que beleza é a coragem de não iluminar!<br />

30<br />

A visita se desenrola com sobressaltos e espasmos de<br />

suspensão respiratória, e sei que vou andando como quem<br />

chegará a uma apoteose trágica. A subida final ao célebre terraço<br />

é saboreada em cada segundo, e me encanto com a curiosidade<br />

com que os tons luminosos âmbar me atraem e me provocam<br />

a subir a escada estreita. Subo devagar, deixando meus olhos<br />

serem afetados sem dó.<br />

Enfim, chego ao terraço… demoro, finjo que não, não quero<br />

acreditar. Procuro um refúgio, mas é algo incontornável: fico cega<br />

com a luminosidade extrema da luz do sol mexicano refletida<br />

nas paredes brancas. Minha morte foi lenta.<br />

Posfácio<br />

Em 2022 celebra-se o aniversário de 120 anos de nascimento<br />

do arquiteto mexicano Luis Barragán (1902-1988). Esse texto é<br />

o relato em primeira pessoa, pós visita que aconteceu dia 24<br />

de fevereiro deste ano. (Fernanda Carvalho)<br />

APRESENTAMOS ATHENA<br />

O sistema de controle de iluminação dinâmico que traz<br />

a magia da luz aos momentos do dia a dia<br />

Solução flexível, simples e tudo-em-um para controlar qualquer fonte<br />

de luz com cortinas inteligentes


Andrii Shurpenkov<br />

O release deste projeto, localizado em Kiev, Ucrânia, chegou<br />

às mãos da revista no segundo semestre de 2021, e, por mera questão<br />

editorial, a matéria, já pronta, não entrou na edição anterior a esta.<br />

A publicação tardia – deixada praticamente intocada – de um<br />

cuidadoso projeto de iluminação e de arquitetura numa cidade<br />

hoje aos escombros nos expõe de forma crua e direta ao horror de<br />

se estar numa guerra. Como estará a vista daquela janela hoje?<br />

Que sentido têm, neste momento, os cuidadosos critérios de<br />

preservação manifestados pelos arquitetos? São perguntas que não<br />

teremos mais como responder.<br />

¿QUÉ PASA?<br />

SEGUIDORES<br />

Os interiores do restaurante Follower, projeto dos arquitetos<br />

do estúdio YODEZEEN, foi concebido a partir do pedido de seus<br />

donos: criar momentos “instagramáveis”.<br />

O restaurante está localizado no centro histórico de Kiev,<br />

Ucrânia, num dos edifícios com estilo popularmente conhecido<br />

por stalinska – arquitetura pós-construtivista, característica do<br />

período do regime socialista liderado por Josef Stalin. Outra<br />

tarefa dos arquitetos foi preservar o passado histórico do edifício.<br />

A paleta de acabamentos e de cores dos interiores foi<br />

planejada a fim de criar uma atmosfera inspiradora para ser<br />

compartilhada online. Livros e estantes estão presentes em todos<br />

os ambientes dos interiores, como a “imagem coletiva de uma<br />

geração vivendo em dois mundos paralelos, o virtual e o real”.<br />

(Orlando Marques, com prefácio de Gilberto Franco)<br />

32


Inscrições<br />

esgotadas!<br />

18 e 19 de agosto de 2022<br />

Tivoli Mofarrej Conference Hotel<br />

São Paulo | Brasil<br />

Semana da Luz 2022<br />

Confira os palestrantes<br />

já confirmados:<br />

Daan Roosegaarde<br />

Holanda<br />

PRONTOS PARA<br />

O REENCONTRO?<br />

Ricardo Hofstadter<br />

Uruguai<br />

Prof. Jan Blieske<br />

Alemanha<br />

Rafael Leão<br />

Brasil<br />

Mary-Anne Kyriakou<br />

Austrália | Alemanha<br />

Wim aan de Stegge<br />

Holanda<br />

34<br />

ledforum.com.br<br />

@ledforum<br />

#ledforum22


Matheus Angel<br />

Leonardo Finotti<br />

¿QUÉ PASA?<br />

GESTO, COR E LUZ<br />

Bruna Brandão<br />

Eu já acompanhava as ações do Kdu dos Anjos quando<br />

os arquitetos Joana Magalhães e Fernando Maculan me<br />

apresentaram o projeto do Coletivo Levante para o Centro<br />

Cultural Lá da Favelinha. Na ocasião, convidaram-me a integrar<br />

o time de profissionais que ajudaria na reforma e na ampliação<br />

do espaço para melhor acomodar as inúmeras atividades que<br />

ali acontecem.<br />

Quando o projeto de renovação começou, em 2017, o<br />

Centro integrava aproximadamente 300 crianças, adolescentes<br />

e adultos do Aglomerado da Serra (BH) em diversos cursos<br />

gratuitos e oficinas, além de disponibilizar uma biblioteca para<br />

consulta pública. As atividades lá desenvolvidas incluem a<br />

promoção de eventos culturais e projetos de empreendedorismo<br />

em parceria com o Sebrae. Todas essas ações apresentam<br />

perspectivas muito positivas e incentivadoras para a comunidade,<br />

no contexto urbano e social em que se inserem.<br />

O projeto de arquitetura trouxe uma série de melhorias para o<br />

espaço, entre eles a abertura de janelas, mudanças no layout para<br />

atendimento de um novo programa, que inclui loja/espaço multiuso,<br />

salas de aula, terraço multiuso e áreas de apoio, bem como a<br />

aplicação de novos revestimentos, adotando o uso de cores fortes<br />

e alegres para a pintura de cada um dos andares. O conceito de<br />

iluminação buscou reforçar a efervescência de toda a criatividade<br />

que ali acontece: ao acender as novas cores da Favelinha, também<br />

iluminamos todas as ações realizadas diariamente.<br />

Agradeço imensamente aos parceiros que nos apoiaram,<br />

investiram e tornaram a execução desse projeto possível: Luxion,<br />

Omega Light, O/M, Interpam, Templuz e Trust (por meio da<br />

construtora UNI). Um viva aos estagiários da Atiaîa – Marina<br />

Souza, Pedro Ferreira e Wallace Moreira – e a todos os demais<br />

profissionais envolvidos.<br />

Acredito que o acesso à qualidade é um direito humano.<br />

Levar uma iluminação de qualidade a ações e projetos<br />

comprometidos com um bem maior dá à luz sua verdadeira<br />

dimensão: a multiplicação de bem-estar, gerando impactos e<br />

significados positivos sobre a arquitetura, a cidade e o lighting<br />

design em si. Participar do Coletivo Levante significou levar o<br />

poder da luz e da comunidade de iluminação brasileira a centenas<br />

de pessoas, propiciando que o Lá da Favelinha se fortaleça<br />

ainda mais como agente transformador. (Mariana Novaes)<br />

36 37


BRILHANTE SONORIDADE<br />

Texto: Gilberto Franco | Fotos: Leonardo Finotti e Ruy Teixeira<br />

Localizado num edifício originalmente previsto como flat e<br />

devidamente reformado, o Fasano BH manteve a tradição de<br />

seus idealizadores de convidar diferentes arquitetos para seus<br />

empreendimentos, mas sempre preservando as características<br />

de sua marca. Nesse caso, o convidado foi o escritório Bernardes<br />

Arquitetura, que propôs uma inteligente acomodação do<br />

programa em dois blocos distintos, enquanto incorporava, nas<br />

fachadas e nos interiores, os elementos característicos da marca<br />

Fasano: tijolos, madeira, aço corten e espaços amplos.<br />

O sóbrio conjunto arquitetônico é separado da rua por<br />

um muro de tijolos intercalados, proporcionando relativa<br />

permeabilidade visual entre ambos. À direita, vê-se a torre de<br />

apartamentos (reformada para o padrão Fasano); à esquerda,<br />

o bloco novo, composto de dois pavimentos e um subsolo que<br />

abrigam todas as áreas compartilhadas entre os hóspedes do<br />

hotel e o público externo. Uma escada de lance único, paralela<br />

à fachada, interliga o térreo – onde está o restaurante Gero – ao<br />

primeiro piso – onde se situa o Baretto (bar da marca Fasano).<br />

No subsolo desse bloco, encontra-se o Espaço Fasano, área<br />

multiuso para convenções, eventos ou festas.<br />

Projetores de facho aberto embutidos no piso projetam sombras<br />

da vegetação sobre o muro de tijolo rendilhado. Ao fundo,<br />

veem-se o bloco social e o de apartamentos.<br />

38 39


O DESENHO DA LUZ<br />

Todo esse percurso encontra eco na proposta de iluminação.<br />

Na circulação, wallwashers iluminam a parede de tijolos à<br />

direita, enquanto luminárias de piso entre os brises de madeira<br />

projetam uma profusão de luzes e sombras no teto. Ao final, o<br />

visitante encontra o bar, com iluminação de destaque no tampo<br />

e nas garrafas. Pontos de luz embutidos no forro de gesso<br />

iluminam os centros das mesas e os tampos do bar e dos balcões<br />

de recepção, dando-lhes destaque. Abajures e a iluminação de<br />

piso dos brises verticais equilibram a modelagem do conjunto.<br />

Na pérgola, pequenas luminárias cilíndricas, de ofuscamento<br />

controlado, são intercaladas entre vigas – tanto no trecho de<br />

vidro como sob a laje –, fazendo a perfeita “fusão” luminosa dos<br />

ambientes. As luminárias do lobby e do restaurante são sempre<br />

dimerizadas e divididas em diferentes comandos, para assim<br />

atender aos diferentes usos.<br />

Abaixo à esquerda, a iluminação natural e artificial emana<br />

da pérgula à esquerda; ao centro, uma fileira de downlights<br />

iluminam as mesas; e à direita, a iluminação de piso entre os<br />

brises de madeira.<br />

Abaixo, à direita, todos os pontos de embutir, mesmo tendo<br />

funções diferentes, têm a fonte recuada e protegida por um<br />

refletor em branco fosco, integrando-se assim ao acabamento do<br />

gesso, como se vê na iluminação sobre o tampo do bar.<br />

Uma combinação de wallwashers e iluminação difusa ilumina o<br />

fundo com as garrafas.<br />

Logo na entrada, o visitante encontra à sua esquerda a<br />

recepção do Gero ou pode seguir em frente até a recepção do<br />

hotel por um extenso corredor, separado visualmente do lobby<br />

por brises verticais de madeira. Ao fundo, um único volume<br />

abriga à frente o lobby-bar e em suas costas a recepção do<br />

hotel; uma parede de tijolos isola visualmente da circulação o<br />

hall de elevadores. Assim, de modo engenhoso, os arquitetos<br />

distribuíram os diferentes “acontecimentos” do conjunto, dando<br />

a perfeita dose de permeabilidade entre eles.<br />

Do lado oposto, uma pérgola coberta por vidro marca<br />

a separação entre os dois blocos, além de abrigar as mesas<br />

externas do Gero, intercaladas entre jabuticabeiras, tudo<br />

banhado pela luz natural filtrada, configurando assim o caráter<br />

de “área externa” desejado. Divisórias de aço corten podem<br />

ser abertas para o salão do restaurante, integrando-o ao lobby<br />

quando necessário; a mesma pérgula (sem o vidro) entra pelo<br />

restaurante, ajudando na integração visual dos dois ambientes.<br />

Na circulação de acesso, luminárias de piso dimerizáveis foram<br />

locadas entre os brises, projetando delicadas sombras no teto.<br />

Wallwashers circulares embutidos iluminam a parede de tijolos.<br />

40 41


HOTEL FASANO<br />

e RESTAURANTE GERO<br />

Belo Horizonte<br />

Projeto de iluminação:<br />

Carlos Fortes (autor)<br />

Débora Esposto, Talita Costa<br />

e Thales Sportero (colaboradores)<br />

Projeto de arquitetura e interiores:<br />

Bernardes Arquitetura<br />

Thiago Bernardes, Márcia Santoro<br />

e Camila Tariki<br />

Cliente:<br />

Fasano Hotéis e Restaurantes<br />

Fornecedores:<br />

Interpam, Lutron, Stella<br />

Os apartamentos da torre foram todos adaptados para<br />

seguir os padrões da marca, resultando em aproximadamente<br />

12 plantas distintas. Foi desenvolvido um elenco de soluções de<br />

luz adaptável a todas elas, composto de sancas, pontos focais,<br />

iluminação de cabeceira – sempre indireta – e abajures.<br />

O que torna esse projeto especial é sua total integração<br />

aos espaços propostos. Se a arquitetura é uma orquestração de<br />

diferentes sistemas, a partitura tocada pela luz segue sempre<br />

em equilíbrio, dando-lhes sonoridade e brilho.<br />

Acima, a variedade de tipos de dormitório foi resolvida com<br />

um elenco de soluções, aplicadas caso a caso. Nesse quarto foi<br />

utilizada uma tela vinílica translúcida para iluminação difusa.<br />

À direita (página oposta), um nicho sobre a cabeceira, com<br />

iluminação de baixo para cima, ilumina o ambiente.<br />

À direita, as divisórias de aço corten separam as áreas aberta<br />

e fechada do restaurante. Luminárias cilíndricas com elevado<br />

controle antiofuscamento e dimerizadas fazem o amálgama<br />

entre ambas no período noturno.<br />

42 43


OLHAR INTEGRAL<br />

LUZ INTEGRADORA<br />

Texto: Diana Joels<br />

Fotos: Ana Mello<br />

Em fevereiro deste ano, Fernanda esteve na Cidade do<br />

México para a cerimônia dos Prêmios Iluminet. Na ocasião,<br />

recebeu muitas felicitações pelo projeto de iluminação do Museu<br />

da Língua Portuguesa, em São Paulo, além de congratulações<br />

pela menção honrosa do projeto na premiação.<br />

Além dos esperados elogios, Fernanda se surpreendeu<br />

com a frequência de vezes que precisou esclarecer a dupla<br />

autoria do projeto. “Você e a Paula são sócias agora?”, “FCLD e<br />

Acenda agora são um escritório só?” ou, ainda, “Como funciona<br />

projeto em parceria?” foram algumas das perguntas que ela<br />

escutou e suscitaram longas conversas sobre o processo de<br />

desenvolvimento de projetos em colaboração.<br />

Muitas vezes essas conversas se desdobravam em ainda<br />

mais surpresas, como quando Fernanda comentava que não<br />

apenas faz projetos com Paula, mas também com Diana, que,<br />

por sua vez, colabora com a própria Paula e com a Mônica,<br />

que, por sua vez, tem parcerias com o Orlando… e, como<br />

sabemos, não para por aí.<br />

Muitos de nossos colegas de outros países mostraram-se<br />

impressionados com a leveza das nossas relações no âmbito<br />

dos projetos. E nós entendemos que esse era um assunto que<br />

merecia ser sublinhado para nossa comunidade.<br />

44 45


A linha do tempo recebe iluminação contínua por perfil<br />

wallwasher LED 16 W/m, 3.800 lm/m, 3.000 K, IRC>90.<br />

Nichos, vitrines e backlights têm soluções específicas, com<br />

módulos pontuais e/ou soluções lineares com temperaturas<br />

de 3.000 K e/ou 4.000 K em razão dos materiais e das cores.<br />

No caso do projeto recém-inaugurado do Museu da Língua<br />

Portuguesa, a temática das colaborações e das relações entre<br />

equipes vai muito além da parceria entre Fernanda Carvalho<br />

(Fernanda Carvalho Lighting Design) e Paula Carnelós (Acenda).<br />

Trata-se de um projeto desenvolvido em diversas etapas,<br />

com tempos próprios e interlocutores específicos: fachada com<br />

equipe de restauro e da fundação; interiores do museu com arquitetura<br />

(que teve um escritório durante o projeto básico e outro<br />

para o executivo); exposição de longa duração com equipes de<br />

expografia, comunicação visual, produção e fundação; e salas<br />

de exposições temporárias com arquitetura e posteriormente<br />

produção.<br />

Para harmonizar as variações produzidas pelos conteúdos<br />

das projeções, projetores orientáveis com LED 4.7 W, 351 lm,<br />

2.700 K, 30 o , snoot 55 e dimerização forward phase permitem<br />

uma quase imperceptível iluminação para baixo que, quando<br />

incide nos visitantes, contribui muito para uma circulação<br />

segura e amigável.<br />

O projeto de iluminação foi o único cujo desenvolvimento<br />

dialogou com todos os demais projetos e se desenvolveu<br />

ao longo de todo o período. Não por acaso, o olhar integral e<br />

integrador é uma marca do projeto e da conceituação da luz.<br />

Na prática, muitos protótipos foram realizados, tanto<br />

contratados quanto internamente, em geral, para esclarecer<br />

dúvidas levantadas pela equipe de iluminação em relação<br />

à interação entre a luz e os materiais em diversas soluções<br />

integradas desenvolvidas. Praticamente todos os protótipos<br />

conduziram a acertos nas definições dos materiais e das cores<br />

e foram, um a um, passos importantes na construção de uma<br />

relação de confiança entre as equipes.<br />

Nesse sentido, Fernanda e Paula envolveram-se de forma<br />

profunda com o projeto e desenvolveram um método de<br />

trabalho muito imersivo, que acabou fazendo que trabalhassem<br />

com pouco engajamento de colaboradores internos, numa<br />

dinâmica muito enxuta, de apropriação e intimidade entre as<br />

profissionais, e delas com o próprio projeto.<br />

No terceiro pavimento, onde se inicia a visita, luminárias<br />

lineares pendentes com luz indireta difusa iluminam o teto<br />

de forma única e livre de ofuscamento nas telas, com módulos<br />

LED HO 22 W/m, 3.500 lm/m, 3.000 K, IRC>90 e dimerização<br />

DALI. Determinados trechos das mesmas luminárias possuem<br />

trilhos eletrificados para complementos com projetores LED<br />

7.3 W, 704 lm, 3.000 K, 30°, snoot 42.<br />

46 47


Ao visitar o Museu, a presença da luz se expressa em<br />

coerência com esse processo, de forma consistente, integrada<br />

e amigável. É nítido o papel integrador da luz para quem busca<br />

observá-la.<br />

O material museográfico se apresenta ao visitante na forma<br />

do que a curadoria chamou de “experiências”, muitas delas com<br />

luz própria, conteúdos emocionantes e plenos de narrativas<br />

necessárias.<br />

Na vivência espacial do Museu, a luz tem um papel<br />

fundamental de navegação, contribuindo para a construção<br />

de um percurso, por meio da harmonização entre as diversas<br />

experiências, cuidando muito bem de sua própria presença em<br />

termos de dosagem e distribuição espacial.<br />

Nas áreas internas e externas, nota-se o mesmo papel<br />

agregador, a partir do olhar integral. Um repertório de soluções<br />

difusas, contínuas e integradas que, no conjunto, revelam<br />

as preexistências e nos emocionam com o retorno de um<br />

patrimônio cultural e marco referencial urbano no centro da<br />

maior cidade do nosso país.<br />

Cada coluna recebeu uma montagem especial com um conjunto<br />

de oito módulos LED 13 W, 3.000 K, IRC>80, com aplicação de<br />

louver nos módulos superiores e drivers on-off, além de filtros<br />

de vidro âmbar.<br />

A experiência “Línguas do Mundo” possui caráter sensorial<br />

potente, produzido por conteúdo de áudio e potencializado<br />

pelo baixíssimo nível de luz geral no espaço, cujo contraste<br />

faz as colunas luminosas revelarem sua textura delicada e se<br />

destacarem como conjunto. A sutileza da solução de iluminação<br />

– consequência de processo de testes e ajustes finos – tem<br />

contribuição decisiva para a imersão no conteúdo proposto.<br />

48 49


Fachadas e alas históricas seguem uma linguagem de luz<br />

análoga, de linearidade e harmonia visual.<br />

Enquanto um único elemento resolve as circulações – com<br />

óptica assimétrica e LED linear 16 W/m, 3.800 lm/m, 3.000 K,<br />

IRC>90 –, o efeito de composição plena da fachada é obtido<br />

por meio de soluções específicas e pontuais para os diferentes<br />

elementos da composição: marquise, superfícies verticais,<br />

janelas, torre, relógio e coberturas.<br />

O “Tronco Indo-Europeu” é um painel de grandes proporções com conteúdo dinâmico,<br />

cujo detalhamento e programação fazem parte do projeto de iluminação. Movimento e<br />

cor são elementos fundamentais para a comunicação por meio de luz, que foi desenhada<br />

pela equipe do projeto e materializada com sistema de nós de LED RGB, 6 lm/ponto,<br />

com lente plana transparente, e controle DMX.<br />

Pedro Mascaro<br />

MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA<br />

São Paulo<br />

Projeto de iluminação:<br />

Fernanda Carvalho Lighting Design<br />

e Acenda<br />

Fernanda Carvalho e Paula Carnelós<br />

Projeto de arquitetura:<br />

Concepção: Arte 3 –<br />

Pedro Mendes da Rocha e Brígida Garrido<br />

Desenvolvimento: Metrópole –<br />

Ana Paula Pontes e Anna Helena Villela<br />

Restauração: Wallace Caldas<br />

Expografia: Artifício Arquitetura Exposições<br />

Comunicação visual: CLDT<br />

Cliente:<br />

Fundação Roberto Marinho<br />

Fornecedores:<br />

Lemca, Lightsource, Lumini,<br />

O/M, Omega Light<br />

50 51


PASSADO,<br />

PRESENTE<br />

E FUTURO<br />

Texto: Emilia Ramos e Fernanda Carvalho<br />

Fotos: Aryeh Kornfeld<br />

Uma ruína é um testemunho da passagem do tempo. O<br />

Palácio Pereira foi desenhado em 1872 pelo arquiteto Lucien<br />

Hénault para a residência de uma família em Santiago, no Chile.<br />

Em 2011, sua ruína foi comprada pelo governo chileno.<br />

A transformação do que restava desse palácio em um<br />

edifício de uso cultural foi um longo processo que envolveu<br />

diversas equipes. O projeto de lighting design desenvolvido pelo<br />

escritório chileno Limarí, de Pascal Chautard e Carolina Roese,<br />

não ficou indiferente à passagem do tempo ao longo dos nove<br />

anos entre o início do trabalho até a inauguração, em fevereiro<br />

de 2021.<br />

Esse grande transcurso de tempo provou que o conceito e as<br />

soluções se mantinham pertinentes. Já o tempo da tecnologia não<br />

foi tão generoso, e tudo mudou entre 2012, quando as luminárias<br />

LED de última geração foram especificadas, e 2018, quando<br />

seriam adquiridas e já estavam obsoletas. Nesse momento, os<br />

projetistas já haviam mudado a própria maneira de desenhar e<br />

depararam com a necessidade de alterar as especificações das<br />

luminárias de um projeto já há muito tempo concluído.<br />

Pendentes, com luz difusa, destacados da arquitetura estão<br />

distribuídos no pé-direito duplo, preenchendo com luz e dando<br />

brilho à escada metálica. Luminária pendente: fluorescente,<br />

42 W, 3.200 lm, 3.000 K, Cri 85, On/Off.<br />

52 53


A relevância do processo de restauro e a dinâmica de<br />

workshops interequipes, com a participação de especialistas<br />

altamente gabaritados, foram sempre uma motivação para<br />

a equipe Limarí. Dessas ações surgiu um eixo importante do<br />

conceito: manter a ruína intacta e construir um novo edifício ao<br />

redor, deixando evidentes as bordas e as novas intervenções.<br />

Da mesma maneira, os aparatos luminosos deveriam estar<br />

ora totalmente escondidos, ora evidenciados como objetos<br />

claramente novos e contemporâneos. As luminárias, portanto,<br />

não tocam, visualmente, a ruína.<br />

Projetores instalados nas cornijas complementam a iluminação<br />

natural, geram luz suave refletida pelas paredes e realçam os<br />

adornos dos planos verticais da arquitetura. Projetores: LED,<br />

23,5 W, 1.423 lm, 3.000 K, Cri 90, facho 38¼, DALI.<br />

Outra questão conceitual importante foi a decisão de não<br />

iluminar a fachada do edifício histórico. Chautard trouxe para o<br />

grupo sua visão sobre a responsabilidade com o entorno urbano<br />

e a proteção da escuridão noturna, evitando emissão de luz<br />

para o céu. Tratou também a responsabilidade orçamentária,<br />

sugerindo não investir em luminárias para os ambientes<br />

externos, mas otimizar os recursos para outras luminárias do<br />

projeto. A isso se somou o fato de o edifício se encontrar em uma<br />

região sem distância para observação, tornando dispensável<br />

uma iluminação monumental.<br />

Pendentes de luz difusa se distribuem pelo hall, em contraponto<br />

com os adornos da arquitetura, em um diálogo entre elementos<br />

preexistentes e elementos contemporâneos.<br />

Luminária pendente: fluorescente, 42 W, 3.200 lm, 3.000 K,<br />

Cri 85, On/Off.<br />

Na sala em destaque, pendente linear central se desprende<br />

do teto em relação direta com a grande mesa. O teto com<br />

pinturas é destacado com banho de luz indireta escondida em<br />

detalhe da edificação. Pendente linear: LED, 204 W, 20.628 lm,<br />

3.000 K, Cri 85, DALI. Luz indireta: LED, 5,3 W/m, 600 lm/m,<br />

2.700 K, Cri 85, On/Off.<br />

Nas imagens acima, podemos perceber a luz quente que banha<br />

os elementos da arquitetura e a relação entre o interior original<br />

e a estrutura envoltória, fruto da intervenção posterior.<br />

A escolha do projeto foi por uma temperatura de cor que<br />

variou entre 2.700 K e 3.000 K. Destaque para o balizador<br />

linear que acende a escada de forma sutil. Luz de balizamento:<br />

LED 5,3 W/M, 530 Lm/m, 3.000 K, Cri 85, On/Off.<br />

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PALÁCIO PEREIRA<br />

Santiago do Chile<br />

Projeto de iluminação:<br />

Limarí Lighting Design<br />

Pascal Chautard (designer titular)<br />

Felipe Grandón, Barbara Marambio,<br />

Fabiola Martinez, Priscila Pacheco,<br />

Magdalena Roa (equipe de designers)<br />

Projeto de arquitetura:<br />

Cecilia Puga, Alberto Moletto,<br />

Paula Velasco<br />

Cliente:<br />

Ministério de Obras Públicas<br />

Fornecedores:<br />

Bilton, Daisalux, Glasshutte, Flos,<br />

Iguzzini, Schmitz, Targetti, Trilux, Xal<br />

A edificação de 150 anos deve ainda durar mais alguns<br />

séculos. Já foi residência, ruína e hoje, além do uso cultural,<br />

é sede da Assembleia Constituinte chilena, importante<br />

instrumento para desenhar o futuro do país. É testemunha do<br />

passado, e seu uso presente aponta caminhos futuros. O edifício<br />

está em constante transformação. Quanto tempo dura um<br />

projeto de iluminação?<br />

A escada caracol metálica absorve e reflete brilhos da<br />

iluminação artificial, contribuindo como uma luminária<br />

para o ambiente.<br />

Na borda entre a ruína original e a nova edificação, projetores<br />

acendem e dão destaque à parede de tijolo, criando um<br />

contorno para a biblioteca. Outras peças iluminam os planos<br />

de leitura de forma direta. Projetores: LED, 23,5 W, 1.508 lm,<br />

3.000 K, Cri 90, facho 46¼, DALI.<br />

56 57


SONHO CONSTRUÍDO<br />

Texto: Diogo de Oliveira, com colaboração de Débora Torii e Orlando Marques<br />

Fotos: Marcelo Kahn<br />

CASA<br />

“A arquitetura para mim é realmente a construção do sonho”<br />

são as palavras de Alessandra Müller, arquiteta titular do Estúdio<br />

Saracura, em referência à Residência Joanópolis, localizada a<br />

pouco mais de 100 km ao norte da cidade de São Paulo.<br />

Projetada como a segunda residência da família, a casa de<br />

fato resulta das visões de Alessandra, fruto de sua formação<br />

em Arquitetura e seu contato com edifícios projetados pelo<br />

escritório catalão RCR Arquitectes (Pritzker 2017). Dessas<br />

vivências, surgiu esse projeto de estreia.<br />

Esta residência da família foi implantada em terreno com leve<br />

aclive, entre a mata e a represa.<br />

Com poucas e precisas intervenções, o projeto de iluminação<br />

destaca elementos da arquitetura e conta com luz vinda<br />

do paisagismo.<br />

58 59


O projeto da casa consiste em três volumes simétricos: social,<br />

chalés – onde se encontram os quartos – e a piscina.<br />

Em um terreno com leve aclive, na beira da represa, o partido<br />

do projeto foi definido pela sua localização entre a água e a<br />

mata. Então, foram escolhidos os materiais: concreto aparente,<br />

vidro e aço. O projeto se apresenta em três volumes ortogonais:<br />

o das áreas sociais, o dos seis chalés dispostos lado a lado<br />

e o da piscina, alinhados simetricamente no terreno em linhas<br />

minimalistas.<br />

A natureza no entorno da casa justifica as fartas aberturas,<br />

tanto nas portas de vidro com dimensão de paredes quanto em<br />

claraboias e terraços que ladeiam todo o complexo. O paisagismo<br />

garante alguma privacidade e colabora para o conceito do<br />

projeto de interferir o menos possível na paisagem natural. Essa<br />

ideia reaparece tanto na escolha do aço dos brises verticais e de<br />

alguns móveis desenhados sob medida, cuja oxidação integra o<br />

projeto, como nos sinais da passagem do tempo aparentes no<br />

concreto. Durante o dia, o vidro abre a casa para o exterior e, à<br />

noite, ele o reflete, em espelhos contínuos.<br />

O volume dos quartos ganhou iluminação contínua sob o piso,<br />

em contraste com o solo e o concreto.<br />

O projeto de iluminação interveio com poucos equipamentos,<br />

deixando livres as superfícies de concreto.<br />

60 61


Na sala de jantar, os lighting designers criaram um detalhe<br />

acoplado à claraboia com sistema de fibra óptica embutido<br />

na lateral da abertura, composto de pequenos pontos de<br />

luz orientáveis para destaque da mesa. A solução adaptou<br />

a realidade da obra à necessidade do ambiente, um dos<br />

muitos gestos de flexibilização demandados por esse projeto.<br />

Luminárias integradas em outras claraboias e detalhes de<br />

arquitetura e mobiliário aparecem ainda nos demais ambientes<br />

da casa, otimizando esses elementos da arquitetura.<br />

No volume dos chalés, uma linha contínua de luz foi embutida<br />

sob o piso dos terraços, com a intenção de proporcionar leveza<br />

ao bloco ante o terreno. Nos quartos, há nichos iluminados nas<br />

cabeceiras, auxiliados por luminárias de leitura retráteis. Nos<br />

banheiros, a iluminação indireta integrada por trás dos espelhos<br />

é mais um recurso para a valorização da arquitetura.<br />

A iluminação da mesa de jantar se deu por meio da adaptação,<br />

em obra, de um sistema de fibra óptica integrado a uma das<br />

faces da claraboia.<br />

Demais elementos de luz seguem integrados na arquitetura.<br />

ILUMINAÇÃO<br />

As soluções do projeto de iluminação incluem luz indireta<br />

embutida em elementos da arquitetura.<br />

Os lighting designers e arquitetos Eder Ferreira e Paula<br />

Carnelós receberam, como escopo do cliente, uma orientação<br />

pouco usual para desenvolver o projeto de iluminação da<br />

Residência Joanópolis: o mais escuro possível, com interferência<br />

mínima nas amplas superfícies de concreto.<br />

O trabalho da dupla, de apoiar o projeto da arquiteta,<br />

consistiu em acolher a presença mínima de equipamentos de<br />

iluminação e, ao mesmo tempo, prover iluminação flexível o<br />

suficiente para usos diversos, considerando a convivência do<br />

grupo familiar.<br />

O conceito surgiu da interpretação dos lighting designers<br />

desse desejo de pouca luz, com sugestões, feitas aos poucos, de<br />

equipamentos que se adequassem à arquitetura dos ambientes,<br />

mantendo os tetos apagados. Nas áreas sociais, a solução<br />

consistiu em sistemas lineares ortogonais aplicados sob a laje, com<br />

luminárias de facho direcionável concebidos em harmonia com as<br />

linhas arquitetônicas, a partir dos eixos principais dos espaços. Em<br />

contraposição à pouca iluminação no teto, algumas camadas de<br />

luz mais difusa foram integradas a partir do piso, com destaques<br />

pontuais em alguns elementos, como os brises, além de efeitos de<br />

luz indireta e de sombras vindas dos jardins externos.<br />

62 63


SONHO<br />

A Residência Joanópolis é, simbioticamente, a casa dos<br />

sonhos tanto da família como da arquiteta, em seu primeiro<br />

projeto. Resultado de suas vivências, suas visões e seus desejos,<br />

em uma junção de traços simétricos modernos com o entorno<br />

de mata nativa e da represa. O projeto de iluminação serviu de<br />

apoio à elaboração desse sonho, na medida mais justa possível:<br />

ausente e ao mesmo tempo presente.<br />

Dentre as soluções discretas de iluminação estão os sistemas<br />

lineares ortogonais aplicados sob a laje, análogos aos trilhos<br />

das portas.<br />

RESIDÊNCIA<br />

Joanópolis<br />

Projeto de iluminação:<br />

LID – Light in Design (coordenação)<br />

Eder Ferreira, Paula Carnelós (autores)<br />

Marcos Vinícius (colaborador)<br />

Projeto de arquitetura e interiores:<br />

Estúdio Saracura<br />

Alessandra Müller (arquiteta titular)<br />

Projeto de paisagismo:<br />

Rodrigo Oliveira<br />

Fornecedores:<br />

FASA, Interlight, Lemca<br />

64 65


FOTO LUZ FOTO<br />

PEDRO MASCARO<br />

TSUNAMI<br />

Fotografar certos projetos é especial, e o MASP foi um deles.<br />

Fiquei contente quando a Paula Carnelós e a Fernanda Carvalho me<br />

consultaram para fotografar a iluminação dos pórticos vermelhobombeiro<br />

do museu projetado pela Lina Bo Bardi na avenida Paulista.<br />

Como havia pouco tempo para a entrega das fotos que<br />

ilustrariam a matéria desta edição da revista, não podíamos<br />

aguardar as melhores condições climáticas. Com a mochila nas<br />

costas, usava uma das mãos para segurar o guarda-chuva e a<br />

outra para carregar tripé e câmera. A troca de lentes era sempre<br />

um malabarismo. Outro desafio foi realizar o maior número<br />

de fotos no curto período do lusco-fusco. Isso porque esse é o<br />

momento em que a iluminação do projeto se destaca e ainda há<br />

informação no céu – evitando fotografar mais tarde, quando boa<br />

porção da imagem se tornaria um grande breu.<br />

Ao escolher o ângulo desta foto, procurei evitar fontes de luz<br />

que prejudicassem a imagem, como as dos postes que iluminam<br />

a avenida e a luz contra dos carros que subiam a rua ao lado do<br />

museu. Nesse horário, o trânsito estava um tanto congestionado,<br />

então precisei controlar a ansiedade e dosar o tempo que<br />

aguardava para que não tivessem carros parados em primeiro<br />

plano, e eu pudesse fazer algumas boas opções de fotos, partindo<br />

logo em seguida para a próxima. Antes dos cliques definitivos, fiz<br />

alguns testes com o tempo de exposição do obturador diante<br />

da velocidade e da distância dos carros que passavam, de modo<br />

que as lanternas acesas cruzassem e pintassem a imagem com<br />

a cor dos pórticos. Ao tratar esta foto, além de ajustes padrão,<br />

corrigi a cor do céu, que estava muito azulada. Usei uma câmera<br />

Canon 5D Mark IV e uma lente tilt-shift 24 mm.<br />

Pedro Mascaro é engenheiro de formação, mas sempre esteve<br />

conectado à fotografia.<br />

Desde 2015, dedica seu trabalho à fotografia de arquitetura<br />

e a produções audiovisuais, imprimindo seu olhar e captando<br />

imagens aéreas e no solo.<br />

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