PHILIP

associacaoviva
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10.05.2022 Views

XVI A tarde lhe trouxe o cansaço. O cansaço, o sono. De manhã, a luz do sol sobre a persiana desenhava um xadrez na sua gaiola. Seria bonito? Alguém estava deitado na cama e de onde estava Philip só podia ver um chumaço de cabelos loiros cobertos por um amontoado de cobertores desarrumados. Aquilo mais uma vez trouxe à lembrança sua espiga. O velho entrou no quarto e levantou a persiana. O sol explodiu e as cobertas se moveram tentando se proteger de seu brilho. - Fran, há uma surpresa para você. Acorde logo. - Você está mentindo, velho chato. Faz isso todos os dias para me tirar da cama. - Acredite se quiser, Chico. Está bem aí do lado, pendurado próximo à janela. Por que não tenta olhar? E completou: - seu pai está esperando para o café e para te levar para a escola. Philip pôde finalmente compreender o que se passava. Ele era a surpresa e aquele era Chico que agora se aproximava, deixando seu rostinho grudado na gaiola, tomando todo o lado. Pela primeira vez na história de sua vida enxergou um rosto humano tão de perto. XVII Que coisa linda... Você é tão claro, tão amarelinho... Como você é lindo... Sua voz alta de exclamação chegava a balançar as penas de Philip, que reunia um estado de medo e espanto. Os olhos azuis continuavam a persegui-lo como faróis. Nem imagino como devo chamá-lo. Mas... Você está doente? Está tão magrinho! Philip lembrou-se de seus inquisidores. Parece que naquele lugar era comum às pessoas perguntarem e não se importarem em ouvir as respostas. Quem sabe fosse melhor assim, já que ele nunca havia falado com homens e não sabia o que isso poderá trazer de consequências. Resolveu manter-se em silêncio. Será que você está triste por ter vindo morar aqui? Aqueles lindos olhos azuis pareciam ter diminuído de intensidade. Como é duro manter-se em silêncio por perceber que a compreensão está tão distante.

XVI<br />

A tarde lhe trouxe o cansaço.<br />

O cansaço, o sono.<br />

De manhã, a luz do sol sobre a<br />

persiana desenhava um xadrez<br />

na sua gaiola. Seria bonito?<br />

Alguém estava deitado na cama<br />

e de onde estava Philip só podia<br />

ver um chumaço de cabelos loiros<br />

cobertos por um amontoado<br />

de cobertores desarrumados.<br />

Aquilo mais uma vez trouxe à<br />

lembrança sua espiga.<br />

O velho entrou no quarto e levantou<br />

a persiana. O sol explodiu e<br />

as cobertas se moveram tentando<br />

se proteger de seu brilho.<br />

- Fran, há uma surpresa para você.<br />

Acorde logo.<br />

- Você está mentindo, velho chato.<br />

Faz isso todos os dias para me<br />

tirar da cama.<br />

- Acredite se quiser, Chico.<br />

Está bem aí do lado, pendurado<br />

próximo à janela. Por que<br />

não tenta olhar?<br />

E completou: - seu pai está esperando<br />

para o café e para te levar<br />

para a escola.<br />

Philip pôde finalmente compreender<br />

o que se passava. Ele era a<br />

surpresa e aquele era Chico que<br />

agora se aproximava, deixando<br />

seu rostinho grudado na gaiola,<br />

tomando todo o lado.<br />

Pela primeira vez na história de<br />

sua vida enxergou um rosto humano<br />

tão de perto.<br />

XVII<br />

Que coisa linda...<br />

Você é tão claro, tão amarelinho...<br />

Como você é lindo...<br />

Sua voz alta de exclamação chegava<br />

a balançar as penas de Philip,<br />

que reunia um estado de<br />

medo e espanto. Os olhos azuis<br />

continuavam a persegui-lo como<br />

faróis.<br />

Nem imagino como devo chamá-lo.<br />

Mas... Você está doente?<br />

Está tão magrinho!<br />

Philip lembrou-se de seus inquisidores.<br />

Parece que naquele lugar<br />

era comum às pessoas perguntarem<br />

e não se importarem<br />

em ouvir as respostas.<br />

Quem sabe fosse melhor assim,<br />

já que ele nunca havia falado com<br />

homens e não sabia o que isso poderá<br />

trazer de consequências.<br />

Resolveu manter-se em silêncio.<br />

Será que você está triste por ter vindo morar aqui?<br />

Aqueles lindos olhos azuis pareciam<br />

ter diminuído de intensidade.<br />

Como é duro manter-se em silêncio<br />

por perceber que a compreensão<br />

está tão distante.

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