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LUSITANO
de
ZURIQUE
[ MAIO 2022 | Edição Nº. 288 | ANO XXVIII | Director: Armindo Alves | Director-adjunto: Manuel Araújo | Publicação mensal gratuita ]
Filipa
Foto: José Novais
Menina
MORREU
Caso EINSIEDELN
“Não aceitamos, que de
repente e sem pré-aviso,
nos tirem o “tapete”.
Página 4
editorial
Crónica
Espectáculo
Necrologia
Antes do 25 de Abril, “a falta de
virgindade da mulher ao tempo
do casamento” podia ser motivo
de anulação do mesmo.
Pág. 3
MENTIRA: a atracção mortal da
democracia Pág. 10
Festival Compact Records
com bandas de luxo em três
dias de música. Pág. 18
Tonio, Eunice Muñoz e Filipa
Menina.
Pág. 5, 26 e 27
EQUIPA EDITORIAL
Director: Armindo Alves
Jornalista CC15 A
Director-adjunto: Manuel Araújo
Jornalista 3000 A
Email: lusitanozurique@gmail.com
COLABORADORES
Alice Vieira, Aragonez Marques, Carlos Matos Gomes,
Carmindo de Carvalho, Costa Guimarães,
Cristina F. Alves, Daniel Bohren, Euclides Cavaco,
Ivo Margarido, Joana Araújo, Joaquim Galante, Jorge
Macieira, Luís Osório, Manuel Araújo, Maria dos
Santos, Maria José Praça, Nelson Lima, Nelson Mateus,
Paulo Marques, Pedro Nogueira, Rosa Moreira.
EDIÇÃO, COMPOSIÇÃO E PAGINAÇÃO
Joana Araújo
Jornalista CC 11 A
Email: joanaaraujo@protonmail.ch
PUBLICIDADE
Tel.: 079 222 09 14
Email: pub.lusitano@gmail.com
IMPRESSÃO
Diário do Minho - Braga
Tiragem: 3000 exemplares
Periodicidade: Mensal
Distribuição gratuita
ARQUIVO DIGITAL:
https://tinyurl.com/gavetao
NOTA IMPORTANTE:
Os artigos assinados reflectem tão-somente
a opinião dos seus autores e não vinculam
necessariamente a direcção desta revista.
Apoio
LUSITANO
de
ZURIQUE
Por discordância, esta publicação
não adopta, nem respeita as normas
do novo inútil Acordo Ortográfico.
Sábado, 25 de Junho de 2022, 12h, Central Zurique
Manifestação
Nacional da
Construção Civil
Este ano vai ser renegociado o contrato nacional de trabalho (CNT) dos trabalhadores da
construção civil. Os trabalhadores da construção merecem mais protecção para a saúde, dias de
Este
trabalho menos
ano
longos
vai
e o fim
ser
do roubo
renegociado
das horas de trabalho em
o
caso
contrato
de deslocação e
nacional
mau tempo! Contudo, de trabalho em vez disto, a associação (CNT) de dos empreiteiros trabalhadores da construção civil exige a da
semana de trabalho de 50 horas e dumping salarial!
construção civil. Os trabalhadores da construção
Lutemos merecem pelos nossos mais protecção direitos – juntos para a somos saúde, fortes dias !
de trabalho menos longos e o fim do roubo das
horas de trabalho em caso de deslocação e
mau tempo! Contudo, em vez disto, a associação
de empreiteiros da construção civil exige
a semana de trabalho de 50 horas e dumping
salarial!
Lutemos pelos nossos direitos
– juntos somos fortes !
EDITORIAL
Armindo Alves
DEPARTAMENTO DE FUTEBOL
Tel.: 079 222 09 14
Email: armindo.alves@garage-
-mutschellen.ch
RANCHO FOLCLÓRICO
Tel.: 076 369 85 00
Email: rancho@cldz.eu
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PROPRIEDADE
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DE ZURIQUE
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2 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu
3
Director
Jornalista CC15 A
Quando eu era criança cresci numa pequena aldeia
rodeado de idosos, os quais, sem grandes estudos, digamos
mesmo, quase sem saberem ler nem escrever,
tinham enormes conhecimentos sobre a vida e sobre
o futuro.
Nesse tempo disseram mesmo que a minha geração,
irá ter muitas regalias, até em excesso, mas, por outro
lado, referiam, que não será sempre assim e que a situação
dos nossos filhos, já não será igual. Os nossos
filhos iriam ter mais obstáculos na vida que a minha
geração.
A “premonição”, infelizmente está a desenhar-se no
horizonte a passos largos, basta olhar a crise mundial
provocada por pandemias sem-fim e agora esta guerra
que tende de alastrar na Europa e quem sabe no
Mundo.
Nestes últimos anos, a Pandemia gerou uma reviravolta
nos nossos usos e costumes, que causou imensos
danos, alguns dos quais são perfeitamente visíveis.
Desde o passado dia 2 de Maio a Suíça decidiu ignorar
o Covid-19, voltando dessa forma as nossas vidas quase
na totalidade ao normal.
Somos apenas peças pequeninas
de um xadrez Mundial
Vamos ter que nos habituar a este mundo medonho,
mercantilista, controverso e cheio de incertezas.
Não acredito que o Covid já está definitivamente vencido,
porque estaria a mentir. Basta ver as notícias
preocupantes vindas principalmente da China, onde o
aumento das infecções é alarmante, estando já várias
restrições activas, inclusive a quarentena para prevenir
o surto da doença.
E nós, cá na Europa, somos também notícia pela pior
das razões. Fomos manchete em alguns meios de comunicação
Social que “Portugal e Espanha são os
únicos países da UE onde a Covid-19 aumenta entre
idosos”.
Por outro lado, a Organização Mundial de Saúde recomenda
“fortemente” o uso dde mais um medicamento,
um comprimido anti-covid desenvolvido pela farmacêutica
Pfizer para “pacientes com sintomas leves
ou moderados” da infecção pelo SARS-CoV-2, mas “em
risco de hospitalização”.
Muito mais gostaria de falar sobre o que penso sobre
as farmacêuticas, mas fico por aqui, afirmando apenas
que isto não vai acabar. Vamos ter que nos habituar
a este mundo medonho, mercantilista, controverso e
cheio de incertezas.
Porque somos apenas peças pequeninas de um xadrez
Mundial, resta-nos viver em paz um dia de cada vez,
respeitar o próximo e sobretudo, tentar ser feliz!
Não aceitamos que de repente
sem pré-aviso, nos tirem o“tapete”.
Armindo Alves
Nestes últimos dias nas redes sociais foi noticiado que uma das maiores peregrinações
da Suíça terminará ao fim de três décadas de culto.
Mosteiro de
Einsiedeln
A razão invocada para acabar com esta magnífica e única tradição, seria a segurança.
Após várias décadas, as autoridades alegam que o Santuário só tem
capacidade para 1500 pessoas e que neste dia, as pessoas excedem os 4000 peregrinos
no seu interior e cerca de 30 000 no exterior!
Compreende-se que para o país de acolhimento é uma preocupação ver tanto
peregrino pacífico junto!
Já tinha conhecimento desta decisão, mas sempre pensei, que o nosso banimento
do local, fosse temporário, apenas este ano. Todos pensamos que para o
próximo ano podíamos dar continuação à linda “peregrinação dos portugueses”!
No meu ponto de vista o Sr. Padre Lorenz Moser, deveria pensar numa solução
mais favorável à comunidade e evitar extremismos e não nos "cortar as pernas".
Sabemos que a segurança está primeiro e estas normas já existiam. Se querem
cumprir o evento a rigor, acho muito bem, mas devem dar-nos outras possibilidades
de organizar uma peregrinação neste local especial, direi mesmo, que
quando entramos neste recinto "protegidos" estamos como em Fátima, com
Deus, pois junto dEle não há nacionalidades nem fronteiras!
Tenho a certeza que se houver boa-vontade, não faltarão ideias para se realizar
este evento, ou, por exemplo, uma missa campal e muito mais. Basta que para
isso nos dêem tempo para nos organizarmos. Conheço bem o povo português e
tenho a certeza que ideias não faltarão agora e fique claro, não aceitamos que
de repente, sem pré-aviso, nos tirem o “tapete”.
Caríssima comunidade, mais que nunca temos que nos unir e lutar pelos nossos
objectivos. Aguardaremos mais algum tempo, pois, sei também, que os responsáveis
já tomaram algumas decisões e as negociações continuam...
Motores
Exposição
José Salgueiredo expõe no
Centro Lusitano de Zurique
O que será o futuro dos
automóveis?
José Salgueiredo, artesão, natural de
Aveiro e a residir na Suiça, no dia 22 de
Maio, irá expor alguns dos seus trabalhos
no Restaurante do CLZ.
Armindo Alves
Hoje em dia a tecnologia avança a uma
velocidade fulminante, e a área automóvel
não é excepção. Todos os anos
vemos modelos novos, ouvimos falar de
funcionalidades antes impensáveis e somos
levados pela curiosidade a especular
sobre os carros do futuro A situação
actual tem travado um pouco o fornecimento
dos novos modelos, a indústria
Automóvel está bastante parada, digamos,
que a produção está limitada. A
globalização é um dos problemas, pois
estar dependente dos outros têm algumas
desvantagens!
Como estou sempre a especular, pergunto?
O que será o mundo automóvel
daqui a uma ou duas épocas? Condução
autónoma? Comunicação entre carros?
Será que só vão existir só carros eléctricos?
Duvido!
Quer saber mais sobre as previsão para
os carros do futuro, embarque nesta viagem
e aperte o cinto de segurança.
O que nos espera?
Sabemos que estão para chegar; só não
sabemos exactamente quando e como.
Uma coisa é certa, tendo em conta a velocidade
a que temos assistido na evolução
tecnológica, em geral, e do ramo
automóvel em particular, estas são algumas
características das quais já vemos
desenhadas e que se vão tornar cada
vez mais reais e presentes ao longo dos
próximos anos . Só nos resta esperar o
que nos espera! Só nos resta esperar que
a situação acalme e esperar pelas novidades,
Condução autónoma
Um carro conduzir sem condutor é o
sonho de muitas pessoas. A condução
autónoma será uma evolução do futuro,
claro que tudo depende dos automóveis
assim como das estradas. Uma coisa
posso garantir os novos automóveis já
estão preparados. A interacção entre os
condutores e os carros do futuro é um
dos tópicos mais interessantes da evolução
que se prevê para os próximos anos.
De momento os carros lançados actualmente
já estão equipados com componentes
capazes de correr diagnósticos
do veículo, no futuro prevê-se que estes
computadores consigam controlar os
veículos.
Aluadamente os veículos já estão equipados
de vários assistentes, o cruise-
-control, o estacionamento automático
ou a travagem de emergência, falamos
de veículos autónomos, capazes de fazer
uma viagem do início ao fim, teoricamente
no futuro a carta de condução
não será necessária. Podemos mesmo
dizer que pode fazer uma viagem a dormir
ou até com a presença de álcool no
sangue, seria uma inovação muito útil?
Novas Tecnologias
As modernices já invadiram as estradas:
cada vez mais os carros vêm equipados
com acesso a aplicações que permitem
navegar, ouvir música e fazer pesquisa
por voz, entre outras funcionalidades.
Nos próximos anos prevê-se uma evolução
desta forma de comunicação.
Para tudo isto funcionar, nem tudo depende
dos Automóveis, como também
os semáforos e a sinalização rodoviária
vão poder comunicar entre si para
melhorar a gestão do tráfego. As novas
tecnologias trarão muitas vantagens,
poupar energia, prevenir acidentes a
ajudar as autoridades a manter a organização
e a garantir a segurança do condutor,
dos passageiros e de todos ao seu
redor - dentro ou fora do carro.
Carros Eléctricos
Em breve o número de carros eléctricos
em circulação continuara a aumentar e
tudo indica que esta será a energia rodoviária
predominante. Já há vários os
países que anunciaram a proibição de
venda de carros a combustível ou diesel
durante a próxima década, e tudo indica
também que esta tendência se alastre,
principalmente nos países desenvolvidos.
Um futuro mais ecológico está cada vez
mais presente, uma meta para os carros
do futuro é a mesma da própria sociedade:
diminuir a poluição e conseguir mais
qualidade de vida e segurança.
Por estes motivos, nos próximos anos
assistiremos ao lançamento de cada
vez mais modelos de carros futuristas,
que funcionam com energias limpas. Os
postos de abastecimento de combustível
não vão desaparecer subitamente,
mas vamos começar a ver cada vez mais
dispositivos de recarga eléctrica para
automóveis.
Menos mecânica
Como podem constatar temos uma
evolução nos interiores dos carros eléctricos,
esta evolução continuará evoluir
tanto nos interiores como nos exteriores.
A revolução dos motores eléctricos
permitirá que os veículos sejam mais
compactos, favorecendo um design minimalista.
Vários mecanismos deixarão de ser necessários
por ex. O de arrefecimento do
motor de combustão, assim como os
espelhos laterais, que serão substituídos
por câmaras e sensores. Cada vez mais,
os vários componentes dos carros futuristas
vão ser desenhados com o objectivo
da multi-funcionalidade: janelas com
um controlo flexível da luz que entra no
veículo, ecrãs versáteis que favorecem o
entretenimento ou o trabalho, e espaços
que se transformam para acomodar as
necessidades dos passageiros.
Ficou curioso com os carros do futuro?
Quais as características que mais o entusiasmam?
Imagina-se deixar-se conduzir
por um veículo autónomo? São
questões que nos deixam a pensar. Cada
vez mais o futuro é incerto, mesmo no
mundo automóvel, por isso, só nos resta
esperar e ver acontecer.
O Tonio morreu
Lamentamos muito a perda
inesperada de um amigo
cheio de vida, sempre
com muito humor e alegria.
Amigo do amigo e
com um enorme coração.
Ficamos muito tristes, pensativos
e sem palavras ao
conhecer esta notícia chocante.
Aos inúmeros amigos
e em especial a toda
a familia, enviamos as
mais profundas condolências.
Descansa em Paz
grande amigo!
Vamos todos sentir a
tua falta Tonio.
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7
D.R.
Desporto
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Desporto
A um passo da final
Joge Macieira
A equipa dos veteranos +30, do Centro
Lusitano confirmou a passagens
às meias de final da med&motion Regional
Cup Senioren 30+, após vencer
em casa do Team Herrliberg-Küsnacht
nos penáltis por 5 – 6 depois do
empate a uma bola nos 80 minutos.
A equipa lusitana entrou a perder
logo aos 4' minutos de jogo, com o
Bispo aos 43' minutos de jogo com o
resultado a não ter alteração até ao
final do jogo, indo assim directo para
a decisão em penáltis.
No sorteio da taça para as meias de
final, o Centro Lusitano de Zurique
vai visitar no FC Wald no dia 31 de
Maio, a equipa que eliminou FC Wädenswil
por 4 bolas a uma, o outro jogo
da meia de final FC Red Star ZH contra
FC Wettswil-Bonstetten
A final da taça está marcada para dia
24 de Junho nos campos de Kloten,
local já habitual das finais das taças
regionais dos vários escalões.
82.ª edição do Torneio
Passo a passo, rumo à subida
Blues Stars FIFA
Joge Macieira
Está de volta após três anos sem se realizar o torneio
Blue Stars/FIFA Youth Cup, tendo este a 82.° torneio, a
organização dividida entre a equipa e a FIFA, como habitualmente
nos campos de Buchlern.
O FC Blues Stars fundado em 1989 criou o torneio no ano
de 1939 e em 1991 a FIFA juntou-se à organização e deu
ainda mais notoriedade a este torneio.
Conta no total com 16 equipas de juniores até aos 20
anos, 8 masculinas e 8 femininas divididas em dois grupos.
As equipas femininas são 4 equipas suíças; Grasshopper
Club Zürich, FC Zürich, BSC YB Frauen, FC Basel 1893,
juntamente com Valencia CF(Espanha), Olympique Lyonnais(França)
FC Rosengård(Suécia) VfL Wolfsburg(Alemanha).
As equipas masculinas que vão participar no torneio
são a equipa organizadora, FC Blue Stars Zürich, com
3 representantes suíços, o FC Basel 1893, Grasshopper
Club Zürich e FC Zürich, conta também com FK Austria
Wien(Austria) CF Valencia (Espanha) 1. FSV Mainz 05
(Alemanha) e novamente uma equipa portuguesa, o SL
Benfica.
O representante português venceu a competição em
1996, depois disso ocuparam o pódio 2 vezes em 2° lugar
e 3 vezes no 3° lugar da competição.
Joge Macieira
A equipa da 4 ª Liga visitou a casa
do último classificado o NK Hajduk
ZH no passado dia 20 de Abril no
jogo de atraso da primeira jornada da
segunda volta, conseguindo uma vitória
por duas bolas a zero.
O jogo de atraso deveu-se às más
condições meteorológicas sentidas
em Zurique no fim-de-semana de 3
de Abril com grande nevão que caiu.
A vitória da equipa Lusitana num jogo
bastante renhido e físico começou a
construir já na segunda parte com o
goleador de serviço sendo o médio
criativo Cristiano que bisou no jogo
e dando os três pontos importantes
para o objectivo da época.
Igualando o número de jogos do segundo
classificado, o FC Turkuaz ZH o
Centro aumentou a vantagem para 11
pontos uma vantagem bastante considerável
na luta pela subida à 3ªLiga
um regresso esperado após três
épocas na 4ª Liga.
Ao momento do fecho da revista(24/4)
com menos um jogo devido à equipa
do Hellas não poder jogar devido a
motivos religiosos deles, o Centro Lusitano
mantém.se isolado no primeiro
lugar no campeonato
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Carlos Esperança
A eleição do/a PR em França assume enorme importância. O
regime semipresidencial, onde o PR tem competências próprias,
nomeadamente a responsabilidade exclusiva da política externa,
faz do/a eleito/a responsável pela arquitetura da União Europeia.
Hoje, em França, esteve em jogo o futuro da UE. Sem a França
ou a Alemanha, sem um destes países, este espaço em que me
revejo, desintegrar-se-ia. Seria trágico, quando se torna urgente
o seu aprofundamento, que os nacionalismos voltassem e as
fronteiras de cada país ficassem de novo em risco.
Espanha, Itália e Bélgica podiam ser os primeiros países a desintegrar-se
e, com eles, a arquitetura europeia e a força necessária
para exigir aos estados que a compõem respeito pelos direitos
humanos e pelas regras democráticas.
Hoje, em França, a Espada de Dâmocles, posta à prova pelo voto,
esteve suspensa sobre a cabeça das democracias.
Há um alívio nos resultados. A maioria votou na democracia,
mas é perturbador que a escolha se tivesse reduzido à direita e à
extrema-direita. Era como se em Portugal, para sermos governados,
tivéssemos de escolher entre o líder do PSD e o do partido
fascista. E que brutal foi a percentagem de votos contra a democracia!
Mais de 40% segundo as sondagens â boca das urnas.
O alívio que ora sinto é a preocupação que me atormentará no
futuro. As democracias estão em risco e o êxito económico de
algumas ditaduras podem conduzir o Planeta a uma nova vaga
de regimes autoritários.
É tempo de reflexão para os que se tornam indiferentes a opções
que não sejam as suas, capazes de se absterem ou de se
vingarem, e votarem em quem, quanto pior for, melhor, com a
esperança de futuros radiosos.
Com um nó na garganta,
Viva Macron!
E de pé,
Viva a França!
Resultado:
Emmanuel Macron: 58,8%
Marine Le Pen: 41,2%
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A minha pessoa de contacto na GC24 em português
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PORTUGUESES
RESIDENTES NO ESTRANGEIRO
NÃO IMPORTA
ONDE ESTÁ.
COM A CAIXA
FICA MAIS PERTO.
Escritório de Representação da CGD - Suíça
Rue de Lausanne 67/69, 1202 Genève
Tel: Genève - 022 9080360 I Tel: Zurique - 078 6002699 I Tel: Lausanne – 078 9152465
email: geneve@cgd.pt
AVISO LEGAL: A CONCESSÃO DE CRÉDITO É PROIBIDA CASO CONDUZA A UM ENDIVIDAMENTO EXCESSIVO
(ART.º 3.º DA UWG (LEI RELATIVA À CONCORRÊNCIA DESLEAL)).
UM PRÉ-REQUISITO PARA A CONCESSÃO DE CRÉDITO É UMA VERIFICAÇÃO DE CRÉDITO BEM SUCEDIDA.
A Caixa Geral de Depósitos, S.A. é autorizada pelo Banco de Portugal.
10 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu
11
CRÓNICA
Eric Zemmour teve a complacência
de uma estação de televisão — a
CNews — que o candidato de extrema
direita começou a ter a auréola
de grande conhecedor da História de
França, apesar de apenas ter estudado
Ciência Política. Durante dois anos,
Zemmour pôde dizer o que queria
através desta televisão, durante uma
hora em horário nobre. Fez-se passar
por estudioso da literatura francesa,
invocando Victor Hugo e Napoleão,
para atacar imigrantes, muçulmanos,
feministas, a esquerda, a Justiça
e a classe política. Os olhos dele brilhavam
quando aludia à grandeza passada de
França para ter o direito de fazer julgamentos
sobre o presente.
MENTIRA:
a atracção mortal
da democracia
COSTA GUIMARÃES (*)
Pilatos diante de Jesus:
«Que é a verdade?»
João 18,38
As recentes eleições presidenciais
em França demonstraram, de forma
sustentada, que a mentira se está a
transformar numa atracção mortal
da política em democracia. Trata-
-se de um fenómeno que alastra um
pouco por toda a Europa, depois de
ter vingado nos Estados Unidos sob
a governação de Donald Trump que
encontra nas Redes sociais o terreno
fértil para medrar.
A invasão da Ucrânia pela Federação
Russa não escapa, mas as guerras
sempre mataram a verdade no primeiro
dia. A mentira chegou ao ponto
de ciar uma capa falsa para a revista
Time, a qual associa Putin a Hitler,
para denunciar a guerra na Ucrânia.
Era apenas uma montagem feita por
um designer gráfico na rede Twitter,
mas correu o mundo como sendo verdadeira.
Em França, nos últimos seis meses, as
atenções centraram-se num político
que faz da política um caminho demolidor.
Ouvir Éric Zemmour é aprender a ter
medo, ao ponto dos opositores políticos
perderem a serenidade nas resposta
e esse não é o caminho.
Eric Zemmour só encontrou quem lhe
fizesse frente quando 16 historiadores
decidiram responder-lhe através da
ciência histórica, com o folheto “Zemmour
contra a História”, de 64 páginas,
lançado no começo de Fevereiro, através
da Editora Gallimard.
Com este folheto — de grande sucesso
editorial, diga-se — os historiadores
demonstraram “por A + B” como Zemmour
distorce as fontes, as provas documentais
e a pesquisa histórica, para
ancorar a sua ideologia política de
direita em raízes alegadamente centenárias.
“Ele mente sobre o passado para fazer
com que as pessoas adoeiem mais o
presente” — afirma-se no prólogo de
“Zemmour contra a História”.
O Folheto assegura-nos também que
a Ciência se cansou de assistir, calada,
como grande parte da comunicação
social onde as redacções vão sendo
esvaziadas de memória, às tentativas
de Eric Semmour de reescrever a história
de França.
Já há uns oito anos, o candidato que
se colocou mais à Direita que Marine
Le Pen, afirmara que o Regime de
Philipe Pétain tinha salvado os judeus
franceses durante a II Guerra Mundial
(em troca de judeus refugiados para a
Alemanha). É mais grave porque, em
2014, Eric apresentava-se como jornalista
mas hoje ele é candidato presidencial
e as suas mentiras não mudaram,
mantendo-as com a mesma
sobranceria.
Em Setembro passado, recorda o Suddeutsche
Zeitung, de Munique, Zemmour
voltou a lembrar: “Vichy protegeu
os judeus franceses e entregou
os estrangeiros”. Ora isto é uma velha
rábula apenas para absolver a França
da sua responsabilidade no genocídio
dos judeus, mesmo depois de Jacques
Chirac a ter reconhecido.
Ele pretendeu re-escrever a narrativa através de
uma visão inspirada em Pétain, para libertar o
Marechal colaboracionista das suas responsabilidades.
Tentou reabilitar o Regime (de Pétain) que promoveu
a deportação de 36 mil judeus entre
Julho e Novembro de 1942 para fundamentar
a sua proposta de deportar dois milhões de estrangeiros
que hoje vivem em França.
Apenas pretende normalizar a violência do passado
para justificar a violência de hoje, seguindo
este raciocínio: “Pétain protegeu aqueles judeus
que estavam integrados na comunidade
francesa. Assim. Eric Zemmour só atacará os
estrangeiros que se recusem a assimilar a realidade
social, cultural e política francesa” (cf. Suddeutsche
Zeitung).
Os historiadores não deixaram. A brochura
“Zemmour contra a História” começa no longínquo
século V. “Não. Clóvis não foi atirado
para o caixote do lixo da História pelos historiadores.
Não, a primeira cruzada, no século
XI, não resultou numa vitória francesa e o
massacre de S. Bartolomeu, em 1572, não foi
uma reacção católica legítima ao fundamentalismo
protestante (Huguenote)” e “não foi
por culpa das vítimas que o exército francês
recorreu à tortura de civis na Argélia”.
O director da estratégia digital de Zemmour
limitou-se a dizer, perante estes factos: “não
tenho a certeza de que estes historiadores
sejam muito escutados pelos franceses”.
OUTROS ZEMOUR's
A invasão da Ucrânia pela Federação Russa
está a demonstrar que — depois da política — a
verdade é sempre a primeira vítima. Estamos a
olhar para um palco onde os combates da propaganda
têm sido tão intensos quanto os que
ocorrem nos campos de batalha.
Trata-se de uma guerra justificada, como outras,
por razões históricas — re-escrita pelos líderes
nacionalistas a seu bel-prazer. O revisionismo
histórico e a censura regressaram com
o mesmo estrondo destruidor dos mísseis de
longo alcance.
Ao longo de dois meses vimos imensos casos
de desinformação e de manipulação dos meios
de comunicação social. Aparecem oportunistas
a tentar passar vídeos históricos e até jogos de
vídeo como se fossem imagens desta guerra
em curso, mas também é verdade que as falsificações
digitais estão a ser desmascaradas
em tempo real num trabalho incansável de um
batalhão de investigadores profissionais quer
nas redacções quer em organizações de voluntários.
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13
CRÓNICA
No entanto, observa Eliot Higgins,
do site Belingcat, “houve momentos
em que parecia que a guerra da informação
seria ganha, pela primeira
vez, pelos combatentes da desinformação.
Este site começou a sua atenção
na Rússia e na Ucrânia, desde 2014,
quando começaram a investigar a
queda, no Leste deste país, em Donetsk,
de um avião da Malaysia Airlines.
Este avião que partir de Amsterdão
para Kuala Lumpur, foi abatido por
um míssil da 53.ª Brigada Antiaérea
do Exército Russo, em Kursk, a 400
quilómetros da fronteira com a Ucrânia.
O ataque matou 283 passageiros
e 15 tripulantes.
Foi uma surpresa ter-se descoberto
que o aparelho de propaganda e influência
militar da Rússia não era tão
sofisticado como se pensava. A prova
está na primeira tentativa de retratar
a Ucrânia como uma nação de
neonazis que “não passou de uma
preguiçosa reciclagem de material
obsoleto” — observa Eliot Higgins.
Há depois outra face da mentira: a
guerra de informação que a Rússia
está a travar contra os seus cidadãos
que se mostra difícil de avaliar com
rigor.
A invasão russa e as imagens angustiantes
de destruição de cidades
ucranianas criaram uma crise global
e um consenso moral que não é habitual
na era da Internet. Esta parece
ser já a primeira derrota da ofensiva
de Wladimir Putin.
NEONAZIS? TALVEZ
EM MOSCOVO
Os historiadores militares dizem que
Putin está a seguir a malfadada cartilha
de Hitler em pelo menos três
áreas. E isso é estarrecedor: afinal
não é Kiev que está pejada de neo-
-nazis.
O presidente russo, Vladimir Putin,
evoca muitas vezes a derrota épica
que a União Soviética impôs à
Alemanha nazi durante a Segunda
Guerra Mundial para justificar a invasão
da Ucrânia pelo seu país. No
entanto, segundo explicam académicos
e historiadores militares, Putin
está a cometer alguns dos erros
que condenaram a invasão alemã da
URSS em 1941 — enquanto usa “truques
e tácticas de Hitler” para justificar
a sua brutalidade.
Esta é a ironia selvagem por detrás da
decisão de Putin de invadir a Ucrânia,
que fica clara quando a guerra entra
no seu terceiro mês: o líder russo, que
se apresenta como um estudante de
História, está a tropeçar nos seus próprios
pés de barro porque não prestou
atenção suficiente às lições do
"Grande Guerra Patriótica" de que é
admirador reverente.
“Estou a tentar entender isto há um
mês, porque, por mais terrível que
Putin seja, nunca poderia dizer que
ele era ilógico”, afirma Peter T. De-
Simone, professor associado de História
da Rússia e do Leste Europeu
na Universidade de Utica, em Nova
Iorque, citado pela CNN, no dia 3 de
Abril.. “Tudo isto é ilógico, e isso é
assustador”, acrescenta. “Isto não é
normal em face do ele fez no passado.
Isto não faz sentido nenhum
a muitos níveis, e não apenas em
relação à Segunda Guerra Mundial”.
E a Ucrânia não faz
propaganda?
É claro que a Ucrânia tem os seus
objectivos de propaganda e as contas
dos seus governantes nas redes
sociais ajudam a ampliar histórias
de veracidade questionável, como
aquela notícia — comprovadamente
falsa — de treze soldados ucranianos
a defender a ilha de Zmiinyi, no Mar
Negro que teriam sido mortos por
militares russos.
O mesmo se pode dizer da foto da
primeira piloto de caça ucraniana
morta durante a agressão russa. Afinal,
a aviadora Nadia estava viva e a
foto era de Olesya, vencedora de um
concurso de beleza do Ministério da
Defesa Ucrânia, em 2016.
de oito anos, apresentada como sendo
ucraniana, a ameaçar um soldado
armado? A cena é verdadeira, mas
ocorreu na Cisjordânia, há dez anos,
quando a jovem palestiniana enfrentou
um soldado israelita.
E querem mais? Um vídeo anunciou
um dos “primeiros atentados na
Ucrânia” e foi visto por mais de dez
mil pessoas no Facebook. A Agência
AFP estudou o caso e confirmou que
era um vídeo publicado em 2021, na
rede Tiktok, mas retratava uma forte
tempestade numa cidade da Rússia,
em Voljsk.
Mas há mais. A 1 de Março, Volodymyr
Zelensky acusou a Rússia de
ter bombardeado o Memorial Babi
Yar, onde 33 mil judeus ucranianos
foram assassinados, em 1941. Começou
a circular a notícia de que aquele
local tinha sido destruído. Mas não.
Os obuses atingiram a torre de televisão
e o parque ficou intacto, como
se observou depois numa visita de
jornalistas da Agence France-Presse
e do Le Monde.
Concluindo: há muito que a censura
e a propaganda são armas de guerra
tão importantes como os canhões,
os aviões e as bombas ou mísseis. Tenhamos
consciência disto. É um belo
princípio para percebermos melhor
o que está a acontecer.
Sim, ajuda-nos a entender um discurso
desordenado, incoerente e furioso,
difícil de entender que veicula
uma visão sombria de renovação da
glória nacional da grande Rússia. Foi
o que fez Wladimir Putin, a 21 de Fevereiro,
quando anunciou a invasão
da Ucrânia.
Putin ainda pensa que é possível
controlar a História, misturando
meias-verdades, fantasias e mentiras,
por omissão.
Mas esta — tal como Eric Zemmour
— é mais uma versão simplista do
futuro: uma versão em que todos os
chamados russos, incluindo os ucranianos,
são obrigados a curvar-se perante
o poder de um império (que já
foi e não é) e de um imperador que
não é (e não foi).
Perante os factos que vivemos, a melhor
pergunta a fazer ainda é a de
Pilatos, há dois mil anos, no Sinédrio
de Jerusalém: “Que é a verdade?”
A verdade é que Pôncio Pilatos ficou
sem resposta.
João Nabais:
“É necessário que todos os intervenientes
da justiça tenham
presente que o cânhamo é uma
planta diversa da canábis”
Laura Ramos
João Nabais é um nome incontornável
da advocacia em Portugal e assumiu
a defesa de Patrick Martins,
fundador da Green Swallow e presidente
da ACCIP – Associação dos Comerciantes
do Cânhamo Industrial
de Portugal, no processo em que foi
constituído arguido pelo “crime de
tráfico de estupefacientes”. Patrick
vendia na sua loja produtos derivados
do cânhamo industrial, com menos
de 0,2% de THC. O processo foi
arquivado por “não existirem indícios
suficientes da prática de um crime” e
o Ministério Público não recorreu da
decisão instrutória do Juiz do Tribunal
de Instrução Criminal, Carlos Alexandre.
Nascido em 1955, João Nabais trabalhou
em alguns dos casos mais mediáticos
da Justiça portuguesa, entre eles
o processo das FP-25 ou o da queda da
ponte Hintze Ribeiro. Foi presidente da
DECO — Associação Portuguesa para a
Defesa do Consumidor — e fundou, em
1993, a sociedade de advogados João
Nabais e Associados, com escritórios
em Lisboa, Porto e Algarve. Participa
ainda, pontualmente, como comentador
em programas televisivos, sendo,
por isso, bastante reconhecido pelo
público português.
Falámos com João Nabais para perceber
melhor o que representa esta decisão
instrutória, determinada pelo Juiz
Carlos Alexandre a Patrick Martins.
O que representa o arquivamento
deste processo, tendo em conta que
o cânhamo é uma questão que tem
gerado bastante controvérsia?
Esta decisão tem uma enorme importância,
não só para o nosso cliente, mas
também para o sector do cânhamo industrial,
uma vez que configura uma
primeira apreciação, que tenhamos
conhecimento, de um juiz de instrução
do Tribunal Central de Instrução
Criminal de Lisboa acerca da licitude
do comércio destes produtos em Portugal.
Aliás, a decisão é absolutamente
clara e vai para além das questões processuais
levantadas no requerimento
de abertura de instrução, pronunciando-se
no sentido de considerar que a
legislação comunitária é plenamente
acolhida em Portugal e, como tal, deverá
ser cumprida.
Na sua opinião, isto abre um precedente?
Ou seja, fez-se jurisprudência
em relação a outros casos idênticos?
Não é possível fazer jurisprudência de
uma decisão instrutória, que apenas
vincula o caso concreto. Não obstante,
não deixa de ser importante para outros
processos-crime, em tudo idênticos
a este, na medida em que se verifica
existir uma apreciação prévia de um
tribunal sobre esta mesma matéria, independentemente
das vicissitudes de
cada caso em concreto. Esta decisão é,
além do mais, importante para firmar
a convicção das autoridades judiciárias
em Portugal de que estas situações
não podem ser, pura e simplesmente,
reconduzidas aos crimes consignados
na Lei 15/93, de 22 de Janeiro e da Portaria
94/96, de 26 de Março, porquanto
se trata de produtos efectivamente
distintos, muito diferentes dos estupefacientes
sancionados no âmbito daqueles
diplomas legais.
CRÓNICA
Direito
João Nabais, Advogado de Patrick Martins no caso da Green Swallow. Foto: D.R
relativas ao cânhamo e produtos derivados
no futuro?
Em termos jurídicos, as questões relacionadas
com a venda, comercialização
e importação de produtos derivados
de cânhamo deveriam ser tratadas
e apreciadas à luz dos normativos europeus,
que já se encontram em vigor,
e que, além do mais, definem esta
espécie de planta como uma espécie
agrícola, introduzida no âmbito da
Política Agrícola Comum. Como tal, é
necessário que todos os intervenientes
da justiça tenham presente que se
trata de uma planta diversa da planta
canábis e, como tal, obedece a uma
regulamentação específica, cujo cultivo
e venda se mostram permitidos e,
nessa medida, afastá-la do catálogo
dos denominados produtos estupefacientes.
Por fim, iure condendo, considero
que seria mais fácil terminar com
toda esta controvérsia se o legislador
português estiver disposto a publicar
um diploma claro e explícito que, à
luz da regulamentação europeia, defina
e estabeleça as regras de cultivo
e comercialização de cânhamo industrial,
uniformizando assim a legislação
aplicável no âmbito deste sector
e permitindo aos produtores competir
de forma equiparada com os restantes
mercados europeus.
Acha que isso é possível? O que é necessário
fazer em Portugal para que
se chegue a esse ponto?
Possível é, aliás é esse caminho que o
sector tem promovido junto dos partidos
políticos e das entidades que intervêm
directamente com este ramo
de actividade. Mas certamente não
será um caminho fácil e menos célere
do que desejaríamos.
(*) António Costa Guimarães, é
E que dizer da foto daquela menina Jornalista, foi Capelão Militar e
Numa perspectiva jurídica, como deveriam
ser tratadas estas questões
Director do jornal Correio do Minho.
Escreve segundo o AO
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15
“Do Nosso Cantinho para o Vosso Cantão”
Literatura
Aragonez Marques
Este mês ofereço uma história das
minhas aventuras pelo Oriente que
faz parte do livro de contos “O Que
Foste lá Fazer?” sobre Timor-Leste.
As
Freiras
Aragonez Marques
As cadeiras de bambu têm sobre elas,
almofadas compradas perto. Vendem-
-se na plantação de casitas de artesanato
ao lado das gigantes bananeiras
de fruto pequeno e doce que aproveitam
os passantes, ou passeantes que
param, frente à fortaleza portuguesa,
canhões enferrujados virados para o
vasto e ritmado azul. O mar, esse mar
incomensurável, arrastava-se até às
ilhas indonésias que se avistavam e
mudava de cor, azul petróleo, álcool
ou céu, às vezes verde, tons escuros,
raiados pelo branco das ondas baixas
mas fortes, como os homens, embrulhando-se
cadenciadamente nas pedras
soltas da praia de areia negra mas
suave, como os cabelos das crianças,
mexendo-se na insegurança dos corais
cortantes, cores vivas e abrigo de peixes
pintados de arco-íris, como os “tais”
coloridos das mulheres da ilha.
Do lado de cá do baile do mar com a
praia, antes das casitas, atravessa-se a
estrada, passa-se a fortaleza, a montanha
sobe sem alcatrão e visita o café,
a canela e o ananás, que o Avô Serra
metia na mesa, servido de histórias e
de palavras de tempo, que confundem
o homem velho e sábio, com a história
de Timor, o homem (hoje já falecido)
com raiz portuguesa que chegou
há muito e ficou, como o crocodilo da
lenda.
Carlos Novais tinha ido de Liquiçá a
Maubara, numa “microlete” que mandou
parar e que não gritava “Díli, Díli,
Díli” mas “Bara, Bara, Bara”, pequenina,
peluches cobrindo o tablier tapando
o vidro da frente, já só meio, pelo autocolante
do Barcelona que cobria a
metade superior e rivalizava com um
Cristiano Ronaldo pintado nos laterais
exteriores. Porta aberta com dois
rapagões de bronze, cabelos atados e
chinelos, meio dentro meio fora, pendurados,
porque dentro iam senhoras
tímidas, peles sofridas pelo sol e
trabalho, dentes vermelhos da última
masca, “tais” sujos de pó, mas pés com
asseio, unhas cortadas e bicos de galinhas
que espreitavam por baixo dos
assentos.
“Bara, Bara, Bara” e parou como um regaço
fresco na estrada quente. Carlos
entrou e com ele o colega com quem
tinha combinado visitar Maubara, romper
a clausura da ilha em que sentia
a sua escola e respirar, outro ar, longe
das obras poeirentas que atravessavam
a localidade onde estava, desde
que o avião o deixou naquela aventura,
e só regressaria para o levar, com
os reis magos, pelo natal, para poder
estar a horas no presépio da sua casa.
Tinha Maumeta, o suco onde morava,
praia também, baleias à vista algumas
vezes, golfinhos quase sempre, crocodilos
não se pensava nisso, mas estava
muito próximo da escola onde estava
há pouco mais de um mês, a gosto
quando o trabalho era a gosto, forçado
quando lhe começaram a forçar o
gosto. Mesmo o amor passa a desamor
quando obrigado sem obrigado, e não
precisava que lhe agradecessem, bastava
que o deixassem fazer o que sabia,
aliás, julgo que a única coisa que
julgava saber fazer, ser professor, dar e
receber todos os dias. Despistar nortes,
emprestar rumos e receber outros saberes,
emprestar uma bússola, falar da
estrela polar, e receber, nem que fosse
um sinal de fumo ou de bandeiras,
compensada com a visão do cruzeiro
do sul. Afecto só sentia o de alunos,
pais e funcionários, porque os nortes
que eram dados por quem levava o
leme, afastava a nau da terra, no convencimento
de que os instrumentos de
orientação de bordo, porque importados,
eram seguros, infalíveis mesmo,
e o pior, inquestionáveis, e se falhavam
as velas pelo óbvio, tudo a remar,
transformando a nau em galé. Ambos
estavam a precisar de sentir a parte de
fora, aquela outra vida que não parava,
diferente, desconhecida para eles,
misteriosa, feiticeira, como alguém lhe
chamara. Saíram assim para a parte de
fora da galé, sem tambores, e soube-
-lhes bem o ar, o mar e as gentes que
falavam de outras coisas que nunca tinham
ouvido, de outra forma, línguas
que nunca tinham escutado, de outras
maneiras de sentir, formulários que tinham
necessidade de preencher sem
ser os outros, aqueles que faziam cumprindo,
e a que nem sequer, se atreviam
a perguntar para que serviam?
Talvez agora, não repetissem aqueles
coelhinhos de uma Páscoa, celebrada
ali de outra forma, feitos de embalagens
vazias de iogurte e de saberes de
rua, importados para uma escola de
um país, onde os coelhos são tão conhecidos
como os pinguins em África.
Claro que se tinham que misturar, de
conhecer cheiros e risos e descobrirem
que a lua ali não é mentirosa, porque
naquela tarde a viram em forma de
barco e na anterior de fatia de melão,
quais quartos crescentes e minguantes?
Qual quê? E as fichas? A praga das
fichas? Com feiras e carrosséis, meninos
loiros e algodão doce nas mãos? E
os exames? Fechados e dignos, desenhados
em segredo por adultos “especialistas”
para terem um resultado de
espionagem secreta para saber o que
os meninos não sabem em vez de os
estimularem pelo que aprenderam?
Demasiado fechados, policiados, ritualistas.
- Estamos a falar de crianças Carlos?
- Pois, o problema é esse, é que estamos
a falar de crianças.
Estava decidido, tinham que começar
a sair! A estrada de Liquiçá para Maubara
é uma língua recente, salpicada
de animais que dão cor ao alcatrão
novo como o novo país, animais que
estavam antes das máquinas lhes tirarem
o espaço e agora, que as máquinas
partiram, o reocuparam, e usam-
-no, com tempo, com todo o tempo do
dia e da noite.
- Olha Carlos, a Lagoa.
À esquerda, uma manta líquida, espelho
de uma família de pelicanos que se
duplicavam no reflexo da água, limpa
hoje, outrora manchada de vermelho,
que a metralha castigava com a vida,
um povo que queria ser país.
_ É por isso que se chama Lagoa Vermelha?
O silêncio respondeu que sim, o espelho
de água reflectiu a paz, e o voo dos
pelicanos mostrou um país. Maubara
apareceu de repente, com as suas casotas
de artesanato, a fortaleza de canhões
enferrujados apontando para o
mar, hoje sem medo do que as ondas
lhes trazem. A microlete parou, Carlos
perguntou a que horas havia uma
de regresso, em português, nada, em
inglês, igual, gestos, dedo indicador
apontando o relógio, mão aberta para
dizer cinco horas, arranhou tétum,
também não. O timorense pequenino
mostrou os dentes brancos num sorri-
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17
Literatura
Literatura
so de entendimento, sim, disse, Carlos
Novais mão aberta e dedos esticados,
cinco horas, ele respondeu sim
de novo, e tornou a responder sim a
tudo, sempre com um sorriso de que
finalmente entendera. Gustavo, olhar
de observador soltou, parece que percebeu,
vem às cinco. Carlos Novais fez-lhe
adeus, o timorense também e a
microlete envolta em fumo de escape
voltou para trás. Missionariamente (o
adjectivo existe porque o criei na liberdade
que a escrita me dá para inventar)
Carlos comentou: Acabamos
sempre por nos entender - e ficou a
olhar o mar. A tarde passou, cinco,
cinco e meia, seis horas e Gustavo na
estrada suspirou com ironia: Acabamos
sempre por nos entender – Carlos
não respondeu, apenas pensava
que a noite estava a chegar e tinham
que regressar.
- Vem aí uma Toyota de caixa aberta,
nova, aposto que tem ar condicionado.
Nasceu a esperança e fizeram sinal
para que parasse, ao longe, bem antes
de estar junto deles.
- Eh pá, espera, não a mandes parar,
porra, vem carregada de freiras!
Era tarde por um lado, mas por outro
parecia que estava a abrandar. E
abrandou. E parou, não por eles, mas
porque três homens carregados com
um enorme cacho de bananas também
lhes fez sinal.
- Para as meninas do orfanato.
Começaram a atar o cacho pendurado
na traseira.
Carlos Novais contou sete freiras na
parte cabinada e cinco, bem mais
novas, juvenis até, na parte aberta da
carrinha.
- Vamos lá?
- Não temos nada a perder.
Aproximaram-se da madre e perguntaram
se podiam ir com elas para
Liquiçá. Desconfiadas, dois homens,
um corpulento, o outro barbudo, a
sorte parecia perdida quando uma
delas com sotaque espanhol disse:
_ Está cheio!
Carlos Novais puxou dos galões de
homem sério, casado, pai de filhos,
professor, honesto, incapaz de uma
má palavra, muito menos de um mau
gesto.
_ A irmã é espanhola? A minha esposa
também. Vem a Timor em Agosto…
Milagre.
A sua ordem também era, iam receber
a visita de uma sua superiora,
que bom era mulher do Carlos ser
espanhola… Aproveitando a embalagem
Gustavo disse “espanhola e professora,
até podia ensinar castelhano
enquanto aqui estiver, de forma voluntária,
às meninas do orfanato, ou
às irmãs que quiserem”. Carlos olhou
para ele, que nem tão pouco a conhecia,
mas com a noite a cair, confirmou,
que sim, poderia fazê-lo e também
chinês e grego e latim, por favor, que
os tirassem dali.
_ Têm é que ir atrás, com os mantimentos.
_ Não faz mal, muito obrigado (lembrou-se
que eram freiras) Deus vos
pague.
Gustavo, ágil, saltou para a caixa, já
Carlos Novais teve que ser puxado,
julga mesmo que também empurrado,
pelos três homens que tinham
acabado de atar as bananas. Deu-se
conta que estava dentro quando caiu
redondo e com estrondo no meio
dos sacos de batatas, hortaliças, duas
galinhas, um cabrito de patas atadas
com arame e ele ali, agora sentado,
cabelos ao vento, com as noviças
rindo do espectáculo que se lhes
oferecia. A Toyota avançou, as freiras
mais velhas na cabina, atrás na caixa
Carlos, Gustavo, e as freiras novinhas
que riam, com as mãos na boca, e falavam
tétum entre elas, entremeado
com gargalhadas, que tudo indicava,
seriam de gozo perante aqueles “malaes”,
que se tinham junto aos mantimentos.
Carlos Novais tentou colocar
ordem na viagem e perguntou:
_ Vamos cantar?
_ Sim, Sim…
Puxou então das suas memórias religiosas,
de quando se vestia de acólito,
aos Domingos, na sua paróquia
de S. Lourenço em Portalegre, as namoradas
que não sabiam que eram,
apenas desconfiavam, lindas e vestidas
de novo, as gentes perfumadas
esperando a saída para o encontro
na porta da igreja, naquela missa do
meio-dia que marcava a Cidade como
um ritual. O padre como rei, ele como
pajem branco, levando-lhe as armas
para aquele enorme campo de prisioneiros
arrependidos, de joelhos, mãos
postas, mas perdoados quarenta minutos
depois para brilharem no alto
da escadaria da igreja, naquele ritual
de cores, de sorrisos de festa culminante
de uma semana, passada no
cinzentismo de sete dias iguais, onde
nada acontecia. Em segundos percebeu
que nenhuma canção desse
tempo, com cheiro a incenso, medo e
bafio, era apropriado perante religiosas
tão novas e lembrando-se de anos
mais tarde, pensou em canções mais
modernas, de quando um concílio
lhe mudou os Domingos, arrumando
os véus negros, o órgão queixoso que
nem parecia instrumento de música
e trazendo as guitarras (nada tenho
contra os órgãos, o Toy Eustáquio
que me perdoe, embora tenha optado
pelas cordas nos últimos tempos),
as palmas, os abraços e a festa, para
dentro da mesma casa, com as velhas
beatas a resmungar, mas cantando,
tentando acompanhar as ordens do
tempo, embora continuassem a cheirar
a velas e a azeite e a imprimir lentidão
nas melodias.
Foi então que Carlos Novais ganhou
coragem e começou cheio de esperança,
voz bem colocada, festivo, com
palmas a acompanhar:
_ Tenho um Amigo que me ama, que
me ama, que me ama…
Correu bem, todas cantaram, mas
sem muita alegria.
Carlos começou logo outra:
_ Sou Pescador, do mar da Galileia,
deixa o teu barco …
_ Não, Não, Não…
Ó diabo, se calhar a letra não era
aquela, as freirinhas não gostavam e,
só entendeu o motivo, quando uma
disse alto:
_ Júlio Iglésias, Júlio Iglésias… - e as
outras em coro e alvoroço:
_ Sim, Sim, Sim…
Antes que o Sol se
apague
Antonio Manuel Ribeiro
Não consegui continuar a leitura do
livro “Não Em Nome de Deus”. Por
duas vezes tentei, viajou comigo até
França, assustou a jovem a meu lado
no regresso, tanto ou mais que o Airbus
ao entrar no corredor que cruza
o Tejo e sobre as sete colinas abanou
as asas (e o resto) por via dos reflexos
diferenciados da pressão atmosférica
que as construções sobre a cidade
produzem: ontem fartei-me do
livro, estava a mastigá-lo.
Esperava algo diferente, mas é uma
estória interpretativa (e bem documentada)
sobre a história do judaísmo,
cristianismo e islão. Parte
do princípio que ‘Abraão falava com
Deus e dele recebia indicações’ e
tudo se resume à civilização conforme
a conhecemos e às diferenças
sociológicas (afirmação minha) que
determinam o (ainda) combate entre
alguns. Há partes interessantes,
mas o resto é dogma e destes estou
cansado.
Agarrei no “Dispersos I – Literatura”,
do José Cardoso Pires, uma edição
de 2005 que me foi oferecida (por
quem não me lembro), da Dom Quixote.
E assim regresso às aulas sobre
bem pensar e bem escrever (ainda
me lembro de o ver na ‘minha mesa’
ao fundo a olhar o mar no restaurante
Carolina do Aires – o António Lobo
Antunes também por lá aparecia,
até que um falhado plano Polis arrasou
o edifício icónico de madeira
e normalizou os restaurantes nos actuais
caixotes)
(Chove maravilhosamente por estes
lados)
Últimas aquisições:
Música: CD Eros Ramazzotti – “Duets” (2017); CD – Placebo – “Never
let me go” (2022)278963032_10220411891586755_330210199453614
3268_n.jpg ¬
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19
Espectáculo
Espectáculo
Festival Compact Records
com bandas de luxo em três dias de música
UHF.
TAXI
dEUS
EDITORS
Joaquim Galante
GIFT
LAST
INTERNATIONALE
OMD
HUMAN
LEAGUE
Legendary
Tigerman
MÃO
MORTA
O festival Compact Records Fest’22
trouxe à Maia, três dias de música, de
18 a 20.03, e um alinhamento de luxo
no que a bandas diz respeito. Sem
esquecer o conflito na Ucrânia, a organização
do festival doou parte das
receitas para ajudar os refugiados em
Portugal.
A celebrar 25 anos de actividade comercial,
a Compact Records quis assinalar
a data com concertos de música
pop/rock trazendo bandas do topo nacional
e internacional.
Em cartaz, formações que foram Top
no anos 80, estou a falar de Human League,
banda formada por Philip Oakey
que nos traz logo à memória as canções
‘Mirror Man’, ‘Fascination’ ou ‘Human’,
entre muitas outras, e a sua parceria
com Giorgio Moroder em ‘Together In
Electric Dreams’, e dos OMD (Orquestral
Manoeuvres in the Dark) com Andy
McCluskey e Paul Humphreys, membros
fundadores da banda em palco,
lembrando canções como ‘Enola Gay’
ou ‘Souvenir’, ambas bandas britânicas
formadas no final dos anos 70.
O que sobressaiu nestes dois concertos
foi a (ainda) qualidade vocal, jovialidade
e agilidade que os intérpretes destes
dois grupos demonstraram em palco,
levando a plateia ao rubro, onde a
maioria nem sequer era nascido quando
estas bandas atingiram o auge do
sucesso.
Os Human League e os OMD fecharam
o primeiro e o segundo dia do festival
Compact Records que contou ainda no
primeiro dia com os The Gift, banda de
Alcobaça, com quase 30 anos de carreira,
liderada por Sónia Tavares e que
dispensa apresentações, que tocaram
temas de sucesso como ‘Fácil de Entender’,
‘Driving You Slow’, ‘Clássico’ e
muitas outras.
O segundo dia abriu com os americanos
The Last Internationale, um grupo
de hardrock, liderada por Della Paz,
que estenderam a passadeira a duas
bandas que marcaram a história do
rock em Portugal, estou a referir-me
aos TAXI e aos UHF, dia que fechou com
os OMD. Adiante iremos falar detalhadamente
sobre este momento, para
mim, histórico.
No último dia estiveram em palco os
‘The Legendary Tigerman’, banda formada
por Paulo Furtado, precisamente
há 20 anos, que conta com inúmeros
sucessos comerciais, numa mistura de
vários géneros musicais que vão desde
o pop/rock, ao blues rock.
Em seguida os Mão Morta, liderada
por Adolfo Luxuria Canibal, com quase
40 anos de carreira, conta ainda com
Miguel Pedro como membros fundadores,
depois da saída do mentor do
projecto Joaquim Pinto em 1990, com
um estilo pós-punk/death rock, sempre
bem expresso pelo vocalista, com as
suas coreografias em palco, dando-nos
a imagem de um zombie.
Os britânicos Editors, banda consagrada,
com duas décadas de actividade e
inúmeros sucessos musicais, num estilo
indie/pos-punk, trouxeram inúmeros
fãs que lotaram o pavilhão do complexo
desportivo para ouvir ‘Papillon’ ou
‘Sugar’, por exemplo. A fechar o festival
estiveram os belgas dEus, um grupo de
indie/art rock com mais de trinta anos
de palco e que tocou temas como ‘Roses’
ou ‘Instant Street.
A actuação dos TAXI mostrou um João
Grande em boa forma, os anos não passaram
por ele, a agilidade e irreverência
em palco, sempre foi a marca do
vocalista portuense, fora do palco é o
oposto, um homem calmo, metódico
e concentrado, sendo acompanhado
pelo baixista Rui Taborda, também ele
membro fundador e mais três músicos
que compõe o grupo.
Os TAXI são quanto a mim um fenómeno,
não tanto de popularidade, mas
de musicalidade. Quem acompanhou
a história do grupo sabe dos problemas
que, inerentes ao sucesso, foram
acontecendo no seu trajecto, chegaram
a pensar em desistir, felizmente
não aconteceu. No sábado durante
a sua actuação, e num regresso a um
grande palco, transmitido em directo
na rádio M80, no alinhamento apenas
constavam canções que foram êxitos
há 40 anos atrás, o público que enchia
o pavilhão, sabia as letras de todas as
canções, fazendo coro com o vocalista.
Impressionante como a sonoridade
destes músicos virtuosos atravessou
gerações mesmo sem serem presença
assídua nas rádios.
Num alinhamento que contou com os
principais êxitos dos TAXI, onde faltou a
‘Hipertensão’ e um tema ou outro ao álbum
‘The Night’, estou a lembrar-me de
‘Dance, dance, dance’ um grande trabalho
discográfico dos TAXI que teve pouca
divulgação, mas com apenas uma
hora de palco não se podia pedir mais.
Destaque ainda para a homenagem às
vítimas da guerra na Ucrânia, feita por
João Grande, com a bandeira deste país
enrolada ao corpo na apresentação em
palco, assim como o lançamento de
papelinhos azuis e amarelos durante a
canção ‘Chiclete’ a encerrar o concerto.
20 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu
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Espectáculo
Alinhamento: Cairo – TVWC – Queda
de um Anjo (Rosete) – É-me Igual – Não
Sei Se Sei – 1, 2, Esquerdo, Direito – Sozinho
– Fio da Navalha – Sing Sing Club
– Meu Manequim (c/Francisca Oliveira)
– Ás dos Flippers – TAXI – Vida de Cão
– Chiclete
Os TAXI deram então lugar aos UHF
no palco do complexo desportivo da
Maia. Cheios de predicados, não tenho
adjectivos que cheguem para classifica-los,
os UHF superam-se em cada
grande concerto que dão. Com a saída
de Luis Simões ‘Cebola’, baixista da
banda, foi a estreia de Nuno Correia
num grande concerto dos UHF e esteve
em grande nivel.
Os UHF abriram as ‘hostilidades’ com
a música ‘Ucrânia Livre’, em homenagem
às vítimas da guerra na Ucrânia,
‘parece uma ofensa ao povo ucraniano
estarmos aqui a divertirmo-nos enquanto
eles sofrem, mas a música leva
mensagens de paz, harmonia e união.
É a pensar neles este concerto’, disse
AMR no palco da Maia.
No alinhamento, onde faltaram inúmeros
sucessos musicais, numa hora
era impossível cantar todos, não faltaram
os ‘Cavalos de Corrida’ e ‘Rua
do Carmo’ temas emblemáticos que
marcaram o início da carreira. Sempre
sóbrio, comunicativo e interventivo,
AMR tocou a todos com a sua voz forte,
com um timbre diferenciado e único,
colocando os fãs, que encheram o
espaço, a cantar, saltar e vibrar com as
suas músicas.
Apoiado pela guitarra de Sergio Côrte-Real,
que deu um espectáculo em
palco, um pouco em contraste com o
baixista Nuno Correia, não na qualidade
que é muita, mas na exuberância,
talvez mais contido por ser a sua estreia
nos UHF nestes ambientes, e na
bateria por um sempre excepcional
Ivan Cristiano, AMR é a voz e o rosto
dos UHF.
Alinhamento: Ucrânia Livre – O Vento
Mudou – Rapaz Caleidoscópio – Matas-
-me Com o Teu Olhar – ‘Bora Lá – Vejam
Bem – Modelo Fotográfico – Brincar no
Fogo – Um Copo Contigo – Cavalos de
Corrida – Nove Anos – Rua do Carmo –
Acende Um Isqueiro – Menina
O Compact Records
Fest’22 escreveu um
capítulo na história do
rock português
Os TAXI e os UHF são as duas principais
bandas impulsionadoras do rock cantado
em português, até então achava-
-se que tal não seria possível, estávamos
no final dos anos 70 inícios de 80,
em que se vivia um período pós-revolucionário,
de juventude irreverente.
De repente soa nas rádios nacionais
‘Chiclete’ e ‘Cavalos de Corrida’, o que
é isto?! perguntávamos nós. Era o início
daquilo que seria uma nova era na
música nacional e que tudo mudou,
musicalmente falando.
Foi o denominado ‘boom do rock cantado
em português’ com o lançamento
dos álbuns ‘TAXI’ e ‘À Flor da Pele’, já
agora fazendo justiça à história, ‘Ar de
Rock’ de Rui Veloso, que rapidamente
atingiram a marca de discos de ouro
tendo o ‘TAXI’ sido o primeiro.
Não vou contar aqui a história dos
TAXI ou dos UHF para isso remeto-os
para as entrevistas que fiz a João Grande
e a AMR, o que pretendo é assinalar
o momento em que se fez história no
Compact Records, na Maia.
Na época, estamos a falar do início dos
anos 80, havia uma grande rivalidade
entre os TAXI e os UHF, disputavam
tudo ao pormenor, desde a montagem
do som, sequência em palco, ambos
queriam fechar a noite musical e até
no alinhamento do cartaz a promover
o evento havia discussão, quem estava
em mais destaque, tinha letras maiores
ou ficava por cima. Era a rivalidade
norte/sul alimentada em grande parte
pelas editoras.
Hoje grandes amigos, João Grande e
António Manuel Ribeiro, vocalistas das
suas bandas, tiveram trajectos diferentes,
os UHF tocam há mais de 40
anos ininterruptamente fazendo deles
a banda de rock com maior longevidade
em Portugal, os TAXI tiveram um
percurso intermitente, regressando há
uns anos para o que parece ser um regresso
definitivo aos palcos. A música
portuguesa agradece, nós agradecemos,
eu agradeço.
O momento histórico que eu muito
ansiava, como fã adolescente que vibrou
com o lançamento dos primeiros
álbuns deles, não é apenas porque
com orgulho posso dizer que sou amigo
de ambos, nem tão pouco porque
fui o fotógrafo oficial dos dois grupos
neste concerto, mas sim porque 40
anos depois estas duas bandas pisaram
o mesmo palco, uma a seguir a
outra, agora sem rivalidade e com
muita amizade. É uma alegria enorme
ver os TAXI de volta aos grandes palcos
e poder estar presente.
Quando lançaram os seus sucessos
musicais, tinha 15 anos, nunca imaginaria
que 42 anos depois estaria a
vivenciar com emoção, embora com
alguma nostalgia e certo saudosismo,
o renascer de uma época. Espero em
breve poder estar de novo em grandes
concertos com eles, é um sinal positivo
para a o rock português.
A propósito quis saber do João o que
representou para ele este concerto.
FOCUSMSN: João, o que representou
para ti este concerto em ambiente de
guerra na Europa, acumulado com
uma pandemia, e poderes sentir 40
anos depois as emoções de estares no
mesmo palco com os rivais de outrora.
Que imagens te passaram pela mente?
João Grande: Respondendo à tua pergunta
e francamente, não pensei em
nada. Sempre que subo a um palco,
estou incrivelmente focado para que
tudo corra bem. Não entram mais nenhum
pensamento a não ser a reacção
do público. E não parecendo, estou
atento ao mais ínfimo pormenor.
Inicialmente, tínhamos combinado
um dueto com o AMR durante a nossa
actuação e depois outra durante os
UHF. Mas por falta de tempo e ensaio,
não foi possível. É claro que fomos
assistir a parte da actuação dos UHF,
mas eu não sou nada saudosista. Para
mim, e neste momento, os TAXI e os
UHF são duas bandas que co-existem,
com muitos projectos para o futuro,
com a grande diferença face ao passado,
que haverá sempre muitos abraços
e provas de amizade.
Quanto à guerra, ninguém em seu perfeito
juízo, consegue ficar indiferente e
não ajudar de alguma maneira a nação
ucraniana. Foi de facto o que me
passou pela cabeça quando comecei
o concerto, envergando a bandeira da
Ucrânia. Quase que pedimos desculpa
por nos estarmos a divertir, enquanto
está a decorrer uma guerra terrível
como aquela. É nossa obrigação chamar
a atenção de toda a maneira possível.
Alphaville
trouxe a Juventude Eterna
ao Coliseu de Lisboa
Joaquim Galante
O Coliseu de Lisboa encheu para ver e
ouvir uma das bandas mais marcantes
do synth/pop dos anos 80. Refiro-me
aos Alphaville, uma banda formada
em 1982, que se apresentavam com
um ‘look’ futurista e arrojado próprio
daquela época.
Os anos passam por todos nós e Marian
Gold, o único membro fundador
da banda em palco, não é excepção,
aquele jovem elegante e de cabeleira
farta deu lugar a um homem em
que se nota que os anos passaram por
ele, por todos nós. O timbre de voz e
o alcance também já são outros mas
a qualidade vocal, a energia colocada
em palco, mesmo depois de na véspera
ter actuado no Porto e a sonoridade
da banda mantêm-se inalteradas, excelentes.
Antes de ser mundialmente conhecida
por Alphaville, a banda chamava-se
Forever Young um nome premonitório
para aquilo que assisti no Coliseu e de
que é a prova, a já longa carreira do
vocalista, que teimou em mostrar um
espírito jovial e alegre, com muita dinâmica
em palco, apesar dos quase 68
anos de idade, fiquei com inveja.
Foi também (Forever Young) o nome
que deu título ao álbum de estreia da
banda e ao seu primeiro grande sucesso
internacional em 1984, que incluía a
música que deu o nome ao disco ‘Forever
Young’ onde pontificaram outros
grandes sucessos tais como ‘Big in Japan’
e ‘Sounds Like a Melody’.
Com um alinhamento riquíssimo cantou
todos os sucessos que foram top
em algumas tabelas da especialidade
por esse mundo fora. Durante o concerto
foram várias as vezes que levou
o público ao delírio. Comunicativo e
dialogante, respondendo a alguns piropos
da plateia, Marian Gold granjeou
a simpatia e muitos aplausos de uma
sala completamente cheia provocando
reacções emotivas por parte de algumas
fãs nas filas junto do palco.
A abrir a banda tocou Jet Set logo para
agitar as águas, seguiu-se Monkey in
the Moon e em seguida uma dupla
dose de sonoridade que nos fazia levitar
quando éramos adolescentes Dance
With Me e Big in Japan, nesta altura
já muitos fãs dançavam ao som destas
icónicas músicas.
I Die For You, Next Generation, The Elevator,
Flame e Jerusalem (vamos levar
amor, por Jerusalém oramos) uma canção
de oração por um povo fustigado
pela guerra, estávamos em 1985 mas
CRÓNICA
nada mudou, apenas a música ficou
para ouvirmos em noites nostálgicas,
foram as que se seguiram.
Depois Summer in Berlim, Nevermore,
A Victory of Love e em seguida outra
dupla dose de grandes sucessos Sounds
Like a Melody e Forever Young a
fechar o concerto, antes de um encore,
com o público delirante, a grande
maioria cinquentões, em pé, recordando
talvez os seus tempos de juventude
irreverente em que certamente imaginavam
ser uns jovens para sempre. E
somos.
No encore os temas Iron John e a balada
Beyond the Laughing Sky a fechar
em apoteose este concerto que me vai
ficar na memória para sempre.
Marian Gold teve o condão de me fazer
viajar no tempo, de me ter ‘obrigado’
a ficar até final do concerto e a cantar
com ele a maioria das canções, no fim,
depois do concerto, não viajei apenas
para casa, viajei também no tempo,
num tempo que me trouxe gratas recordações,
daquele tempo em que éramos
felizes e não sabíamos, mas nunca
deixei de me sentir um eterno jovem
(forever young), esse sentimento os
anos nunca o vão levar.
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Diário de uma avó e de um neto
Retratos contados...
Nélson
Mateus
Simone de Oliveira
V NELSON MATEUS (*)
V ALICE VIEIRA (*)
Cultura
Alice
Querida avó,
Querido neto,
Como sabes, Simone de Oliveira despediu-se dos palcos recentemente.
Deve ter sido um espectáculo lindo.
Vieira
Claro que não podia deixar de ir assistir ao espectáculo que esgotou
o Coliseu de Lisboa.
Quero vê-lo quando der na RTP.
Cresci a ouvi-la e a vê-la na televisão. Não sei explicar o fascínio Muito antes de ser sua amiga, já era sua amiga. E por
que ela causava a uma criança. A verdade é que, cada vez que ela motivos que nada tinham a ver com as cantigas.
aparecia, ficava deslumbrado a ouvir as suas palavras. A ver a garra
e alma, com que cantava, com que falava sobre qualquer assunto.
Naqueles princípios dos anos 60, quem não seguia os
Por altura do Festival da Canção, inevitavelmente aparecia a Simone
a cantar
padrões convencionais de vida era posto de lado. E
a Simone nunca foi mulher de vida convencional. Eu
“ A Desfolhada”.
costumo dizer muitas vezes, a meu respeito, que sou
A imagem daquela mulher determinada, que encanta todo o Teatro
S. luiz, e todos os que em 1969 viram o Festival nas suas casas,
feliz porque tive sempre a profissão que quis, os homens
que quis e os filhos que quis. O que então também
não foi nada fácil. Devo ter aprendido com ela.
faz parte das memórias de várias gerações.
Numa altura em que só havia um canal de televisão, em Lembro-me um dia de ir com uma tia almoçar à Praia
que não existiam redes sociais, em que a maioria ouviu de Santa Cruz. Tínhamos acabado de entrar no restaurante
o Festival através de uma telefonia … foram milhares os
quando a minha tia me pegou na mão e me
que se juntaram na Estação de Santa Apolónia, para a receber
arrastou para a rua.
vinda de Madrid. Simone ficou em penúltimo lugar
na Eurovisão, mas os Portugueses receberam-na como
“Vamos a outro”, disse.
se tivesse conquistado o primeiro prémio!
Não percebi: o restaurante estava praticamente vazio.
Já tive o privilégio de estar várias vezes com a Simone.
Todas as horas, que passamos juntos, são poucas tados.”
Cá fora ouço-a “ não gosto de lugares mal frequen-
para aquilo que ela tem para dizer, e para o que eu
quero ouvir.
Levei tempo a entender, e só mais tarde percebi: a Simone
estava lá com o Henrique Mendes, que era ca-
Ao longo da vida, Simone tem sido o “Sol de Inverno”
dos dias mais difíceis de muitos. Cada ruga da Simone sado e pai de uma filha, e com quem ela então vivia..
conta uma história.
Um escândalo. E acho que foi exactamente nesse dia
Amada por muitos, odiada por outros tantos, é exemplo que, sem ela saber, me tornei sua amiga. Para sempre.
para muitas mulheres. Vestiu calças quando ninguém vestia,
frequentava cafés e bares enquanto as outras mulheres tícias”, já a Simone era famosa, mandaram-me entre-
Muitos anos depois, já eu trabalhava no “Diário de No-
ficavam em casa de avental, agarradas ao terço…
vistá-la. Era a primeira vez que eu estava diante ela, e
Simone dá voz à canção “Saudade”. Mas não tem saudades
nenhumas do tempo em que as outras mulheres lhe
que ela estava diante de mim.
viraram as costas, por cantar “Quem faz um filho, fá-lo por E ela começa a contar-me a vida toda. O primeiro casamento,
a violência doméstica, os filhos de um ho-
gosto”, pois as mulheres não podiam ter prazer!
Quando a Simone começou a cantar, ainda não existia a mem com quem não estava casada, o que os tornavam
ilegítimos, o padre que naõ os queria baptizar
ponte sobre o Tejo, nem o Cristo Rei. No entanto, aos 83
anos, Simone usa as novas tecnologias. No final de um –tudo.
jantar que tivemos, eu disse-lhe; “ Eu chamo um táxi”, ao Eu ainda lhe perguntava de vez em quando “posso
que ela respondeu “ Filho, já chamei um Uber”!
escrever isso?”, mas ela nem me ouvia .
Com 84 anos de vida e 65 de carreira, vividos com intensidade,
Simone de Oliveira anunciou que iria por um ponto Acho que foi uma das minhas melhores entrevistas.
final na carreira.
Lembro-me de ter ido tomar café nessa tarde com o
Acredito que seja mais um vírgula do que um ponto final! Raul Solnado e ele me dizer que não fazia a mínima
“Galinha de campo não quer capoeira”. Não me parece ideia do que tinha sido a vida dela.
que a Simone queira “reformar-se”. Acredito sim que
E ficámos amigas. Partilhamos coisas boas e más: tivemos
cancro da mama na mesma altura, infelicidade
queira abrandar.
Nunca a convidem para beber um chá! Recentemente
provoquei-a ao telefone: “Combinamos um chá com
©: DR
que partilhámos com a Manuela Maria. E cá estamos
as três. Eu e a Simone ainda tivemos mais outro—e cá
a Alice”. Ao que respondeu: “Convidas-me para um chá,
estamos as duas.
(*) Os autores escrevem segundo o Acordo Ortográfico
por ser velha. O que me apetece é um café, fumar um cigarro
ou pedir um copo, com três pedras de gelo e um pouco de E cheguei ao fim do espeço que me dão…e não falei
(**) Jornalista - (***) Jornalista e Escritora
whisky. É isso que quero, precisamente por ser velha”… de cantigas! Mas isto para mim é muito mais importante.
Vão ao Youtube e oiçam-na. Qualquer canção.
https://bit.ly/3dvDigl
Em breve iremos tratar disso!
Vens connosco?
É das nossas maiores intérpretes.
https://bit.ly/3dvi3Li
Bjs
Marca um jantar com a Simone para rirmos disto tudo
https://bit.ly/3tyuFXN
©: DR
e colocarmos a conversa em dia.
info@retratoscontados.pt
www.retratoscontados.pt
Bjs
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AGENDA
Cidadania
Informações
MAPS (*)
Caros leitores, um certificado
de Covid é exigido para muitos
eventos. É importante que você
continue a seguir as medidas de
proteção contra o coronavírus.
Você pode encontrar uma visão
geral das medidas atuais em vários
idiomas em www.stadt-zuerich.ch/coronavirus.
Por favor,
informe-se antes de participar
de um evento. Apesar de tudo,
a equipe da MAPS deseja a você
um bom momento!
(*) Escrito na variante brasileira
da Língua Portuguesa
SÁBADO - 7.5.
JORNADAS DE DESCO-
BERTA NA CIDADE
Uma série de eventos “Nahreisen”
oferece um programa variado e original
de apoio para excursões e passeios
guiados pela cidade de Zurique,
de 7 de maio a 9 de julho. Como
apoio para excursões de 2022 observam
animais que vivem perto da
água. Inscrições e informações em
www.nahreisen.ch uo 044 319 80 61.
Participação gratuita.
www.nahreisen.ch
DOMINGO - 8.5.
FAZER JOGGING NA CI-
DADE ANTIGA
Você tem vontade de praticar esportes
e conhecer novas pessoas?
Então junte-se à equipe de jogging
“Züri Rännt”. Todas as quintas-feiras
o grupo se reúne em torno de o fazer
“Münsterhof”. Informações e outros
eventos em www.zueriraennt.ch.
19:00-20:00 Participação gratuita.
Treffpunkt: “Münsterhof”.
Bonde 2/6/7/8/9/11/13/17 bis “de Paradeplatz”.
www.zueriraennt.ch
SEGUNDA-FEIRA - 9.5.
BEBIDAS REFRESCAN-
TES
Como temperaturas estão subindo e
o tempo está melhorando cada vez
mais. Então refresque-se com uma
bebida deliciosa e sem álcool. Por
exemplo, desfrute de um chá gelado,
verduguez jorge frutado com erva-cidreira,
suco de laranja e morangos.
Nesta página você encontrará
muitas receitas deliciosas. Gratuito.
www.stilpalast.ch/savoir-vi-
vre/genuss/coole-drinks-ohne-
-alkohol-4218
TERÇA-FEIRA - 10.5.
CICLISMO E PATINA-
ÇÃO NENHUM AERO-
PORTO
Uma rota de 20 km circunda o aeroporto
em uma pista, desemboca em
caminhos na floresta e passa pelo rio
“Glatt”. Esta rota é ideal para um passeio
de bicicleta uo para patinar. Há
também várias áreas para churrasco
ao longo do percurso. Gratuito.
Flughafen Zürich.
S-Bahnen oder Eléctrico 10/12 bis
“Flughafen Zürich”.
www.flughafen-zuerich.ch
QUARTA-FEIRA - 11.5.
VISITA AO KUNSTHAUS
ZÜRICH
Para uma quarta-feira criativa, visite
o “Kunsthaus”. Aqui você encontrará
arte suíça e internacional. Toda
quarta-feira, numa admissão à coleção
de pinturas, esculturas, fotografias,
vídeos e outras obras de arte é
gratuita. Aproveite livremente hoje
como exposições atuais! Visite, por
exemplo, uma exposição da famosa
artista Yoko Ono ou uma exposição
sobre arte e medicina. Ter/sex-dom
10:00-18:00. Qua/qui 10:00-20:00. A
entrada é gratuita com KulturLegi
(ao invés de de CHF 23.-).
Kunsthaus Zürich. Heimplatz 1.
Bonde 3/5/8/9 oder Ônibus 31 bis
“Kunsthaus”.
www.kunsthaus.ch
SEXTA-FEIRA - 13.5.
FESTIVAL DE DANÇA
(ATÉ 29.05)
Os visitantes vivenciam apresentações
de dança e aprendem danças
do mundo inteiro em aulas relâmpago.
Não é necessário ter nenhum conhecimento
prévio. Alguns eventos
e cursos são gratuitos. Programa em
www.zuerichtanzt.ch. Gratuito para
crianças até 16 anos e pessoas com
status de N/F/S. O escritório da MAPS
sorteia 5×2 passagens de diâmetro.
Basta ligar para 044 415 65 89 uo enviar
um e-mail para maps@aoz.ch.
GLEIS. Zollstr. 121.
Barramento de 32 bis “Röntgenstrasse”.
www.zuerichtanzt.ch
SÁBADO - 14.5.
QUARTIERFEST
Hoje é o festival de bairro do “GZ
Schindlergut”: o festival “Schigu”.
Aqui você encontrará barracas de
comida, música e um mercado das
pulgas. Participe também de várias
atividades como a fabricação de cerveja
e o conserto de bicicletas. 11:00-
17:00. Entrada livre.
GZ Schindlergut. Kronenstr. 12.
Ônibus 32/46 bis “Nordstrasse”.
www.gz-zh.ch
DOMINGO - 15.5.
ANIMAIS E PLANTAS
EXÓTICAS
Vários pássaros, peixes e tartarugas
vivem entre as plantas exóticas fazer
viveiro de palmeiras da cidade. Os
animais alegram-se em ter visitantes
em sua casa acolhedora. Todos os
dias 09:00-16:30. Entrada livre.
Stadtgärtnerei. Sackzelg 27.
O eléctrico 3 oder Ônibus 33/89 bis
“Hubertus”.
www.stadt-zuerich.ch
SEGUNDA-FEIRA - 16.5.
NOITE DE CINEMA
Gosta de histórias sobre super-heróis?
Hoje à noite o cinema “Filmpodium”
exibe o filme de acção “Doutor
Estranho” na versão original com
legendas em alemão. Entrada livre
no cinema “Filmpodium” para pessoas
com estatuto de refugiado S/N/
B/C/F. Contactar previamente SPAZ
www.sans-papiers.ch, se precisar de
obter entrada gratuitos para pessoas
sem autorização de residência. O escritório
da MAPS oferece 4×2 entrada
para um filme à sua escolha. Basta
ligar 044 415 65 89 uo enviar a sua
morada para o e-mail maps@aoz.ch.
Filmpodium. Nüschelerstr. 11.
Bonde 2/3/8/9/14 bis “Stauffacher”.
www.filmpodium.ch
QUARTA-FEIRA- 18.5.
HISTÓRIAS PARA
CRIANÇAS
Não “Krokodilzentrum” há interessantes
e divertidas histórias para
crianças e também encontra livros
que pode ler aos seus filhos. 15:00-
16:00. Gratuito.
Zentrum Krokodil. Friedrichstr. 9.
Bus 75 bis “Friedrichstrasse”.
www.zentrumelch.ch
QUINTA-FEIRA - 19.5.
NOITE DE CINEMA
Aprecia filmes? Uo faz os seus próprios
filmes? Na Rote Fabrik” novos
realizadores de cinema apresentam
os seus filmes. O público escolhe o
melhor filme e o filme vencedor recebe
um prémio. 20:00. Entrada livre.
Rote Fabrik. Seestr. 395.
De eléctrico 7 bis “Pós Wollishofen”
oder Ônibus 161/165 bis “Rote Fabrik”.
www.rotefabrik.ch
SEXTA-FEIRA - 20.5.
CIÊNCIA À NOITE
O evento “Nachtaktiv” realiza-se uma
vez por mês. Jovens entre os 16 e os
25 anos aprendem ciência de forma
acessível e divertida. Cada evento é
dedicado a um tema específico. Hoje
o tema é “Wellen” (ondas). Bebidas e
snacks disponíveis. Para jovens dos
16 aos 25 anos. 19:00 às 22:30. Entrada
livre.
focusTerra. ETH de Zurique. Sonneggstr.
5.
Bonde 6/9/10 bis “ETH/Universitätsspital”.
www.creativelabz.ch
SEXTA-FEIRA - 20.5.
FESTA DA PRIMAVERA
Uma associação “Mosaik” celebra
com uma festa de uma convivência
de pessoas de diversas culturas. Desfrute
de comida, música e danças de
vários paises. A partir das 11:00. Participação
gratuita.
Schwamendingerplatz.
Bonde 7/9 oder Ônibus 61/62/75/79
bis “Schwamendingerplatz”.
www.fruehlingsfest-mosaik.ch
SÁBADO - 21.5.
VIDEOEX-FESTIVAL
Aprecia o cinema experimental?
Então vá ao festival de cinema “Videoex”!
Aqui encontra filmes e vídeos
que são visualmente surpreendentes
e artísticos. Entrada gratuita
para pessoas com documento N/F. O
escritório da MAPS oferece 3×2 entrada
para um filme à sua escolha.
Basta ligar 044 415 65 89 uo enviar
um e-mail para maps@aoz.ch.
Festivalzentrum. Kunstraum Walcheturm.
Kanonengasse 20.
O autocarro 31 bis “Kanonengasse”.
www.videoex.ch
DOMINGO - 22.5.
MERCADOS EM ZURI-
QUE
Nos inúmeros mercados da cidade
encontra flores, legumes frescos, objectos
antigos e especialidades de
diversos paises. Dê um passeio pelas
várias bancas e descubra coisas novas.
Informações sobre os horários e
locais em: www.zuercher-maerkte.
ch. Gratuito.
www.zuercher-maerkte.ch
TERÇA-FEIRA - 24.5.
DESPORTO SEM PISO
SUPERIOR
Não marca precisa de um estúdio
de fitness dispendioso. Não “rooftop”
das instalações fazer de Rua de Treino
pode treinar força e resistência
enquanto aprecia uma vista sobre
Zurique. Para isso, utilize bancos, degraus
e o peso do seu próprio corpo.
Um quadro com imagens explica os
exercícios. Seg-sáb 07:00 às 22:00.
Dom 08:00-20:00. Gratuito.
Rua Treino Parque de ZH no Telhado.
Pfingstweidstr. 36.
De eléctrico de 4 bis “Toni-Areal”.
www.street-workout.com
QUARTA-FEIRA - 25.5.
MÚSICA NA IGREJA DE
FRAUMÜNSTER
Como começar a quarta-feira da
melhor forma? Todas as quartas de
manhã desfrute de um concerto
de órgão de 15 minutos na igreja
“Fraumünster”. 07:45-08:00. Contribuição
espontânea.
Fraumünster. Münsterhof 2.
Bonde 2/6/7/8/9/11/13/17 bis “de Paradeplatz”.
www.musikimfraumuenster.ch
QUINTA-FEIRA - 26.5.
DINHEIRO DE TODO O
MUNDO
A história do dinheiro está bastante
ligada à história de um povo ou de
um país. O “MoneyMuseum” mostra
moedas de diversas regiões do mundo
e explica como o dinheiro tem
evoluído ao longo dos séculos. Qui
10:00-18:00. Entrada livre.
MoneyMuseum. Hadlaubstr. 106.
Bus 39 bis “Schäppiweg”.
www.moneymuseum.com
SEXTA-FEIRA - 27.5.
FAZER CAMINHADAS
De “Üetliberg” há um percurso com
planetas (“Planetenweg”) até “Felsenegg”,
que mostra a sua posição
no sistema solar: um metro corresponde
à distância de um milhão de
quilómetros. Esta caminhada com 2
horas de duração leva-nos a passar
pelo sol e pelos planetas. Chegando
um “Felsenegg”, aprecie uma maravilhosa
vista panorâmica para o lago
de Zurique e as montanhas. Gratuito.
Sihltal de Zurique, Uetliberg Bahn
SZU. Wolframplatz 21.
S10 bis “Üetliberg”.
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SÁBADO - 28.5.
CURSOS DE BICICLETA
PARA REFUGIADOS
Aos sábados pode aprender a andar
de bicicleta de forma segura e deslocar-se
na cidade. É possível começar
em qualquer altura. Há bicicletas
à disposição. Inscrições através
do e-mail friendsonbikes@gmx.ch.
13:30-16:00. Gratuito.
GZ Bachwiesen. Bachwiesenstr. 40.
Ônibus 67/80 bis “Untermoosstrasse”.
www.friendsonbikes.ch
DOMINGO - 29.5.
VISITA AO MUSEU DO
ANIMAL
O Museu Zoológico apresenta mais
de 1500 espécies animais de todo
o mundo. Aos domingos às 11:30 há
uma visita guiada pública sobre temas
variados. Ter-dom, 10:00-17:00.
Entrada livre.
Zoologisches Museum. Karl-Schmid-
-Strasse 4.
Bonde 6/9/10 bis “ETH/Universitätsspital”.
www.zm.uzh.ch
TERÇA-FEIRA - 31.5.
LINDENHOF
Aproveite um quente dia de Verão
em pleno coração de Zurique. O recinto
“Lindenhof” é o local perfeito
para descontrair e escapar à agitação
e movimento da cidade. Uma
vista sobre a zona histórica com a
igreja “Grossmünster” é incomparável.
Pode também saborear o seu
almoço uo tomar uma bebida ao
entardecer uo jogar xadrez com amigos.
Gratuito.
Lindenhof.
Bonde 7/10/11/13 bis “de Rennweg”.
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26 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu
27
Salgueiro Maia
1944 -1992
Tinha 29 anos e uma coragem serena que lhe permitiu enfrentar alguns dos
momentos de maior tensão vividos no dia 25 de Abril de 1974. Depois de uma
alucinante viagem desde Santarém, à frente de uma coluna de blindados da
Escola Prática de Cava-laria, toma a Praça do Comércio e resiste a várias
investidas governa-mentais.
A população que ocorre ao local observa expectante os gestos e acções do
jovem capitão. Ao fi m da manhã, os cordões policiais rompem-se e Maia é já
saudado como um herói.
A sua consagração é alcançada no Largo do Carmo onde, com uma enorme
presença de espírito, domina a difícil espera pela rendição de Marcelo Caetano.
Natural de Castelo de Vide, fez os seus estudos secundários em Tomar e
em Leiria. Em 1964, ingressa na Academia Militar e, dois anos depois, na
Escola Prática de Cavalaria de Santarém. Já capitão, combate na Guiné e em
Moçambique. Estando ligado activamente ao “movimento dos capitães”, foi um
elemento fundamental para a vitória alcançada no dia 25 de Abril.
No período revolucionário integrou a Assembleia do MFA, mas distan-ciou-se das
facções e recusou ocupar qualquer cargo político.
A sua verticalidade causou-lhe dissabores e alguma marginalização. Homem
simples, superior às pequenas lutas de poder, dedicou-se en-tão ao estudo
e a transmitir aos outros, sobretudo aos mais jovens, as suas experiências
e conhecimentos. Morreu prematuramente, a 3 de Abril de 1992, em
Santarém, vítima de cancro.
Filipa
Menina
morreu
aos 33 anos
Sobre ele escreveu Manuel Alegre:
Ficaste na pureza inicial
Do gesto que liberta e se desprende
Havia em ti o símbolo e o sinal
Havia em ti o herói que não se rende.
Joana Araújo
VENDO MORADIA T4
a menos de 5 minutos do
centro de Braga
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- Piscina amovível. Poço e tanque
- Edifício está implantado num terreno com per-
to de 2000 m2, que poderá ser dividido para outra
habitação.
Tem nogueiras, figueira, ameixoeiras, pesseguei-
ro e citrinos (12 árvores)
- Local calmo e privado, a menos de 5 minutos do
centro de Braga.
- Transportes públicos, escola, restaurante, mini-
-mercado, padaria e três praias fluviais etc...
Foto: José Novais
Filipa Menina, jovem e promissora fadista,
que em 2021 participara no concurso televi-
sivo "The Voice", morreu a 21 de Abril, vítima
de doença prolongada. Tinha 33 anos e era
natural de Esposende. Deixa duas filhas me-
nores, de cinco e 10 anos, e marido.
A cantora iniciou-se na música com apenas
14 anos e só parou há quase cinco anos, al-
tura em que, por causa da paramiloidose
(doença rara e hereditária que afecta o sistema
nervoso), deixou de andar e de ser au-
tónoma.
Em Maio de 2018, fez um transplante de fígado
e, em Outubro de 2021, participou no pro-
grama televisivo "The Voice", onde partilhou
com o público o seu imenso sofrimento que
a afectava e que acabou por lhe tirar a vida.
Podem recordá-la e vê-la aqui:
Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | https://bit.ly/38oz7CB
28 www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu
29
Margarida Leitão
Ferreira
Foi em Setembro de 2018 que o Tribunal
Constitucional da África do Sul, a
mais alta instância da justiça, decidiu
favoravelmente acerca da legalização
do cultivo de canábis para consumo privado.
Esta decisão do tribunal foi considerada
histórica, desde logo também
porque os três acusados em processo
crime decidiram recorrer da sentença,
alicerçando os fundamentos da sua
acusação com base na ingerência na
vida privada, uma vez que tinham sido
acusados após uma detenção com base
numa rusga domiciliária sem mandato.
Assim, por decisão unânime, os juízes
decidiram conferir legitimidade ao consumidor
adulto de canábis para o cultivo,
desde que esta se destine a consumo
próprio.
Na base da acusação inicial contra os
arguidos a sustentação estava fundamentada
pelo perigo que esta actuação
representava para a saúde pública. Mas,
durante o julgamento, o Juiz Raymond
Zondo proferiu a decisão, alegando o
seguinte: “It will not be a criminal offence
for an adult person to use or be
in possession of cannabis in private
for his or her personal consumption.”
Em português, esta decisão determina
não constituir conduta criminal a
posse de canábis para consumo próprio.
No entanto, permaneceu ilegal
o uso de canábis em público e a sua
venda ou fornecimento a outrém. A
canábis, a que os sul africanos chamam
“dagga”, deveria, segundo Jeremy
Acton, líder do partido Dagga,
ter sido legalizada também quanto à
posse, desde que ficasse comprovado
que o possuidor destinava o produto
ao consumo próprio. A Organização
Não Governamental The Cannabis
Development Council of South Africa
(CDCSA) aplaudiu a decisão e pugnou
ao Governo que retirasse as acusações
contra os três arguidos absolvidos em
sede constitucional.
A decisão do Tribunal não se ficou por
aqui, desde logo reconhecendo a necessidade
de reestruturação legislativa,
e emanou uma decisão em que
concedeu 24 meses desde a data do
acórdão para o Parlamento mudar as
leis em vigor, de acordo com a decisão
proferida, no sentido da regulamentação
efectiva desta substância no país.
Até que este trabalho complementar
fosse realizado por incumbência do
Parlamento, os adultos consumidores
de canábis em privado ficariam protegidos
pela decisão proferida neste
processo. A quantidade de canábis
que cada consumidor pode cultivar
para consumo próprio não foi definida,
devendo, ainda, o Parlamento tomar
uma posição em relação a esta
questão.
Infelizmente, a COVID-19 veio atrasar
substancialmente os desenvolvimentos
legislativos. Até agora têm sido
feitas emendas ao Medicines and Related
Substances Control Act 101, de
1965, em Maio de 2020, que aliviou alguns
preceitos legais mais restritivos.
Saúde
África do Sul:
“O cultivo e a posse de canábis para consumo
próprio não constitui conduta criminal”
Contudo, o Drugs and Drug Trafficking
Act 140, de 1992, ainda não teve desenvolvimentos
na parte da descriminalização
do cultivo para consumo
próprio, posse ou uso, tal como
demandava a decisão do tribunal de
Setembro de 2018. Desde então, não
houve alterações no que tange à propriedade
intelectual até ao presente.
Isto porque a maioria da legislação
acerca da propriedade intelectual vigente
na África do Sul assenta na proibição
de registo de todos os produtos
que sejam contrários à lei ou que possam
constituir ofensa ou conduta imoral.
Depreendendo que a propriedade
intelectual está directamente ligada
com as trocas comerciais, o enquadramento
da canábis e o cultivo para
consumo próprio permanece uma incógnita.
Em Abril de 2019 o Zimbabué
foi o segundo país africano a legalizar
a canábis para fins medicinais, seguindo
o exemplo do Lesoto. Na África
do Sul, a canábis medicinal pode ser
prescrita para qualquer problema de
saúde, desde que o médico determine
que ela pode ajudar no tratamento
do paciente. Depois da proibição, em
1922, a África do Sul descriminalizou a
canábis em 2018, para permitir a sua
utilização para uso médico, práticas
religiosas e outros fins.
______________________________
* Licenciada em Direito em 2005, com
estágio concluído e membro da Ordem
dos Advogados desde 2007, Margarida
Leitão Ferreira praticou advocacia
entre Porto, Matosinhos e Vila
Nova de Gaia durante 15 anos consecutivos,
exclusivamente na área do Direito
civil, bancário e Direito executivo.
Em 2015 ingressou na área imobiliária
e dedicou-se também ao estudo
da canábis no âmbito jurídico e dos
vários desafios que este tema representa.
A canábis tem vindo a desempenhar
um papel significativo no seu
percurso pessoal e profissional.
Crónica originalmente publicada na
edição #4 da Cannadouro Magazine
Corporações
Akanda Corporation
adquire Holigen à Flowr por 26 milhões de
euros, com olhos postos no uso adulto
Laura Ramos
A Akanda Corporation,
uma empresa
com sede no Reino
Unido e operações
em África, adquiriu
a Holigen à Flowr
Corporation por 26
milhões de euros,
conseguindo, assim,
a certificação GMP na
União Europeia. Com
a unidade de cultivo
indoor em Sintra,
projectada para produzir
mais de duas
toneladas de canábis
medicinal por ano, a
Akanda posiciona-se
também para o mercado
do uso adulto,
adquirindo ainda a unidade de produção
de Aljustrel, com cerca de 40 hectares.
Esta operação garante à Akanda
uma posição de liderança no sector da
canábis na Europa, Médio Oriente e África
(EMEA).
A Akanda já detinha uma unidade de
cultivo no Lesotho, um dos primeiros
países africanos a legalizar a canábis
medicinal, e a CanMart, uma empresa
de importação e distribuição que abastece
farmácias e clínicas no Reino Unido.
O Cannareporter tentou contactar o
CEO da Akanda, Tej Virk, mas sem sucesso
até ao momento.
O acordo adicionará activos valiosos de
cultivo, fabrico e distribuição à Akanda,
que está na bolsa (NASDAQ: AKAN),
para “acelerar o modelo desde a semente
ao paciente e atender à elevada
procura nos mercados europeus de
canábis medicinal, além de a posicionar
no mercado do uso adulto à medida
que as regulamentações evoluem”, diz
o comunicado de Imprensa.
A Holigen, que detém a subsidiária portuguesa
RPK Biopharma, foi adquirida
em Junho de 2019 pela Flowr Corporation
e obteve licença do Infarmed pouco
depois, em Julho de 2019, tendo
sido considerado um PIN – Projecto de
Interesse Nacional, ao investir mais de
40 milhões de euros em Portugal.
No início de 2022, a Flowr anunciou
que a subsidiária Holigen tinha concluído
com sucesso a primeira colheita
de canábis medicinal com elevado
teor de THC nas instalações de Sintra,
esperando colher aproximadamente
300 quilos no primeiro trimestre.
As estimativas apontaram para uma
produção anual de mais de duas toneladas
de “canábis premium“ numa
das poucas unidades com certificação
Desenvolvimento mais alargado, destes artigos, podem ser lidos na edição digital desta revista, aqui:
Leia estes e outros artigos em
WWW.CANNAREPORTER.EU
europeia de boas práticas de fabrico
(GMP), além de mais de 100 toneladas
de canábis cultivada no exterior, em
Aljustrel.
De acordo com os termos da aquisição,
a Akanda irá também beneficiar
da biblioteca de genética disponibilizada
pela Flowr, incluindo os seus premiados
BC Pink Kush, BC Black Cherry
e BC Strawnana, bem como algumas
novas genéticas exóticas que serão exportadas
para Portugal a partir do Canadá
.Os testes iniciais em andamento
para ambas as genéticas da canábis
medicinal estão a indicar altos níveis
de teor de THC, superiores a 25%.
O mercado europeu de canábis medicinal
continua a crescer à medida
que outros países actualizam as suas
leis para a canábis medicinal. A Prohibition
Partners estima que o mercado
médico gerou aproximadamente 382
milhões de dólares em 2022 e chegará
a 2,5 mil milhões até 2026.
https://tinyurl.com/LUSITANO-ZURIQUE
O CannaReporter é um projecto independente e completamente
suportado pela comunidade. Para conti-
nuar a desenvolver este projecto, o apoio dos leitores
é fundamental. Torne-se apoiante do CannaReporter
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30 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu
31
INVESTIGAÇÃO
Portugal:
Juízes e Procuradores estão a arquivar processos
de cânhamo por “falta de indícios de
crime”
depoimentos recolhidos é o elemento subjetivo em qualquer
das modalidades do dolo. Os arguidos agiram sempre
convictos de que estavam a abraçar uma oportunidade de
negócio, que viam praticada em países da comunidade,
atividade essa que respeitava até as portarias a que a Lei
15/93, de 22 de Janeiro se ancora.”
De acordo com o disposto no art.º 286°/1 do CPP – Código
de Processo Penal, a instrução visa a comprovação
judicial da decisão de deduzir acusação ou de arquivar o
inquérito, de forma a submeter ou não o caso a julgamento.
Ou seja, a instrução destina-se a verificar se existem indícios
suficientes da prática, pelos arguidos, dos factos e
crimes dos quais foram acusados, servindo ainda para se
verificar se se mostram presentes todos os pressupostos
processuais de que depende a acusação. Carlos Alexandre
considerou que não.
“Ao contrário do propugnado pelo Ministério Público o
aduzido pelos requerentes de abertura de instrução, os
autos contêm e eles foram escrutinados, indícios que se
consideram fortes em ordem a não submeter os arguidos
a julgamento pelos crimes que lhes são imputados na acusação,
remetendo-se assim para a fundamentação a respeito
produzida pelos arguidos.
O caso de Patrick e da GreenSwallow
Laura Ramos
comércio de cânhamo com menos de 0,2% de THC foram
arquivados em Portugal, o que faz antever decisões semelhantes
noutros casos pendentes e, eventualmente, futuros.
Patrick Martins foi visitado pela PSP – Polícia de Segurança
Pública – no dia 2 de Julho de 2020 na sua loja, Green
Swallow, e automaticamente constituído arguido pelo crime
de “tráfico de estupefacientes”. A maior parte do stock
foi apreendida. Ficou com termo de identidade e residência,
com apresentações obrigatórias de duas vezes por
semana e impedido de se ausentar da sua residência em
Lisboa “por mais de 5 dias, sem comunicar o lugar onde
possa ser encontrado no país”. Na altura, Patrick vivia a
maior parte do tempo com a sua mulher em Londres, o
que acabou por lhe causar um transtorno sem precedentes,
a nível pessoal e profissional, pois viu-se obrigado a
permanecer em Portugal por mais de 18 meses, sem autorização
de saída.
Na decisão instrutória, proferida mais de 20 meses após a
apreensão, o Juiz Carlos Alexandre citou a legislação europeia
e o limite de 0,2% de THC permitido no cânhamo industrial,
mas no documento acabaria por referir “2% THC”,
o que pode ter sido lapso do escrivão.
Consequentemente, estando convicto de que estes factos
se submetidos a “qua tale” a Julgamento é mais forte a
probabilidade de exoneração de responsabilidade, decido
não pronunciar os arguidos do ilícito que lhes imputa o
Ministério Público. Os relatórios periciais e o Relatório final
da Polícia Judiciária sopesados à luz das regras de experiência
comum e da normalidade do acontecer de que os
aqui arguidos sempre estiveram convictos da legalidade
da sua atuação.
Sem pretender tomar posição apodítica sobre a bondade
e legalidade, no estado atual da legislação portuguesa e
da que foi recebida por via de regulamentação ancorada
da União Europeia, embora não deixemos de dizer que
damos por reproduzidas as considerações trazidas pelos
arguidos, de que se nos afigurar que a regulamentação comunitária
saída e vigente após a Lei 15/93, de 22/01 e da
Portaria 94/96, de 26/03, já foi acolhida em Portugal como
doutamente explanado pelos defensores dos arguidos.
Os processos judiciais de comerciantes e de agricultores
de cânhamo industrial, acusados do crime de “tráfico
de estupefacientes”, estão a ser, invariavelmente,
arquivados por Juízes e Procuradores da República Portuguesa.
Patrick Martins, fundador da Green Swallow e
presidente da ACCIP – Associação dos Comerciantes do
Cânhamo Industrial de Portugal e António João Costa,
vice-presidente da Cannacasa – Associação do Cânhamo
Industrial, ambos constituídos arguidos por comercializar
e cultivar cânhamo, respectivamente, foram
ilibados de responder em tribunal, por “não existirem
indícios suficientes da prática de um crime”.
Nos dois últimos meses, o Cannareporter soube que pelo
menos mais três inquéritos relacionados com o cultivo e
“Não considero que, com estes elementos, seja mais forte
a probabilidade de condenação do que a de exclusão da
sua responsabilidade, pelo que forçoso é não pronunciar
os aqui arguidos, o que se decide, determinando o oportuno
arquivamento dos autos”, escreveu o Juiz de Instrução
Criminal, Carlos Alexandre, a 28 de Fevereiro de 2022, na
decisão instrutória do processo judicial de Patrick Martins
e do seu sócio na Green Swallow, uma cadeia de lojas de
produtos de cânhamo. O Ministério Público tinha 30 dias
para recorrer da decisão, mas não o fez.
As quantias despendidas em custos processuais e administrativos
foram, obviamente, avultadas, tanto para o Estado
como para os arguidos nos casos que passamos a descrever.
“Os aqui arguidos lançaram-se a comercializar os produtos
do tipo dos que foram apreendidos na base da aplicação
em Portugal da legislação comunitária que consente tal
actividade para produtos ou artigos que não tenham mais
do que 2% THC (sic).”
Além disso, o Juiz salientou que “agiram convencidos de
que estavam a actuar em moldes tolerados pela legislação
penal portuguesa e socialmente aceites. Os interrogatórios
dos arguidos foram coerentes com este racional.
Não há, pois, tudo o indicia, elementos factuais que consubstanciem
os elementos objetivos do tipo de tráfico de
estupefacientes. E, de certo, o que não há aqui no caso
concreto sub judice, vistos os elementos apreendidos e os
Consequentemente, não considero que, com estes elementos,
seja mais forte a probabilidade de condenação
do que a de exclusão da sua responsabilidade, pelo que
forçoso é não pronunciar os aqui arguidos, o que se decide,
determinando o oportuno arquivamento dos autos. Oportunamente,
arquive-se.”, determinou.
O caso de João Costa: grau de pureza de 0,2% de THC é
“um valor inferior a uma dose”A 23 de Fevereiro passado
também o caso de António João Costa, vice-presidente
da Cannacasa – Associação do Cânhamo Industrial – foi
arquivado, “nos termos do Artº 277 do Código de Processo
Penal”. João tinha sido constituído arguido pelo “crime
de tráfico de estupefacientes” no dia 21 de Dezembro de
2020, apesar de ter explicado aos agentes que o que tinha
32 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu
33
em casa era cânhamo industrial, e a sua detenção foi divulgada
para a Imprensa. Foi presente a tribunal e, também
ele, ficou com a medida de coação de termo de identidade
e residência. Na notificação que recebeu do Ministério
Público, lê-se que o inquérito foi aberto dando conta que
João Costa “cultiva na sua residência sita no (…) plantas de
canábis”.
“A factualidade denunciada é susceptível de integrar a prática
de um crime de tráfico de estupefacientes, p. E p. Pelo
artigo 21º, nº 1 do DL nº 15/93, de 22 de Janeiro.
Durante as buscas domiciliárias à residência de João Costa,
no dia 21-12-2020, foram apreendidas:
1363.600 gramas de sementes de canábis;
24.100 gramas de folhas de canábis;
467.900 gramas de folhas de
canábis (sic)
Interrogado na qualidade de
arguido, João Costa disse que
era “produtor de cânhamo a
nível industrial” e que tinha documentação
que confirma as
suas declarações, além de ter
contactado as autoridades responsáveis
como o Ministério da
Agricultura, a GNR e a Polícia
Judiciária, dando conhecimento
de que se encontrava a desenvolver
a referida actividade”.
A notificação de João Costa
continua dizendo que “realizado
o exame pericial ao material
apreendido verifica-se que, de
facto, trata-se de canábis (folhas
sumidas) porém com um grau de pureza de apenas 0,2%,
o que dá, no total, um valor inferior a uma dose, de acordo
com a Portaria 94/96. As sementes destinadas à sementeira
de cânhamo para a produção de cânhamo para fins industriais
têm que ter um teor de THC que não pode ser superior
a 0,2, o que se verifica no presente caso”. A notificação
refere ainda: “verifica-se da documentação remetida pelo
arguido que o mesmo solicitou autorização para o cultivo
de cânhamo aqui na Região Autónoma da Madeira, não
obstante não ter documentalmente provado de que já dispunha
da respectiva autorização”.
“Ora face a toda a prova produzida nestes autos, entende-se
que, de facto, o arguido cultivava cânhamo para fins industriais
e que, nessa sequência, iniciou um processo tendo em
vista poder iniciar a respectiva cultura em cumprimento de
todas as normas e requisitos legais exigíveis. Assim, entende-se
que não se reuniram indícios suficientes da prática
pelo arguido do crime de tráfico de estupefacientes, sendo
certo que se o arguido detinha cânhamo e se iniciou o seu
cultivo sem as licenças / autorizações legais, poderá incorrer
em responsabilidade contraordenacional.”
Pelo exposto, e sem necessidade de maiores considerações,
determino o arquivamento do inquérito, nos termos do artigo
277º, nº 2, do Código de Processo Penal”.Assina a Procuradora
da República Carla Pinto.
O caso de António, proprietário de uma loja de cânhamo
em LisboaExactamente nos mesmos termos foi também
arquivado o processo de António (nome fictício, pois prefere
não ser identificado), sócio gerente de uma loja de canábis
na zona da Grande Lisboa. No processo de arquivamento, a
que o Cannareporter teve acesso, pode ler-se que “no presente
inquérito investigaram-se factos relacionados com
a comercialização de potenciais produtos estupefacientes
em dois estabelecimentos comerciais (…) designadamente
produtos à base de cânhamo, alegadamente com teor de
THC inferior a 0,2%. A factualidade em causa é susceptível
de integrar, em abstracto, a prática de um crime de tráfico
de estupefacientes de menor gravidade, p. E p. Pelos arts.
21º, nº1 e 25º, al. A), do Código Penal.
Neste caso, os relatórios
das perícias realizadas
aos produtos apreendidos
numa das lojas (apenas
folhas e sumidades)
revelaram que alguns
deles, nomeadamente
saquetas com folhas ou
sumidades de canábis,
tinham graus de pureza
entre 0,3 e 0,5% de THC,
o que ultrapassa o limite
legal (de 0,2%) em Portugal,
correspondendo
a um x de doses diárias.
Nos restantes, que cumpriam
o limite de 0,2,
não foram calculadas as
doses diárias, referindo-
-se “grau de pureza de
<0,2%, não correspondendo
a dose diária”.
Neste processo foi ouvido como testemunha “um especialista
em segurança da empresa TNT/Fedex, que disse que
foi contactado pelos serviços de segurança espanhóis da
referida empresa, referindo-lhe que, através de canídeos,
havia sido detectada uma encomenda que indiciava ter
produto de substâncias estupefacientes, mas que as autoridades
espanholas não possuíam fundamento legal para
reter tal encomenda postal, porquanto a documentação da
mesma indicava um teor de THC inferior a 0,2% e, em Espanha,
o limite legal corresponde a 0,6%”.
Os produtos apreendidos com teores de 0,3 e 0,5% de THC
são ilegais em Portugal, mas António garantiu ao Cannareporter
que todos os produtos que vendia na loja tinham
certificado de análise a atestar o valor inferior a 0,2% de
THC. Disse também que nem a polícia nem o tribunal lhe
revelaram quais os produtos que acusaram valores superiores,
por isso ficou sem saber qual foi o fornecedor que mentiu
no certificado de análise. No processo de arquivamento
de António refere-se ainda que o mesmo estava “convencido
que a sua atividade está dentro das normas legais em
vigor e que colaborou sempre com as autoridades, designadamente
autorizando buscas aos seus estabelecimentos e
abrindo voluntariamente encomendas, de forma a mostrar
aos OPC’s que a mercadoria em causa não estava à margem
da lei. E tal basta, segundo cremos, para que consideremos
que a conduta do arguido, máxime tendo em conta o recente
quadro legal (conjugado com a data prática dos factos),
não seja dolosa (…) então outra solução não nos resta que não
seja a de determinar o arquivamento do inquérito, por não se
terem recolhido indícios suficientes de que o arguido, com a
sua conduta, preencheu o elemento subjectivo do crime em
causa”.
E, mais uma vez, se decidiu que “pelo exposto, por não se terem
recolhido indícios suficientes quanto ao preenchimento
do elemento subjectivo do tipo de crime em apreciação nestes
autos, determino o arquivamento do inquérito, nos termos
do art.º277, nº2, do Código de Processo Penal. (…) Mais
promovo seja determinada
a destruição do produto estupefaciente
apreendido e
eventuais amostras cofre, em
conformidade com o disposto
no Art.º62, nº6, do Decreto-Lei
n.º15/93”, termina.
António lamentou ao Cannareporter
a perda de milhares
de euros em produtos, não só
os que estavam fora dos limites
de THC, que eram a minoria,
mas também todos os outros
que cumpriam os limites,
que não lhe foram devolvidos.
O mesmo aconteceu com
todos os outros arguidos, a
quem as mercadorias apreendidas
nunca foram devolvidas.
Além de Patrick, João e António,
pelo menos mais uma
proprietária de loja similar no Alentejo e outro agricultor de
cânhamo viram os seus processos arquivados recentemente
por falta de indícios da prática de um crime. Estes casos podem
antever, portanto, uma tendência de não condenação
de quem se dedicar à produção e ao comércio de produtos
derivados do cânhamo em Portugal.
Forças policiais não estão articuladas entre si
As apreensões foram feitas pela PSP ou pela GNR e, no caso
de alguns agricultores, denunciadas pela DGAV, mas as análises
aos produtos apreendidos são feitas pelo Laboratório de
Polícia Científica da Polícia Judiciária (PJ).
O Despacho n.º 10953/2020, que definiu as competências em
matéria de controlo do cultivo de cânhamo para fins industriais,
estabelecia, no ponto 7, que “A DGAV, o IFAP, a PJ, a
GNR e a PSP devem, no prazo máximo de 30 dias após a
publicação do presente despacho, celebrar protocolo onde
sejam indicados os pontos focais de cada entidade e, de forma
detalhada, os meios de articulação entre si”.
A verdade é que, quase um ano depois desse prazo máximo
de 30 dias, o Cannareporter questionou a DGAV, a GNR e a
PJ sobre o referido protocolo e ele ainda não tinha visto a luz
do dia e, até à data, não foi tornado público. As análises do
Laboratório de Polícia Científica aos produtos apreendidos
demoraram, em média, cerca de de 18 meses, período durante
o qual os arguidos se viram obrigados a medidas de
coação como o termo de identidade e residência, com apresentações
periódicas obrigatórias na polícia, normalmente
de duas vezes por semana, e impossibilidade de se ausentarem
do país. Além desses transtornos nas suas vidas pessoais,
todos perderam completamente o tempo e o dinheiro
investido nas suas produções ou stock apreendido, além das
somas avultadas que tiveram de gastar na sua defesa, com
advogados e custos judiciais e administrativos.
GNR e PSP e PJ acusam publicamente os produtores de
cânhamo de tráfico de estupefacientes
Patrick Martins, João Costa
e António não foram, aliás,
os únicos a ser constituídos
arguidos pelo “crime de
tráfico de estupefacientes”
nos últimos anos em Portugal.
Tal como ele, vários
comerciantes de lojas de
canábis e produtores de
cânhamo industrial foram
detidos, acusados, constituídos
arguidos e sujeitos
a termos de identidade e
residência, além de se terem
visto retratados nos
meios de comunicação
social como “traficantes”.
Em vários casos, como o
de Barry McCullough, Hugo
Monteiro ou Pawel Szopa,
por exemplo, a GNR – Guarda
Nacional Republicana
– enviou comunicados de
Imprensa no dia da apreensão, dizendo que se tratava de
canábis, antes de se certificar que, efectivamente, se tratava
de cânhamo industrial. A GNR admitiu ao Cannareporter que
não conseguia distinguir cânhamo de canábis. Com António
João Costa aconteceu o mesmo, com a PSP a enviar um comunicado
de Imprensa sem antes se certificar do que realmente
tinha apreendido.
O Cannareporter soube também que a Polícia Judiciária visitou
um produtor de cânhamo meses depois de ter sido detido,
para lhe pedir amostras do que cultivava, mas o agricultor,
que vive perto da Sertã, disse que não lhes podia fornecer
nada, uma vez que a GNR já tinha levado tudo. A PJ terá confidenciado
ao agricultor que “esse não era o procedimento”
e que a GNR não teria competência para apreender as plantas
em questão. Aqui a história adensa-se. O Cannareporter
contactou a Polícia Judiciária para esclarecer a situação, mas
nunca obteve resposta às questões enviadas, em Novembro
de 2021, apesar da insistência, tanto por email como por telefone.
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35
Crónica
Crónica
Horrores e Amores entre
e realidade e a ficção
Graça Foles Amiguinho
Soam as sirenes, avisando
que é urgente toda
a gente se refugiar nos
abrigos.
São jovens, crianças e
idosos, numa angústia
desmedida, correndo,
como podem. O terror
veio bater-lhes à porta.
Os tempos de paz e alegria
fugiram, num só
dia.
A ansiedade, a incerteza e o medo de
perder a vida e ver morrer, tomaram
conta de todos.
O inimigo, impensável, porque nada
fizeram para que fossem tão brutalmente
atacados, enfureceu-se e procura
destruir, arrasar, matar, para reinar,
para dominar.
Mais parecem estar vivendo um filme
de ficção, que se tornou uma realidade,
tão próxima e dolorosa.
Já não há lágrimas para derramar. A
tristeza absorveu tudo. Nada lhes resta,
senão esperar a hora de partir, ou
morrer, debaixo dos escombros que
as armas mortíferas deixam. Mas não
desanimam.
Reúnem numa mochila, o indispensável
para as primeiras horas de debandada
e o resto, Deus dirá, como
será.
As crianças ficam atónitas, pois não
conseguem entender o porquê desta
fuga, a razão do silêncio, a tristeza espelhada
no olhar dos pais, que se separam
com os corações partidos.
YANA é a filha mais nova de um casal
que vivia confortavelmente numa linda
casa, na cidade de MARIUPOL.
O pai, YROSLAV é médico pediatra e a
mãe, NADEZHDA é professora de música.
Ela frequentava a pré primária e
sente imensa falta das suas amigas,
com quem brincava. Não esquece a
sua linda professora, a jovem KATYA,
com quem viveu momentos muito
bonitos.
Tem um irmão, com 15 anos, o PA-
VLO, que não teve que ficar junto do
pai para defenderem a sua cidade, do
ataque ignóbil do inimigo russo, por
ser um adolescente.
Às costas, carrega a sua guitarra, fiel
companheira, que toca com arte e encanto.
Nas primeiras noites, ficaram na cave
de uma igreja, juntamente com outras
famílias.
Com eles levaram o seu pequenino
cão, que sozinho, morreria, ao abandono.
O pároco, RUSLAN, é um jovem que
dedicou a sua vida a ajudar os irmãos
que sofrem.
A vontade de conversar é pouca, mas
é preciso partilhar o sofrimento com
outras famílias e encontrar a força necessária
para enfrentar momentos tão
estranhos e perigosos.
Encontraram um lugar seguro, onde
poderão passar a noite.
Há colchões espalhados pelo chão,
há brinquedos por todo o lado, há comida
suficiente para ninguém sentir
fome.
Só falta a alegria, a vontade de cantar
e dançar, o prazer de correr de bicicleta
ou a pé, pelos parques da cidade
que está debaixo de tiroteio, ouvindo-
-se o ribombar dos canhões.
NADEZHDA tenta ligar ao marido para
saber onde está e, sobretudo, se está
bem. Mas, naquele local a rede de comunicação
é fraca e não consegue estabelecer
a chamada.
O seu coração parece saltar-lhe pela
boca, tão preocupada está!
Há uma prece que todos sabem e em
comum, rezam, com muita fé:
“Quem teme ao homem cai em armadilhas,
mas quem confia no Senhor
está seguro”.
Faz-se silêncio na ampla cave da igreja
e muitos continuam de olhos fechados,
rezando, em silêncio.
As crianças, cansadas, começam a
adormecer e nos seus sonhos, sobressaltadas,
muitas acordam gritando e
chorando, pensando não estar perto
da família.
Amanhece e os sinos da igreja tocam a
repique, avisando que, mais uma vez, o
inimigo se aproxima.
É preciso procurar uma solução que
garanta mais segurança.
Talvez, partir de comboio, rumo à Polónia,
onde têm amigos que os poderão
receber, por uns tempos.
Dirigem-se à estação dos comboios e
a confusão é enorme. Há soldados em
todos os cantos, receosos que se infiltrem
inimigos.
Sem lugares para se sentarem, quase
em cima, uns dos outros, ouve-se o apito
de partida.
Uma multidão se prepara para partir
da cidade que ama, mas onde a sua
segurança está em causa.
As pessoas tentam entrar e partir, o
mais rápido possível.
A pequena YANA vai apoiada na mão
firme da sua mãe, que com na outra
mão carrega um pequeno saco.
PAVLO leva o seu saco, a guitarra e ao
colo, o seu cãozinho. O cãozinho, também
está assustado com o barulho da
guerra, sem entender nada do que se
passa.
Mas percebe que o seu dono está tremendo
e com vontade de chorar.
Para trás ficam os avós maternos que
vivem numa quinta, no campo, onde
cultivam milho e trigo. Os seus nomes
estão guardados nos seus corações:
NADYA e ANDREY.
Nos fins-de-semana iam para lá para
respirarem ar puro e poderem correr
pelos campos e brincar. Dias muito felizes.
Muitas vezes ajudaram o avô nos
trabalhos do campo e a avó, nas tarefas
caseiras.
A avó NADYA cozinhava muito bem
a sua sopa preferida: Borsch Borsch,
uma sopa de vegetais feita de beterraba
como ingrediente principal, também
popular na Rússia e na Polónia.
Entretanto, NADEZHDA recebe um telefonema
do marido e fica aterrorizada.
O hospital pediátrico e maternidade
da cidade onde trabalha, foi atacado
pelos mísseis russos. Estão vivendo
momentos de angústia e medo. Um
horror, que nunca imaginara ver, apesar
de saber que a maldade dos homens
não tem limites.
Destruição total das enfermarias, muitos
feridos e crianças mortas.
Acalma a esposa, dizendo que está
bem, apenas tem umas escoriações na
cabeça, provocadas por um teto que
abateu no local onde estava.
Mulheres grávidas, prestes a dar à luz
têm a sua vida em perigo e a vida da
criança que trazem no ventre.
YAROSLAV está tristíssimo e muito
preocupado. Todos lutam com coragem
mas não conseguem deter completamente,
o inimigo, que continua a
destruir a sua terra.
Como poderão resistir ao avanço constante
do exército russo, armado até aos
dentes? Não respeitam as regras estabelecidas.
Atacam tudo e todos, sem
olhar para trás.
Uma força malévola os domina. Nada
os demove! Nada os impede de continuarem
a destruir e a matar inocentes.
Muitas cidades e vilas estão completamente
destruídas e desertas.
Os idosos que vivem nos Lares estão
sendo evacuados, porque os ataques
chegam a todos os lugares. A maldade
é cega.
Os avós paternos de YANA e PAVLO
devido a idade avançada e para terem
melhor assistência e quem os cuidasse,
vivem num Lar residencial na cidade
de MARIUPOL.
Já tiveram que ser evacuados para outro
lugar, para não sofrerem os ataques
aéreos, que constantemente se ouvem
na cidade.
Estão vivos, mas muito assustados e
preocupados com o filho, os netos e a
nora.
Não imaginaram, jamais, viver uma
guerra agora, nos seus últimos dias.
O comboio avança, lentamente, pois
há necessidade de saberem se há condições
para prosseguir a viagem com
segurança.
As notícias recebidas nos seus telemóveis
são preocupantes. Não se vislumbra
a esperança de haver um regresso
à Paz perdida, sem uma razão que
consigam entender.
Faz frio, as temperaturas de inverno
são baixas. Embora estejam bem agasalhados,
sentem a falta de condições,
comparadas com a sua vida normal.
Muitas vezes fizeram esta viagem, mas
com outras condições, com tranquilidade,
toda a família reunida e sem
medo de nada.
Esta viagem é muito diferente. A alegria,
os sorrisos, a esperança do reencontro
com a família ficam ofuscados
pela tristeza, pela dor de saberem que
na sua Pátria, há gente que morre, há
choro, lágrimas e muito sangue derramado.
Até quando?
NADEZHDA não conta aos filhos tudo
o que o seu amado esposo lhe disse
para não assustar as crianças.
Seguem o percurso em silêncio, pois
todas as pessoas carregam a tristeza e
a dor de deixarem a sua casa, a família
e as recordações de uma vida.
Ouvem na internet uma notícia que
muita tristeza lhes traz!
Conheciam bem a jovem YULIA ZDA-
NOSKA, a premiada com a medalha de
prata nas Olimpíadas de Matemática,
em 2017.
Sabem que tinha decidido não fugir,
tendo afirmado, no início da guerra:
-“Vou ficar na Ucrânia, até ganharmos!”
Tristemente, morreu num incêndio,
após explosão causada por um míssil
russo que atingiu a zona residencial
em que vivia, em KHARKIV.
Histórias de vida que o povo Ucraniano
e todo o mundo civilizado nunca poderão
esquecer, porque ficam escritas
com sangue inocente impregnado de
coragem.
Ainda em viagem e de coração triste e
lágrimas escorrendo, sem as conseguir
conter, PAVLO começa a desenhar uma
melodia para um poema que nasce no
seu pensamento. Não é a primeira vez
que escreve as letras para as melodias
que vai criando.
Afinal, longe da escola, dos amigos,
do pai e da sua casa, vai tentar, custe
o que custar, transformar todo o sofrimento,
esta angústia que o quer dominar,
em música e poesia.
E os primeiros versos surgem no seu
pensamento. Para que não se esqueça
do que a sua mente lhe dita, pega
numa esferográfica e no próprio bilhete
do comboio, escreve:
Morte infame, morte maldita!
Vieste roubar a vida de uma jovem erudita!
As chamas queimaram o seu destino,
mas o seu exemplo correrá
36 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu
37
por este mundo em desatino!
Oh YULIA , Oh! YULIA! Oh! YULIA!
As notícias que vão chegando e que
vão lendo no telemóvel são desanimadoras.
Na cidade de BUCHA, a situação é
dramática.
Idosos, muito idosos, interrogam-se
qual será o seu destino. Uma vida
cheia de trabalhos. Alguns já passaram
por outras guerras e agora, com
93 anos, são obrigados a sair das suas
casas, sob um tempo gélido, quando
poderiam estar confortavelmente
aquecidos e aconchegados nos seus
lares.
Há notícias de pessoas que há dez
dias estão em caves onde falta tudo,
alimentos, higiene, medicamentos
para os doentes, estando sempre sujeitos
a ser roubados, por espiões sabotadores,
ficando sem o pouco que
levavam.
Um Orfanato onde vivem dezenas de
crianças institucionalizadas tem que
ser evacuado e todos têm que fugir
para a Polónia.
O povo Ucraniano, um povo pacífico,
educado, mostra-se revoltado.
Há quem compare Putin, a Hitler.
Há assaltos e assassinatos para roubarem
bens essenciais.
Entretanto surgem notícias de esperança,
também.
Muitos países estão prontos a acolher
os refugiados e entre eles, Portugal dá
um grande exemplo.
Portugal é um país pequeno, pobre,
mas de grande coração.
São inúmeras as manifestações de solidariedade,
vindas de norte a sul de
Portugal.
As populações mobilizam-se e conseguem
reunir toneladas de bens para
enviar para a Ucrânia.
Grande alegria sentem ao saberem
que há a possibilidade de emigrarem
para Portugal.
Em Portugal poderão refazer as suas
vidas.
Sabem que o Governo português está
aberto a dar-lhes boas condições,
com gestos de solidariedade, permitindo-lhes
o acesso à cidadania, cuidados
de saúde, habitação e trabalho.
Em Portugal, NADEZHDA poderá encontrar
uma escola onde lecionar de
acordo com a sua especialização e
tanto YANA como PAVLO entrarão na
escola e continuarão os seus estudos.
Todos terão que aprender a língua
portuguesa. Mas, nada lhes mete
medo. Só a guerra os intimida.
Pela cabeça da Mãe passa o sonho
de o seu amado esposo, YAROSLAV,
quando a guerra terminar, vir para
Portugal, trabalhar num Hospital pediátrico.
A insegurança, no seu país, será uma
constante, sem fim à vista.
Enquanto NADEZHDA e PAVLO vão
lendo as notícias, a pequenina YANA,
brinca com o cãozinho e reparte com
ele um pedaço do seu pão.
O tempo custa a passar. Parece terem
entrado no comboio, há um século.
Tão lentamente avança que perderam
a noção das horas.
Brevemente estarão em Varsóvia.
Mas não conseguem desligar-se das
notícias que chegam, minuto a minuto.
Sabem que chegaram muitas crianças
a Varsóvia que testaram positivo à
Covid 19. Um verdadeiro martírio que
se junta à fuga obrigatória.
Ligam aos avós, NADYA e ANDREY e
estes contam que os seus galinheiros
foram assaltados e lhes levaram todas
as galinhas.
Não bastando isso, foram ao celeiro e
carregaram os sacos de trigo e milho
que tinham guardados.
Pensam ter sido militares russos que
segundo se consta, estão com falta de
alimentos.
Mas nunca se sabe, se serão ou não.
Em tempo de guerra tudo pode acontecer.
As pessoas perdem, completamente,
a noção do que é certo ou errado.
Fazem tudo para sobreviverem.
Mas, felizmente, não foram atacados.
Foi tudo tão silencioso, que não se
aperceberam de nada.
Admiram muito a atitude do seu Presidente,
VOLODYMYR ZELENSKY.
A sua postura, o seu discurso sincero
e humanista têm tido uma força incrível
para dinamizar tanto soldados,
como civis, a combater pela sua terra,
a defendê-la do ataque de um inimigo
tão poderoso e desumano, que não
tem dó nem piedade de ninguém.
Vêem imagens de sofrimento de idosos
doentes e atitudes de uma dedicação
enorme das suas famílias, muitas
que sacrificam a própria vida, para
ficarem junto dos que amam e estão
acamados.
Também os animais têm sido tratados
com muito carinho. Gatos e cães são
levados pelos seus donos. Os que não
podem partir são levados para lugar
onde aguardam novos donos.
Sabem, pelas notícias que correm,
que as tropas russas continuam a tentar
entrar na sua linda cidade de KIEV.
Ouvem, atentamente, o discurso do
seu Presidente, ao Parlamento Polaco.
Emocionante. As lágrimas não podem
ser contidas.
As últimas palavras, como uma prece,
são o sentir de um povo que acredita
que DEUS não o abandonará!
Putin, não desiste. Putin precisa de
mercenários. O Povo russo não chega
para esta guerra?
Abandonam carros por todo o lado.
Milhões de euros que ficam na lama e
que o povo Ucraniano aproveita para
combate.
O povo Ucraniano não desiste de reparar
instalações de fornecimento de
água para abastecimento dos residentes
que ficam.
Um Povo que luta com as suas próprias
armas, sem ajuda de ninguém.
Os russos continuam a bombardear
gente indefesa.
Querem destruir, matar e os soldados
nem sabem para quê, apenas sabem
que podem ter o destino de outros
colegas seus, que ficaram mortos no
chão, sem os seus corpos serem sequer,
recolhidos, para as famílias se
despedirem deles.
Sabem que há manifestações na Rússia,
contra Putin, mas o destino de
quem não concorda com Putin é a
prisão e sabe-se lá se voltarão a ter algum
dia, liberdade.
Também há notícia de pessoas que
estão sendo levadas, por engano, para
a Rússia.
A aflição é tamanha que nem perguntam
para onde as vão levar.
Entram nos transportes, apenas com
o desejo de sair do cenário de guerra
e morte em que estão vivendo.
Finalmente, avistam a estação do caminho-de-ferro
de Varsóvia.
No meio de tanta gente que está na
gare, conseguem ver um lenço azul e
amarelo, a acenar.
É a prima KATARZYNA e o marido, JÓ-
ZEF.
Sorriem, comovidos, quando a carruagem
passa, lentamente, por eles.
Parou.
Calmamente, aguardam a sua vez de
sair.
As pernas estão entorpecidas de tanto
tempo estarem sentados.
Mas esta primeira viagem terminou
bem.
Estão a salvo.
No apeadeiro avançam, como podem,
ao encontro dos familiares. Não é fácil.
São centenas de pessoas que viajavam
em dez carruagens e muita gente que
as espera.
Mas, o sinal do lenço no ar ajuda o encontro.
Choram, abraçados e comovidos.
Não são precisas palavras para manifestarem
o agradecimento que sentem
por terem sido, de imediato, acolhidos
pelos primos.
Os primos sabem muito do que se tem
passado, mas só quem viu e viveu os
últimos dias na Ucrânia atacada, sabe
definir o que é o horror de uma guerra.
Haverá ocasião de falarem sobre muitas
coisas.
Agora é altura de prepararem um bom
banho quente e uma boa refeição que
já fumega, na cozinha.
Mas não há sossego em parte alguma.
As notícias da desgraça são em catadupa.
Em IRPIN, as tropas Ucranianas resistem
aos brutais ataques dos russos.
Idosos acamados, gente desolada, dizendo
entre lágrimas, que deixaram
para trás as suas casas ardidas.
O desejo de ir para bem longe é maior
do que tudo o que possam pensar.
Uma senhora conta ter nascido no
tempo da guerra, ficou órfã e agora
volta a passar pelo mesmo martírio.
Passaram por frio, fome e sofrimento,
muito sofrimento. Precisam encontrar
um sítio onde não haja guerra.
A ponte destruída para evitar o avanço
dos russos, dificulta-lhes o caminho.
Mas a vontade não esmorece. Os seus
soldados vão vencer!
O inferno, mesmo distante, continua a
afligir quem ama a sua terra e quem
nela deixou amores.
As notícias não dão a entender que o
amanhã será melhor. É preciso muita
coragem para não desanimar e continuar
a confiar na força do Bem.
KIEV está sob a mira do inimigo que
procura a todo o custo, entrar na cidade,
abater todos os resistentes e impor
a sua maldita vontade.
O Presidente continua a incentivar o
seu Povo a não desistir, a lutar pela sua
Liberdade!
Pede aos agricultores para fazerem as
suas colheitas de primavera, apesar de
estarem enfrentando uma guerra.
Os avós de YANA E PAVLO vão tentar
arranjar trabalhadores que os ajudem,
entre os poucos que ficaram naquela
região.
Em DNIPRO, a quarta maior cidade da
Ucrânia, um Jardim de Infância foi atacado
por mísseis russos.
O estádio de futebol CHERNIHIV, onde
um grande jogador, YARMOLENKO iniciou
a sua carreira, foi completamente
destruído em bombardeio russo e uma
Biblioteca, não resistiu ao ataque impiedoso.
Ao ouvirem as notícias que a Rússia
quer fazer passar contra o seu País,
ficam incrédulos, pois não acreditam
como é possível, alguém inventar tantas
mentiras e querer torná-las uma
razão forte para invadir e devastar as
suas terras, matar os seus soldados e
tantos civis que já caíram trespassados
pelas suas balas assassinas, incluindo
41 crianças.
Mas nem tudo é contra a sua nação. Há
voluntários a oferecerem-se para lutar
ao lado dos seus soldados. É muito
triste que assim tenha que acontecer.
Mas perante tanta violência, é preciso
aproveitar a agilidade e sabedoria de
quem quer ajudar.
Grandes provas de resiliência vêm de
pessoas de muita idade.
O tenista mais velho do mundo, com
97 anos que ainda joga, LEONID STA-
NISLAVSKYI, vive em KARKIV, onde 48
escolas já foram destruídas pelas armas
russas, diz não querer abandonar
a sua terra e espera viver até aos 100
anos.
O desejo de sobreviver e ver a vitória
dos seus compatriotas!
Há bases aéreas atacadas e destruídas.
Tentam, por todos os meios, avançar.
Os países democráticos estão unidos
contra os países autocráticos.
Até inventam a existência de fábricas
de armas biológicas
Inacreditável.
O Presidente Ucraniano teme que todas
as invenções vindas da Rússia, possam
ser uma ideia a pôr em ação pela
Rússia, que já usou bombas Termobáricas,
proibidas e altamente destrutivas.
Bombas de Fragmentação atacam zonas
residenciais e infantários.
Todos se interrogam até onde irá aquele
ser abominável, sem coração, com
tanta maldade?
KIEV é o grande objetivo a abater. Os
Ucranianos tudo farão para a defender.
O Presidente da Câmara de Melitopol
foi raptado pelas tropas russas.
Notícias pouco animadoras.
NADEZHDA fala com o marido sobre
as notícias que chegam à Polónia e
Crónica
sente nele grande preocupação.
É YAROSLAV que sugere à mulher que
vá para Portugal, onde encontrará
boas condições para educar as crianças
e poder encontrar trabalho.
A prima KATARZYNA, sentindo as
preocupações de NADEZHDA, lembra-
-se que tem uns amigos na cidade do
Porto, em Portugal, e promete falar-
-lhes na vontade que ela manifestou
de viver nesse país.
Vão deixar passar mais uns dia e depois
irão contactar a Embaixada de
Portugal e ver que possibilidades haverá
desta família poder refazer a sua
vida, embora longe.
A última notícia fala de milhares de
combatentes estrangeiros que se querem
juntar ao exército Ucraniano.
São voluntários, jovens, com fortes
ideais de Liberdade que darão a sua
vida, se for preciso, para ajudar os
Ucranianos a salvaguardar a sua Liberdade
e Independência.
As notícias cada vez são mais claras.
Putin é um “psicopata” dominado pelo
seu ideal de criar um grande império,
matando, roubando e devassando
as regiões que fazem fronteira com a
Rússia, com o seu exército.
A sua ação louca e devastadora continua,
difundindo notícias sobre as falsas
razões desta invasão.
Inventa que este país usa os seus cidadãos
como “escudos humanos”, que
fabrica armas biológicas, enfim, talvez
tudo o que a Rússia faz e tem, reverte
como crimes do povo Ucraniano.
A revolta cada vez é maior. O povo sente-se
ofendido, atacado injustamente.
Todos querem defender a sua nacionalidade,
criar os seus filhos na terra
onde nasceram e que tanto amam.
Mas não há sinais mínimos de viragem.
Pelo contrário.
NADEZHDA recebe um telefonema do
marido e fica destroçada.
A cidade de Mariupol foi tremendamente
atacada. Há muitos mortos e
feridos. Está preocupadíssimo com os
sogros que vão resistindo por viverem
fora da cidade. Mas nada garante que
um míssil os atinja.
Não pode haver maior sofrimento. Entretanto,
soube que entre os mortos,
há amigos que ficaram debaixo dos
escombros e sucumbiram.
Cada dia que passa mais cresce a dor,
o receio pela vida, a insegurança.
38 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu
39
Eunice
O segredo das
verdadeiras mudanças
Muñoz
morreu
aos 93 anos
Nelson S. Lima
Se biologicamente não estamos
sujeitos a mudanças repentinas
e profundas é verdade, porém,
que culturalmente podemos
rapidamente encetar grandes
transformações na pessoa que
somos e no nosso modo de
viver.
Saibamos, porém, perceber
que as grandes mudanças
na vida devem ser pensadas,
equilibradas, honestas e
aceitáveis para que sigamos
para melhor e não para pior.
E se formos surpreendidos
por forças inesperadas (como
uma doença ou uma desilusão)
tenhamos a lucidez e a força
emocional necessárias para
escolhermos o jeito certo
que minimize ou resolva os
problemas.
Acredite que tudo está em nós,
na força da nossa mente e na
forma como nos auto-educamos
e lidamos com os desafios.
Porque é disso tudo que é feita
a experiência do viver.
Joana Araújo
A actriz Eunice Muñoz, nascida na Amareleja, no
distrito de Beja, em 1928, que completou em Novembro
80 anos de carreira, morreu em 15 de Abril,
no Hospital de Santa Cruz, em Lisboa, aos 93 anos.
Ao longo dos anos, fez cinema e televisão, mas foi,
sobretudo, nos palcos do teatro que mais se destacou
e mais brilhou. No ano passado, celebrou oito
décadas de carreira no mesmo palco, o do Teatro
Nacional D. Maria II, onde se estreou aos 13 anos, na
peça "Vendaval". Participou em cerca de 80 peças
de teatro e passou grande parte da carreira como
actriz residente do Teatro Nacional.
Em Abril do ano passado, Eunice Muñoz foi condecorada
pelo Presidente da República, Marcelo
Rebelo de Sousa, com a Grã-Cruz da Ordem Militar
de Sant’Iago da Espada, cerca de três anos após ter
recebido a Grã Cruz da Ordem de Mérito.
Colegas e personalidades da cultura, da política e
de todos os quadrantes da sociedade portuguesa
mostraram pesar pela morte da actriz. O governo
decretou luto nacional no dia do funeral.
Foto: Arlindo Homem
A Guerra
Miguel de Pompeia
Alguém que não seja completamente burro ainda
tem dúvidas de que o objectivo da guerra SEMPRE foi
incapacitar a Rússia e impedi-la de voltar a ser uma
potência com uma palavra a dizer sobre o que se passa
no mundo?
Desde pelo menos 2008 que os EUA têm estado a
provocar este conflito, alguma vez iriam parar depois
de 2 meses? Alguém ouviu uma única vez um único
responsável americano apelar à paz ou ao diálogo? Desde
antes da guerra a retórica foi SEMPRE a de confrontação.
Prometeram à marionete o apoio da NATO mas nem um
único homem disponibilizam. Os EUA fornecem armas
porque estão dispostos a lutar até ao último ucraniano.
Eles não querem saber da Ucrânia para nada, a Ucrânia, e
o povo ucraniano são um peão, dispensável, tal como foi
o povo de Cuba.
Esta guerra só irá acabar como acabam todas as guerras
onde os americanos estão envolvidos, quando a opinião
pública americana ficar contra a guerra. Ora a opinião
pública americana tende a ficar contra as guerras apenas
e só quando começam a morrer muitos americanos e isso
simplesmente neste caso não vai acontecer.
Portanto a única forma de a guerra acabar será com
uma vitória militar da Rússia mas isso também não é
fácil porque a Rússia nunca teve a intenção, nem tem a
capacidade, de ocupar o país todo...
A outra opção seria o próprio povo ucraniano exigir à
marionete que faça a paz mas qualquer pessoa que se
atreva a sugerir isso acaba numa sarjeta com uma bala na
nuca. Tem acontecido pela Ucrânia inteira...
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Horizontais:
1. O único planeta do
nosso sistema solar que
não tem o nome de um
deus.
5. Período de tempo
que não se pode medir.
8. Érbio (s. q.).
9. Numeração romana
(4).
10. Forma reduzida de
tricampeão e de tricampeonato.
11. Estrela que é o centro
do nosso sistema
planetário.
13. Praia.
15. Explosão (?), deu origem
ao nosso Sistema
Solar.
19. Nome que se dá a
uma grande concentração
de estrelas e outros
astros.
23. Emite som forte e
zoante.
25. O âmago.
26. Teve origem numa
grande explosão (Big
Bang).
28. Satélite natural da
Terra.
29. Símbolo de sudeste.
30. Sétima nota musical.
Verticais:
1. Trabalho original.
2. Deus do Amor entre
os Gregos.
3. Relações Internacionais.
4. Aprovação (fig.).
5. Regiões superiores da
atmosfera.
6. Fala em público.
7. É considerado o maior
rio do planeta Terra,
mas o tem rivalizado
com o rio Amazonas
(o verdadeiro tamanho
continua em aberto).
12. Lituânia (Código Internet).
14. Antigo título, hierarquicamente
inferior
a marajá, atribuído aos
soberanos de um estado
indiano.
16. Época.
17. Vegetação composta
de algas (pl.). 18. Vista
do espaço a Terra é predominantemente
desta
cor, devido ao mar.
19. Na mitologia, é a Mãe-Terra.
20. A eles ou a elas.
21. Incógnita.
22. «A» + «o».
24. Organização das Nações
Unidas.
27. Prefixo que designa repetição.
CULTURA
Palavras Cruzadas
V PAULO FREIXINHO
Encomendas
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Poesia seria encontrar 1000 pessoas
dispostas a comprar um livro
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Adoro que me contactem e tenho inúmeras
formas de o fazer. Utilize qualquer
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qualquer coisa.
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Não vos entristece saber que já
passou um ano e o cruciverbalista
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não vendeu 1000 livros?
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Crónica
Um dia André Ventura
levar-nos-á ao altar
Luís Osório
1.
André Ventura parece ter colocado o
seu retrato em todos os gabinetes do
Chega.
Um retrato com a proporção suficiente
para soltar a imaginação dos seus
fiéis ou dos saudosos de um outro
tempo.
O que Ventura deseja é o mesmo que
desejou quando fez a saudação fascista
– recusando sempre, como sabemos,
a ideia de que esticou o bracinho
de um modo consciente e propositado.
Deseja, tão-somente, que o confundam
com Salazar.
E já agora com todos os que teriam a
capacidade de nos meter na ordem e
de acabar com esta bagunça da liberdade
que apenas serve aos que não
querem trabalhar, à esquerda e a toda
a maralha dos portugueses que não
são de bem.
2.
André Ventura provou até agora que
estava certo na sua estratégia.
Provou que se pode mentir descaradamente
sem ter consequências no
que para ele é essencial – ganhar votos,
condicionar o sistema e um dia
ser poder.
De uma eleição para outra o Chega
passou de um deputado para terceira
força partidária.
É obra!
Não vou por isso discutir a estratégia,
pelos vistos tem sido a correta na sua
ótica e perspetiva.
A minha questão é outra.
Qual a razão para que estas maluqueiras
de Ventura resultem em votos?
E qual o posicionamento dos próprios
deputados do Chega quando entram
no seu gabinete e veem que, a partir
daquele momento, a decoração se
confunde com a cara de André Ventura,
como se ele fosse a reencarnação
viva de Salazar?
Não acharão demasiadamente ridículo?
3.
O meu problema com o Chega não é
o da discussão política – o populismo
é uma evidência global e Ventura ocupou
com eficácia o espaço que existia.
O meu problema é a pobreza da mensagem,
a pobreza dos golpes mediáticos
e do grupo parlamentar.
O Estado Novo tinha intelectuais e
gente preparada.
O franquismo ou o fascismo italiano a
mesma coisa.
Mesmo com o Vox espanhol, o projeto
de poder de Le Pen ou o regime de
Órban, existem ideias e uma filosofia.
Mas no Chega parece que os intelectuais
são o Gabriel Mithá – que se
queixou de ter sido ostracizado por
ser negro!! – e um tal de Diogo Pacheco
Amorim que foi sempre uma figura
muito secundária entre saudosistas e
protofascistas.
4.
Isso deveria sossegar-me.
Afinal, se o Chega tivesse um verdadeiro
cimento ideológico seria bastante
mais perigoso.
Mas talvez esteja equivocado.
Talvez as coisas tenham mesmo mudado
e aquilo que antes era valorizado
o tenha deixado de ser.
Talvez a verdade tenha passado a ser
aquilo que as pessoas consomem em
algoritmos que vão apenas ao encontro
do que procuram, do que desejam,
do que precisam.
O Chega é composto por vários tipos
de pessoas.
Us que merecem ser ouvidos e compreendidos.
(a democracia deixou muita gente
pelo caminho, gente ostracizada e esquecida).
Mas grosso modo é um exército de
ressentimento.
Gente que aparentemente não tem
muito a perder.
Gente para quem no tempo de Salazar
“é que era”.
Para esses deve ter sido comovente
ver quadros do grande líder serem
pendurados em gabinetes na Assembleia
da República.
No íntimo talvez lhes passe pela cabeça
que chegará o dia em que o grande
Ventura estará – com a ajuda da Nossa
Senhora – no mais alto altar onde
todos os portugueses serão levados à
sua presença para o dia do seu juízo
final.
É ridículo?
Muito ridículo.
Mas atenção, ao contrário do que alguns
possam estar a pensar, este postal
não é para rir.
Eu não me ri ao escrevê-lo.
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45
Porque saiu o Reino
Unido da União Europeia?
Carlos Matos Gomes
Porque saiu o Reino Unido da União
Europeia?
O regresso da querela trinitária
Uma das mais conhecidas e absurdas separações
políticas foi a que separou o império romano cristão do
Ocidente (Roma) do império romano cristão do Oriente
(Constantinopla) no século IV por causa da célebre e
decisiva questão que ficou conhecida como a “Querela
Trinitária”. Discutida no concílio de Niceia.
Os cristãos dividiram-se, em termos muito simples, por
causa de uns duvidarem da divindade do Espirito Santo e
considerarem o Pai superior ao Filho, e outros considerarem
a unidade da Trindade.
A pergunta de sempre e até hoje é: Afinal separaram-se
porquê se eram iguais e tinham a mesma visão do mundo
com início numa semana de sete dias, no mesmo Deus
que mandara Abraão sacrificar o filho só para lhe testar a
obediência, entre tantos outros factos extraordinários, aos
quais pouco alterava haver um Deus em três ou três num
Deus?
Hoje, perante o comportamento do Reino Unido e da
União Europeia quanto ao decisivo e de consequências não
imaginadas conflito que tem lugar na Ucrânia, a pergunta,
a minha pergunta, é, porque saiu do Reino Unido da União
Europeia, ou: porque não aceitou a União Europeia as
condições do Reino Unido para este permanecer no clube?
Isto é, o que distingue a parelha do populista Boris Johnson
e do nacionalista Nigel Farage, os dois mais extremados
promotores do Brexit, da senhora Van Den Leyen, dos
senhores Mitchell e Borrell?
Os dirigentes do Reino Unido e da União Europeia têm o
mesmo entendimento do papel da Europa no mundo, de
subordinação aos Estados Unidos e de seguidismo da sua
política para com a Rússia e a China.
ou pró-russas era no entanto “o seu regime”;
Entendem que, criada a casus belli para a intervenção
russa com as perseguições e os massacres no Leste da
Ucrânia (o Donbass), e desencadeada a guerra, esta deve
servir para desgastar ao máximo o poderio militar, político
e económico da Rússia, mesmo à custa dos sacrifícios do
povo ucraniano;
Entendem que a exploração dos terríveis resultados da
guerra através da mais intensa e insensível campanha
de propaganda jamais desenvolvida a propósito de uma
guerra, que a censura e a utilização de falsas imagens ou
a criação de factos causadores de emoções são meios
legítimos de conquistar a opinião pública dos seus
cidadãos;
Entendem que a escalada da guerra, de modo a provocar
mais imagens sensíveis, mais danos na Ucrânia com a
finalidade de provocar o desgaste do inimigo é a estratégia
adequada aos seus objetivos;
Entendem que o fornecimento de armas em quantidade
e qualidade sempre crescente constituem o melhor
processo de “ajudar” os ucranianos a servirem-lhes de
carne para canhão, enquanto os glorificam e os mimam
como defensores da sua liberdade e independência;
Entendem que nunca devem ser referida a palavra paz.
Um interdito comunicacional.
Entendem que Zelenski, à semelhança de Bin Laden há
uns anos, é uma excelente personagem para representar o
combatente da liberdade — um São Jorge — e que milícias
nazis do Azov são o correspondente da Al Qaeda do
Afeganistão, os “freedom fighters”. Zelenski, certamente
bem aconselhado por britânicos e europeus, pede armas,
não se dispõe a pedir mediação, nem fala de paz, nem
entende a Rússia como um vizinho com quem a Ucrânia
(se sobreviver) terá de se entender.
Entendem que a utilização da Ucrânia para os seus fins
pode justificar os riscos de um conflito com utilização
de armas nucleares (o que têm insinuado de forma
coordenada);
Minhas amigas e meus amigos, por
razões pessoais fui envolvido na
“britaniedade”, isto é na vã tentativa
de entender os britânicos. Percebi
o Brexit como o cumprimento de
orientações dos EUA que os britânicos
escolheram desde a Grande Guerra
como os seus sucessores à cabeça do
Império mundial. A posição perante
os EUA representava a diferença
entre o RU e a UE. O Brexit pareceume
justificado.
Agora, com a guerra da Ucrânia, os
ingleses deram-me a satisfação de
voltar a não os entender e de, pelo
caminho, não entender a UE.
Na realidade não existe diferença
entre a UE e o RU e já nem me lembro
da qualquer razão para o Brexit.
Esta é a base do texto que aqui
publico.
Entendem que os Estados Unidos devem ser a potência
dominante mundial e que esse domínio está ameaçado,
por isso devem colaborar na estratégia dos Estados Unidos
de bater o inimigo por partes: primeiro a Rússia, depois a
China;
Entendem que a Ucrânia era e é um território de interesse
estratégico para aí instalar um regime favorável ao
“Ocidente”, que permitisse bases de ataque dos EUA
próximos da Rússia (junto à fronteira) e por isso agem
desde 2004: agiram para integrar a Ucrânia na NATO e na
UE e promoveram a implantação de lideres afetos (caso da
ação conjunta da Praça de Maidan);
Entendem que, sendo o regime político que implantaram
desde 2014 em Kiev um regime benevolamente classificado
de iliberal, de oligarcas, de perseguidor de minorias russas
Entendem que esta guerra, com os inevitáveis os efeitos
económicos devastadores que os dirigentes do Reino
Unidos e da UE calculam, mas não revelam aos povos,
servirão para impor uma ordem neoliberal na Europa, com
a destruição do Estado Social, com o desvio de verbas para
armamento, com a inflação que permitirá aos grandes
grupos da oligarquia ocidental aumentar a sua riqueza e
reduzir os povos a rebanhos de dóceis miseráveis.
Enfim, se os dirigentes do Reino Unido e da União Europeia
estão de acordo com todas estas premissas e para este
papel de sendeiros, porque raio se desentenderam como
os velhos teólogos cristãos sobre a questão trinitária, que
levou ao Brexit e de que hoje já ninguém se recorda. Porque
saiu a Reino Unido desta União auxiliar dos Estados Unidos
se nada distingue Boris Johnson da Trindade da UE? Onde
anda o Nigel Farage, a treinar ucranianos, a vender gás e
petróleo?
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47
Crónica
O milagre dos
pastorinhos
Francisco e Jacinta
Carlos Esperança
Lembro-me do velho Hospital Distrital de Leiria
e da magnífica escadaria de mármore partida a
camartelo para obras de remodelação, depois
de retirada a foto imponente do virtuoso bispo
D. Manuel de Aguiar sob cujos auspícios fora
construído o edifício.
No respetivo piso, entre várias enfermarias, ficavam
as de Medicina. Na de “Mulheres”, sobressaía uma
mesinha de cabeceira pela parafernália de senhoras
de Fátima, pastorinhos e outras imagens pias que
a ornamentavam. Ficava junto à cama de uma
paralítica que, durante a noite, se arrastava até junto
das camas de outras doentes para lhes impedir o
descanso.
Essa internada tinha a antipatia e inimizade de
outras doentes, e era dileta do Diretor do Serviço,
Dr. Felizardo Prezado dos Santos, enternecido com
a devoção e extasiado com as suas imagens de
santos e veneráveis. Era a D. Emilinha, a mais antiga
internada, conhecida de toda a gente.
Um dia, nas férias do Dr. Felizardo, o médico José
Luís Alves Pereira, que o substituiu, deu-lhe alta,
por entender que não padecia de moléstia do foro
da Medicina Interna, o que, no regresso, irritou o Dr.
Felizardo.
A D. Emília, Maria Emília Santos, voltou à enfermaria
e foi reintegrada no espaço que lhe servia de asilo e
local de devoção.
As transferências para Psiquiatria, no Hospital da
Universidade de Coimbra, eram para os períodos de
maior necessidade. Segundo o Dr. Marques Pena,
psiquiatra, a D. Emília padecia de uma enfermidade
que a podia conduzir à cegueira, à paralisia ou a
outras mazelas, por períodos de maior ou menor
duração. No respetivo processo clínico dos Hospitais
da Universidade de Coimbra hão de constar dados
rigorosos se, acaso, um qualquer milagre não o fez,
entretanto, desaparecer.
Mas voltemos a Leiria e à D. Emília Santos cuja
paralisia era reincidente e que então foi curada
por intercessão do Francisco e da Jacinta, bem
necessitados de um milagre para a beatificação e
destinatários conjuntos das preces da candidata a
miraculada.
Sarou-a de novo a fé e passou a andar. Morreu
pouco depois, completamente curada. O milagre,
depois de averbado nas provas de beatificação dos
pastorinhos, onde passaram com distinção, deixou
de interessar à Igreja, sendo discreto o funeral da D.
Emília onde, a título meramente particular, se integrou
o bispo de Leiria, D. Serafim Ferreira e Silva.
A divulgação do milagre da paralítica que se curou foi
feita com pompa e circunstância pela imprensa pia
e profana, invocando depoimentos de três médicos
diferentes, a Igreja católica é muito cética e exigente,
unânimes a atestar a intervenção sobrenatural.
Por divina casualidade, a certificação do milagre
foi atestada pelo Dr. Felizardo Prezado dos Santos,
pela Dr.ª Maria Fernanda Brum, por coincidência
esposa do primeiro, e pela psiquiatra Paula Cristina
Amaral Brum Prezado Santos, filha de ambos, todos
da Associação dos Servitas de Nossa Senhora de
Fátima.
Digam lá, leitores, se, depois desta narração,
ainda duvidam da veracidade do milagre! É preciso
demasiado ceticismo. Leiam isto enquanto há
testemunhas porque, um dia, há de constar que
à D. Maria Emília Santos lhe cresceu uma perna
amputada.
A enfermeira Alcina, que trabalhava na enfermaria,
ficou com a vaga sensação de que o Dr. Felizardo se
terá arrependido, depois de ter ativado a certificação
familiar da cura sobrenatural, mas é mera conjetura
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49
Crónica
Suíça falha meta de
redução de gases de
efeito estufa
A enorme
coragem de
ser mãe
A Suíça tem planos ambiciosos de redução de gases de efeito estufa, mas ainda tem que implementar um
plano concreto para realizá-los. © Keystone / Gaetan Bally
swissinfo.ch/mga
A Suíça falhou por pouco sua meta
de reduzir as emissões de gases de
efeito estufa até 2020, apesar do
lockdown do coronavírus e de um
inverno excepcionalmente quente.
O Estado alpino havia estabelecido a
meta de reduzir as emissões nocivas
em 20% em comparação com os
níveis de 1990. A redução real foi de
19%, disse o Departamento Federal
para o Meio Ambiente na segundafeiraLink
externo.
“Menos aquecimento foi
utilizado durante um inverno
comparativamente quente. A
pandemia resultou em uma
queda acentuada na mobilidade”,
declarou o Departamento do
Meio Ambiente. “Com o fim das
restrições pandêmicas, as emissões
estão novamente aumentando
significativamente. A pressão para
agir continua elevada”.
Somente o setor industrial excedeu
suas metas de redução de emissões
entre 2013 e 2020, reduzindo em 17%
o equivalente de CO2 nesse período.
O governo está particularmente
desapontado pelo fato do setor de
transportes ter perdido sua meta
de redução de 10%. Os veículos só
conseguiram uma redução de 8%
apesar do aumento do número de
alternativas elétricas e de biogás e
uma enorme redução no tráfego no
auge da pandemia.
As emissões do setor de construção
caíram 39%, falhando por pouco
a meta de 40%, apesar de menos
petróleo e gás serem usados para
aquecer casas durante um inverno
quente. “O setor de construção
continua a ser aquecido de forma
significativa com combustíveis
fósseis”, leu a declaração.
A agricultura e “outros” setores
falharam suas metas por alguma
margem.
A Suíça havia visado um pouco mais
do que as reduções de 15,8% entre
2013 e 2020 estabelecidas pelo
protocolo de Kyoto. As emissões
internas foram reduzidas em 11%
durante este período, o que foi
contrabalançado em grande parte
até 19%, compensando as emissões
com o financiamento de projetos
climáticos sustentáveis em outros
países.
Nos termos do acordo climático de
Paris, a Suíça se comprometeu a
reduzir pela metade as emissões até
2030 e pretende reduzir a zero as
emissões líquidas de gases de efeito
estufa até 2050Link externo.
Mas o governo foi forçado a
redesenhar seus planosLink externo
quando os eleitores rejeitaram um
pacote de reformas climáticas no
ano passado.
Luís Osório
1.
Em meados da década de 1980,
Eunice Muñoz foi a “Mãe Coragem”.
Encenada por João Lourenço, nunca
mais foi possível imaginar outra
mulher naquele papel de mãe que,
perdendo os três filhos, um por um,
continuou todos os dias, como se
nada fosse, a tentar sobreviver – como
se eles ainda estivessem vivos ou
como se ela, naquele corpo cansado
e morto em vida, fosse a metáfora
perfeita de todas as guerras.
2.
Hoje, dia de luto nacional pela “mãe
coragem” quero dedicar este postal a
todas as mães.
A todas, mesmo àquelas que não
chegam a ter o seu bebé no colo.
Mesmo a essas que não sendo mães,
são-no pela força de um desejo não
concretizado.
Mesmo às que têm um bebé que
decide partir num sopro deixando-as
de colo e berço vazios.
Mesmo às que carregam um filho
sozinhas assumindo todas as
responsabilidades.
3.
Hoje celebramos um dia de luto pela
“mãe coragem”, mas celebremos todas
as que carregam vida e cansaços.
Também as que têm filhos diferentes
dos que foram sonhados, meninos
que não falam, que não ouvem, que
não caminham, que não veem, mas
que são amados em cada abraço, em
cada olhar e em cada partícula do seu
sofrimento.
Celebro todas as “mães coragem”.
As que pegam nos filhos e batem com
a porta.
As que agora têm a coragem de os
proteger da guerra. Que atravessam
mares, desertos e países sem os
largar, numa barriga para lá do seu
umbigo, numa fome que só poderá
ser satisfeita quando o bebé estiver
tranquilo e protegido.
As que guardam os filhos das sirenes
dos bombardeamentos.
As que inventam histórias para que as
crianças não se esqueçam de como se
sorri, para que não percam antes de
tempo o desejo de brincar.
4.
As mães coragem que choram
sozinhas por estarem exaustas.
Por ninguém em casa lhes perguntar
se precisam de ajuda, se precisam de
descansar, se precisam de um abraço.
Mulheres coragem que dilaceram de
dor quando o leite sobe nas mamas
doridas.
Coragem para dar à luz, para as perdas
de sangue, para os cortes, para os
pontos, para as visitas na maternidade
e para os chazinhos em casa com
visitas que não imaginam o cansaço,
as dores e a falta de paciência.
5.
O instinto animal de proteger as crias.
O amor para lá do amor quando os
seus bebés finalmente descansam.
O amor que diz que sim quando
aparecem de surpresa, quando casam
e têm filhos, quando fazem merda.
Também quando têm febre, quando se
apaixonam pela primeira vez, quando
sofrem de amor ou se perdem.
6.
Hoje, dia em que o país se despede
de Eunice, celebremos todas as “mães
coragem”.
As que carregam os seus filhos num
mundo tão incerto.
As que têm a coragem de desafiar
o medo com a força da vida e da
esperança.
As que acreditam que o amor salva
sempre.
As que choram em silêncio quando a
casa fica vazia.
É para elas
(as felizes e infelizes, as que se
cumpriram e as que vivem em
sofrimento e angústia)
É para elas este postal.
É para si.
É para ti.
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51
Crónica
O SEXO DOS NOSSOS
DEUSES
Paulo Marques
Quinze portugueses ilustres (“15 Portugueses
Ilustres”, Paulo Marques,
Porto Editora, 2012). Quinze
homens e mulheres com
grandes contribuições em
áreas como a Literatura, a
Educação, a Cultura, a Arte
e a Política que, ao inscreverem
o seu nome na História,
se distinguiram da
maioria dos comuns mortais
exceto numa coisa: a
sua vida amorosa e íntima
onde, talvez, tenham sido
como os demais.
Das suas biografias constam
todos os feitos, incluindo
os mais privados. E desses,
os que se provam, e os
que se afirmam nos bastidores,
reiteradamente, mas
sem certezas. Como dizia o
Eça: «de um homem público
tudo é lícito revelar-se,
até mesmo o rol da roupa
suja». Cá vai então:
A Amália, cedo percebeu
que não estava talhada
para a felicidade amorosa,
excluída que foi pela excecionalidade.
Casou-se com
um guitarrista que a maltratava,
apaixonou-me perdidamente
por um playboy,
forçou-se a amar um banqueiro
que dava tudo por
ela, e partilhou quase quatro
décadas da sua vida
com um engenheiro que
nunca amou. Ainda assim,
despertou as mais acesas
paixões: teve homens e
mulheres a fazerem-lhe a
corte. Inventaram-lhe tantas
calúnias e mentiras que
nem da fama de bissexual se livrou.
Não há, todavia, provas que atestem…
doma». Apesar disso, parece que se
divertiu. E bem.
O Cunhal amou (e viveu) exigindo discrição
e silêncio. Terá aprendido a so-
amor lhe limitasse a vida política, a
entrega ao partido. Além disso, achava
a homossexualidade «uma coisa
muito triste». E estamos falados.
A Maria de Lourdes Pintasilgo
foi acusada de
demagoga, populista,
utópica, ingénua, «terceiro-mundista»,
comunista,
«meloantunista»,
beata e … lésbica. Para
a História ficará como
aquela que trocou as
paixões pelo estudo,
pela religião, pela política,
pela defesa de
grandes causas, mas
como nunca se lhe conheceram
namorados,
nunca casou, nunca
teve filhos, as más-línguas
(?) afiançam que
era lésbica e que teve
uma relação com uma
das fundadoras do movimento
Graal no nosso
país. Vá-se lá saber.
Francisco Sá Carneiro
foi um herói romântico
que desafiou os princípios
da sociedade do
seu tempo. Teve o assombro
de assumir em
público a relação com
uma dinamarquesa
belíssima por quem se
fazia acompanhar nos
atos oficiais. Foi uma
afronta à velha hipocrisia
e ao falso puritanismo
portugueses. Ironicamente,
o chefe da
Direita portuguesa, um
católico militante, casado,
vivia com uma mulher
“ilegítima”. Todavia,
contra tudo e contra
todos, não abdicou do seu amor por
Snu. Às razões de Estado e às conveniências
prevaleceram as razões do
coração. Uma história romântica mas,
infelizmente, breve e trágica. Faleceriam
ambos, quatro anos depois de se
terem conhecido, em circunstâncias
nunca completamente esclarecidas.
não teve, porém, uma vida pessoal que
possamos considerar bafejada pela sorte.
Mal-amada, celibatária, não deu «os
beijos que tinha a dar», «não [foi] amorosa»,
nunca «ninguém se interessou»
por ela, e não viveu «suficientemente,
com gosto, com paixão». A agravar, o
regime fascista saneou-a do ensino
com um processo do qual fazem parte
acusações de libertinagem com homens,
e alusões enviesadas de relações
com mulheres. Não se entende…
O cantor lírico Tomás Alcaide e o Sidónio
Pais foram ambos uns sedutores e
uns mulherengos. Sobre o chefe carismático
(e autoritário) em quem muitos
viram o «salvador da pátria», era voz
corrente em Coimbra: «tudo se pode
confiar a Sidónio, menos a mulher».
A jurista, escritora e feminista Elina Guimarães,
a grande atriz Maria Matos e a
Maria Lamas, uma heroína do século
XX, casaram, procriaram e foram felizes
(?).
Em relação ao Régio, apesar de constar
que manteve várias relações episódicas
com mulheres, nunca constituiu família
e a sua vida amorosa permanece um
mistério. O poeta combatia ferozmente
a sua natureza sensual. Fazia fé em
viver casto e inteiramente para a sua
Obra. Escolheu o trabalho por companhia.
O Torga era um homem de hábitos
monásticos, arisco, duro como pedra,
ensimesmado na escrita. Antes de casar
avisou a mulher: «quero que saibas,
enquanto é tempo, que em todas as
circunstâncias te troco por um verso.»
Nem mais.
A Fernanda de Castro conviveu e foi
amiga de muitos homossexuais, possuía
um espírito muito modernista para
a época, mas amou o António Ferro,
entreteve-se a escrever (e bem), com os
Parques Infantis, com a beneficência
e a cultura, e com a representação do
país, no papel de «Primeira-Dama» do
Estado Novo.
“VÃO PARA A
VOSSA TERRA!”
Paulo Marques
Originários do Norte da Índia, especialmente das regiões de Rajahsthan,
Haryana e Punjabe, a partir do século XI, através do vale do Danúbio, os
ciganos espalharam-se pela Europa. A diáspora do povo iniciou-se em
obediência à impiedosa ordem de deportação do sultão Mahmud de
Ghazni (971 – 1030).
Entraram em Portugal, pelo Alentejo, na viragem do século XV para o
século XVI: Gil Vicente dedicou-lhes o Auto das Ciganas, representado na
Corte de D. João III, em 1521.
Passados poucos anos, logo em 1526, saiu a primeira lei repressiva: «Que os
ciganos não entrem no reino e que saiam os que nele estiverem.»
A ordem seria apenas a primeira de muitas.
A desgraçada da nossa última rainha,
D. Amélia de Orleães, nasceu sob o E o princípio subjacente à ordem manteve-se ao longo do tempo,
signo da tragédia. Atravessou guerras, continuando, triste e vergonhosamente, presente. É mais que conhecido e
exílios, revoluções e regicídios, e lá foi sabido: a ignorância é a mãe de todos os preconceitos.
lidão, a autossuficiência e a autodisciplina
na clandestinidade e na prisão.
sentido de sacrifício. Sofreu as maio-
Dentro das minorias em Portugal – estima-se que existam atualmente
sempre sobrevivendo com o seu forte
Sabe-se que casou aos quarenta e
res injustiças, entre elas, a infidelidade cerca de 40 mil ciganos portugueses, isto é, 0,3% da população do país – os
O Botto, embora tenha acabado por sete anos, que teve uma filha, e pouco
mais se conhece da sua vida emo-
ter alimentado uma relação amorosa racismo e xenofobia.
descarada do real esposo, a calúnia de ciganos constituem a mais grave e escandalosa de todas as situações de
casar antes da partida para o exílio
definitivo no Brasil, era claramente (e cional e íntima. Ignoram-se os seus
com Mouzinho de Albuquerque e o
Já cá estão há mais de 500 anos e há mais de 500 anos que continuam a
descaradamente) homossexual. Por amores, apesar da sua capacidade de
boato de que mantinha jogos de paixão
com uma das suas damas. Chegou
ouvir: «Vão para a vossa terra!»
ter celebrado na sua poesia a beleza despertar paixões. Teve várias mulheres,
no entanto, não falava nelas, não
a publicar-se um romance pornográfi-
Acusam-nos de não se integrarem: só que não entendem que a sua
masculina, acabou sendo acusado pelos
semifradescos conservadores da
A escritora e pedagoga Irene Lisboa,
se fazia acompanhar por elas em atos
co, que Lisboa consumia aos milhares resistência à integração é uma questão de sobrevivência. Se tivessem
moral de produzir «Literatura de So-
mulher inteligente, autora de obra literária
e educativa de elevado mérito
a intitulava como «Marquesa da Baca-
visceral de liberdade e independência, há muito que tinham desaparecido.
públicos, nem nunca permitiu que o
de exemplares no ano de 1908, e que abandonado a sua cultura, tradição, língua e costumes, a sua necessidade
lhoa».
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53
CULTURA
Humor - ”Quem não sabe rir, não sabe viver” Passatempo
Na catequese dizia o padre:
-Como vocês sabem, o nosso primeiro
pai foi Adão e nossa primeira mãe
foi Eva... Nisto, uma das crianças
interrompe:
-Não é verdade.
- Como não é verdade? - pergunta o
padre um tanto aborrecido.
-O meu pai diz que nós descendemos
do macaco!
-Olha meu filho, os teus problemas de
família não me interessam...
----
Um sovina criava um burro. Para
economizar ainda mais, deixava o
burro sem comida. Um dia encontrou
um amigo que perguntou: - E o burro
compadre, tá indo bem? - Que nada.
Quando já estava acostumado a não
comer, decidiu morrer. - respondeu.
----
Um homem entra num Restaurante
e pede uma sopa. Quando a sopa lhe
foi servida reparou que tinha uma
mosca dentro e reclamou junto do
empregado: - Você já viu que a sopa
tem uma mosca dentro... O empregado,
expedito, responde-lhe: - Psiuu... não
fale alto, senão todos vão querer e já
acabaram as moscas...
----
Um jovem entra numa pastelaria e
pede um pastel de nata. Quando o
empregado lho vinha a servir o jovem
pediu ao empregado para o trocar
por um bolo de arroz. Quando ia a
sair, sem ter pago o bolo que comera,
o empregado interpelou-o dizendo:
- Desculpe, mas não pagou o bolo de
arroz. O jovem respondeu: - Pois não,
eu fiz a troca com um pastel de nata.
Mas, insistiu o empregado : - Você não
tinha pago o pastel de nata. - Pois não,
respondeu o rapaz, mas também não
o comi.
----
Uma cigana está ao balcão de uma
pastelaria com o filho de quatro anos
ao colo. Este arregalava os olhos para
os bolos e pastéis. Uma senhora já de
idade, que se encontrava ao seu lado,
oferece um pastel ao garoto. O rapaz
come o bolo num ápice. Pergunta a
mãe cigana ao filho: - Filho, o que se diz
à senhora? Responde o filho: - Senhora,
dê-me outro !
----
Sermão do Padre Alemão
Mios Carrísimos Irmons,Quem criô
o mondo fo Deus:Ontem fo dia
santo,Fo dia de algria,Fo dia de
satisfaçon.Semana qui vem terremos
procisson,Mas no serrá como no
ano passadoQue as mulherres se
mestruava com os homensEla serrá
combosta de 3 filas:Uma combosta de
homens,Uma combosta de mulherresE
otra combosta de crianças.Todos as
senhorras deverron vir de véu,Quem
non tiver,Vem cu da mãe, cu da tia, cu da
vóOu cu de quem quiser.Os mulherres
deverron trazer velas,As casadas
que já tem experriênciaLevarron
velas na frente,As solteirras que
nunca levarram,Levarron atrásE as
velhinhas, coitadinhas,Que já levarram
muitas velas,Non precison levar
mais.Um aviso parra os homens:Non
deverrom amarrar cavalos no pau
da igreja,Porque aquele pau non ser
da Igreja,Aquele pau ser meu.Outro
aviso pros vaqueirros:Non deverron
entrar com esporra na Igreja,Porque
esporra aqui, esporra ali,Von acabarr
esporrando todo a gente.Terremos
tamben uma Campanha parra
cercar cemitérrias,Parra cavalos non
entrarrem,Senon piça ali, piça aliE
qando voces morrer, piçam vocês
tamben.
----
Num restaurante, uma cliente farta de
esperar, chama o empregado: - Oiça lá,
já o chamei mais de cinquenta vezes!
Será que não tem orelhas? - Claro, minha
senhora. Como as quer? Fritas ou
de coentrada?
----
Uma senhora queixava-se à amiga: -Já
não sei o que hei-de fazer com o meu
marido. Ele é doido por Pickles; come
de manhã, come pickles ao almoço,
come pickles à merenda.... Passa o dia
a comer Pickles. - E que mal isso tem?
...pergunta a amiga admirada. -O problema
é que com tantos Pickles durante
o dia, chega à noite e ...Nickles.
Baptista Soares
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Katholische Mission der Portugiesischsprechenden
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Tel.: 044 242 06 40 7 - 044 242 06 45
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segunda a sexta-feira das 8h às 13h00 e das 13h30 às 17h
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POESIA
CULTURA
LETRAS
Emílio Costa
Sonho de trapezista
Carmindo
de Carvalho
O meu amigo trapezista
Exercita os músculos
Repimpado ao sol
E sonha ser bailarina de varão!
Que com grande ambição
Mostra certos dotes
De preferência ao barrigudo capitalista
Em vez do ocioso
Operário preguiçoso
Com mania de Barão.
Eu sou
Eu sou o Emílio Costa
E trago aqui uma amostra
De como me sinto feliz.
Meu coração de ti gosta
Vila de Prado, terra nossa,
Estas quadras para ti eu fiz.
Trago bloco de notas na mão,
Enquanto por aqui caminho
Nem sei bem em que direcção.
De estar aqui sinto emoção,
Vou avançando devagarinho
Na Vila que é uma tentação.
Mais daqui a um bocadinho,
Com algum jeitinho,
Para ti cantarei um refrão.
Um melro ouço assobiar,
Dando depois às asinhas,
Observar isto é tão bom.
Vejo, também, a voar
Duas lindas rolinhas,
E folhas caindo no chão.
Uma parte gratificante
É teu manto verdejante,
Fruto de rara beleza.
Teu chão vale diamante,
És terra sempre constante
Das maravilhas da natureza.
Passo frente a duas velhas casinhas,
Num terreiro está uma velhinha
Jogando milho no chão.
A correr chegam as galinhas,
Isto foi observação minha,
Enchendo o papo com satisfação.
Agora olha para ela,
Que certamente
Não lhe trará coisa boa
Coisa de boa gente! ...
Nem festanças de rua ou salão.
E lá terá de se esfregar no varão
Enquanto sonha
Por coisa boa, dote
Ou algum golpe de sorte.
É a vida. Uns trabalham e outros sonham! ...
Abençoada e linda capela
Da Senhora do Bom Sucesso.
Mas que “coisa” tão bela…
Faço questão de entrar nela
E à Senhora licença eu lhe peço.
Já estou a demorar,
Está na hora de jantar
E o calor continua a apertar.
Minha alma vou refrescar,
No Cávado vou-me molhar
E a linda ponte admirar.
Este é o meu local encantado,
Tendo sido abençoado
Por Deus Nosso Senhor.
Agora vou dormir um bocado,
O sol já está do outro lado,
Volto amanhã, sem favor,
Para te ver respirar teu amor,
Minha linda Vila de Prado.
Україна
Madrugada de 24 Abril de 1974
Maria José Praça
E Depois do Adeus, prefácio do futuro,
Era já caminho começado
E a segunda senha abriu portões
À Coluna a partir em “pronto” declarado
Maria José Praça
Ukrayina
O grito das sirenes nas mochilas
De ventre grávido a gemer de dor
E cada passo leva o peso aos ombros
De um girassol em pedaços de flor
E abraços de colo que adormecem
Em mãos de levar pelo caminho
Que em tremente avançar têm colados
Soluços em exôdo do ninho
Aprendi terras do mapa d’ Okrayna
Com kapas e Erres bem vincados
Em chão de lama com destroços vivos
De bateres abatidos e apagados
E enquanto a mó do trigo rasga o sangue
Dilacerado no meio dos estilhaços,
Como pingos de velas derretidas,
Lágrimas tombam, sem baixarem braços...
(“Pedras do meu andar” )
E juntaram-se cravos à manhã,
Que ainda noite escura já raiava
Na marcha dos tanques que avançava
À luz verde de Grândola cantada !
Ontem
Euclides
Cavaco
Ontem, foi apenas mais um dia que passou,
Sem dar por isso, se dele não há lembrança.
Mas se dele, alguma coisa nos ficou,
Que ela seja, o alimentar duma esperança.
Ontem foi apenas, mais uma pétala caída...
Que mal caiu. foi levada pelo vento,
Dessa flor, que retrata a nossa vida.
No seu mais permanente movimento.
Para onde foi cada pétala desfolhada?
Da frágil flor, que ainda tem perfume...
Porquê ? O vento as levou sem dizer nada!.
Bem sei que nada vale o meu queixume.
Porque cada ontem, é memória mitigada...
Do breve tempo... A que a vida se resume!.
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HORÓSCOPO
Carneiro
O nativo de carneiro encontra uma energia
que favorece as perdas. É importante procurar
fazer actividades que o enraízem e lhe
deem estrutura para enfrentar o que está
por vir.
No que diz respeito aos afectos e relacionamentos,
tende a ser uma fase pouco favorável,
propiciando perdas e afastamentos.
Perceba o que precisa mudar na sua vida,
e não deixe que estes “ratos” se alastrem,
tornando-se uma verdadeira praga a afectar
qualquer relação.
Touro
O nativo de touro encontra um mês com
uma energia de novidade, em que as surpresas
podem bater à porta, pelo que deverá
manter-se atento. É ainda um bom
período para apostar nos projectos a que
deseja dar vida, aproveite ao máximo esta
energia de fertilidade. Foque aquilo que
ambiciona para si. No que respeita ao amor,
os relacionamentos ficam muito favorecidos,
já que poderá sentir maior vontade de
criar um projecto a dois, até mesmo pequenas
viagens que irão potencializar o clima
de romance. Para os que estão solteiros, é
uma boa altura para iniciar novos contactos
estabelecer novos conhecimentos, que poderão
ser frutuosos.
Gémeos
O nativo de gémeos encontra uma energia
positiva que promove a colheita daquilo
que plantou pelo caminho, prometendo
saúde e estabilidade. Perceba, ainda assim,
que precisa continuar a semear, para que
tenha sempre farta colheita.
Em matéria de afectos, tende a sair valorizado,
já que esta energia promete saúde e
firmeza. Ainda assim, é importante investir
nas relações e nos afectos, já que quanto
mais alimentados, maior presença terão na
sua vida.
A nível de trabalho, tende a ser uma fase
bastante estável e de colheita. Não deixe,
ainda assim, de pensar a médio prazo e de
continuar a lançar as sementes.
Caranguejo
O nativo de caranguejo encontra um mês
que lhe pede para terminar situações. É
uma boa altura para pontos finais, mudanças
de história. Ninguém diz que será fácil,
mas é necessário, libertando-se da carga
acumulada, permitir-se-á a enveredar por
novas aventuras mais disponível e receptivo
ao novo.
Em matéria de afectos, esta energia favorece
os fins de ciclo, as situações tendem
a passar a outro nível. As transformações
estarão na ordem do dia, o que poderá significar
um novo relacionamento, um fim ou
mesmo uma nova fase. Ainda assim, são
transformações que se impõem e que devem
ser aceites.
Maio
Leão
O nativo de leão encontra um mês com tendência
para se refugiar em si mesmo, sobretudo
se tiver de enfrentar alguma dificuldade.
O que poderá levar a um alheamento
daquilo que realmente o rodeia. Mantenha
o foco, e não se permita fechar a sete chaves,
a necessidade de protecção desencadeará
alheamento.
A nível dos afectos, poderá haver tendência
para se afastar, virar-se mais para si, para
dentro. Não deixe que essa tendência de
reclusão o alheie daquilo que o rodeia, nem
desvaloriza aqueles que gostam de si. Saiba
manter o equilíbrio.
Virgem
O nativo de virgem encontra uma energia
de velocidade, em que tudo tende a desenrolar-se
com rapidez. Os bloqueios que
poderá sentir, serão dissolvidos. Seja persistente
e determinado, mas não perca o auto-
-controlo e foco.
No que diz respeito ao amor, será um mês
favorável que, ainda assim, pede cautela,
porque tende a correr de forma acelerada.
Os relacionamentos encontram o terreno
perfeito para ultrapassar qualquer bloqueio,
e, aqueles que estão sós, estão protegidos
nas suas investidas, saiba, no entanto,
ter um comportamento bem direcionado.
Balança
O nativo de balança encontra um mês a
convidá-lo a conviver, sendo que, nas circunstâncias
actuais, é um apelo que tenderá
a causar alguma ansiedade. Assim,
deverá tentar conciliar esta necessidade de
socialização, com as exigências actuais, e tirar
daqui o máximo proveito.
No que diz respeito ao amor, é uma energia
benéfica, que convida ao convívio, que
o impulsiona a sair e a passear, a conviver.
Assim, para quem está num relacionamento
é-lhe pedido que saia de portas, que convivam
com outras pessoas, desfrutando da
relação integrados em outros grupos. Para
quem está solteiro, sair e conviver poderá
potencializar um novo relacionamento,
desfrute da sua vida social.
Escorpião
O nativo de escorpião encontra uma energia
que impõe respeito e pede muita atenção
a tudo que o rodeia, já que a carta “cobra”
potencia enganos e, até mesmo, perdas,
pelo que se torna necessário aproveitar esta
energia a seu favor, sabendo agir sem dar
nas vistas, sem fazer barulho, ladeando os
obstáculos de forma inteligente, até escolher
o momento certo para agir.
No que diz respeito ao amor, esta energia
é densa e pede cuidados acrescidos, atenção
e cautela, tudo deve ser muito bem
reflectido. Para quem está num relacionamento,
deverá acautelar atitudes impensadas,
e pensar bem antes de falar, já que
poderá adoptar comportamentos frios que
magoam a outra pessoa. Para quem está
solteiro, tenha atenção em relação a quem
deixa entrar na sua vida, nem sempre as
pessoas são o que parecem, e uma nova relação
deverá ser bem reflectida.
Sagitário
O nativo de sagitário encontra um mês com
uma energia que tem tudo para ser de superação,
poderá passar ou ter passado por
situações mais difíceis, mas surge agora a
altura de ultrapassar e seguir adiante, definitivamente.
altura de ultrapassar e seguir
adiante, definitivamente.
No que diz respeito ao amor, a energia desta
fase, num primeiro momento, tende a ser
tensa e a causar conflitos, quanto mais não
seja consigo mesmo. O que de bom tem
esta Cruz é que ela acaba por trazer a superação
de qualquer bloqueio. Assim, para
os que estão num relacionamento, poderá
ter de enfrentar situações menos benéficas,
mas tem tudo para as ultrapassar. Para
quem está solteiro, é uma boa altura para
colocar a cabeça em dia, limpar os pensamentos,
e dedicar-se a si.
Capricórnio
O nativo de capricórnio encontra uma energia
que favorece o reconhecimento, que lhe
pede para se dar valor a si mesmo e para
valorizar, devidamente, quem o rodeia. Saiba
ouvir a sua intuição.
No que respeita ao amor, o reconhecimento
e a admiração estarão favorecidos, pelo que
os relacionamentos existentes poderão ver
uma energia a favorecê-los, com a paixão
no ar. Para os que estão solteiros, é favorável
a um novo relacionamento.
No que diz respeito ao trabalho, é uma fase
muito favorável à valorização daquilo que
faz e como faz, a Lua promove o reconhecimento.
Saiba fazer uso da sua intuição a
seu favor, e entregue-se à realização profissional.
Aquário
O nativo de aquário encontra um mês muito
beneficiado, sobretudo no que respeita
às relações interpessoais, já que estão protegidas
pela energia do amor. Saiba procurar
perceber o outro e cada situação por si,
sem preconceitos, a solidariedade e o encontro
com o outro deverão estar na ordem
do dia.
No que respeita aos relacionamentos, não
poderia estar mais beneficiado, já que a
energia do coração promete amor e saúde
emocional. Namore, promova a paixão e
aproveite.
Peixes
O nativo de peixes encontra uma energia
mais densa, que irá exigir de si muita calma,
ponderação, uma permanente busca
de equilíbrio, para que não caia nessa densidade
que tenderá a prejudicá-lo. Procure
agir com razão e com amor, e não se deixe
levar por acontecimentos mais agressivos.
No que diz respeito ao amor, a tendência
desta energia é favorecer os conflitos, logo
os afastamentos, prejudicando os afectos
de uma forma geral. É muito importante
procurar o equilíbrio, e saber colocar-se no
lugar do outro.
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59
Horário
Seg. a Sexta. — 08h00 às 20h00
Sábado — 08h00 às 19h00
COVID-19
Os requisitos de entrada na fronteira
suíça voltaram ao normal em 2 de maio
Até agora, todos os países fora do espaço Schengen, exceto
uma lista de exceções, eram considerados "de alto
risco" pelo SEM, o que significa que turistas ou pessoas
desses países que procuravam emprego na Suíça não podiam
entrar segundo a regulamentação normal.
Sem máscaras, sem exigências especiais de entrada: Os aeroportos suíços
estão voltando lentamente ao normal. © Keystone / Salvatore Di Nolfi
Keystone-SDA/dos (*)
A partir de 2 de maio, o governo suíço
levantou todas as restrições relacionadas
à Covid para os viajantes
que entram no país, independentemente
do país de origem.
A partir de 2 de maio, as "regras habituais" para entrar
na Suíça foram aplicadas, segundo a Secretaria de Estado
para as Migrações (SEM).
Uma longa lista de exceções a esta regra foi aplicada:
pessoas com 18 anos ou menos, pessoas em trânsito pela
Suíça ou pessoas totalmente vacinadas contra a Covid-19
com uma vacina aprovada pela Suíça, pela União Européia
ou pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Fim das medidas
Em fevereiro, o governo levantou a exigência de que os
viajantes entrantes apresentassem prova de vacinação,
recuperação ou teste negativo, e preenchessem um formulário
de entrada. Entretanto, o SEM esclareceu posteriormente
que isto não se aplicava a países ainda considerados
de "alto risco".
Em 1º de abril, o governo levantou todas as medidas internas
remanescentes para combater a propagação do
coronavírus, notadamente deixando de lado a exigência
de máscara no transporte público e um período de isolamento
de cinco dias para pessoas infectadas.
(*) Texto escrito na variante
brasileira da Língua Portuguesa
60
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