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suficiente para ter um pouco mais de discernimento — para a aflição e o
divertimento de todos que a cercavam — casar-se com o irmão gêmeo e partir
com ele para a África, pouco antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial. O
que então se seguiu foi mesquinho e sórdido, de forma alguma um material que
se poderia pôr tranqüilamente numa história ou relatá-lo como tal. (Ela se
separou imediatamente após a guerra e recebeu o divórcio em 1923.)
Ou se poderia? Pelo que eu saiba, ela nunca escreveu uma história sobre esse
caso absurdo do casamento, mas redigiu alguns contos sobre o que, para ela,
deve ter sido a lição óbvia de suas loucuras juvenis, a saber, o “pecado” de tornar
uma história verdadeira, de interferir na vida segundo um modelo preconcebido,
ao invés de esperar pacientemente que surgisse a história, de repetir na
imaginação como algo diferente de criar uma ficção e então tentar vivê-la. O
primeiro deles é “The poet” (em Seven gothic tales); dois outros foram escritos
quase 25 anos depois (a biografia da Parmenia Migel infelizmente não traz
nenhum quadro cronológico), “The immortal story” (em Anecdotes of destiny) e
“Echoes” (em Last tales). O primeiro relata o encontro entre um jovem poeta de
origem camponesa e seu benfeitor de alta posição, um velho fidalgo que na
juventude sucumbira ao encanto de Weimar e do “grande Geheimerat Goethe”,
com o resultado de que “fora da poesia não havia para ele nenhum ideal real na
vida”. Ai! jamais nenhuma ambição tão elevada fez de um homem um poeta e,
quando compreendeu “que a poesia de sua vida teria de provir de outro lugar”,
ele optou pelo partido “de um mecenas”, começou a procurar “um grande poeta”
digno de sua consideração e encontrou-o convenientemente à mão na própria
cidade onde morava. Mas um mecenas real, que conhecia tanto sobre poesia, não
poderia se contentar em entregar o dinheiro; tinha também de providenciar as
grandes tragédias e dores de onde ele sabia que a grande poesia extrai suas
melhores inspirações. Assim, arranjou uma jovem esposa e arrumou as coisas de
modo que os dois jovens sob sua proteção se apaixonassem, sem nenhuma
perspectiva matrimonial. Bem, o final é um tanto sangrento; o jovem poeta atira
em seu benfeitor e, enquanto o velho em sua agonia de morte sonha com Goethe
e Weimar, a jovem mulher, vendo como que numa visão seu amante “com a
corda em torno do pescoço”, liquida-o. “Só porque lhe convinha que o mundo
fosse belo, pretendeu conjurá-lo a ser assim”, disse ela consigo mesma. “Você!”,
gritou para ele, “Você, poeta!”.
A ironia perfeita de “The poet” talvez seja mais bem compreendida por quem
conhece, tal como a autora, a Bildung alemã e sua infeliz ligação com Goethe.
(A história contém várias alusões a poemas alemães de Goethe e Heine, e ainda a