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como seguiremos um dos “dois cursos de pensamento totalmente corretos para
uma pessoa com alguma inteligência [...] : O que Deus entendeu por criar o
mundo, o mar e o deserto, o cavalo, os ventos, a mulher, o âmbar, os peixes e o
vinho?”.
É verdade que o contar histórias revela o sentido sem cometer o erro de definilo,
realiza o acordo e a reconciliação com as coisas tais como realmente são, e
até podemos confiar que eventualmente contenha, por implicação, aquela última
palavra que esperamos do “dia do juízo”. E no entanto, se ouvimos a “filosofia”
do contar histórias de Isak Dinesen e pensamos em sua vida à luz dela, não
conseguimos evitar a consciência de que o mínimo mal-entendido, o mais leve
desvio de ênfase para a direção errada, inevitavelmente fará ruir tudo. Se é
verdade, como sugere sua “filosofia”, que ninguém tem uma vida digna de ser
pensada sem que se possa contar sua história de vida, não se segue então que a
vida poderia, e até deveria, ser vivida como uma história, e que o que se tem a
fazer na vida é tornar a história verdadeira? “O orgulho”, escreveu uma vez em
seu caderno de notas, “é a fé na idéia que teve Deus ao nos fazer. Um homem
orgulhoso é consciente da idéia e aspira a realizá-la.” A partir do que agora
sabemos de sua vida anterior, parece absolutamente claro que foi isso que ela
tentou fazer quando jovem: “realizar” uma “idéia” e antecipar o destino de sua
vida, tornando verdadeira uma velha história. A idéia lhe veio como legado do
seu pai, a quem amava imensamente — a morte dele, quando ela tinha dez anos,
foi a primeira grande dor, o fato de ter cometido suicídio, como veio mais tarde a
saber, foi o primeiro grande choque do qual ela se recusou a se afastar —, e a
história que planejara executar em sua vida pretendia realmente ser a seqüência
da história de seu pai. Esta envolvera “une princesse de conte de fées que todos
adoravam”, a qual ele conhecera e amara antes de seu casamento, e que morreu
subitamente aos vinte anos de idade. Seu pai havia mencionado o fato a ela, e
uma tia posteriormente sugeriu que ele nunca conseguira se recuperar da perda
da jovem, e que seu suicídio era o resultado de sua dor incurável. A jovem,
revelou-se, era uma prima de seu pai, e a maior ambição da filha passou a ser
pertencer a esse lado da família paterna, além do mais da alta nobreza
dinamarquesa, “uma raça totalmente diferente” de seu próprio meio, como conta
seu irmão. É inteiramente natural que um de seus membros, que seria uma
sobrinha da jovem falecida, tenha se tornado sua melhor amiga e, quando “ela se
apaixonou ‘pela primeira vez e realmente para sempre’, [como] costumava
dizer”, foi com um segundo primo, Hans Blixen, que seria sobrinho da jovem
falecida. E como este não lhe deu atenção, ela decidiu, aos 27 anos, idade