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inocência do período antes da Queda” — é o que ela queria ser, como queria
viver e como aparecia a si mesma. Não era necessariamente como ela aparecia
aos outros, em particular ao seu amante. Tania, ele a chamara, e a seguir
acrescentara Titania. (“Há aqui uma tal magia no povo e na terra”, dissera a ele;
e Denys “sorriu para ela com uma superioridade afetuosa. ‘A magia não está no
povo ou na terra, mas nos olhos de quem vê. [...] Você traz sua própria magia a
eles, Tania [...] Titania’.”) Parmenia Migel escolheu o nome como título da sua
biografia, e não seria um mau título se ela tivesse lembrado que o nome implica
algo além da Rainha das Fadas e sua “magia”. Os dois amantes, entre os quais
primeiramente surgiu o nome, sempre citando Shakespeare entre si,
evidentemente sabiam melhor disso; sabiam que a Rainha das Fadas era bem
capaz de se apaixonar por Bottom e tinha uma avaliação um tanto irrealista de
seus próprios poderes mágicos:
“E eu purgarei tua densidade mortal e
Poderás seguir como um espírito aéreo”.
Bem, Bottom não se transformou num espírito aéreo, e Puck nos conta a
verdade do assunto para todos os fins práticos:
“Minha senhora está apaixonada por um monstro. [...]
Titania despertou e logo amou um asno”.
O problema era que a magia uma vez se mostrou totalmente ineficaz. A
catástrofe que finalmente recaiu sobre ela, já a trazia dentro de si, quando
decidiu ficar na fazenda, mesmo devendo saber que o café que crescia “a uma
altura tão elevada [...] era decididamente inaproveitável”, e, para piorar a
situação, ela “não sabia nem aprendera muito sobre o café, mas persistia na
convicção inabalável de que seu poder intuitivo lhe diria o que fazer” — como
observou seu irmão, em reminiscências ternas e sensíveis após a sua morte.
Somente quando foi expulsa da terra que, por dezessete longos anos, sustentada
pelo dinheiro da família, lhe permitira ser Rainha, Rainha das Fadas, é que a
verdade despontou sobre ela. Lembrando a distância o seu cozinheiro africano,
Kamante, ela escreveu: “Onde o grande Chefe andava imerso em profundos
pensamentos, pleno de conhecimentos, ninguém via senão um pequeno Kikuyu
cambaio, um anão com o rosto chato e liso”. Sim, ninguém exceto ela, sempre
repetindo tudo na magia da imaginação, de onde brotavam as histórias. No