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mundiais e essas origens, em sua própria diversidade, partilhavam de algo único.
Essa identidade singular pode ser abordada e definida de muitas maneiras: é a
época em que as mitologias vinham sendo descartadas ou utilizadas para a
fundamentação das grandes religiões mundiais, com seu conceito de um Único
Deus transcendente; em que a filosofia faz a sua aparição em todos os lugares: o
homem descobre o Ser como um todo e a si mesmo como radicalmente diferente
de todos os outros seres; em que, pela primeira vez, o homem se torna (nas
palavras de Agostinho) uma questão para si mesmo, torna-se consciente da
consciência, começa a pensar; em que por todas as partes aparecem grandes
personalidades que, aceitas ou não como simples membros de suas respectivas
comunidades, se pensam como indivíduos e projetam novos modos individuais
de vida — a vida do homem sábio, a vida do profeta, a vida do ermitão que se
retira de toda a sociedade e se recolhe numa interioridade e espiritualidade
inteiramente novas. Todas as categorias básicas do nosso pensamento e todos os
princípios básicos de nossas crenças foram criados naquele período. Foi a época
em que a humanidade descobriu pela primeira vez a condição humana na Terra,
de modo que, a partir daí, a mera seqüência cronológica dos eventos podia se
converter numa estória e as estórias podiam ser elaboradas numa história, num
objeto significativo de reflexão e compreensão. O eixo histórico da humanidade,
assim, é “um período em torno de meados do último milênio a.C, para o qual
tudo o que o precedera parecia ter sido uma preparação, e ao qual realmente
remonta tudo o que surgiu, muitas vezes com nítida consciência. A história
mundial da humanidade deriva sua estrutura desse período. Não é um eixo que
poderíamos dizer permanentemente absoluto e único. Mas é o eixo da curta
história mundial que teve lugar até agora, o qual poderia representar, para a
consciência de todos os homens, a base da unidade histórica que reconhecem na
solidariedade. Esse eixo real seria então a encarnação de um eixo ideal, em torno
do qual se une a humanidade em seu movimento”. 10
Nessa perspectiva, a nova unidade da humanidade poderia adquirir um
passado próprio através de um sistema de comunicações, por assim dizer, onde
as diferentes origens da humanidade se revelariam em sua própria identidade.
Mas essa identidade está longe de ser uma uniformidade; assim como o homem
e a mulher podem ser os mesmos, isto é, humanos, apenas se forem
absolutamente diferentes um do outro, da mesma forma o nacional de cada país
só pode entrar nessa história mundial da humanidade se permanecer e aderir
obstinadamente ao que ele é. Um cidadão do mundo, vivendo sob a tirania de um
império mundial, falando e pensando numa espécie de esperanto glorificado,