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denominador comum; chegaria finalmente a um denominador que hoje em dia
dificilmente conseguiríamos imaginar.
Na medida em que se concebe a verdade como algo separado e diferente de
sua expressão, como algo que por si mesmo é não comunicativo, não se
comunica com a razão e tampouco aquela à experiência “existencial”, é quase
impossível não crer que esse processo destrutivo será total e inevitavelmente
acionado pelo puro automatismo da tecnologia que tornou o mundo uno e, num
certo sentido, unificou a humanidade. É como se os passados históricos das
nações, em sua total diversidade e disparidade, em sua estonteante variedade e
desconcertante estranheza entre si, fossem apenas obstáculos no caminho para a
unidade horrivelmente superficial. É claro que isso é apenas uma ilusão; se se
destruísse a dimensão de profundidade a partir da qual se desenvolveram a
ciência e a tecnologia modernas, o provável é que a nova unidade da
humanidade não conseguiria sobreviver sequer tecnicamente. Tudo parece,
então, depender da possibilidade de se pôr em comunicação mútua os passados
nacionais com sua singularidade original, como única forma de alcançar o
sistema global de comunicação que cubra a superfície da Terra.
É à luz de tais reflexões que Jaspers realizou a grande descoberta histórica que
se converteu na pedra regular de sua filosofia da história, na sua origem e meta.
A noção bíblica de que todos os homens descendem de Adão, partilham da
mesma origem e caminham todos para a mesma meta de salvação e Juízo Final,
é algo além do conhecimento e de provas. A filosofia cristã da história, desde
Agostinho a Hegel, via no surgimento de Cristo o ponto de inflexão e o centro da
história mundial. Como tal, é válida apenas para os fiéis cristãos; e se ela
reivindica autoridade sobre todos, avançam tanto para uma unidade da
humanidade quanto qualquer outro mito que pregue a pluralidade dos princípios
e dos fins.
Contra essa e outras filosofias da história semelhantes, que abrigam o conceito
de uma única história mundial a partir da experiência histórica de um só povo ou
região particular do mundo, Jaspers descobriu um eixo histórico empiricamente
dado que oferece a todas as nações “um arcabouço comum de autocompreensão
histórica. O eixo da história mundial parece passar pelo século v a.C., em meio
ao processo espiritual entre 800 e 200 a.C., — Confúcio e Lao-Tsé na China, os
Upanishades e Buda na Índia, Zaratustra na Pérsia, os profetas na Palestina,
Homero, os filósofos e os trágicos na Grécia. 9 Os acontecimentos ocorridos
nesse período apresentavam três características comuns: não tinham nenhuma
conexão entre si, constituíram a origem das grandes civilizações históricas