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ousou questionar “todos os pensamentos, todas as experiências, todos os
conteúdos” sob este único aspecto: “O que significam eles para a comunicação?
São tais que podem ajudar ou impedir a comunicação? Atraem à solidão ou
incitam à comunicação?”. 7 A filosofia perdeu sua humildade perante a teologia e
sua arrogância em relação à vida comum do homem. Converteu-se em ancilla
vitae. 8
Essa atitude tem uma relevância especial no interior da tradição filosófica
alemã. Kant parece ter sido o último grande filósofo que ainda se sentia
inteiramente confiante em ser entendido e capaz de desfazer mal-entendidos. A
frase de Hegel em seu leito de morte — se non è vero, è bene trovato — tornouse
famosa: “Ninguém me entendeu, a não ser uma pessoa, e esta me entendeu
mal”. Desde então, o isolamento crescente dos filósofos num mundo que não se
interessa por filosofia, pois que inteiramente fascinado pela ciência, resultou na
ambigüidade e obscuridade, muito conhecidas e freqüentemente denunciadas,
que para muitos parecem ser típicas da filosofia alemã e que certamente
constituem a marca característica de qualquer pensamento estritamente solitário
e não comunicativo. Ao nível da opinião comum, significa que a clareza e a
grandeza são tidas como opostas. Os numerosos pronunciamentos de Jaspers
após a guerra, seus artigos, palestras, programas de rádio, todos se guiavam por
uma tentativa deliberada de popularização, de se falar de filosofia sem utilizar
uma terminologia técnica, isto é, com a convicção de se poder apelar à razão e
ao interesse “existencial” de todos os homens. Filosoficamente isso só foi
possível por se conceber a verdade e a comunicação como uma mesma coisa.
De um ponto de vista filosófico, o perigo inerente à nova realidade da
humanidade parece consistir no fato de que essa unidade, baseada nos meios
técnicos de comunicação e violência, destrói todas as tradições nacionais e
enterra as origens autênticas de toda a existência humana. Esse processo
destrutivo até mesmo pode ser considerado como pré-requisito necessário para a
compreensão última entre homens de todas as culturas, civilizações, raças e
nações. Isso resultaria numa superficialidade que transformaria de modo
irreconhecível o homem, tal como o conhecemos em 5 mil anos de história
registrada. Seria mais que mera superficialidade; seria como se toda a dimensão
de profundidade, sem a qual não pode existir o pensamento humano, mesmo ao
mero nível de invenção técnica, simplesmente desaparecesse. Esse nivelamento
por baixo seria muito mais radical do que o nivelamento pelo mínimo