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universal, onde cada conteúdo filosófico específico se torna um meio para o
filosofar individual. Abre-se à força a couraça da autoridade tradicional, e os
grandes conteúdos do passado são livre e “jocosamente” postos em comunicação
entre si, na experiência de se comunicarem com um filosofar vivo presente.
Nessa comunicação universal, que se mantém reunida pela experiência
existencial do filósofo presente, todos os conteúdos metafísicos dogmáticos se
dissolvem em processos e correntes de pensamento que, devido à sua relevância
para meu existir e filosofar presentes, deixam seu lugar histórico definido na
cadeia cronológica e entram num âmbito do espírito onde todos são
contemporâneos. O que quer que eu pense deve se manter em comunicação
constante com tudo o que já foi pensado. Não só porque, “em filosofia, a
novidade é um argumento contra a verdade”, mas porque a filosofia presente não
pode ser senão “a conclusão natural e necessária do pensamento ocidental até
hoje, a síntese honesta realizada por um princípio suficientemente amplo para
compreender tudo o que, num certo sentido, é verdadeiro”. O próprio princípio é
a comunicação; a verdade, que nunca pode ser apreendida com conteúdo
dogmático, surge como substância “existencial” clarificada e articulada pela
razão, comunicando-se e apelando ao existir racional do outro, compreensível e
capaz de compreender tudo o mais. “A Existenz só se torna clara através da
razão; a razão só tem seu conteúdo através da Existenz.” 4
A pertinência dessas considerações a favor de uma fundamentação filosófica
da unidade da humanidade é evidente: a “comunicação ilimitada”, 5 que ao
mesmo tempo significa a fé na compreensibilidade de todas as verdades e a boa
vontade em revelar e ouvir como condição primária de todo intercurso humano,
é uma das idéias, se não a idéia central, da filosofia de Jaspers. O ponto aqui é
que, pela primeira vez, a comunicação não é concebida como “expressão” de
pensamentos, e portanto secundária em relação ao próprio pensamento. A
própria verdade é comunicativa, ela desaparece e não pode ser concebida fora da
comunicação; no âmbito “existencial”, verdade e comunicação são a mesma
coisa. “A verdade é o que nos liga.” 6 É apenas na comunicação — entre
contemporâneos e também entre vivos e mortos — que a verdade se revela.
Uma filosofia que concebe a verdade e a comunicação como uma e mesma
coisa abandonou a proverbial torre de marfim da mera contemplação. O
pensamento se torna prático, ainda que não pragmático; é uma espécie de prática
entre homens, não um desempenho de um indivíduo em sua solidão autoescolhida.
Jaspers, tanto quanto sei, é o primeiro e único filósofo que sempre
protestou contra a solidão, para quem a solidão aparecia como “perniciosa”, e