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haver uma laudatio na entrega do prêmio, estava realmente voltando a um
sentido mais antigo e adequado do âmbito público, um sentido segundo o qual é
precisamente a pessoa humana em toda sua subjetividade que precisa aparecer
em público para atingir uma realidade plena. Se aceitamos esse sentido novoantigo,
devemos mudar nossas concepções e abandonar nosso hábito de igualar o
pessoal ao subjetivo, o objetivo ao factual ou impessoal. Essas equações derivam
das disciplinas científicas, onde são significativas. São obviamente não
significativas na política, em cujo âmbito as pessoas aparecem na íntegra como
pessoas que agem e falam e onde, portanto, a personalidade é tudo menos um
assunto privado. Mas essas equações também perdem sua validade na vida
intelectual pública, que evidentemente inclui e ultrapassa consideravelmente a
esfera da vida acadêmica.
Para aqui falar adequadamente, devemos aprender a distinguir não entre
subjetividade e objetividade, mas entre o indivíduo e a pessoa. É verdade que é
um sujeito individual que oferece alguma obra objetiva ao público, abandona-a
ao público. O elemento subjetivo, digamos o processo criativo que entrou na
obra, não concerne de forma alguma ao público. Mas, se essa obra não é apenas
acadêmica, se é também o resultado de “ter-se demonstrado na vida”, um ato e
uma voz vivos acompanham-na; a própria pessoa aparece junto com ela. O que
então emerge é desconhecido para quem o revela; não pode controlá-lo da
mesma forma como não pode controlar a obra que preparou para a publicação.
(Qualquer pessoa que tente conscientemente introduzir sua personalidade em sua
obra está apenas representando, e ao fazê-lo lança fora a oportunidade real que
significa aquela publicação para ele e os outros.) O elemento pessoal está além
do controle do sujeito e, portanto, é o exato oposto da mera subjetividade. Mas é
essa mesma subjetividade que é “objetivamente” muito mais apreensível e
disponível para o sujeito. (Por autocontrole, por exemplo, entendemos apenas
que somos capazes de apanhar esse elemento puramente subjetivo em nós
mesmos, a fim de usá-lo como quisermos.)
A personalidade é uma questão totalmente diferente. É muito difícil de
apreendê-la e talvez se assemelhe mais intimamente ao daimon grego, o espírito
guardião que acompanha cada homem ao longo de toda sua vida, mas está
sempre olhando por sobre seu ombro, resultando que ele é mais facilmente
reconhecido por todos que encontram o homem do que por ele mesmo. Esse
daimon — que não tem nada de demoníaco em si —, esse elemento pessoal num
homem, só pode aparecer onde existe um espaço público; este é o significado
mais profundo do âmbito público, que se estende muito além do que entendemos