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disposição ele observa em 1948 como “qualquer tipo de desconfiança ou
descortesia mostrado aos [...] humildes, pobres ou socialmente inferiores [por
esses meus colegas, bons eclesiásticos] [...] me faz contorcer de dor”, e que
“todos os sabichões deste mundo, e todas as mentes astutas, inclusive as da
diplomacia do Vaticano, recortam uma tal mísera figura à luz da simplicidade e
graça irradiada por [...] Jesus e seus Santos!”.
É com relação a seu trabalho na Turquia, onde, durante a guerra, entrou em
contato com organizações judaicas (e, num caso, impediu que o governo turco
embarcasse para a Alemanha algumas centenas de crianças judias que haviam
escapado à Europa ocupada pelos nazistas), que posteriormente levantou uma
das raríssimas reprovações sérias a si mesmo — pois, apesar de todos os
“exames de consciência”, não era absolutamente dado a autocríticas. “Eu não
poderia”, escreveu, “eu não deveria ter feito mais, ter feito um esforço mais
decidido e ido contra as inclinações da minha natureza? A busca de calma e paz,
que considerei estar em maior harmonia com o espírito de Deus, não terá talvez
mascarado uma certa falta de vontade em tomar a espada?” Nessa época, porém,
ele se permitira apenas uma explosão. Logo após a eclosão da guerra com a
Rússia, foi abordado pelo embaixador alemão, Franz von Papen, que lhe pediu
que usasse sua influência em Roma para obter um franco apoio do papa à
Alemanha. “E o que vou dizer sobre os milhões de judeus que seus conterrâneos
estão assassinando na Polônia e na Alemanha?” Isso foi em 1941, quando o
grande massacre mal começara.
É a esse tipo de assunto que se referem as histórias subseqüentes. E como
nenhuma das biografias existentes sobre o papa João, pelo que sei, jamais
menciona o conflito com Roma, mesmo uma negação de sua autenticidade não
seria totalmente convincente. Primeiramente, há a anedota sobre sua audiência
com Pio xii, antes de sua partida para Paris em 1944. Pio xii abriu a audiência
dizendo ao seu núncio recém-indicado que tinha apenas sete minutos à
disposição, ao que Roncalli se despediu com as palavras: “Nesse caso, os seis
minutos restantes são supérfluos”. Em segundo, há a encantadora história do
jovem padre vindo do estrangeiro, que se afanava no Vaticano tentando dar uma
boa impressão aos altos dignitários, para promover sua carreira. Diz-se que o
papa lhe falou: “Meu querido filho, pare de se incomodar tanto. Você pode ficar
certo de que, no dia do juízo, Jesus não vai lhe perguntar: E como você se deu
com o Santo Ofício?”. E há, por fim, o relato de que, meses antes de sua morte,
ele recebeu para ler a peça O vigário, de Hochhut, e então lhe perguntaram o que
se poderia fazer contra ela. Ao que supostamente respondeu: “Fazer contra? O