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deformadas”? O “colapso moral” que ela previra — sem antever, evidentemente,
a aberta criminalidade do sucessor de Lênin — por acaso não causou mais dano
à causa da revolução tal como a entendia do que “toda e qualquer derrota política
[...] em luta honesta contra forças superiores e nas garras da situação histórica”
possivelmente teria provocado? Não era verdade que Lênin estava
“completamente equivocado” quanto aos meios que empregou, e que a única via
de salvação era a “escola da própria vida pública, a democracia e a opinião
pública mais amplas e mais ilimitadas”, e que o terror “desmoralizava” todos e
destruía tudo?
Ela não viveu o suficiente para ver o quão certa estava e observar a terrível e
terrivelmente rápida deterioração moral dos partidos comunistas, resultantes da
Revolução Russa, por todo o mundo. Tampouco o pôde Lênin, que, apesar de
todos os seus equívocos, ainda tinha mais em comum com o grupo original de
iguais do que com qualquer pessoa que o sucedeu. Isso se tornou evidente
quando Paul Levi, o sucessor de Leo Jogiches na liderança da Spartakusbund,
três anos após a morte de Rosa Luxemburgo publicou suas observações acima
citadas sobre a Revolução Russa, redigidas em 1918 “apenas para vocês” — isto
é, sem pretender publicá-las. 10 “Foi um momento de considerável embaraço”
tanto para o Partido Alemão como para o Russo, e seria perdoável se Lênin
tivesse respondido incisivamente e sem moderações. Ao invés disso, escreveu:
“Nós respondemos com [...] uma bela fábula russa antiga: uma águia às vezes
pode voar mais baixo que uma galinha, mas uma galinha nunca pode atingir as
mesmas alturas de uma águia. Rosa Luxemburgo [...] apesar dos [seus]
equívocos [...] era e é uma águia”. A seguir exigia a publicação de “sua biografia
e a edição completa de suas obras”, não expurgada dos “erros”, e repreendia os
camaradas alemães pela sua “incrível” negligência em relação a esse dever. Isso
foi em 1922. Três anos depois, os sucessores de Lênin decidiram “bolchevizar” o
Partido Comunista Alemão e, portanto, ordenaram uma “investida violenta
específica contra todo o legado de Rosa Luxemburgo”. A tarefa foi aceita com
alegria por uma jovem membro chamada Ruth Fischer, que acabara de chegar de
Viena. Ela disse aos camaradas alemães que Rosa Luxemburgo e sua influência
“eram nada mais que um bacilo de sífilis”.
Abrira-se a sarjeta, e dela emergia aquilo que Rosa Luxemburgo teria chamado
de “uma outra espécie zoológica”. Não mais era necessário nenhum “agente da
burguesia” e nenhum “traidor socialista” para destruir os poucos sobreviventes
do grupo de iguais e enterrar no esquecimento os últimos remanescentes do seu
espírito. Desnecessário dizer que jamais foi publicada uma única edição