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exaurir. Ela não pretendia passar sua vida numa seita, por mais ampla que fosse;
seu compromisso com a revolução era basicamente uma questão moral, e isso
significava permanecer apaixonadamente engajada na vida pública, nos assuntos
civis e nos destinos do mundo. Seu envolvimento com a política européia, afora
os interesses imediatos do proletariado, e portanto totalmente além do horizonte
de todos os marxistas, aparece da forma mais convincente em sua reiterada
insistência sobre um “programa republicano” para os partidos russo e alemão.
Este era um dos pontos principais do seu famoso Juniusbroschüre, escrito na
prisão durante a guerra e a seguir utilizado como a plataforma da Spartakusbund.
Lênin, que desconhecia sua autoria, imediatamente declarou que proclamar “o
programa de uma república [...] [significa] na prática proclamar a revolução —
com um programa revolucionário incorreto”. Ora, um ano depois, a Revolução
Russa eclodiu sem qualquer programa, e sua primeira realização foi a abolição
da Monarquia e a instituição da República, e o mesmo viria a acontecer na
Alemanha e na Áustria. O que, evidentemente, nunca impediu que os camaradas
russos, poloneses ou alemães discordassem violentamente dela nesse ponto. Foi
na verdade a questão republicana, e não a questão nacional, o que a separou mais
decisivamente de todos os outros. Aqui ela estava completamente isolada, tal
como esteve isolada, ainda que de modo menos evidente, em sua ênfase sobre a
absoluta necessidade de liberdade não só individual, mas pública, em todos as
circunstâncias.
Um segundo mal-entendido está diretamente vinculado ao debate sobre o
revisionismo. Rosa Luxemburgo tomou equivocadamente a relutância de
Kautsky em aceitar as análises de Bernstein como um autêntico compromisso
com a revolução. Após a primeira Revolução Russa em 1905, para a qual voltara
correndo a Varsóvia com documentos falsos, não poderia mais se iludir. Para ela,
esses meses constituíram não só uma experiência crucial: foram também “os
mais felizes de minha vida”. Logo após seu retorno, tentou discutir os
acontecimentos com seus amigos no Partido Alemão. Rapidamente percebeu que
a palavra “revolução” “bastava apenas entrar em contato com uma situação
revolucionária real para se fragmentar” em sílabas destituídas de sentido. Os
socialistas alemães estavam convencidos de que essas coisas só podiam
acontecer em terras bárbaras distantes. Este foi o primeiro choque, do qual ela
nunca se recompôs. O segundo veio em 1914 e quase a levou ao suicídio.
Naturalmente, seu primeiro contato com uma revolução real ensinou-lhe mais
e melhores coisas do que a desilusão e as refinadas artes do desdém e da
desconfiança. Daí decorreu sua percepção sobre a natureza da ação política, que