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implicações parece não compreender: que ela era tão “autoconscientemente uma
mulher”. Isso em si colocou certas limitações ao que, de outra forma, poderiam
ter sido suas ambições — pois Nettl não lhe atribui mais do que seria natural
para um homem com seus talentos e oportunidades. Sua aversão pelo movimento
de emancipação feminina, pelo qual todas as outras mulheres de sua geração e
convicções políticas foram irresistivelmente atraídas, era significativa; frente à
igualdade das sufragistas, poderia ser tentada a replicar: Vive la petite différence.
Ela era uma forasteira, não só por ser e permanecer uma judia polonesa num país
que lhe desagradava e um partido que logo viria a desprezar, mas também por
ser mulher. É claro que o sr. Nettl deve ser perdoado por seus preconceitos
masculinos; não teriam muita importância se não o tivessem impedido de
entender plenamente o papel que Leo Jogiches, seu marido para todos os fins
práticos e seu primeiro, talvez único, amante, desempenhou em sua vida. Sua
briga fatalmente séria, provocada pelo breve caso de Jogiches com outra mulher
e interminavelmente complicada pela reação furiosa de Rosa, foi típica de sua
época e ambiente, como também o foram os resultados — os ciúmes dele e a
recusa dela, durante anos, de perdoá-lo. Essa geração ainda acreditava
firmemente que o amor ocorre apenas uma vez, e sua despreocupação em
relação a papéis de casamento não deve ser erroneamente considerada como
alguma crença no amor livre. As evidências do sr. Nettl mostram que ela teve
amigos e admiradores, e que os apreciava, mas isso dificilmente indica que
tivesse havido um outro homem em sua vida. Parece-me completamente tolo
acreditar no mexerico do Partido sobre planos de casamento com “Hänschen”
Diefenbach, a quem sempre chamou de “senhor” (Sie) e nunca sonhou em tratálo
como igual. Nettl chama a história de Leo Jogiches e Rosa Luxemburgo de
“uma das grandes e trágicas histórias de amor do socialismo”, e não é preciso
discordar desse veredicto se se entender que não foi um “ciúme cego e
autodestrutivo” que provocou a tragédia final em suas relações, mas sim a guerra
e os anos na prisão, a revolução alemã condenada e o final sangrento.
Leo Jogiches, cujo nome Nettl também resgatou do esquecimento, era uma
figura muito notável e, no entanto, típica entre os revolucionários profissionais.
Para Rosa Luxemburgo, era definitivamente masculini generis, o que tinha uma
considerável importância para ela: preferia Graf Westarp (o líder do Partido
Conservador Alemão) a todos os luminares socialistas alemães “porque”, como
dizia, “é um homem”. Havia poucas pessoas que ela respeitava, e Jogiches
encabeçava uma lista onde, com certeza, só se poderiam inscrever os nomes de
Lênin e Franz Mehring. Ele era decididamente um homem de ação e paixão,