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Homens Em Tempos Sombrios - Hannah Arendt

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oriental era poliglota — a própria Rosa Luxemburgo falava fluentemente

polonês, russo, alemão e francês, e conhecia muito bem inglês e italiano. Nunca

entenderam absolutamente a importância das barreiras lingüísticas e por que o

lema “A pátria da classe operária é o movimento socialista” seria tão

desastrosamente equivocado exatamente para as classes trabalhadoras.

Realmente é um tanto inquietante que a própria Rosa Luxemburgo, com seu

agudo senso de realidade e rigorosa evitação de clichês, não tivesse ouvido o

que, no lema, soava errado de princípio. Uma pátria, afinal, é acima de tudo uma

“terra”; uma organização não é um país, nem sequer metaforicamente. Há na

verdade uma implacável justiça na transformação posterior para o tema “A pátria

da classe operária é a Rússia Soviética” — a Rússia pelo menos era uma “terra”

—, que pôs fim ao internacionalismo utópico dessa geração.

Poderiam se acrescentar outros fatos semelhantes, e ainda assim seria difícil

afirmar que Rosa Luxemburgo estava inteiramente equivocada a respeito da

questão nacional. Afinal, o que contribuiu mais para o declínio catastrófico da

Europa, além do insano nacionalismo que acompanhou o declínio do Estadonação

na era do imperialismo? Aqueles que Nietzsche chamou de “bons

europeus” — uma minúscula minoria, mesmo entre os judeus — podiam ter sido

os únicos a pressentir as conseqüências desastrosas que se seguiram, ainda que

fossem incapazes de avaliar corretamente a imensa força do sentimento

nacionalista num corpo político decadente.

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