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Homens Em Tempos Sombrios - Hannah Arendt

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Universidade de Chicago e na New School for Social Research, em 1964, 1965,

1966 e 1970.

Hannah Arendt sempre viu o reconhecimento público como uma tentação que

dificulta o juízo. Lembrava-se das elites intelectuais européias da década de

1930 — “a sociedade das celebridades” — que, ao viverem embebidas no

“irradiante poder da fama” — como dizia Stephan Zweig na sua autobiografia,

que ela resenhou com dureza —, acabaram por perder a capacidade de entender

as catástrofes políticas do mundo que as cercava. Hannah Arendt, por isso

mesmo, recebeu as honrarias do reconhecimento com um esforço de

distanciamento. O seu desejo de independência também explica porque nunca

quis ser uma professora de tempo integral, permanecendo, no contexto do meio

universitário norte-americano, um corpo estranho no ninho das claques e

facções.

Hannah Arendt não era, evidentemente, uma pessoa fácil, mas foi sem dúvida

uma personalidade fascinante. Sempre teve a capacidade de maravilhar-se diante

do espetáculo do mundo — o que os gregos que ela tanto admirava e conhecia

chamavam de thaumadzein. A sua obra e a sua vida revelam, em meio a todas as

catástrofes do século xx, um amor mundi e uma extraordinária capacidade de

detectar o que há de beleza e de significado nos assuntos humanos. Daí não

apenas a importância de sua obra como também o seu deslumbrante poder

pessoal de iluminação, que como seu aluno posso testemunhar e que a biografia

de Elisabeth Young-Bruehl, em boa hora, resgatou para a posteridade.

São Paulo, julho de 1982 — janeiro de 1987

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