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Homens Em Tempos Sombrios - Hannah Arendt

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proletária, tinha sido spartaquista e membro do Partido Comunista alemão e era,

naquela época, um refugiado político sem trabalho e documentos. Blücher — um

autodidata de forte personalidade, sedutor nas suas relações com as mulheres,

grande orador e conversador e que nos eua virou professor do Bard College —

marcou decisivamente a vida e a obra de Hannah Arendt. Intelectualmente, ela

deve ao pensamento político e à observação histórica de Heinrich Blücher a sua

visão cosmopolita, pois, antes do seu encontro com ele, a sua preocupação

política concentrava-se na questão judaica. Essa afirmação, que é da própria

Hannah Arendt numa carta a Jaspers, dez anos depois de seu encontro com

Blücher, Young-Bruehl ilustra amplamente no seu livro.

As origens do totalitarismo revela, nas entrelinhas, não apenas as experiências

da vida do casal, mas também as idéias de Blücher, a quem o livro é dedicado.

Hannah Arendt e Heinrich Blücher consideravam esse livro como o filho que as

dificuldades da vida e a condição de refugiados os impediram de ter quando

mais jovens.

Hannah Arendt deve também às histórias de Blücher, sobre o seu passado de

militante político da esquerda, muito de seu entendimento, tanto crítico quanto

criativo, sobre vários assuntos, particularmente sobre resistência e revolução, os

räte (conselhos populares) e o valor da espontaneidade, as inoperâncias do

sistema partidário e as virtudes da democracia participativa, a relevância do

republicanismo democrático de Rosa Luxemburgo e a importância do empenho

moral em qualquer processo revolucionário.

Hannah Arendt seguramente também deve às suas discussões com Heinrich

Blücher uma parte de seu entendimento e entusiasmo pela tradição

revolucionária. Young-Bruehl registra, no livro, o interesse com o qual Hannah

Arendt acompanhou a rebelião húngara, a revolução cubana, a revolução

portuguesa, os sit-ins em favor dos direitos civis no Sul dos eua, o movimento

estudantil americano da década de 1960 e os evénements de maio de 1968 na

França. Escreveu, em 27 de junho de 1968, uma carta de apoio a Daniel Cohn-

Bendit, dizendo-lhe que seu pai — o companheiro e amigo do casal, Erich Cohn-

Bendit — teria visto com satisfação as atividades do filho, não se esquecendo de

oferecer ao jovem revolucionário perseguido, caso necessitasse, auxílio e

dinheiro.

Esse gosto pela tradição revolucionária é responsável pela meditação

arendtiana sobre o tema dos descaminhos revolucionários e, conseqüentemente,

sobre a necessidade de diferenciar a liberação das necessidades materiais da

liberdade. A liberdade exige instituições jurídicas e políticas apropriadas,

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