23.03.2022 Views

Homens Em Tempos Sombrios - Hannah Arendt

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

v

Hannah Arendt, como ela mesma disse, na já mencionada carta de 1963 a

Gershom Scholem, a propósito da polêmica em torno de seu livro sobre

Eichmann, não foi uma intelectual que teve a sua origem na esquerda alemã.

Teve, no entanto, acesso privilegiado às experiências e às pessoas da esquerda

alemã.

O primeiro marido de Hannah Arendt foi Günther Anders, com quem casou

em 1929 e de quem se separou em 1936. Günther Anders — um intelectual de

talento que se doutorou com Husserl e cujos projetos de carreira universitária,

em Frankfurt, esbarraram na má vontade de Adorno — acabou se convertendo

em jornalista incumbido da seção cultural do Börsen-Courrier, de Berlim, graças

ao apoio inicial de Brecht. O círculo de amigos de Günther Anders em Berlim

era integrado por artistas, jornalistas e intelectuais que gravitavam em torno do

Partido Comunista. Esse círculo complementava os contatos de Hannah Arendt,

que na época freqüentava os círculos sionistas onde era conhecida pela pouco

sionista alcunha de Palas Atenas. Datam de 1931 as primeiras leituras de Hannah

Arendt de Marx e Trotski e o seu interesse pela cena contemporânea.

Anders era primo distante de Walter Benjamin e o casal intensificou relações

quando já tinham saído da Alemanha e viviam todos em Paris. Anders

apresentou Hannah Arendt a Brecht e a Arnold Zweig, e o casal, graças à

amizade com Raymond Aron, freqüentou os célebres seminários de Alexandre

Kojève sobre Hegel na École de Hautes Études, onde conheceram Sartre, de

quem nunca foram próximos, e Alexandre Koyré, que posteriormente tornou-se

grande amigo de Hannah Arendt.

Em 1936 Hannah Arendt começou a participar de um grupo de estudos de

pessoas formadas na escola marxista da teoria e da práxis. Esse grupo, que

geralmente se reunia no apartamento de Walter Benjamin, 10 Rue Dombasle,

incluía, além do próprio Benjamin e ocasionalmente seus colegas, membros do

Institut für Sozialforschung, de Frankfurt: Erich Cohn-Bendit, advogado e pai do

famoso Daniel Cohn-Bendit da revolução estudantil francesa de maio de 1968; o

psicanalista Fritz Fränkel; o pintor Karl Hendenreich; Chanan Kienbort, o único

judeu da Europa oriental entre esses berlinenses, e Heinrich Blücher.

É de 1936, depois da partida de Günther Anders para os eua, o início do

romance de Hannah Arendt com Heinrich Blücher, que veio a ser o seu segundo

marido e de quem enviuvou em 1970.

Heinrich Blücher, ao contrário de Anders, não era escritor. Vinha de família

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!