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poética podia se tornar irritantemente real quando ele decidia, como muitas
vezes acontecia, me acompanhar até a cozinha para me entreter enquanto eu
preparava nosso jantar. Ou ele podia decidir visitar meu marido e empenhá-lo
em algum longo e ardoroso debate sobre os méritos e categorias de escritores e
poetas, e suas vozes ressoavam fortes quando tentavam se sobrepujar ou um
falar mais alto que o outro — quem sabia melhor apreciar Kim, quem era maior
poeta, Yeats ou Rilke? (Randall, evidentemente, votava por Rilke, e meu marido
por Yeats), e assim por diante, durante horas. Como escreveu Randall, depois de
uma dessas disputas aos gritos, “é sempre espantoso (para um entusiasta) ver
alguém mais entusiástico que você — como o segundo homem mais gordo do
mundo ao encontrar o mais gordo”.
Em seu poema sobre os contos de Grimm, “Os Märchen”, descreveu a terra de
onde viera:
Ouvindo, ouvindo; nunca está quieto.
É a floresta [...]
onde
A luz do sol veio a eles, conforme nosso desejo,
E nós acreditamos, até o anoitecer, naquele desejo;
E nós acreditamos, até o anoitecer, em nossas vidas.
O seu caso não era absolutamente o do homem que foge ao mundo e constrói
um castelo de sonhos; pelo contrário, ele encarava o mundo de frente. E o
mundo, para sua perpétua surpresa, era como era — não povoado de poetas e
leitores de poesia, que para ele pertenciam à mesma raça, mas por
telespectadores e leitores de Seleções do Reader’s Digest, e, pior de tudo, por
essa nova espécie, o “crítico moderno”, que existe não mais “em consideração
das peças e histórias e poemas que critica”, mas em sua própria consideração,
que sabe “como são montados os poemas e os romances”, ao passo que o pobre
escritor “tinha apenas de montá-los. Da mesma forma, se um porco passeasse à
sua frente durante um concurso de toucinhos, você diria impaciente: ‘Sai, porco!
O que você entende de toucinhos?’”. O mundo, em outras palavras, não recebia
bem o poeta, não lhe era grato pelo esplendor que trouxera, parecia dispensar seu
“poder imemorial de converter as coisas desse mundo vistas e sentidas e vivas
em palavras”, e portanto condenava-o à obscuridade, então lamentando que ele
era “obscuro” demais e não podia ser compreendido, até que finalmente “o poeta