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Keine Höhlung in des Stuhls Geflecht.
Sondern es gestattet, dass auf seinem
Platz ein anderer sich reicher zeigt.
Wirklich er verwehrt es keinem
Dort zu reden, wo er schweigt.
Esse auto-retrato, o retrato brechtiano do poeta quando jovem — pois é nisso
que realmente consiste o poema —, apresentando o poeta em toda a sua
distância, sua mescla de orgulho e humildade, “um estranho e amigo de todos”,
portanto rejeitado e bem-vindo, bom só para “Hin- und Widerreden” (“conversa
e réplica”), inútil para a vida cotidiana, silencioso sobre si próprio, como se não
tivesse nada a comentar, curioso e com uma desesperada necessidade de
qualquer pedacinho de realidade que consiga apreender, oferece-nos ao menos
uma sugestão das enormes dificuldades que o jovem Brecht deve ter enfrentado
para se pôr à vontade no mundo de seus companheiros humanos. (Existe um
outro depoimento pessoal, uma espécie de poema em prosa, de um período
posterior: “Cresci como filho de gente próspera. Meus pais colocaram um colar
em meu pescoço, educaram-me nos hábitos de ser servido e ensinaram-me a arte
de dar ordens. Mas, quando cresci e olhei à minha volta, não gostei da gente da
minha classe, nem de dar ordens ou de ser servido. E abandonei minha classe e
me juntei à companhia de gente simples”. 20 Provavelmente é verdade, embora já
soe um pouco programático. Não é um auto-retrato, mas um certo estilo de falar
sobre si.) O fato de só podermos adivinhar quem era ele, dessa maneira mais
pessoal, através de alguns versos dos seus primeiros poemas é algo que depõe
inteiramente a seu favor. E ainda há certos aspectos de seu comportamento
posterior, abertamente reconhecido, que podem ser entendidos com o auxílio
desses primeiros versos.
Em primeiro lugar, e desde o princípio, havia a estranha inclinação de Brecht
para o anonimato e uma extraordinária aversão a qualquer estardalhaço — à pose
da torre de marfim, mas também à má fé ainda mais irritante dos “profetas do
povo” ou das “vozes” da História, e a tudo o que “a venda de valores” (“der
Ausverkauf der Werte” era uma espécie de lema da época) oferecia aos seus
clientes nos anos 1920. Mas aí havia mais do que uma repulsa natural de um
homem muito inteligente e altamente cultivado pelos maus modos intelectuais
que o cercavam. Brecht desejava ardentemente ser (ou, de qualquer forma, ser
tomado por) um homem comum — não ser diferenciado pela posse de dons