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A casa alegra o convidado: ele a consome.
Sabemos que somos transitórios
E depois de nós virá: nada digno de comentário.
“Sobre o pobre B. B.”, do Manual de devoção, é o único poema de Brecht
dedicado ao tema das gerações perdidas. O título, evidentemente, é irônico; ele
diz nos últimos versos que, “nos terremotos que virão, espero não deixar que
meu charuto se consuma de amargura”, e de certa forma, característica de toda
sua atitude, ele vira por assim dizer a mesa: o que está perdido não é
simplesmente essa raça de homens sem peso, mas o mundo que supostamente a
abrigava. Como Brecht nunca pensou em termos de autopiedade — nem mesmo
em seu mais alto nível —, recortava-se como uma figura antes solitária entre
todos os seus contemporâneos. Quando eles se diziam perdidos, estavam vendo a
si e a sua época com os olhos do século xix; era-lhes negado o que Friedrich
Hebbel uma vez chamara “die ruhige reine Entwicklung” — o desenvolvimento
puro e tranqüilo de todas as suas faculdades — e reagiam com amargura.
Ressentiam-se com o fato de que o mundo não lhes oferecia abrigo e segurança
para se desenvolverem como indivíduos e começaram a produzir seu curioso
tipo de literatura, em sua maioria romances onde as únicas coisas que parecem
interessar são a deformação psicológica, a tortura social, a frustração pessoal e a
desilusão geral. Isso não é niilismo; na verdade, chamar esses autores de niilistas
é fazer-lhes um elogio inteiramente imerecido. Não faziam cortes profundos o
suficiente — estavam demasiado preocupados consigo mesmos — para ver as
questões reais; lembravam tudo e esqueciam o importante. Há dois versos quase
casuais em outro poema do Manual de devoção onde Brecht disse o que pensava
sobre essa questão de chegar a um acordo com sua própria juventude:
Hat er sein ganze Jugend, nur nicht ihre Träume vergessen
Lange das Dach, nie den Himmel, der drüber war. 17
Que Brecht nunca tenha sentido pena de si mesmo — quase nunca sequer se
interessava por si — foi uma de suas grandes virtudes, mas a virtude estava
enraizada em algo mais, um dom, que, como todos os dons, em parte era uma
bênção e em parte uma maldição. Ele o comenta no único poema estritamente
pessoal que escreveu e, embora pertença ao período do Manual de devoção,
nunca o publicou; ele não queria se dar a conhecer. O poema, que está entre suas
melhores obras, chama-se “Der Herr der Fische” 18 — isto é, o senhor e mestre
da terra dos peixes, a terra do silêncio. Conta como esse senhor vem à terra dos