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um homem que “aprendera a dizer não”. O agente tomou para si a casa e os
alimentos do homem e lhe perguntou: “Você me servirá?”. O homem o pôs na
cama, cobriu-o com um lençol, velou seu sono e obedeceu-lhe por sete anos.
Mas em tudo o que fazia nunca pronunciou uma única palavra. Depois de
passados os sete anos, o agente engordara de tanto comer, dormir e dar ordens, e
morreu. O homem envolveu-o no lençol apodrecido, lançou-o fora da casa, lavou
a cama, pintou as paredes, suspirou com alívio e respondeu: “Não”. 8 Esquecera
Brecht a sabedoria do sr. Keuner em não dizer “Sim”? De qualquer forma, o que
nos interessa aqui é o triste fato de que os poucos poemas de seus últimos anos,
publicados postumamente, são fracos e pobres. São poucas as exceções. Há o
chiste muito citado depois da revolta dos trabalhadores em 1953: “Depois da
revolta de 17 de junho [...] podia-se ler que o povo perdera a confiança do
governo e só poderia reobtê-la se redobrasse seus esforços no trabalho. Não seria
mais simples para o governo dissolver o grupo e eleger outro”. 9 Há uma série de
versos muito tocantes em poemas de amor e rimas infantis. E, mais importante,
há elogios à não-intencionalidade, e entre eles o melhor soa como uma variação
do famoso “Ohne Warum” de Angelus Silesius (“A rosa não tem por quê;
floresce porque floresce,/ Não se importa consigo, não indaga se é vista”). 10
Brecht escreve:
Ach, wie sollen wir die kleine Rose buchen?
Plötzlich dunkelrot und jung und nah?
Ach, wir kamen nicht, sie zu besuchen
Aber als wir kamen, war sie da.
Eh sie da war, ward sie nicht erwartet.
Als sie da war, ward sie kaum geglaubt.
Ach, zum Ziele kam, was nie gestartet.
Aber war es so nicht überkaupt? 11
Que Brecht pudesse escrever tais versos pura e simplesmente indica uma
alteração inesperada e decisiva no ânimo do poeta; apenas sua primeira poesia
no Manual de devoção mostra a mesma liberdade em relação a propósitos e
preocupações mundanas, e ao invés do tom anterior de júbilo ou desafio há agora
a calma peculiar do maravilhamento e da gratidão. O único produto perfeito
desses últimos anos, consistindo em duas quadras de amor, é uma variação de
uma rima infantil alemã, e portanto intraduzível. 12