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esclarecer o que queria dizer, ele propôs o seguinte: “Suponhamos que você leia
um excelente romance político e saiba depois que o autor é Lênin; você mudaria
de opinião sobre o livro e o autor, em detrimento de ambos”. 7 Mas há pecados e
pecados. Inegavelmente, os pecados de Ezra Pound eram mais graves; não foi
apenas o caso de sucumbir tolamente aos exercícios oratórios de Mussolini. Em
seus viciosos programas de rádio, foi muito além dos piores discursos de
Mussolini, fazendo o jogo de Hitler e demonstrando ser um dos piores
perseguidores dos judeus entre os intelectuais de ambos os lados do Atlântico.
Certamente odiava os judeus antes da guerra e, com ela, continuou a odiá-los, e
esse ódio é um assunto privado seu, dificilmente com qualquer importância
política. Já é totalmente outra questão alardear esse tipo de aversão ao mundo
num momento em que se estava matando judeus aos milhões. Contudo, Pound
podia alegar insanidade e manter sua impunidade em coisas que Brecht,
inteiramente são e altamente inteligente, não era capaz de fazer impunemente.
Os pecados de Brecht foram menores que os de Pound, mas pecou com maior
gravidade, pois era apenas um poeta, não um louco.
Pois, apesar da falta de seriedade, confiabilidade e responsabilidade dos
poetas, claro que não podem se comportar com total impunidade. Mas a linha a
ser traçada dificilmente é um assunto que nós, seus companheiros cidadãos,
possamos decidir. Villon quase acabou na forca — sabe Deus se com razão —,
mas suas canções ainda alegram nossos corações, e o homenageamos por elas.
Não há nenhuma forma mais segura de se fazer de tolo do que montar um código
de conduta para os poetas, embora uma grande quantidade de homens sérios e
responsáveis tenham-no feito. Felizmente para nós e para os poetas, não
precisamos chegar a esse problema absurdo, nem temos de confiar em nossos
padrões cotidianos de julgamento. Um poeta deve ser julgado pela sua poesia e,
embora muito lhe seja permitido, não é verdade que “os que louvam o ultraje
têm vozes primorosas”. Pelo menos não foi verdade no caso de Brecht; suas odes
a Stálin, aquele grande pai e assassino de povos, soam como se tivessem sido
fabricadas pelo imitador menos talentoso que Brecht jamais teve. O pior que
pode acontecer a um poeta é deixar de ser poeta, e foi o que aconteceu a Brecht
nos últimos anos de sua vida. Pode ter pensado que as odes a Stálin não
importavam. Não tinham sido escritas por medo, e não acreditara sempre que
quase tudo se justifica diante da violência? Era essa a sabedoria do seu “sr.
Keuner” que, no entanto, por volta de 1930 era ainda um pouco mais exigente na
escolha de seus meios do que seu autor vinte anos mais tarde. Em tempos
sombrios, conta uma das histórias, veio um enviado dos dirigentes até a casa de