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Quando Bertolt Brecht procurou, e encontrou, refúgio neste país em 1941, foi
a Hollywood “para se reunir aos vendedores” no “mercado onde se compram
mentiras”, e onde fosse ouvia as palavras “Soletre seu nome”. 1 Ele fora famoso
nos países de língua alemã desde o início dos anos 1920 e não gostou muito de
ser novamente pobre e desconhecido. Em 1947 foi chamado perante a Comissão
contra Atividades Antiamericanas; surgiu com uma passagem para Zurique no
bolso, foi muito elogiado por ser tão “cooperativo” e deixou o país. Mas, quando
Brecht tentou se estabelecer na Alemanha Ocidental, as autoridades militares da
ocupação lhe recusaram a autorização necessária. 2 Isso se mostrou quase tão
desafortunado para a Alemanha quanto para o próprio Brecht. Em 1949
estabeleceu-se em Berlim Oriental, onde recebeu o cargo de direção de um teatro
e, pela primeira vez em sua vida, uma ampla oportunidade para observar de
perto a variante comunista da dominação total. Morreu em agosto de 1956.
Desde a morte de Brecht, sua fama se espalhou por toda a Europa — até para a
Rússia —, e também para os países de língua inglesa. Com exceção de Os sete
pecados mortais do pequeno-burguês, obra menor traduzida por W. H. Auden e
Chester Kallman (sua magnífica tradução de A ascensão e queda da cidade de
Mahagonny nunca foi publicada), e Galileu, traduzida por Charles Laughton e o
próprio Brecht, nenhuma de suas peças e, ai!, poucos poemas apareceram numa
tradução em inglês digna desse grande poeta e dramaturgo; tampouco nenhuma
peça sua — exceto Galileu, com Charles Laughton, que fez seis apresentações
em Nova York no final dos anos 1940, e talvez O círculo de giz caucasiano, no
Lincoln Center em 1966 — recebeu encenação digna em língua inglesa. Uma
tradução adequada, ainda que não muito notável, do primeiro livro de poemas de
Brecht — Die Hauspostille, de 1927 —, por Eric Bentley, com boas notas de
Hugo Schmidt, foi publicada pela Grove Press sob o título Manual of piety
[Manual de devoção]. (Usarei essa tradução em algumas partes que se seguem.)
Mas a fama tem seu impulso próprio e, embora às vezes seja um pouco difícil
entender por que pessoas que não conhecem uma palavra de alemão se animam e
se entusiasmam com Brecht em inglês, a animação e entusiasmo são bemvindos,
pois que inteiramente merecidos. A fama também encobriu as
circunstâncias que tornaram necessária a ida de Brecht a Berlim Oriental, e
também isso é bem-vindo por qualquer um que pense retrospectivamente na
época em que críticos de segunda ordem e escritores de terceira categoria
podiam denunciá-lo com impunidade. 3