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para fazer com que ele garantisse ao seu filho, que na época estava nos seus
trinta anos, um rendimento que fosse adequado e, poder-se-ia acrescentar,
proporcional à sua posição social. Em nenhum momento, nem mesmo quando já
se aproximara dos comunistas, duvidou de que, apesar de seus conflitos crônicos
com os pais, não tivesse direito a tal subvenção e que a exigência deles — a de
“trabalhar para viver” — não fosse “inqualificável” (Briefe, vol. i, p. 292).
Quando mais tarde seu pai disse que não queria nem poderia aumentar a mesada
que já lhe pagava, mesmo que seu filho obtivesse a Habilitation, isso
naturalmente eliminou a base de todo o compromisso de Benjamin. Até a morte
de seus pais em 1930, Benjamin conseguiu resolver o problema de sua
subsistência voltando para a casa deles, lá vivendo inicialmente com sua família
(ele tinha mulher e filho) e, depois da separação — que veio bastante cedo —,
ele próprio. (Benjamin só se divorciou em 1930.) E evidente que esse arranjo lhe
provocou muito sofrimento, mas é igualmente evidente que, com todas as
probabilidades, nunca pensou seriamente em nenhuma outra solução. É também
notável que, apesar de seus permanentes problemas financeiros, conseguiu ao
longo de todos esses anos aumentar constantemente sua biblioteca. Sua única
tentativa de se recusar essa dispendiosa paixão — ele visitava as grandes casas
de leilão como outros freqüentam cassinos de apostas — e sua resolução de até
vender alguma coisa “numa emergência” resultaram em se sentir obrigado a
“minorar a dor dessa disposição” (Briefe, vol. i, p. 340) fazendo novas
aquisições; e sua única tentativa comprovável de se libertar da dependência
financeira em relação à família resultou na proposta de que seu pai desse
imediatamente “fundos que me permitam comprar uma participação numa
livraria de livros usados” (Briefe, vol. i, p. 292). Foi o único emprego rentável
que algum dia imaginou Benjamin. Nada resultou, é claro.
Em vista das realidades da Alemanha dos anos 1920 e da consciência de
Benjamin de que nunca conseguiria sobreviver com sua pena — “há lugares em
que consigo ganhar um mínimo e lugares em que consigo viver com um mínimo,
mas não há nenhum lugar onde consigo ambos” (Briefe, vol. ii, p.563) —, toda a
sua atitude pode surpreender como imperdoavelmente irresponsável. Mas era
tudo, menos um caso de irresponsabilidade. É razoável supor que é tão difícil
que ricos empobrecidos acreditem em sua pobreza quanto pobres enriquecidos
acreditem em sua riqueza; os primeiros parecem levados por uma imprudência
de que são totalmente inconscientes; os últimos parecem possuídos por uma
avareza que realmente não é senão o velho temor arraigado pelo que pode trazer
o dia seguinte.