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que queria era responder à pergunta que colocara em sua juventude: “O que
faremos então?”.
Agir e fazer diferem entre si tanto quanto pensar e conhecer. Assim como o
conhecer, enquanto oposto ao pensar, tem um objetivo de cognição e uma tarefa
cognitiva, também o fazer tem propósitos específicos e deve ser governado por
padrões específicos de modo a alcançá-los, ao passo que o agir sempre ocorre
onde quer que os seres humanos estejam juntos, mesmo que não haja nada a se
alcançar. A categoria fins-meios, a que estão necessariamente vinculados todo
fazer e todo produzir, sempre se demonstra catastrófica quando aplicada ao agir.
Pois o fazer, como o produzir, inicia-se com o pressuposto de que o sujeito dos
“atos” conhece plenamente o fim a ser atingido e o objeto a ser produzido, de
modo que o único problema é encontrar os meios adequados para realizar esses
fins. Tal pressuposto por sua vez supõe um mundo onde há uma única vontade,
ou que é disposto de tal forma que todos os sujeitos-eu ativos nele existentes
estão suficientemente isolados entre si para não haver interferência mútua nos
seus fins e propósitos. O inverso é verdadeiro para a ação; há uma infinidade de
intenções e propósitos que se intersectam e se interferem reciprocamente e,
tomados todos em conjunto em sua complexa imensidade, representam o mundo
onde cada homem deve situar sua ação, embora nesse mundo nenhum fim e
nenhuma intenção jamais tenham se realizado tal como originalmente se
pretendera. Mesmo essa descrição, e a conseqüente natureza frustrante de todos
os atos, a ostensiva futilidade da ação, é inadequada e enganadora pois vem
efetivamente concebida em termos do fazer, e isso significa em termos da
categoria meios-fins. Dentro dessas categorias, só podemos concordar com a
frase do Evangelho: “Pois eles não sabem o que fazem”; nesse sentido, nenhum
agente jamais sabe o que está fazendo; ele não pode saber e, para o bem da
liberdade humana, não lhe é permitido saber. Pois a liberdade depende da
imprevisibilidade absoluta das ações humanas. Se quisermos exprimi-lo
paradoxalmente — e invariavelmente nos emaranhamos em paradoxos, tão logo
tentemos julgar e agir segundo os padrões do fazer —, podemos dizer: toda boa
ação por um mau fim efetivamente acrescenta ao mundo uma parcela de bem;
toda má ação por um bom fim efetivamente acrescenta ao mundo uma parcela de
mal. Em outras palavras, enquanto para o fazer e o produzir os fins predominam
totalmente sobre os meios, para o agir é exatamente o oposto: os meios são
sempre o fator decisivo.
Como Broch colocara epistemologicamente o eu privado de mundo na
“câmara escura”, naturalmente interpretou o agir no sentido de fazer, e o ator no