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dado, muito embora tenha de ser buscado de fora do sistema matemático.
Podemos dizer que uma ciência sempre recebe o que lhe é absoluto a partir da
ciência “superior seguinte”, de modo que surge uma hierarquia entre as ciências
cujo princípio poderia ser apreendido por uma via sistemática unificadora e
totalmente abrangente. A física recebe seu absoluto da matemática, a matemática
da epistemologia, a epistemologia da lógica, e a lógica depende de uma
metalógica.
Mas essa cadeia, onde o absoluto é a cada vez transmitido de uma forma
diferente de ciência a ciência, de sistema cognitivo a sistema cognitivo, a cada
caso tornando afinal possíveis a ciência e a cognição, não continua nem se repete
infinitamente. Em todos os casos, o que funciona como um absoluto, como um
padrão absoluto, não observado pela pessoa que o emprega justamente porque o
está empregando, é o sujeito que usa o padrão; é o “ato de ver em si”, a “pessoa
física” na física, que corresponde à “pessoa matemática”, ao suporte do “número
enquanto tal”, a pessoa lógica, o sujeito da “operacionalidade lógica” enquanto
tal. Assim, o absoluto nessas ciências não é apenas dado “conteudisticamente”
— nenhuma ciência poderia operar se seu conteúdo não lhe fosse trazido de fora
—, mas sua fonte é totalmente terrena e positiva, o que em termos
epistemológicos equivale a dizer: demonstrável numa base lógico-positivista; é a
“personalidade humana em máxima abstração”. O conteúdo dessa abstração
pode variar — desde o “ato de ver enquanto tal” ao ato de contar enquanto tal e à
operação lógica enquanto tal. Isso não significa que o homem com todas as
propriedades do corpo, alma e mente tenha se tornado a medida de todas as
coisas, mas sim que o homem, na medida em que não é senão o sujeito
cognitivo, o suporte dos atos de cognição, é a fonte do absoluto. A origem do
absoluto, em sua validade absoluta, necessária e obrigatória, pertence a este
mundo.
Broch acreditava que sua teoria do absoluto terreno poderia ser diretamente
aplicada à política, e nos dois capítulos da Psicologia de massas “condensada”
ele efetivamente, ainda que de modo fragmentário, traduziu sua epistemologia
em idéias da política prática. Isso lhe pareceu possível pois construiu todas as
ações políticas em termos daqueles atos que desempenham o papel central em
sua teoria do conhecimento, e que são concebidos como em si mesmos privados
de mundo, ou, como colocou ele, “numa câmara escura”. 89 Em outras palavras,
não estava efetivamente preocupado com a ação política ou a ação em geral; o