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a ponte entre a ciência puramente indutiva e a cognição dedutiva, e de outro a
ponte entre o animal e um deus, através do homem, dá-se da seguinte forma: o
proto-sistema é um sistema de “experiências” que são “conhecidas”, mas não
“entendidas”; esse conhecimento, inerente a toda e qualquer experiência e que
não seria possível fora dela, já é efetivamente um “conhecer sobre o conhecer”,
uma primeira iteração, sem a qual não existiria a memória, e a memória faz parte
de toda experiência; Broch, ao identificá-lo com a consciência, também o atribui
aos animais. 84
Esse conhecer sobre o conhecer permanece diretamente vinculado ao mundo.
Serve ao domínio direto das coisas do mundo em sua facticidade concreta; o que
escapa ao seu domínio é a mundanidade do mundo, que Broch considera dada na
“irracionalidade” primitiva do mundo (ou, em termos políticos, na sua
“anarquia”). O “sistema cognitivo” agora se põe para efetuar o domínio dessa
mundanidade, o que lhe é possível, pois já se liberou das coisas concretas do
mundo e, portanto, pode apreender a mundanidade do mundo, sua
“irracionalidade” enquanto tal, e assim se converte numa forma preliminar do
sistema absoluto. Trata-se, não mais da experiência direta e do “conhecer sobre o
conhecer” necessário a ela, mas antes de um “conhecer sobre o conhecer sobre o
conhecer”, em outras palavras, uma outra iteração que, contudo, decorre
naturalmente da primeira iteração do “conhecer sobre o conhecer”.
Entre o proto-sistema do conhecer sobre o conhecer, onde ainda não se realiza
o conhecimento efetivo, e onde o ser vivo simplesmente se torna consciente de
suas experiências, e o sistema absoluto de um deus, há uma série contínua de
estágios iterativos que podem ser positivistamente demonstrados. E, embora
Broch nos advirta explicitamente contra “conceber uma espécie de disposição
estratificada de sistemas onde — partindo do proto-sistema e seguindo todo o
curso até o sistema absoluto — se disponham em camadas uns sobre os outros, à
proporção que diminui seu ‘conteúdo empírico’ e aumenta seu ‘conteúdo
cognitivo’”, considera “explícito [...] que o curso [...] ainda que não sempre, mas
majoritariamente segue na direção de um conteúdo cognitivo crescente e de uma
expressividade decrescente”. 85 O significado dessas demonstrações para
produzir evidências da existência fática de um absoluto terreno encontra-se na
relação íntima entre essas operações cognitivas que pressupõem sua existência e
a mera experiência; encontra-se na seqüência contínua que une a experiência ao
saber cognitivo, de modo que é como se surgisse um absoluto a partir das
condições de toda a vida na Terra.
O propósito dessas considerações é duplo: mostrar a origem terna do absoluto,