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correspondem a dois tipos de ciência fundamentalmente diferentes. Em primeiro
lugar, há as ciências empíricas indutivas que tateiam seu caminho de fato em
fato, de pesquisa em pesquisa, e são em princípio não-finitas e sem completude,
exigindo para seu progresso uma sucessão infindável de novos fatos e novas
descobertas. Em segundo lugar, há as ciências formais dedutivas que chegam aos
seus resultados axiomáticos a partir de si mesmas, por assim dizer, e são
aparentemente independentes de todos os fatos empíricos. Para Broch, a ciência
de tipo indutivo mais importante é a física (embora, para fins ilustrativos, usasse
com freqüência o exemplo da arqueologia pois, nessa ciência, os “achados” das
escavações coincidem com as novas “descobertas” tão indispensáveis ao avanço
de qualquer ciência empírica), ao passo que a ciência dedutiva clássica é,
evidentemente, a matemática. A cognição real que vai além do simples
conhecimento dos fatos, sustentava ele, só pode ser alcançada nas ciências
dedutivas que formam sistemas. Apenas depois que a matemática deduziu as
fórmulas para os fatos empíricos observados pelos físicos, é permitido falar de
um entendimento científico dos fatos físicos.
Essa distinção entre as ciências dedutivas e indutivas corresponde à distinção
de Broch entre “proto-sistema” e “sistema absoluto”. 82 O proto-sistema serve ao
domínio direto sobre o mundo, à sua assimilação, o que é o pré-requisito para a
sobrevivência de toda vida, inclusive a vida animal; ao passo que o sistema
absoluto, cuja perfeição é inatingível para o homem, conteria em si “a solução
para todos os problemas que já ocorreram ou podem ocorrer no mundo, [...] em
suma, seria o sistema cognitivo de um deus”. 83 À primeira vista, é como se o
sistema cognitivo do homem se adequasse entre esses dois sistemas, o sistema de
toda vida e o sistema de um deus, mas, não obstante, os dois se mantêm tão
opostos entre si quanto os métodos indutivo e dedutivo.
O próximo passo do raciocínio refere-se à eliminação dessa oposição ou, dito
de outra forma, à demonstração de que tal oposição é apenas aparente. Isso se
realiza primeiramente demonstrando-se a existência de uma ponte entre o protosistema
e o sistema absoluto, ponte fundada na iteração específica de todos os
processos cognitivos; em segundo lugar, demonstrando-se que não existe nada
que corresponda a um sistema absolutamente dedutivo. Pelo contrário, a base de
todo sistema formal é sempre empírica. Isso significa que todo sistema repousa
sobre um fundamento transcendente a si próprio, que é preciso postular como
absoluto pois, do contrário, o sistema nem sequer poderia iniciar suas várias
cadeias dedutivas.
A ponte entre o proto-sistema e o sistema absoluto, que de um lado representa