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da morte, de modo que a vida prossiga como se fosse eterna. Assim como a
função cognitiva é a de superar “o tempo como o mundo exterior mais interior”,
e, assim, conquistar o mundo lá onde é mais próximo do eu, e portanto mais
estranho e ameaçador para ele, da mesma forma a função do absoluto terreno é
conquistar a morte na vida, enfrentando o “mundo prenhe de morte”, através de
um seu confronto com o eu que, em seu núcleo, seu núcleo cognitivo, sabe-se
imortal. Mesmo quando se volta para o positivismo lógico (ainda que seja um
positivismo lógico de tipo altamente idiossincrático e original), Broch se apega à
sua convicção inicial basicamente cristã de que a morte e a perecibilidade estão
enraizadas no mundo, mas a imortalidade e a eternidade estão ancoradas no eu,
de modo que a vida que nos parece mortal é, na verdade, imortal, e o mundo que
nos parece eterno na verdade é vítima da morte.
A mudança para o positivismo lógico, que se manifesta mais acentuadamente
no conceito do absoluto terreno, evidentemente implicava uma revisão não
expressa da Zeitkritik de Broch, originalmente montada em termos de um
lamento contra o processo de secularização. Essa revisão, por sua vez, expressase
mais claramente no desvio da esperança em um “novo mito” para a convicção
de que se tornara necessária uma “desdeificação positivista”. Mas a questão que,
presumivelmente, provocou essa alteração, e que Broch começou a responder
com uma terminologia lógico-positivista nas duas seções póstumas de sua Teoria
do Conhecimento (o “conceito de sistema” e as “unidades sintáticas e
cognitivas”) — essa questão pode ser plausivelmente formulada como: De onde
o eu deriva a convicção sobre sua própria imortalidade? A razão dessa convicção
não pode, em si mesma, ser a prova dessa imortalidade?
Se vinculamos a mesma questão à teoria anterior sobre o valor, que se
orientava tão exclusivamente pela morte, poderíamos formular a pergunta da
seguinte maneira: A experiência puramente negativa da morte — puramente
negativa pois que nunca previsível para o núcleo do eu — que provoca pânico
súbito no homem (que, em sua ausência absoluta de mundo, sabe-se imortal),
essa experiência puramente negativa não pode ser complementada por uma
experiência positiva em que a imortalidade e o absoluto se manifestem tão
tangível e faticamente como a morte? A resposta, reduzida a poucas palavras, se
encontraria na seguinte frase, que data do período inicial de Broch, mas cujas
plenas implicações não lhe ficaram visíveis até seu período final: “A estrutura da
lógica formal repousa sobre fundamentos materiais”. 81
A cognição, para resumir a cadeia de pensamentos de Broch numa forma
deliberadamente simplificada, manifesta-se em dois tipos de conhecimento que