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íntimo de sua própria natureza com a do mundo exterior” 64 Broch respondeu que
“a harmonia preestabelecida é uma necessidade lógica”, 65 e com essa resposta
certamente deu um passo decisivo para além das teorias usuais, não só a de
Leibniz, sobre todas as monadologias. A necessidade lógica de uma harmonia
preestabelecida deriva do fato de que Broch (seguindo inteiramente as linhas de
Husserl, a quem deve outras sugestões cruciais) encontra o objeto (o que
equivale a dizer o modelo do mundo) já presente no ato de pensar, na medida em
que não é possível nenhum “eu-penso” que não seja um “eu-penso-algo”. Assim
o eu encontra em si mesmo um esboço de um não-eu e, “embora o pensar seja
uma parte indissolúvel do eu, ele se distingue do sujeito do eu e portanto
pertence concordantemente a um não-eu”. 66
Disso se segue que o eu pertence ao mundo de uma forma diferente da
“expansão do eu”, que atinge seu ápice no êxtase, ou da “privação do eu”, que
atinge seu nadir no pânico. O eu pertence ao mundo independentemente de
êxtase ou pânico. Segue-se também que o mundo não é apenas experimentado a
partir do exterior; antes de qualquer experiência dessas, ele já está dado no
“inconsciente”. Esse inconsciente não é alógico nem irracional. Pelo contrário,
toda lógica real deve necessariamente incluir uma “lógica do inconsciente”, deve
se testar em relação ao conhecimento da “esfera epistemológica da
inconsciência”, 67 onde está situada não a experiência concreta, mas aquela
cognição da experiência em geral que precede toda e qualquer experiência — em
outras palavras, “a experiência em si”.
Nessa mesma esfera do inconsciente, totalmente acessível à cognição,
encontra-se a solução para o segundo problema: o domínio sobre a
simultaneidade, o resgate do futuro e do passado da sua escravização à sucessão.
Mas aqui o estabelecimento da coexistência para o futuro e o passado deve se
realizar pelo aspecto onírico peculiar ao inconsciente. O “impulso para o futuro
específico do homem e apenas do homem [faz] dele uma parte do presente”;
uma lógica que ultrapasse a lógica aristotélica deveria algum dia poder antecipar
essas “inspirações” a partir das quais se modela o futuro. Uma “determinação
formal dessas áreas, supondo que algum dia se realize”, 68 proporcionaria nada
mais, nada menos do que uma “teoria da profecia” segura, pois nos ofereceria o
“esquema de todas as experiências futuras possíveis”. Essa “profecia lógica”,
cujo objeto é aquele inconsciente de onde surgem os impulsos e “inspirações” de
toda novidade, é em si uma disciplina totalmente racional e lógica que decorrerá
“com toda a naturalidade [...] do crescimento e aprofundamento da pesquisa
sobre os fundamentos”. 69 O pré-requisito para essa “teoria da novidade” — que