You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O pensar não tem um objetivo real e, a menos que encontre seu sentido em si
mesmo, não tem absolutamente nenhum sentido. (Isso, evidentemente, aplica-se
apenas à atividade de pensar em si, não ao escrever pensamentos, ato este que
tem muito mais a ver com processos artísticos e criativos do que com o pensar
em si. O escrever os pensamentos tem de fato um objetivo e um propósito; como
todas as atividades produtoras, tem um começo e um fim.) Pensar não tem
começo nem fim; pensamos enquanto vivemos, pois não podemos fazer de outra
forma. É por isso que, em última análise, o “Eu penso” de Kant deve
acompanhar não só todas as “noções”, mas todas as atividades e passividades
humanas.
Precisamente aquilo que Broch chamaria de “valor cognitivo” do pensar tem
uma natureza antes dúbia, e o que a filosofia chama de verdade é totalmente
diferente da determinação correta dos fatos objetivamente dados no mundo ou
dos dados de consciência; mas também as proposições provável e
demonstravelmente corretas ainda não constituem a verdade — sejam elas
governadas pelo axioma aristotélico da não contradição ou pela dialética
hegeliana ou, como no caso da lógica de Broch, exclusivamente por seu
conteúdo aparecer como obrigatoriamente necessário, isto é, auto-evidente e,
portanto, absolutamente válido. Que tal auto-evidência só possa ser expressa por
proposições tautológicas não é de forma alguma, como Broch repetidas vezes
ressalta, algo que a desacredite: o “valor cognitivo” da tautologia reside no fato
de que apresenta diretamente a qualidade obrigatória que é o atributo de todas as
proposições válidas. O problema está apenas em resgatar a tautologia de sua
formalidade e do círculo que a prende; e Broch julgava ter resolvido esse
problema com a sua descoberta do absoluto terreno, que possui tanto a força
auto-evidente tautológica como um conteúdo demonstravelmente dado. Mas a
cognição, seja sob a forma da descoberta ou da lógica, é diferente do pensar
(como se manifesta na literatura e na filosofia), na medida em que apenas ela é
obrigatória, apenas ela pode levar a uma necessidade e um absoluto obrigatório
e, conseqüentemente, só ela pode dar origem a uma teoria da ação (política ou
ética) que consiga esperar se alçar, por assim dizer, por sobre a imprevisibilidade
e impredizibilidade da ação humana.
Broch sempre foi consciente dessa diferença entre filosofia e cognição.
Revelou essa sua consciência em seus primeiros escritos ao atribuir maior
potencial de conhecimento à arte do que à filosofia. Esta última, dizia ele, “desde
que foi expulsa de sua associação teológica”, não era mais capaz de “um
conhecimento que abarque a totalidade”, o qual agora teria de ser deixado à