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Posteriormente foi-lhe posta, com insistência crescente, por todas as catástrofes
subseqüentes de nossa época. Mais e mais vezes essa pergunta o esmagava
“como um trovão”. E concluiu que uma resposta, para ser de algum modo válida,
teria de possuir a mesma força coercitiva que possuía o mythos, de um lado, e o
logos, de outro. 18
Pois, embora a questão lhe fosse posta no contexto do século xx, o século “da
mais sombria anarquia, do mais sombrio atavismo, da mais sombria
crueldade”, 19 era também a questão básica do homem vivo e mortal. Por
conseguinte, sua resposta devia ser compatível não só com os tempos, mas
também com o fenômeno da própria morte. A pergunta sobre o que fazer pode
ter sido iluminada pelas tarefas da época; mas, para Broch, era também uma
investigação sobre a possibilidade de uma conquista terrena da morte. Sua
resposta, portanto, devia possuir a mesma necessidade inelutável da própria
morte.
Para Broch, essa formulação inicial do problema, que sustentou por toda sua
vida, era governada pela alternativa entre mythos e logos. Em seus últimos anos,
porém, provavelmente não tinha mais nenhuma fé no “novo mythos”, 20 que
constituíra toda sua esperança desde Os sonâmbulos até A morte de Virgílio. Ao
longo de sua obra sobre Psicologia de massas, de qualquer modo, o peso de seus
resultados se orientou cada vez mais do mythos para o logos, da literatura para a
ciência. Ele buscava cada vez mais um modo estritamente lógico e demonstrável
de conhecimento.
Mas, mesmo que não tivesse perdido essa crença, sua atitude em relação à
literatura após A morte de Virgílio, o que significa evidentemente sua atitude em
relação a si mesmo como poeta, dificilmente poderia assumir qualquer outra
forma. Pois, por relevante que fosse a alteração no pensamento de Broch do
mythos para o logos, por produtivos que se demonstrassem seus efeitos sobre sua
epistemologia (na verdade, foi a origem real da epistemologia), ela não trazia
nenhuma orientação sobre a questão básica de ser um poeta sem querer sê-lo.
Era antes uma questão de crítica social e da posição do artista em seu tempo, a
qual Broch colocou em muitos planos e quase sempre respondeu negativamente.
Visto que a filosofia da arte de Broch sustentava que a real função cognitiva de
uma obra de arte devia ser a de representar a totalidade de outra forma
inatingível de uma era, bem podemos perguntar se um mundo em “desintegração
valorativa” ainda pode ser representado como uma totalidade. Assim, por
exemplo, a questão se põe no ensaio sobre Joyce. Mas, nesse ensaio, a literatura
ainda é encarada como “tarefa mítica e ação mítica”, 21 ao passo que no estudo