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finalmente, o quadro inesquecível do último imperador e sua solidão 8 — tudo
isso, evidentemente, tomou corpo porque ele era um escritor e, embora fosse
tudo visto pelos olhos de Hofmannsthal (principalmente o retrato do imperador),
ainda era visto pelos olhos, olhos de poeta, de Broch.
Sua última novela, se fosse concluída, provavelmente seria uma outra da
envergadura de A morte de Virgílio, ainda que escrita num estilo totalmente
diferente, antes épico que lírico. Não obstante, também foi escrita
conscientemente à sua revelia. Pois, embora ele possa ter se submetido com certa
relutância e entusiasmo parcial ao primado da ação na vida, estava totalmente
convencido nos últimos anos de sua vida, em relação à criatividade e ao
trabalho, da primazia do conhecimento sobre a literatura, da ciência sobre a arte.
E no final de sua vida, estava persuadido de que havia ainda uma espécie de
prioridade, se não primazia, de uma teoria geral do conhecimento para a ciência
e a política. (Ele tinha algumas noções sobre essa teoria que colocaria a ciência e
a política sobre uma nova base; ela existia em sua mente sob o título de
Psicologia de massas.) Assim, uma mescla de circunstâncias externas e internas
produziu o arrebatamento peculiar em que o traço fundamental de sua natureza,
que existia realmente sem conflito, resultou quase que somente em conflitos. Por
trás da novela em que estava trabalhando, e que considerava como de todo
supérflua (erroneamente, é claro, mas o que importa?), encontrava-se o torso da
Psicologia de massas, a carga de trabalho já nela investida e a carga ainda maior
de trabalho que ainda nem sequer começara. Mas, por trás de ambas, com uma
pressão ainda maior, uma depressão ainda maior, estava a sua ansiedade em
relação à teoria do conhecimento. Inicialmente pretendera expor suas idéias
sobre epistemologia apenas numa série de apêndices à teoria da psicologia de
massas. Mas, ao longo do trabalho, veio a considerá-la como seu tema
apropriado, de fato o único tema essencial.
Por trás da novela, onde a contragosto completou sua evolução como escritor,
alcançando o estilo da era antiga, e por trás dos resultados de suas pesquisas
eruditas sobre psicologia e história, permaneceu até o fim sua fatigante e
incansável busca de um absoluto. Essa busca provavelmente fê-lo iniciar seu
caminho e, ao final, ofereceu-lhe a noção de um “absoluto terreno” como a
solução que satisfaria seu intelecto e consolaria seu coração.
O que Broch tinha objetivamente a dizer sobre o destino de ser um poeta à sua
revelia pode se encontrar em quase todos os seus ensaios. Contudo, para uma